quarta-feira, 7 de novembro de 2012



Dona Maria,

quero que a mãe seja a primeira a saber: decidi investir no Brasil. Acredito na viabilidade deste país.
Vou ter um filho.
Meu filho será 100% nacional, meu filho gerará recursos para equilibrar a balança externa, meu filho incentivará o consumo interno e criará empregos diretos e indiretos. Que mais?... Olha, mãe (vó!), precisaria de um economista para mostrar as vantagens imensas que
o meu filho trará para o Brasil. Sem falar no crescimento do nosso parque de mão-de-obra barata, tenho como certa a sua integração nas nossas Forças Armadas ao completar os 18 anos.
Mas não comemore ainda.
Ainda estou aguradando o sinal verde do Ministério do Planejamento. Espero que eles aprovem minhas condições para investir um filho meu no Brasil. Quero isenções.
Quero isenção do Imposto de Importação, isenção do ICM e energia elétrica subsidiada. Isto na fase de gravidez. Depois, quando ele nascer, quero perdão do Imposto de REnda por dez anos (prorrogáveis por mais trinta), 300 mil alqueires da Amazônia pro meu filho correr, brincar etc...
Quero muito? Tô agora achando que o BRasil é uma gigantesca teta, uma imensa Mãe Joana?
Uai! Só quero o que a Alcoa-Shell ganhou do Ministério do Planejamento para investir em Carajás! E dou vantagens: com os dez anos de perdão do Imposto de REnda que deram pra Alcoa-Shell, eu prometo trigêmeos!
Vale o que está escrito.
A bênção da sua opção civil.

[Henfil - Diretas Já! Editora Record, 1984]

''E no meio de um inverno
finalmente aprendi,que havia dentro de mim
um verão invencível .''

Albert Camus

Sonhos



Em 1619, René Descartes, ainda muito jovem, sonhou muito numa noite só.
Pelo que contou, no primeiro sonho caminhava torto e não conseguia se endireitar, lutando a duras penas contra o vento que violentamente o empurrava para o colégio e para a igreja.
No segundo sonho, um raio o arrancava da cama e o quarto se enchia de chispas que iluminavam tudo.
E no terceiro, ela abria uma enciclopédia, procurando um caminho para seguir na vida, mas faltavam páginas na enciclopédia

 Galeano - 7 de novembro

Retrato






"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"

  Cecília Meireles, poeta carioca.