terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

 

Em geral as descrições utópicas de sociedades ideais , que partem de uma aspiração igualitária , descrevem e simultaneamente prescrevem uma sociedade coletivista ; que Jean Jacque s Rousseau , quando se interroga  sobre a origem das desigualdade dos homens , irrompe na famosa invectiva  contra o primeiro homem  que circundando  seu poder , declarou “Isso é meu ! “ ; que de Rousseu  retira inspiração  o movimento que deu vida à Conspiração dos Iguais , inexoravelmente contrária  a qualquer forma de  propriedade individual , que todas as sociedades de iguais  que se formara no século  passado , nas quais a própria esquerda  muitas vezes se reconheceu , consideraram a propriedade individual como uma iníqua instituição a ser abatida ; que são igualitários e coletivistas todos os partidos que nascem da matriz marxista ; que uma das primeiras medidas da revolução triunfante  no mundo dos czares  foi a abolição da propriedade individual da terra  e das empresas. A luta  pela abolição da propriedade individual , pela coletivização , ainda que não integral , dos meios de produção , sempre foi , para a esquerda , uma luta pela igualdade , pela remoção do principal obstáculo para a realização de uma sociedade de iguais . Até mesmo a prática das nacionalizações , que por um longo tempo caracterizou a política econômica dos partidos socialistas , foi conduzida em nome de um ideal igualitário, não tanto no sentido positivo de aumentar  a igualdade , mas no sentido negativo de diminuir uma fonte de desigualdade .

 

Que a discriminação entre ricos e pobres ,introduzida  e perpetuada  pela persistência do direito tido como inalienável à propriedade individual , seja considerada  a principal causa da desigualdade , não exclui o reconhecimento de outras razões de discriminação , como a discriminação entre homens e mulheres , trabalho manual e trabalho intelectual , povos superiores e povos inferiores.

 

Norberto Bobbio , 122 -123

 

 

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Ingestión




Los monjes de Lodève, en Gasconia, declararon santo a un ratón que se había comido una hostia consagrada.

FIN

Aforismos, 1773


Georg Christoph Lichtenberg

Fonte : Noticuento

terça-feira, 9 de junho de 2020

Cruzó bajo la luna




Cruzó bajo la luna y las estrellas,
me vio pasar y suspiró. Sus bellas
pupilas sobre mí se detuvieron,
y mis pies temblorosos ascendieron
en la paz del retiro,
al alado corcel de aquel suspiro.
Y raudo cabalgué sin dejar huellas
lejos de mí en vertiginoso giro:
¡más allá de la luna y las estrellas
sobre el raudo corcel de aquel suspiro!

José P. H. Hernández. PRo


Del bestiario mexicano



I

En el norte de México acostumbran poner a los gallos en lo alto de un templete, para que no se los coman los coyotes. Desde su mirador, el gallo va y viene, y mira de reojo al coyote que se va acercando con un airecillo bondadoso:

—Buenos días, hermano gallo.

—Buenos días, hermano coyote.

—¿Qué haces ahí trepado?

—Ya lo ves, tomando el sol.

—¿Por qué no bajas un rato a “platicar” conmigo?

—No me atrevo, ¡no vaya a pasarme “alguna cosa”!

—¿Qué puede sucederte? Si desconfías de mí, acuérdate de que ya el león, el rey de la selva, acaba de dictar una ley ordenando que ningún animal le haga daño a otro. ¡Anda, baja, no tengas miedo!

—No me atrevo…

—¡Pero si la nueva ley te ampara!

—No creas, hermano: hay cabrones que ni la ley respetan.

II

-¿Adónde con tanta prisa, hermano chango? ¿Por qué corres así?

-Voy a esconderme, hermano tejón.

-¿Por qué?

-El rey de la selva acaba de ordenar que maten a todos los elefantes.

-Sí, ¡pero tú eres mono y no elefante!

-Cierto, pero mientras lo averiguan, me chingan.

(Y siguió corriendo.)

                                                                                             FIN

Alfonso Reyes (1889-1959).Mx

segunda-feira, 18 de maio de 2020

O sal da língua






Escuta, escuta: tenho ainda

uma coisa a dizer.

Não é importante, eu sei, não vai

salvar o mundo, não mudará

a vida de ninguém - mas quem

é hoje capaz de salvar o mundo

ou apenas mudar o sentido

da vida de alguém?

Escuta-me, não te demoro.

É coisa pouca, como a chuvinha

que vem vindo devagar.

São três, quatro palavras, pouco

mais. Palavras que te quero confiar,

para que não se extinga o seu lume,

o seu lume breve.

Palavras que muito amei,

que talvez ame ainda.

Elas são a casa, o sal da língua.

Eugénio de Andrade


"Comunistas. Até então eu nunca me importara com comunistas. Aliás, nem sabia direito quem eram. Associava-os vagamente a assassinatos, violência, fome, Cuba, China... Pelo que o meu pai falava, eles deviam estar a ponto de dominar o país. Aí então iriam fechar as igrejas, dividir nossas casas com vagabundos, implantar uma feroz disciplina. Não me agradava sobretudo este último aspecto. Dividir a casa com vagabundos? O único vagabundo que eu conhecia – e o único da cidade inteira – era seu Melquides, o homem do saco de minha infância, que dormia de favor nos sítios das redondezas, nos fundos da olaria, na porta da igreja, debaixo da marquise do cartório, que carpia terrenos ou varria calçadas em troca de um prato de comida, que dispunha de um arsenal incrível de causos absurdos com os quais fazia gargalhar a piazada na praça da cidade, agora que eu, crescido, via que ele não era nenhum bicho-papão. Se ele tomasse um bom banho e tirasse aquela craca do corpo, eu até que não me importaria em dividir a casa com ele. E quanto a fechar igrejas, eu até achava bom. Aborrecia-me na missa aos domingos e não adiantara nada, por conta do Concílio Vaticano II, a liturgia ter passado a ser em vernáculo. Enfim, os comunistas não eram uma grande ameaça para mim. Mas o mesmo não se podia falar de meu pai, que vira as reformas de base propostas pelo presidente João Goulart como a porta de entrada do bolchevismo. Na cidade, graças a Deus, não houve nenhuma Marcha da Família com Deus pela Liberdade, mas se realizaram algumas fastidiosas vigílias na igreja matriz às quais o meu pai me levara arrastado. De ouvido grudado no velho rádio valvulado, ele acompanhava os sermões do padre Peyton e os programas do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD). Assim, foi um alívio para ele quando, no dia 31 de março, ouviu que as tropas do general Olympio Mourão Filho marchavam de Juiz de Fora rumo ao Rio de Janeiro. Chegou a se emocionar com as marchas e dobrados militares que infestaram as rádios por um tempo. Para mim até que não foi mal: três dias de recesso escolar. Tirando um ou outro professor desligado da escola, nem minha rotina nem a da cidade sofreram alteração relevante. Agora, conversando com Adrian, meus olhos se abriam: descobria que o mundo, para além dos estreitos limites daquela cidadezinha, estava dividido entre progressistas e reacionários, oprimidos e opressores, aqueles que lutavam pelo avanço da humanidade e aqueles que se serviam de todos os estratagemas para detê-lo – e os milicos não estavam entre os primeiros."

Otto Leopold Winck.  De "Que fim levaram todas as flores":

Constituição francesa de 1793


"Quando o governo viola os direitos do povo, a insurreição é o mais sagrado dos direitos e o mais indispensável dos deveres".

Está difícil acompanhar todas as falas e besteiras do Bolsonaro e do Mourão por dia


"Está difícil acompanhar todas as falas e besteiras do Bolsonaro e do Mourão por dia. Estão levando uma surra do coronavírus e na linguagem militar, a única em que suas limitadas mentes captam, não podem mais avançar e nem recuar porque estão sendo batidos juntos com seus empresários e parlamentares de direita, de maneira contundente. Se pensam que seriam Pinochet em 73, Videla em 76, a junta de 69, esqueçam porque a história acontece como tragédia e se repete como farsa. O golpe militar já foi dado em 2016 com Villas Boas e os togados, agora só lhes resta a administração final da massa falida deste mesmo golpe. O que eu escrevo há tempos, a atual geração de direita sentirá saudades da queda livre do general Figueiredo comparada com a queda dos atuais debi e lóide pela própria força da gravidade deles, sem maiores forças externas além da própria incompetência e burrice deles próprios, após serem derrotados pelo coronavírus em questão de tempo. O bolsonarismo será a Malvinas da direita militar brasileira, como já escreveram e pode virar até mesmo um Stalingrado deles, cairão pela própria pretensão de superioridade quando já estão completamente cercados e na defensiva, sem opções."
Ricardo Costa de Oliveira


"Durante muito tempo tomei minha pena por uma espada: agora, conheço nossa impotência. Não importa: faço e farei livros; são necessários; sempre servem, apesar de tudo. A cultura não salva nada nem ninguém, ela não justifica. Mas é um produto do homem: ele se projeta, se reconhece nela; só este espelho crítico lhe oferece a própria imagem."
Jean Paul Sartre


"Num entardecer lilás caminhei com todos os músculos doloridos entre as luzes da 27 com a Welton no bairro negro de Denver, desejando ser um negro, sentindo que o melhor que o mundo branco tinha a me oferecer não era êxtase suficiente para mim, não era vida suficiente, nem alegria, excitação, escuridão, música, não era noite o suficiente. Parei num pequeno quiosque onde um homem vendia chili apimentado em embalagens de papel; comprei alguns e comi percorrendo ruas escuras e misteriosas. Desejava ser um mexicano de Denver, ou mesmo um pobre japonês sobrecarregado de trabalho, qualquer coisa menos aquilo que eu tão aterradoramente era, um 'branco' desiludido."
Jack Kerouac, 'On The Road'

Parem o Brasil que eu quero descer!



"Até anteontem eu tinha sido poupado do conhecimento da existência de Italo Marsili. É um psiquiatra que ganhou certa notoriedade nos círculos da extrema-direita mais desvairada, em particular no olavocatolicismo. Num episódio que causou reboliço, mas que tinha passado batido para mim, ele se gabou que tinha "curado" um pedófilo mandando-o procurar prostitutas com aspecto infantil.
Acho que isso basta para ver a laia do sujeito.
Agora, ele, que se autointitula "o médico mais famoso do Brasil", o que por si só já indica um distúrbio de autoimagem meio sério, está em campanha para ser o novo ministro da Saúde. Alardeia sua lealdade canina a Bolsonaro como principal atributo. É uma palhaçada, claro - nem Bolsonaro terá coragem de colocar um clone de Weintraub no Ministério da Saúde em meio à pandemia. Mas ganhou reforço de olavetes, imagino que também de alguns robôs, e chegou aos trending topics do Twitter.
Supus que ele tinha um currículo pífio, como é a regra com esse pessoal. Mas não. Tá lá no Lattes: ele não apenas assistiu a várias palestras como morou com Olavo na Virgínia. Morou! Sob o mesmo teto!
Eu entendo a lógica: co-habitação = osmose. Só não sei como isso o credencia para ministro da Saúde. Se ele estivesse buscando um cargo nas áreas de astrologia, picaretagem ou mau-caratismo, aí sim."
Luis Felipe Miguel

sábado, 9 de maio de 2020

Milicianos e vampiros contra a vida !


 A cena do dia foi a visita de Bolsonaro, Guedes e burgueses ao STF para intimidarem os togados de supetão. Não lembro de outro débil presidente da República, com seu fraco ministro ameaçado de queda, jamais terem atravessado a Praça com um apavorado lobby patronal para intimidar um assustado STF, enquanto despachantes de interesses empresariais. A lista dos burgueses só revela setores industriais como aço, plástico, têxtil, máquinas, cimento, elétrica, farmacêutica, brinquedos, química, calçados, veículos, ninguém do essencial setor de alimentos, comida, supermercados e do abastecimento estava lá, os que continuam lucrando e funcionando no meio da pandemia como serviços essenciais. O desespero dos burgueses, industriais e financeiros, é que acabou o imenso lucro imediato e diário deles, ainda que momentaneamente e não estão interessados na vida e na saúde dos outros, não se importam com a vida e a saúde dos trabalhadores, dos idosos, dos frágeis de saúde e da população em geral, só querem lucrar ao máximo, se entupirem de dinheiro, sempre agem como "vampiros", como escreveu o maior cientista social do século XIX: - "o capital tem um único impulso vital, o impulso de se valorizar, de criar mais-valia, de sugar a maior massa possível de sobretrabalho com a sua parte constante, os meios de produção. O capital é trabalho morto que apenas se anima, à maneira de um vampiro, pela sucção de trabalho vivo, e que vive tanto mais quanto mais dele sugar. O tempo durante o qual o operário trabalha é o tempo durante o qual o capitalista consome a força de trabalho por ele comprada. Se o operário consome o seu tempo disponível para si próprio está a roubar o capitalista" (Marx - O Capital. Crítica da Economia Política. Livro Primeiro: O processo de produção do capital. Terceira Secção: A Produção da mais-valia absoluta. Oitavo capítulo: O dia de trabalho).

RCO


Os bolsonaristas cometem os mais graves crimes de responsabilidade, crimes contra a segurança nacional, crimes em vários artigos do código penal, apologia ao crime, ameaças de violência dos "soldados do Brasil", uso de bandeiras estrangeiras no Palácio do Planalto, tentativa de ucranização da Winter, causar e propagar epidemia mediante a propagação de germes patogênicos, nomear em reunião ministerial o STF como "onze filhos da puta" e não acontece nada ! Saudades do tempo em que uma fictícia "pedaladinha fiscal" ou um falso "triplex" provocavam um impeachment e não podiam nem dizer que tinha sido golpe porque magoava, Dilma Rousseff foi formalmente notificada pelo STF em maio de 2016 somente por ter falado o termo “golpe de Estado” para se referir ao impeachment !
RCO

Löwy sobre o "mito mitomano "




"Post Scriptum: Em 20 de abril Bolsonaro fez uma declaração significativa. Disse que cerca de “70% da população vai ser contaminada pela covid-19, isto é inevitável” Claro, seguindo a lógica da “imunização de grupo” (proposta inicial de Trump e Boris Johnson, depois abandonada), isto talvez pudesse acontecer. Mas só seria “inevitável” se Bolsonaro conseguisse impor sua política de recusa das medidas de confinamento: “o Brasil não pode parar”.
Quais seriam as consequências? A taxa de mortalidade da covid-19 no Brasil atualmente é de 7% das pessoas contaminadas. Um pequeno cálculo aritmético levaria à seguinte conclusão: (1) Se 70% da população brasileira fosse contaminada seriam 140 milhões de pessoas. (2) 7% de mortalidade de 140 milhões dá uns 10 milhões. (3) Se Bolsonaro conseguisse impor sua orientação, o resultado seriam dez milhões de brasileiros mortos.
Isto se chama, na linguagem penal internacional, genocídio. Por um crime equivalente, vários dignitários nazistas foram condenados à forca pelo Tribunal de Nuremberg."
Via Roberto Pereira

"Post Scriptum: Em 20 de abril Bolsonaro fez uma declaração significativa. Disse que cerca de “70% da população vai ser contaminada pela covid-19, isto é inevitável” Claro, seguindo a lógica da “imunização de grupo” (proposta inicial de Trump e Boris Johnson, depois abandonada), isto talvez pudesse acontecer. Mas só seria “inevitável” se Bolsonaro conseguisse impor sua política de recusa das medidas de confinamento: “o Brasil não pode parar”.
Quais seriam as consequências? A taxa de mortalidade da covid-19 no Brasil atualmente é de 7% das pessoas contaminadas. Um pequeno cálculo aritmético levaria à seguinte conclusão: (1) Se 70% da população brasileira fosse contaminada seriam 140 milhões de pessoas. (2) 7% de mortalidade de 140 milhões dá uns 10 milhões. (3) Se Bolsonaro conseguisse impor sua orientação, o resultado seriam dez milhões de brasileiros mortos.
Isto se chama, na linguagem penal internacional, genocídio. Por um crime equivalente, vários dignitários nazistas foram condenados à forca pelo Tribunal de Nuremberg."

Michael Löwy


El suicida



Enrique Anderson Imbert

Al pie de la Biblia abierta -donde estaba señalado en rojo el versículo que lo explicaría todo- alineó las cartas: a su mujer, al juez, a los amigos. Después bebió el veneno y se acostó.

Nada. A la hora se levantó y miró el frasco. Sí, era el veneno.

¡Estaba tan seguro! Recargó la dosis y bebió otro vaso. Se acostó de nuevo. Otra hora. No moría. Entonces disparó su revolver contra la sien. ¿Qué broma era ésa? Alguien -¿pero quién, cuándo?- alguien le había cambiado el veneno por agua, las balas por cartuchos de fogueo. Disparó contra la sien las otras cuatro balas. Inútil. Cerró la Biblia, recogió las cartas y salió del cuarto en momentos en que el dueño del hotel, mucamos y curiosos acudían alarmados por el estruendo de los cinco estampidos.

Al llegar a su casa se encontró con su mujer envenenada y con sus cinco hijos en el suelo, cada uno con un balazo en la sien.

Tomó el cuchillo de la cocina, se desnudó el vientre y se fue dando cuchilladas. La hoja se hundía en las carnes blandas y luego salía limpia como del agua. Las carnes recobraban su lisitud como el agua después que le pescan el pez.

Se derramó nafta en la ropa y los fósforos se apagaban chirriando.

Corrió hacia el balcón y antes de tirarse pudo ver en la calle el tendal de hombres y mujeres desangrándose por los vientres acuchillados, entre las llamas de la ciudad incendiada.

FIN

17 Mar 2006

Biblioteca Digital Ciudad Seva

Manifestação dos enfermeiros e profissionais de saúde é agredida em Brasília pelas milícias bolsonaristas.


"Manifestação dos enfermeiros e profissionais de saúde é agredida em Brasília pelas milícias bolsonaristas. Se os profissionais de saúde, os enfermeiros, os médicos, tivessem entendido porque os professores e intelectuais de humanas eram agredidos durante o golpe de 2015/2016 pelas mesmas hordas bolsonaristas que hoje os agridem. Se Gilmar Mendes tivesse declarado há 5 anos o que disse hoje, que o lavajatismo é a 'mãe do bolsonarismo'. Se estes grupos da sociedade, os juristas do STF, os jornalistas que apoiaram ou fizeram corpo mole durante o golpe e se ferraram na ascensão do bolsonarismo, os acadêmicos que dormiram durante o golpe e acordaram no meio do pesadelo ignaro e anticientífico do Weintraub, se os que hoje se afastam da pestilência bolsonarista, se todos eles tivessem entendido há cinco anos que tudo era parte do golpe e que a farsa a jato sempre foi um partido político de extrema-direita criado pela mídia, nunca foi nenhuma renovação moralizadora e nem salvadora, não estaríamos coletivamente na grave crise de saúde, na crise política, na crise econômica, na crise cultural, na crise educacional, na crise moral que estamos hoje em dia. Quem não fez nada há cinco anos hoje também tem que correr atrás do prejuízo."
rco

ADIAMENTO


 - Álvaro de Campos


Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...
Sim, o porvir...

Pode a atual Rússia comemorar plenamente o Dia da Vitória, 9 de maio ?


 Aquela foi uma vitória da União Soviética, de Stalin e qualquer especialista em história militar sabe o preço pago em dezenas de milhões de vidas militares e civis na derrota do nazifascismo. A atual Rússia está mais uma vez cercada e ameaçada com a perda do controle do Báltico, da Ucrânia, do Cáucaso, da Ásia Central. Se ainda tem armas de ponta é por causa da herança militar soviética. Em termos geopolíticos o que foi duramente conquistado em 1945 se perdeu em 1991. As antigas fronteiras czaristas e soviéticas recuaram, o que é uma derrota considerada como um dos piores desastres geopolíticos da história russa. A situação de crise na União Soviética não significou uma nova Rússia capitalista, rica e estável, pelo contrário a sociedade russa parece ter voltado mais de cem anos com a formação de poderosas e corruptas oligarquias organizadas no controle dos vastos recursos naturais russos. Stalin foi um dos mais implacáveis comandantes militares da história, comparável somente a poucos outros, como a um Alexandre o Grande, muito superior ao derrotado Napoleão. Stalin comandou de maneira autocrática a modernização soviética, a industrialização, eletrificação e quando morreu em pleno poder viu a mudança política e militar ocorrida desde a Alemanha Oriental até a China. Não haverá outro assim em mil anos. Recomendo a reflexão no filme  Enemy at the Gates - Círculo de Fogo - mostrando a realidade do soldado soviético e o filme Cross of Iron - Cruz de Ferro - sobre a realidade do soldado alemão, na verdade ambos filmes mostram um grande debate sobre a ética profissional, a verdadeira nobreza nas ações, a dedicação, o senso de dever e a coragem em momentos dramáticos.
RCO


“Amanhã também eu – a alma que sente e pensa, o universo que sou para mim – sim, amanhã eu também serei o que deixou de passar nestas ruas (...). E tudo quanto faço, tudo quanto sinto, tudo quanto vivo, não será mais que um transeunte a menos na quotidianidade de ruas de uma cidade qualquer.”
Bernardo Soares, 'Livro do desassossego'.


Eu não quero decepcionar quem espera um espetáculo para saber o que fazer ou mesmo para fugir, mas o autogolpe não virá com o som de tiros para o alto, tanques nas ruas e com o fechamento do Congresso em meio a aplausos de uma minoria fanática e sem máscaras. Esse estilo não sobrevive no mundo de hoje, e o ladrão não vai entrar pela frente, com a sala cheia.
O autogolpe não vai acontecer, ele está acontecendo, encontra-se em curso e quem ainda não se deu conta disso não conseguirá perceber uma virada mais radical no poder do presidente quando ela acontecer. Quando a ficha cair, já aconteceu, talvez há um bom tempo.
Há poucos anos, declarações como a que o presidente fez hoje já seriam um marco da virada, uma declaração de autogolpe. Ele desafiou os Poderes da República, disse que chegou no limite e que vai partir para a ação em nome da liberdade e da Constituição, qual ditador não defende a liberdade e a Constituição? Hoje seria o dia em que a democracia foi declarada e oficialmente derrubada. Ou o dia histórico em que a democracia derrubou e prendeu um presidente que de peito aberto e no exercício de suas funções desafiou o regime.
Mas nós não encaramos assim, não vimos como uma declaração de autogolpe porque desde o ano passado lemos e ouvimos absurdos e mais absurdos, e insistimos na tese de que as instituições são fortes e responderão. Elas não estão respondendo, a não ser com notas de repúdio, estão corroídas e intimidadas, e ficarão ainda mais, mas sobreviverão na fachada, na casca. Elas não serão fechadas e as ameaças disso parecem fazer parte dessa estratégia.
O que deve acontecer a partir de agora não é hollywoodiano. Devem ocorrer mais Marielles em Brasília e em todos os cantos, deixando parlamentares de oposição acuados e com medo de frentes que contenham o tirano. Deve ocorrer uma corrupta ação com o corrupto Centrão para a eleição de um presidente fantoche da Câmara, fazendo com que a Casa não seja mais um obstáculo para decretos e leis inconstitucionais e autoritárias.
O STF, acovardado, não será capaz de dar respostas aos desmandos, o controle da PF e de outros aparelhos de Estado vai ocorrer com outras nomeações, pois o que não falta é gente disposta a isso, as leis estapafúrdias entrarão em vigor e o controle será maior um pouquinho a cada dia, a perseguição será um pouquinho maior a cada dia, e as declarações do presidente continuarão como sempre foram, destemperadas e agressivas, e com ministros dizendo que protestos e declarações deste tipo fazem parte da democracia. Barroso, claramente amedrontado, acaba de falar exatamente isso na Globonews.
As milícias que já tomam conta de territórios ampliarão silenciosamente seus poderes e áreas de atuação, serão armadas e dificilmente desafiadas por poderes democráticos, sob pena de rápidas execuções e desaparecimentos. Estes não serão feitos pelos aparelhos de Estado, o trabalho sujo será feito por elas. Paras as Forças Armadas ensaia-se o papel da soberana Rainha da Inglaterra.
Em desdobramentos mais radicais, mas não creio que num futuro muito à frente, haverá um estrangulamento feroz de veículos de imprensa e acomodação com os que se aliarem e, em seguida, controle da Justiça Eleitoral para, em nome da liberdade e da democracia, tornar os "comunistas" ilegais, pois eles buscam a ditadura, e controlar o processo eleitoral.
E, acreditem, no meio disso tudo muitos ainda vão temer que a qualquer momento aconteça um autogolpe. Outros, por sua vez, continuarão apoiando o presidente e pedindo um novo AI-5.
Leonardo Valente

SONHO


SONHO
Quando crescer e tiver vinte anos,
Sairei para ver o maravilhoso mundo.
Me sentarei num pássaro motorizado;
Voarei para o espaço, bem alto.
Voarei, navegarei, rodarei.
em volta do belo e longínquo distante.
Passarei sobre rios e mares,
Para os céus me levarei e florescerei,
A nuvem será minha irmã, e o vento meu irmão.
Ficarei maravilhado com os rios Eufrates e Nilo,
Verei as Pirâmides e a Esfinge
O antigo Egito da deusa Ísis.
Voarei sobre as Cataratas do Niágara
Padecerei com o calor escaldante do Saara.
Voarei sobre os montes cheios de nuvens do Tibet
E pela misteriosa terra dos mágicos;
E quando me livrar da canícula, abrasante e terrível,
Retornarei para voar sobre os icebergs setentrionais.
Cansado, voareí pela imensa ilha do cangurú
E sobre as ruínas da cidade de Pompéia,
Sobre a Terra Santa do Velho Testamento
E também sobre a terra do famoso Homer
Voareí lentamente, planando mansamente.
E assim me perfumarei das maravilhas do mundo,
Para os céus me levarei e florescerei,
Tendo a nuvenzinha como irmã e o vento como irmão.
Avrham Koplowiicz
(Criança que nunca chegou a ter vinte anos, pois morreu
em setembro de 1944, no campo de concentração de Auschwitz)

desastrada a tentativa de invasão da Venezuela


Lamentável e politicamente desastrada a tentativa de invasão da Venezuela por uma empresa mercenária dos Estados Unidos, a Silvercorp USA.  Ex-militares dos dois países envolvidos e a operação foi derrotada com várias mortes, além da humilhante captura de dois mercenários estadunidenses, o que reforça a narrativa defensiva de Maduro. Pelo direito internacional os Estados Unidos e a Colômbia são responsáveis pela infiltração do grupo armado, uma espécie de mini-Baía dos Porcos, como a fracassada tentativa de invasão de Cuba em 1961. Trump, Duque e Guaidó ficaram ainda mais desgastados. Maduro e os bolivarianos venezuelanos chamaram para a porrada e uma invasão em larga escala da Venezuela parece incompatível com as baixas militares para os Estados Unidos nesta conjuntura. É bom os bolsonaristas também não se envolverem nos assuntos internos do país vizinho porque mal se seguram no poder no Brasil durante maio.
RCO

quarta-feira, 29 de abril de 2020

El cocinero Chichibio




Giovanni Boccaccio

Currado Gianfiglazzi se distinguía en nuestra ciudad como hombre eminente, liberal y espléndido, y viviendo vida hidalga, halló siempre placer en los perros y en los pájaros, por no citar aquí otras de sus empresas de mayor monta. Pues bien; habiendo un día este caballero cazado con un halcón suyo una grulla¹ cerca de Perétola y hallando que era tierna y bien cebada, se la mandó a su vecino, excelente cocinero, llamado Chichibio, con orden de que se la asase y aderezase bien. Chichibio, que era tan atolondrado como parecía, una vez aderezada la grulla, la puso al fuego y empezó a asarla con todo esmero.

Estaba ya casi a punto y despedía el más apetitoso olor el ave, cuando se presentó en la cocina una aldeana llamada Brunetta, de la que el marmitón estaba perdidamente enamorado; y percibiendo la intrusa el delicioso vaho y viendo la grulla, empezó a pedirle con empeño a Chichibio que le diese un muslo de ella. Chichibio le contestó canturreando:

-No la esperéis de mí, Brunetta, no; no la esperéis de mí.

Con lo que Brunetta irritada, saltó, diciendo:

-Pues te juro por Dios que si no me lo das, de mí no has de conseguir nunca ni tanto así.

Cuanto más Chichibio se esforzaba por desagraviarla, tanto más ella se encrespaba; así es que, al fin, cediendo a su deseo de apaciguarla, separó un muslo del ave y se lo ofreció.

Luego, cuando les fue servida a Currado y a ciertos invitados, advirtió aquel la falta y extrañándose de ello hizo llamar a Chichibio y le preguntó qué había sido del muslo de la grulla. A lo que el tramposo veneciano contestó en el acto, sin atascarse:

-Las grullas, señor, no tienen más que una pata y un muslo.

Amoscado entonces Currado, opuso:

-¿Cómo diablos dices que no tienen más que un muslo? ¿Crees que no he visto más grullas que esta?

-Y, sin embargo, señor, así es, como yo os digo; y, si no, cuando gustéis os lo demostraré con grullas vivas -arguyó Chichibio.

Currado no quiso enconar más la polémica, por consideración a los invitados que presentes se hallaban, pero le dijo:

-Puesto que tan seguro estás de hacérmelo ver a lo vivo -cosa que yo jamás había reparado ni oído a nadie- mañana mismo yo dispuesto estoy. Pero por Cristo vivo te juro que si la cosa no fuese como dices, te haré dar tal paliza que mientras vivas habrás de acordarte de mi nombre.

Terminada con esto la plática por aquel día, al amanecer de la mañana siguiente, Currado, a quien el descanso no había despejado el enfado, se levantó cejijunto, y ordenando que le aparejasen los caballos, hizo montar a Chichibio en un jamelgo y se encaminó a la orilla de una laguna, en la que solían verse siempre grullas al despuntar el día.

-Pronto vamos a ver quién de los dos ha mentido ayer, si tú o yo -le dijo al cocinero.

Chichibio, viendo que todavía le duraba el resentimiento al caballero y que le iba mucho a él en probar que las grullas solo tenían una pata, no sabiendo cómo salir del aprieto, cabalgaba junto a Currado más muerto que vivo, y de buena gana hubiera puesto pies en polvorosa si le hubiese sido posible; mas, como no podía, no hacía sino mirar a todos lados, y cosa que divisaba, cosa que se le antojaba una grulla en dos pies.

Llegado que hubieron a la laguna, su ojo vigilante divisó antes que nadie una bandada de lo menos doce grullas, todas sobre un pie, como suelen estar cuando duermen. Contentísimo del hallazgo, asió la ocasión por los pelos y, dirigiéndose a Currado, le dijo:

-Bien claro podéis ver, señor, cuán verdad era lo que ayer os dije, cuando aseguré que las grullas no tienen más que una pata: basta que miréis aquellas.

-Espera, que yo te haré ver que tienen dos -repuso Currado al verlas.

Y, acercándoseles algo más, gritó:

-¡Jojó!

Con lo que las grullas, alarmadas, sacando el otro pie, emprendieron la fuga. Entonces Currado dijo, dirigiéndose a Chichibio:

-¿Y qué dices ahora, comilón? ¿Tienen, o no, dos patas las grullas?

Chichibio, despavorido, no sabiendo en dónde meterse ya, contestó:

-Verdad es, señor, pero no me negaréis que a la grulla de ayer no le habéis gritado ¡Jojó!, que si lo hubierais hecho, seguramente habría sacado la pata y el muslo como estas han hecho.

A Currado le hizo tanta gracia la respuesta que todo su resentimiento se le fue en risas, y dijo:

-Tienes razón, Chichibio: eso es lo que debí haber hecho.

Y así fue como gracias a su viva y divertida respuesta, consiguió el cocinero salvarse de la tormenta y hacer las pases con su señor.

FIN

Sexta Jornada – Narración cuarta, El decamerón
1. Grulla: Ave zancuda de gran tamaño, de patas y cuello largos, con plumaje gris en el cuerpo, y negro y blanco en la cabeza y el cuello, que cuando vuela emite un graznido muy sonoro, y que suele mantenerse sobre un pie cuando se posa.

quarta-feira, 18 de março de 2020


"Colunistas da imprensa conservadora e políticos de direita, como Rodrigo Maia, reclamam por medidas de enfrentamento da crise econômica e contam com o SUS para resistirmos ao coronavírus.

Todos apoiaram com entusiasmo a emenda de congelamento dos gastos públicos e todas as políticas de destruição do Estado brasileiro.

Cadê a famosa autocrítica, que eles tanto cobram de outros?"

Luis Felipe Miguel

SONETO DAS VOGAIS


- Arthur Rimbaud

A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul, vogais,
Ainda desvendarei seus mistérios latentes:
A, velado voar de moscas reluzentes
Que zumbem ao redor dos acres lodaçais;

E, nívea candidez de tendas e areais,
Lanças de gelo, reis brancos, flores trementes:
I, escarro carmim, rubis a rir nos dentes
Da ira ou da ilusão em tristes bacanais;

U, curvas, vibrações verdes dos oceanos,
Paz de verduras, paz dos pastos, paz dos anos
Que as rugas vão urdindo entre brumas e escolhos;

O, supremo Clamor cheio de estranhos versos,
Silêncios assombrados de anjos e universos:
— Ó! Ômega, o sol violeta dos Seus olhos!

(Trad.: Augusto de Campos)


terça-feira, 17 de março de 2020

Poema para Curar


 by Alejandro Jodorowsky

Viaja de ti até ti mesmo, tratando de ser o que será.
A única maneira de avançar é extrair a voz da palavra, extrair o ato da intenção,
extrair o amor do apego e o desejo de seu objeto imaginário.
Penetrar o diâmetro do túnel da mente, perdendo mil e uma peles, não ser este nem o outro, uni-los em um só circulo, buscar a visão oculta atrás da visão.
De olho em olho ascender até a última consciência
O artificial é levado pelo vento, como um enxame de pétalas.
Então circulará em suas veias o licor das entranhas cósmicas.
Arruinando os cegos, integrando os bosques nus à árvore encouraçada.
Sua pátria será somente as pegadas de seus pés descalços e sua idade, a idade do mundo.
Enquanto tiver em sua frente uma definição, nunca mais em seu peito a víbora da inveja.
Nunca mais entre as suas pernas o desejo de um corpo sem alma.
Elegerá por caminho o impalpável nevoeiro.
Vencerá o espelho que compara.
Demolirá a pirâmide de ancestrais que leva incrustada em suas costas.
A ascensão e a queda se amalgamam.
Os olhos que vêem por fim se vêem.
Prazer incessante, orgasmo eterno, silencio que é a soma de todas as músicas.
Deus como um espinho de arvore gira sobre a palma de sua mão.
Te integras à espiral de astros.
No umbigo do mundo sua alma se banha.
Cada um de seus fios de cabelo se amarram no céu.
Uma nuvem plena de chuva colorida alimenta o choro de seu êxtase.
Floresce em sua boca uma árvore branca e negra.
Seus dedos traçam hieróglifos de fogo.
Este é o momento em que os limites se abrem
Como as pétalas de uma flor que cresce nos pântanos.
O que foi uma senda negra se espatifa em raios de luz.
Terminam as fronteiras, as definições ficam esfumaçadas.
Ninguém pode se comparar ou julgar.
Calma eterna.
Os Egos ilusórios deixam de ser ilhas e se entregam ao êxtase do coração único para se dissolverem em grandes batimentos de amor.
A fragrância de cada ser zomba das idéias cristalizadas.
O calor essencial dos sentimentos afetuosos.
Estrela brilhante dos atos bondosos.
O inesquecível tremor da paixão, isso é eterno.
Não vem, nem vai, é uma carícia daquilo que sempre é.
Quero que essas palavras beijem seus olhos.
Que a planta de seus pés acaricie o solo onde estão.
Que seu corpo desenhe no ar labirintos sagrados.
Nada é inútil, tudo serve para alguma coisa.
Uma busca que só pode terminar quando nos convertermos no que buscamos.
O filosofo se converte na verdade.
O artista se converte na beleza.
O nadador se converte na água
O poeta abre uma porta em seu poema.
Possa uma água sem fim inundar a sua memória
Que os ossos do crânio se cubram de palavras sagradas.
Que no lugar de dinheiro se troquem mariposas brancas.
Cada instante é a proa do tempo total
Esse instante é o momento eleito
Hoje a eternidade.
Seu corpo é infinito.
Seu eu é a divindade.
Abdica da memória.
Que o mundo dos gananciosos se torne invisível
Sente ternura por cada mente que se despreza
Seja como uma arvore que toma a forma do canto dos pássaros que a habitam.
Mãe e pai nosso que estão na terra e no céu.
Purifica e santifica nossos nomes
Façamos parte de seu reino
Faça sua vontade no nosso corpo como no nosso espírito
A consciência prometida para o futuro nos dê hoje
Recompense nossos esforços, assim como nós recompensamos os nossos colaboradores.
Nos dê entusiasmo para que continuemos a fazer o bem
Porque é paz, a bondade e o amor nesta hora eterna, amém.


nós fizemos um monstro com duas asas
de colunas dóricas, mas lhe demos mais,
demos-lhe também um uniforme negro
dos nossos pesadelos, capacete e luvas,
nós o pusemos hierático nos quadros e
creio que o dissecamos em nossos filmes.
nós o compusemos em pedaços de coisas
em tempos diversos, nós o consagramos
com barba comandante e doçura feminina,
ou por cruel feminino e macheza dócil.
nós o pusemos na escuridão dos cantos
esquecidos das nossas casas, sótão e porão,
entalamos sua cauda pontuda nas estantes,
nós lhe demos de comer comida gorda,
comida magra, nós o deixamos de jejum,
o revelamos em fotos do melhor contraste,
ou mal o discernimos fundido às sombras.
nós o amamos em sua invencível beleza
e o abominamos por sua inaceitável feiúra;
nós lhe demos um nome, mas subitamente
o medo de o dizermos nos paralisou e eis
que o conjuramos apenas e somente sem
o verbo, já perdido, entre a razão e o instinto.

 Sim, sou um poeta e sobre a minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.]

Nec spe nec metu! Ezra Pound by Alvin Langdon Coburn, 1913


Sim, sou um poeta e sobre a minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.]

Nec spe nec metu! Ezra Pound by Alvin Langdon Coburn, 1913

Não é o Coronavírus quem criou a crise econômica


Anisio Garcez HomemNão é o Coronavírus quem criou a crise econômica. Ela é fruto de uma imensa massa de capital especulativo (estamos falando de centenas de trilhões de dólares) sem capacidade de realizar lucros na produção e comércio de mercadorias. Não adianta injetar mais dinheiro no sistema financeiro porque ele está saturado de liquidez. Isso foi testado em 2008 e só arrastou o problema até aqui, numa bolha muito maior, para explodir, aí sim, pelo impacto da pandemia do coronavírus, mas poderia ser pela falência de um grande ramo industrial, como ainda é possível de acontecer. Em 2008 os bancos foram socorridos por Everests de dinheiro público tirados dos orçamentos dos governos para os serviços públicos e a previdência (a tal austeridade fiscal desenfreada) e foi como enxugar gelo. O efeito disso estamos vendo agora com a falência dos sistemas de saúde em todo o mundo, incapazes de dar conta do COVID-19. Os economistas burgueses - estes especialistas em matemática financeira e nada mais, que desprezam Marx - estão se dando conta de que sem capacidade de consumo dos salários e da renda de setores médios não há comércio e realização de lucro. Qual o problema então? O problema é que é impossível aos capitalistas multibilionários, ao mercado financeiro, às grandes fortunas, abrirem mão de montanhas enormes de dinheiro que têm em mãos para repassá-las aos assalariados sem desmoronar o sistema de produção do lucro, essência do capitalismo, porque o lucro tem como componente fundamental e inexorável baixar ao máximo o preço da força de trabalho. Ou seja, como previu Rosa Luxemburgo, o sistema capitalista entrou em colapso e já não pode mais funcionar pelas exacerbações ao limite de suas próprias contradições. A questão que se impõe é: em que momento as lideranças da classe trabalhadora por todo o mundo vão tomar consciência que soou a hora de instituir a propriedade coletiva dos poderosos meios de produção que a humanidade dispõe, planificar sua produção e pô-las a serviço da sobrevivência e bem-estar da espécie? Ficar atrelado à ideia fantasiosa de um capitalismo humanizado já passou da hora.
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Ricardo Corona Anisio, será que os financistas estão mesmo sem condições de lucro? Ou será que eles detêm o copyrigth do Coronavírus e, muito em breve, o de seu antídoto? A crise que estamos vivendo é bem profunda e sua enunciação foi dada por autores cyberpunks com seus personagens pós-orgânicos, pós-biológicos e pós-humanos, precisamente. E seus romances são certeiros, apesar de ser ficcionais, porque anunciam nesse "pós" uma crise que desenha o nosso fracasso "polítikus", pois percebem, atualmente, a imbricação entre capitalismo, comunismo e universo financeiro - acrescente-se aí nesse monstro financista de várias cabeças um corpo religioso. A ficção nos avisou.

Anisio Garcez Homem Ricardo Corona, o crash nas bolsas, com baixas acentuadas dos valores das ações, é a expressão de que os valores fictícios do capital no mercado financeiro não conseguem se relançar na produção porque não há mercado para tanto (leia-se não há consumidores!) e estão mostrando o que são: montanhas de capitais sem serventia (serventia para a realização do lucro que é nada mais nada menos do que expressão da exploração da mais-valia sobre a classe trabalhadora). É esse dilema que hoje enfrenta o grande capital e por isso o sistema está ruindo e pode levar consigo a destruição de força produtivas enormes como uma massa de trabalhadores mortos pelo COVID-19, uma massa de aposentados mortos que deixarão de receber da previdência, o fechamento de ramos inteiros da economia...mas, tudo isso (terreno fértil para alimentar todo o tipo de criação ou busca por distopias literárias) pode lançar a humanidade na barbárie e não relançar uma nova fase da economia capitalista como aos trancos e barrancos as duas grandes guerras fizeram. Há uma lei na natureza que estabelece que num determinado momento a quantidade se transforme em qualidade. É isso que está acontecendo agora. O capital - inclusive por vias artificiais e até mesmo mafiosas - acumulou-se numa tal proporção que não há como simplesmente valorizar-se, mesmo imaginando uma destruição da sociedade humana em quantidade avassaladora para criar uma possibilidade de "mercado" da reconstrução. Precisamos pensar em algo para por no lugar deste sistema da propriedade privada dos meios de produção que faliu ou está falindo e pode nos levar à barbárie.

Serginho Athayde Anísio, não tenho informações e conhecimento para discutir o texto apresentado dentro da sua narrativa. No entanto concordo que algo de novo acontece, já há algum tempo, que coloco como o emergir da sociedade do conhecimento, aquela que se dá quando a hegemonia da produção passa para a dos bens imateriais e faz surgir uma nova classe trabalhadora, a do precáriado. Por outro lado, quando a direita e a esquerda não tem rumo, esta colocada na ordem dia a barbárie da extrema direita, porque só o impossível é a saída para a civilização. A pandemia do coronavírus coloca o totalitarismo (neoliberalismo-Chauí) em xeque. O processo de globalização não tem volta; o estado tem que ser robusto para conter as próximas crises econômicas, políticas e sociais que serão globais; e que o estado de bem estar social que assegure a todos educação, saúde, segurança, moradia e aposentadoria, é uma necessidade global, como também uma política globalizada de defesa de todas as vida e a vida da Terra. Aos trabalhadores industriais e do precáriado cabe se unirem na luta local/global, para caminharem para a construção global de uma sociedade social democrata ou socialista, dependo da correlação de forças. No Brasil temos que exigir um governo de salvação nacional para deter a tragédia que o povo brasileiro vive e que se ampliará com esse governo das milícias, inclusive que deve organizar eleições gerais no curto prazo.

Ricardo Corona Anisio Garcez, a produção do corpo, que nos deu/dá diferentes conceituações em torno da ideia "trabalhador/trabalho" já não é mais o centro de interesse do capital. Este homem-máquina que já se transformou em homem-informação, hoje, é - ao menos tudo indica - descartável. Hoje o corpo recebe, assim, uma grave acusação: é limitado e perecível, imperfeito e impuro, fatalmente condenado ao descarte e à obsolescência. Trocando em miúdos: fabricar um vírus e depois uma vacina é algo altamente lucrativo.

Serginho Athayde Ricardo Corona, se Trump se manter imune, indica que os EUA já tem a vacina, o que reforça em muito a acusação da China e Irã, que fica mais verdadeira quando quer comprar as descobertas por laboratórios de outros países, quer ser proprietário da patente e lucrar sozinho.
Oculte ou denuncie isso

Ricardo Corona Serginho Athayde É isso aí, Serginho Athayde. É exatamente esse o jogo.

Serginho Athayde Trump jogou o coronavírus na China, Irã, Itália e Coreia do Sul. Na China para fazer um estrago econômico, político e social, como o laboratório dos EUA afirma que descobriu a vacina, mas só poderá produzi-la daqui a um ano, é possível que ao empestear a China em outubro do ano passado, quando 300 militares seus participaram de um jogo de guerra, acreditou que este ano a vacina já poderia ser usada e livraria o povo americano da tragédia. No Irã e Itália, o motivo foi de serem os centros comerciais na Europa e Oriente Médio da Rota da Seda, que quando estiver acabada a hegemonia americana estará debilitada no mundo através do surgimento da Eurásia. Quanto a Coréia do Sul, imagino que é decorrente do medo dela se aliar ou juntar-se com a Coréia do Norte, e de já ter chegado a tecnologia 5.0. Tudo que você escreveu acima, que interpreto como um discurso do pós-humano, que não domino, mas não subestimo. Tenho nas veias do meu coração três stents, uma resposta industrial ao meu problema, a caminho do ciborgue. Por outro lado, sei que 90% do meu corpo é uma composição de microrganismo, somada a 10% de células humanas. A penicilina e o antibiótico são composições de micro organismo, como um detergente feito de microrganismos modificado para comerem a gordura da caixa de nossa cozinha. As veias do coração são construídas também por eles, por que um deles não é modificado para comer a gordura alojada nas nossas veias? Gostaria muito de discutir esse futuro que esta aí desde 1900 com descoberta de Planck de que a partícula é onda também, do surgimento dessa realidade híbrida, material e imaterial. Um grande abraço!

Fatima de Freitas Ulisses Galetto pois é, mas se como eu, você leu e le textos que saem de boas reflexões, ajustadas e coherentes, estamos participando de um crescimento e compreensão global.

Serginho Athayde Ulisses Galetto, para mim, a realidade é o impossível e o poder esta na imaginação, que os artistas podem entender, palavras de ordem do maio francês de 68. Os políticos e economistas vivem atolados no possível, no que já era, nesses momentos de grandes transformações, ficam cegos, não conseguem imaginar o futuro. O mundo capitalista financeiro esta desmoronando, o Brazil esta destruído e dando uma banana para a tragédia do coronavírus. E a esquerda onde esta? Será que todos nós somos covardes, ou estamos sem rumo mesmo? Esta errado Lula, não podemos esperar até 2022!

Vitor Recacho Pode se dizer com uma certa segurança que a situação atual da economia deve-se a três fatos "recentes": 1) A entrada do leste asiático, principalmente da China e da Coreá do Sul na cadeia global de produção que derrubou custo, aumentou em muito a capacidade produtiva ociosa e dessa forma empurrando os salários para baixo nos países ocidentais; 2) A política do Quantitative Easing que foi usado para socorrer a economia em 2008 que tem como base derrubar os juros e aumentar a liquidez de forma incentivar à atividade econômica mas que na prática levou os juros das principais economias a taxas próximas de zero e incentivou o processo especulativo já existente das firmas, motivado pela busca de lucros pelo acionistas e; 3) Abertura da Conta Capital dos países a partir das décadas de 70/80.
O processo de financeirização não é novo porém ele foi acelerado com a abertura das Contas Capitais dos países e pela a concorrência gerada pela China, para as firmas continuarem gerando lucros para os acionistas fez-se necessário mover percentuais cada vez maiores do capital para especulação e isto debilitou o processo produtivo, diminuiu salários e aumentou a desigualdade, a crise de 2008 foi em partes resultado desse processo. Porém a solução usada para salvar os mercados e a firmas em 2008 em vez de tratar a causa, trata o sintoma. As taxas de juros quase nulas e o aumento da liquidez incentivou um processo voraz de fusões e aquisições que elevou o valor dos ativos financeiros e o endividamento das firmas.
Em 2018 "começou" a aparecer os primeiros sinais de que apesar de toda essa valorização a economia não ia bem. Tanto que esbouçou uma tentativa, que foi vencida, de subida da taxa de juros norte-americana pelo FED com uma tentava de diminuir a especulação e incentivar o investimento produtivo, porém isso foi recebido de forma muito ruim pelo mercado e pelas firmas dado o alto grau de alavancagem do mercado, uma subida de juros significaria um problema no resultados das firmas e consequentemente um redução dos lucros.
O Coronavírus foi apenas a fagulha que acendeu o estopim, a bolha já existia e crescia a paços largos. Os efeitos da quebra das bolsas de valores globais ainda vai ser sentido na diminuição do crédito, na demissão de trabalhadores e fechamento de pequenas e médias empresas nos próximos meses.
A situação atual da economia com alto grau de capacidade ociosa e juros próximos de zero, alguns até negativo, faz com que as políticas fiscais e monetárias tradicionais sejam ineficientes, a sinalização dos Bancos Centrais de usarem o mesmo receituário de 2008 mostra isso.

Claudio Ribeiro Com muito respeito, Vitor Recacho, tenho muitas dúvidas análise do panorama econômico global. No entanto, e por óbvio, estudarei seus comentários com seriedade para evitar conclusões precipitadas. Quanto ao coronavírus, creio, como você, que foi a fagulha do estopim, como foi, aqui, a dengue, a zika e, agora, o sarampo e outras doenças reaparecidas.

Vitor Recacho Claudio Ribeiro A questão do Coronavírus é que ele mexe com as expectativas dos agentes a nível global e devido a livre mobilidade de capitais entre países, financerização da economia e alto nível de alavancagem das firmas, uma mudança das expectativas gera um efeito cascata seja ele positivo ou negativo. A bolha financeira atual é uma continuidade da bolha de 2008 com acelerada pelo Quantitative Easing. Agora que as expectativas são ruins e os agentes buscam liquidez, a bolha explode e o valor dos ativos financeiros derrete.
Para o atual modelo econômico não é o caracter social e humano do Coronavírus que gera a crise mas a possibilidade de que as taxas de lucros parem de crescer.

Maria Torii O capitalismo ainda tem na desgraça da humanidade, o lucro dos laboratórios farmacêuticos, especulação financeira através dos lucros e rentabilidade entre quem pode ou não pagar fortunas para cura e prevenção de uma doença pan. A desgraça humana é o atual rendimento do mercado financeiro. O capitalismo sempre inventa uma nova maneira de lucrar.

Anisio Garcez Homem Maria Torii se fosse verdade o que você diz, que o "capitalismo sempre acha uma maneira de lucrar" ele seria um sistema eterno historicamente. O capitalismo só lucra através da exploração da mais-valia e essa mais-valia só se realiza na comercialização da mercadoria. Esse é todo o problema do sistema diante de um mercado limitado e de certa forma "destruído" pela especulação. Se os capitalistas passaram a escriturar lucros fictícios (D [dinheiro] - D' [dinheiro ampliado]) sem nenhum pudor isso são truques contábeis e não lucro realizado na troca de mercadorias. Um exemplo: os bancos brasileiros, todos eles realizaram lucros estupendos nos últimos anos e distribuíram dividendos enormes entre os acionistas, isso porque eles maquiaram os balanços fazendo constar como crédito a receber dívidas de empréstimos (com altas taxas de juros) que não serão pagas, ou seja, onde existia o rastro de alta inadimplência eles encobriram isso com escrituração fraudulenta para fazer a felicidade de alguns operadores espertalhões. Agora a bolha desta inadimplência vai explodir, por isso eles estão pedindo para serem socorridos pelo governo com dinheiro público para as "renegociações" das dívidas das famílias.

Serginho Athayde Anísio, correto, o capital com seu estado mínimo dessa vez não consegue ultrapassar a crise financeira do sistema. Só dar dinheiro para as empresas não é a saída, terá que dar também para os trabalhadores infectados, para os que entrarem em quarentena e pagar também os salários do resto enquanto a pandemia não seja extinta, e mais, para tanto, não se pode deixar nenhum foco no mundo, para isso as cidades e países estão parando em todo planeta. Por outro lado, terá que construir ou ampliar a saúde estatal e estabelecer um padrão global operacional global, para evitar gigantescas crises devido a possíveis mega prejuízos, causados por novas pandemias. Ou seja, o Estado terá que ser ampliado e o estado de bem estar social terá que ser uma das lutas principais dos trabalhadores industriais e do precáriado em todo mundo. A pandemia do corona vírus é uma espoleta que implode o totalitarismo (neoliberalismo-Chauí). Uma fato que não pode acontecer são as esquerdas olharem esse futuro imediato com os olhos do passado.
Oculte ou denuncie isso

Maria Torii Anisio Garcez Homem , já houveram interesses em fábricas de automóveis, imóveis, ouro, petróleo, ações de bancos, armamentos, tecnologia, hoje é a indústria farmacêutica. Os investidores migram, conforme a lucratividade aumenta. Faliram bancos, indústrias de automóveis, o mercado especulativo age conforme o seu interesse, capitalismo é selvagem, o mundo do lucro é o da esperteza, da visão de que ações são mais valiosas que o ser humano, e o poder do capital é somente lucro, o barateamento da mão de obra, já é passado, mais valia, é no mundo da produção, hoje é a indústria da morte, de seus insumos, dos produtos químicos ligados a doença, dos medicamentos , das compras em massa de governos. O lucro da morte já foi a dos armamentos, porém, hoje é a especulação financeira de indústrias de medicamentos, que é rentável ,chamado necrocapital. O capitalismo sempre foi ágil e migra seus interesses sempre onde há o lucro.

Vera Lucia Anunciação Só posso dizer q concordo com os dois primeiros períodos, Anísio, pois tb não conheço o suficiente pra discorrer a respeito. Na verdade, a maioria dos comentários q faço na minha página e na de outras pessoas são "chãozinhos": não demandam conhecimento profundo dos temas, mas apenas um pouco de informação e de bom senso. Ainda assim, dou muita bola afora! Muitas vezes, posto mais matérias informativas e/ou "indignativas" - e algumas vezes minha indignação vai até na grosseria, infelizmente, pois não gosto de perder as estribeiras...Agradeço teu texto e sinto não poder contribuir c a discussão. 😘

Vera Armstrong O capitalismo vive de crises e gera-las.Semore precisou da força de trabalho, só que os convenceu que são descartáveis e como tem gente demais e pouco emprego, há ainda mais exploração e esse vírus corona, também creio foi fabricado pra indústria farmacêutica e médica expandirem lucros, porém o que pode estar acontecendo e ficar evidenciado, que os governos que investem em Saúde Pública e Pesquisa Científica, estão enfrentando essa doença com mais possibilidade de cura. Afinal que importa de fato:
Vida humana ou lucro excessivos?
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Serginho Athayde Anísio e demais companheiros, a coisa boa que percebo nessa discussão, é que o facebook não é um espaço só para comentários, para se clicar gosto, etc., um instrumento para o reconhecimento do que acontece, uma plataforma a serviço da alienação do capital. Pode também ser um instrumento que permite o dialogo crítico, aquele que leva as pessoas através da crítica a crescerem juntas, sem medo de serem felizes. Do que estou entendendo até e desse momento, a pandemia do corona vírus esta parando aos poucos a sociedade capitalista global, e penso que com isso cada um de nós poderá entender individualmente o que nega homem, para negar coletivamente também o que nos nega. Na pandemia o vírus além de agir globalmente contagia a todos, capitalistas e trabalhadores, e impõe uma realidade de solidariedade e união: ou todos são protegidos, ou ninguém terá proteção. Exige, para que isto aconteça, que imediatamente se dinamize um processo de combate as carências e privilégios, para que a pandemia seja reduzida ou extinta em todo o mundo, já que a permanência de focos da doença oportunizam sua continuação e novo espalhamento, e isto só pode ser feito com a criação e ampliação de direitos. Ou seja, falam em dar trilhões dólares para as empresas, o que deve também se dar para os trabalhadores industriais e do precáriado. E não adianta tentar não dividir, nada fazer ou fazer pouco, o vírus se modifica com a própria velocidade da sua disseminação, um indicador de que os próximos serão mais letais. O que quero dizer é que o mundo se desmancha no ar e de todas as maneiras, e que o vírus pode ser representado como uma nano bomba atômica, uma nano espoleta que provoca uma reação em cadeia de átomos globalmente. A humanidade vive uma grande crise civilizatória, diversa e assustadora, pode ser a chegada do final dos tempos, do apocalipse e do Reino dos Céus, como disse Jesus, ou a grande crise econômica do capitalismo, a revolução e a sociedade socialista global, como disse Marx. Pode ser loucura, ignorância ou apenas estupidez minha, mas é o que acredito.
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Anisio Garcez Homem Paulo Antunes eu acho que vocês da FAFEN deveriam recolocar a questão do cancelmaneto das demissões e do não fechamento da fábrica. A questão é simples: desempregar neste momento é um desserviço pelo combate ao Coronavírus, depois, é um risco diante do fechamento das fronteiras e das dificuldades que virão para importar fertilizantes. É uma opinião.

Paulo Antunes Anisio Garcez Homem concordo plenamente com sua posição, porém já fomos todos demitidos, infelizmente perdemos a disputa pro TST que tem dono, Ives Gandra, perdemos pra Petrobrás que tem como dono Castelo Branco, perdemos pra prefeitura de Araucária que tem como Dono o Hissan, perdemos pra Assembléia legislativa que tem como dono o Traiano, perdemos pro Estado que tem como dono, Ratinho Jr e principalmente pra sociedade que tem como o seu maior influenciador o Facebook. Ou seja, depois de todas as lutas que travamos pra tentar reverter essa situação, ficou evidente pra todos nós que é uma luta injusta e desonesta,pois nem mídia, judiciário e política se posicionou a nosso favor. O que nos resta é lamber as feridas e tentar resistir de alguma maneira que confesso , não sei qual.

Anisio Garcez Homem Paulo Antunes, se já foram demitidos, coloquem a questão da readmissão e reabertura da fábrica de uma maneira que a população entenda. Confrontem o governo com a situação. É uma medida de defesa da vida e da sobrevivência da classe trabalhadora. O ambiente político e social mudou um pouco. Os discursos privatizantes, contra a saúde pública, da falta de dinheiro, todos estão em dificuldades neste momento de fazer porque não só a crise sanitária mostrou o desastre que o capitalismo está levando a humanidade como há uma própria crise no sistema capitalista mundial. Eu, se fosse o sindicato, apresentava uma carta pública à Petrobras e ao governo exigindo a readmissão e a reabertura da fábrica. Afinal de contas, vão ser mais 1000 trabalhadores sem salários numa crise sanitária dessas? Vai ser uma fábrica de fertilizantes desativada quando as importações mundiais de fertilizantes podem ser dificultadas ou cortadas e nossa agricultura vai ficar sem capacidade de produção para alimentar o povo? Eu tentaria esse diálogo com a população.
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Romance da lua


by Federico Garcia Lorca

A lua veio para a forja
Com seu polison de nardos.
O menino olha para ela.
O menino está olhando para ela.

No ar comovido
Move a lua seus braços
E ensina, lúbrica e pura,
Seus seios de duro estanho.

Foge Lua, Lua, Lua.
Se os ciganos viessem,
Eles fariam com seu coração
Colares e anéis brancos.

Rapaz, deixa-me dançar.
Quando os ciganos vierem,
Eles vão te encontrar sobre a bigorna
Com os olhos fechados.

Foge Lua, Lua, Lua.
Que eu já sinto seus cavalos.
Menino, deixe-me, não pise.
Meu brancor amidonado.

O Cavaleiro aproximava-se.
Tocando tambor do liso.
Dentro da forja a criança,
Tem os olhos fechados.

Pelo olival vinham,
Bronze e sono, os ciganos.
As cabeças levantadas
E os olhos entornados.

Como canta a zumaya,
Ai como canta na árvore!
Pelo céu vai a lua
Com uma criança de mãos dadas.

Dentro da forja choram,
Dando gritos, os ciganos.
O ar a vela, vela.
O ar está cuidando dela.



A exigência da “imitatio christi” , isto é a exigência de seguir o seu modelo, tornando-nos semelhantes e ele, deveria conduzir o homem interior ao seu pleno desenvolvimento e exaltação. Mas o fiel, de mentalidade superficial e formalística, transforma esse modelo num objeto externo de culto; a veneração desse objeto o impede de atingir as profundezas da alma, a fim de transformá-la naquela totalidade que corresponde ao modelo. Dessa forma o mediador divino permanece do lado de fora, como uma imagem, enquanto o homem continua fragmentário, intocado em sua natureza mais profunda” (Jung, Vol. XII, 1991, p. 20-21)

El nido de jilgueros




Jules Renard

En una rama ahorquillada de nuestro cerezo había un nido de jilgueros bonito de ver, redondo, perfecto, de crines por fuera y de plumón por dentro, donde cuatro polluelos acababan de nacer. Le dije a mi padre:

-Me gustaría cogerlos para domesticarlos.

Mi padre me había explicado con frecuencia que es un crimen meter a los pájaros en una jaula. Pero, en esta ocasión, cansado sin duda de repetir lo mismo, no encontró nada que responderme.

Unos días más tarde le dije de nuevo:

-Si quiero, será fácil. En un primer momento pondré el nido en una jaula, colgaré la jaula en el cerezo y la madre alimentará a sus polluelos a través de los barrotes hasta que ya no la necesiten.

Mi padre no me dijo qué pensaba de este sistema.

Por lo tanto instalé el nido en una jaula, colgué la jaula en el cerezo, y lo que había previsto sucedió: los padres jilgueros, sin vacilar, traían a los pequeños sus picos llenos de orugas. Y mi padre, divertido como yo, observaba de lejos el ir y venir de los pájaros, su plumaje teñido de rojo sangre y de amarillo azufre.

Una tarde le dije:

-Los pequeños ya están bastante fuertes. Si estuvieran libres, volarían. Que pasen una última noche con su familia y mañana me los llevaré a la casa; los colgaré de mi ventana y no habrá en el mundo jilgueros mejor cuidados que éstos.

Mi padre no dijo lo contrario.

A la mañana siguiente, encontré la jaula vacía.
FIN

«Le nid de chardonnerets», Histoires naturelles, 1894

Traducción de Esperanza Cobos Castro: relatosfranceses.com.

O governo dos banqueiros


 Artigo de Jürgen Habermas



"São os cidadãos, não os banqueiros, que têm de dizer a última palavra sobre as questões que afetam o destino europeu". O comentário é de Jürgen Habermas, filósofo e escritor alemão em artigo publicado no jornal no El País, 28-06-2015. Habermas lembra que "a Alemanha deve o impulso inicial para sua decolagem econômica, do qual ainda se alimenta hoje, à generosidade dos países credores que no Tratado de Londres, de 1954, perdoaram mais ou menos a metade de suas dívidas".

Segundo ele, "o acordo não está fracassando por causa de alguns bilhões a mais ou a menos, nem por causa de um ou outro imposto, mas unicamente porque os gregos exigem que a economia e a população explorada pelas elites corruptas tenham a possibilidade de voltar a funcionar através da quitação da dívida ou uma medida equivalente, como, por exemplo, uma moratória dos pagamentos vinculada ao crescimento".

Eis o artigo.

A última sentença do Tribunal de Justiça Europeu [que permite ao Banco Central Europeu (BCE) comprar dívida soberana para combater a crise do euro] lança uma luz prejudicial sobre a falida construção de uma união monetária sem união política. No verão de 2012, todos os cidadãos tiveram que agradecer a Mario Draghi, presidente do BCE, que com uma só frase [“farei o necessário para sustentar o euro”] salvou a moeda das desastrosas consequências de um colapso que parecia iminente. Ele tirou do sufoco o Eurogrupo ao anunciar que, caso fosse preciso, compraria dívida pública em quantidade ilimitada. Draghi teve que dar um passo à frente porque os chefes de Governo eram incapazes de agir pelo interesse comum da Europa; todos estavam hipnotizados, prisioneiros de seus respectivos interesses nacionais.

Naquele momento, os mercados financeiros reagiram – diminuindo a tensão – diante de uma única frase, a frase com a qual o presidente do BCE simulou uma soberania fiscal que absolutamente não possuía. Porque agora, assim como antes, são os bancos centrais dos países-membros os que aprovam os créditos, em última instância. O Tribunal Europeu não pode referendar essa competição contrária ao texto literal dos tratados europeus; mas as consequências de sua sentença deixam implícito que o BCE, com escassas limitações, pode cumprir o papel de credor de última instância.

O tribunal abençoou um ato salvador que não obedece em nada à Constituição, e o Tribunal Constitucional alemão apoiará essa sentença acrescentando as sutilezas às quais estamos acostumados. Alguém poderia estar tentado a afirmar que os guardiões do direito dos tratados europeus se veem obrigados a aplicá-lo, ainda que indiretamente, para mitigar, caso a caso, as consequências indesejadas das falhas de construção da união monetária. Defeitos que só podem ser corrigidos mediante uma reforma das instituições, conforme juristas, cientistas políticos e economistas vêm demonstrando há anos. A união monetária continuará sendo instável enquanto não for complementada pela união bancária, fiscal e econômica. Mas isso significa – se não quisermos declarar abertamente que a democracia é um mero objeto decorativo – que a união monetária deve se desenvolver para se transformar em uma união política. Aqueles acontecimentos dramáticos de 2012 explicam por que Draghi nada contra a corrente de uma política míope – até mesmo insensata, eu diria.

Estamos outra vez em crise com Atenas porque, já em maio de 2010, a chanceler alemã se importava mais com os interesses dos investidores do que com quitar a dívida para sanar a economia grega. Neste momento, evidencia-se outro déficit institucional. O resultado das eleições gregas representa o voto de uma nação que se defende com uma maioria clara contra a tão humilhante e deprimente miséria social da política de austeridade imposta ao país. O próprio sentido do voto não se presta a especulações: a população rejeita a continuação de uma política cujo fracasso as pessoas já sentiram de forma drástica em suas próprias peles. De posse dessa legitimação democrática, o Governo grego tentou induzir uma mudança de políticas na zona do euro. E tropeçou em Bruxelas com os representantes de outros 18 Governos, que justificam sua recusa remetendo friamente a seu próprio mandato democrático.

Recordemos os primeiros encontros, quando os novatos – que se apresentavam de maneira prepotente motivados por sua vitória arrebatadora – ofereciam um grotesco espetáculo de troca de golpes com os residentes, que reagiam em parte de forma paternalista, em parte de forma desdenhosa e rotineira. Ambas as partes insistiam como papagaios que tinham sido autorizadas cada uma por seu respectivo “povo”. A comicidade involuntária desse estreito pensamento nacional-estatal expôs com grande eloquência, diante da opinião pública europeia, aquilo que realmente é necessário: formar uma vontade política comum entre os cidadãos em relação com as transcendentais fraquezas políticas no núcleo europeu.

As negociações para se chegar a um acordo em Bruxelas travam porque ambas as partes culpam a esterilidade de suas conversas não às falhas de construção de procedimentos e instituições, mas sim à má conduta de seus membros. O acordo não está fracassando por causa de alguns bilhões a mais ou a menos, nem por causa de um ou outro imposto, mas unicamente porque os gregos exigem que a economia e a população explorada pelas elites corruptas tenham a possibilidade de voltar a funcionar através da quitação da dívida ou uma medida equivalente, como, por exemplo, uma moratória dos pagamentos vinculada ao crescimento.

Os credores, por outro lado, não cedem no empenho para que se reconheça uma montanha de dívidas que a economia grega jamais poderá saldar. É indiscutível que a quitação da dívida será irremediável, a curto ou a longo prazo. No entanto, os credores insistem no reconhecimento formal de uma carga que, de fato, é impossível de ser paga. Até pouco tempo atrás, eles mantinham inclusive a exigência, literalmente fantástica, de um superávit primário superior a 4%. É verdade que essa demanda foi baixada para 1%, que tampouco é realista. Mas, até o momento, a tentativa de se chegar a um acordo, do qual depende o destino da União Europeia, fracassou por causa da exigência dos credores de sustentar uma ficção.

Naturalmente, os países doadores têm razões políticas para sustentá-la, já que no curto prazo isso permite adiar uma decisão desagradável. Temem, por exemplo, um efeito dominó em outros países devedores. E Angela Merkel também não está segura de sua própria maioria no Bundestag. Mas não há nenhuma dúvida quanto à necessidade de rever uma política equivocada à luz de suas consequências contraproducentes. Por outro lado, também não se pode culpar apenas uma das partes pelo desastre. Não posso julgar se há uma estratégia meditada por trás das manobras táticas do Governo grego, nem o que deve ser atribuído a imposições políticas, à inexperiência ou à incompetência dos negociadores. Essas circunstâncias difíceis não permitem explicar por que o Governo grego faz com que seja difícil até mesmo para seus simpatizantes discernir um rumo em seu comportamento errático.

Não se vê nenhuma tentativa razoável de construir coalizões; não se sabe se os nacionalistas de esquerda têm uma ideia um tanto etnocêntrica da solidariedade e impulsionam a permanência na zona do euro apenas por razões de astúcia, ou se sua perspectiva vai além do Estado-nação. A exigência de quitação da dívida não basta para despertar na parte contrária a confiança de que o novo Governo vá ser diferente, de que atuará com mais energia e responsabilidade do que os Executivos clientelistas aos quais substituiu. Tsipras e o Syriza poderiam ter desenvolvido o programa reformista de um Governo de esquerda e apresentá-lo a seus parceiros de negociação em Bruxelas e Berlim.

A discutível atuação do Governo grego não ameniza nem um pouco o escândalo de que os políticos de Bruxelas e Berlim se negam a tratar seus colegas de Atenas como políticos. Embora tenham a aparência de políticos, eles só falam em sua condição econômica de credores. Essa transformação em zumbis visa a apresentar a prolongada situação de insolvência de um Estado como um caso apolítico próprio do direito civil, algo que poderia levar à apresentação de ações ante um tribunal. Dessa forma, é muito mais fácil negar uma corresponsabilidade política.

Merkel fez o Fundo Monetário Internacional (FMI) embarcar desde o início em suas duvidosas manobras de resgate. O FMI não tem competência sobre as disfunções do sistema financeiro internacional; como terapeuta, vela por sua estabilidade e, portanto, atua no interesse conjunto dos investidores, principalmente dos investidores institucionais. Como integrantes da troika, as instituições europeias também se fundem com esse ator, de tal forma que os políticos, na medida em que atuem nessa função, podem se restringir ao papel de agentes que se regem estritamente por normas e dos quais não se podem exigir responsabilidades.

Essa dissolução da política na conformidade com os mercados pode explicar a falta de vergonha com a qual os representantes do Governo federal alemão, todos eles pessoas sem mácula moral, negam sua corresponsabilidade política nas devastadoras consequências sociais que aceitaram, como líderes de opinião no Conselho Europeu, por causa da imposição de um programa neoliberal de austeridade. O escândalo dentro do escândalo é a cegueira com que o Governo alemão percebe seu papel de liderança. A Alemanha deve o impulso inicial para sua decolagem econômica, do qual ainda se alimenta hoje, à generosidade dos países credores que no Tratado de Londres, de 1954, perdoaram mais ou menos a metade de suas dívidas.

Mas não se trata de um escrúpulo moral, e sim do núcleo político: as elites políticas da Europa não podem continuar se escondendo de seus eleitores, ocultando até mesmo as alternativas ante as quais nos coloca uma união monetária politicamente incompleta. São os cidadãos, não os banqueiros, que têm de dizer a última palavra sobre as questões que afetam o destino europeu.