quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Eu não posso mais negar
Uma estranha luz um dia
Entrou por meus olhos e boca
Por meu sexo
Por meus poros

Eu não posso mais estancar
Esta força que aflora
Do meio de minha barriga

Em gestos desconexos vou vivendo
Sob os tapetes da sala
Atrás dos móveis, entre as louças
Sempre está luz a me deixar comovida

Eu não posso mais cobrir
Com cimento
Esta força que insiste em jorrar
Por meus olhos
Perplexos

Eu tenho medo da morte
Eu tenho paixão pela vida
A vida é o que vibra
Em minha voz


(Poema inédito, de Viviane Mose)

Longe

Onde é que eu fui parar?
Aonde é esse aqui?
Não dá mais pra voltar
Por que eu fiquei tão longe?
Longe...

Onde é esse lugar?
Aonde está você?
Não pega celular
E a terra está tão longe
Longe...

Não passa um carro sequer
Todo comércio fechou
Não tem satélite algum transmitindo
notícias de onde eu estou

Nenhum email chegou
Nem o correio virá
E eu entre quatro paredes sem porta
ou janela pro tempo passar

Dizem que a vida é assim
Cinco sentidos em mim
Dentro de um corpo fechado
no vácuo de um quarto no espaço sem fim

Aonde está você?
Por que é que você foi?
Não quero te esquecer
Mas já fiquei tão longe
Longe...

Não dá mais pra voltar
E eu nem me despedi
Onde é que eu vim parar?
Por que eu fiquei tão longe?
Longe, longe, longe, longe
Longe, longe, longe

Seis, cinco, quatro, três, dois, um.'

 Arnaldo Antunes.