sexta-feira, 7 de maio de 2010

Animated film noir short

Le "sage" Tzvetan Todorov: "Il n'y a pas de choc des civilisations"

Ela se sentou e se cobriu com o lençol. Que hora mais estranha de se ter pudor! Mas não era pudor, era medo, porque naquele dia ela estava nua. Não apenas seu corpo se mostrava inteiro àquele homem que a possuíra, mas sua alma estava despida, tocável, ao alcance de qualquer coração ou mente… Naquele momento de verdade absoluta, ela se via totalmente entregue e teve medo.



O que ele faria se a percebesse assim? Talvez o fim de todo mistério e a certeza da conquista o deixasse tomado de tédio e desejando um outro alguém ainda não desvendado nem conquistado. Ou talvez ele também se despisse para ela! Talvez ele entendesse aquele momento supremo da entrega total, não apenas de dois corpos mas a fusão de dois seres que se completam, quem sabe ele também baixasse a guarda, se tornasse humano, e seria tão bom…



Mas a cama já estava fria, a sensação mágica já o tinha abandonado, prova disso era o barulho do chuveiro e a melodia fora de tom que ele cantarolava no banheiro. Ele já estava de volta à sua realidade de “ser sozinho”, apenas ela ainda permanecia sentada, enrolada nos lençóis macios pulsando e pensando entre ser natural ou ser ideal. Mas o que ele espera? Ela se pergunta. Qual seria o próximo olhar ideal, o sorriso esperado que lhe traria mais momentos como aquele: de calor, prazer e dúvidas? O que daria a ele o desejo de ter mais? Mais daquela mulher, que o preenchia em seus desejos e lhe oferecia um quase amor e um abraço quase terno.



Olhando pela janela enquanto o sol nasce lá fora ela sorri e admite para si mesma: Ela o ama! Pronto! Está acabado! Ela o ama e talvez isso seja motivo suficiente para que tudo termine ali, de uma vez. E se terminasse também seria bom, ao menos seu sono seria mais leve, sua consciência estaria mais leve e sua vida teria peso e medidas corretas para caber no que chamam por aí de felicidade. Não existem finais felizes para histórias como essas. Afinal, não existem finais para histórias como essas e isso traz uma ferida que sangra sempre, sem remédio, sem paliativo, sem palavras…



O barulho do chuveiro acabou. Ela logo vai reencontrar seu algoz e seu amor, e rapidamente ela decide: Continuar fingindo. Fingindo casualidade, falta de compromisso e de amor. Ela se levanta, solta os lençóis deixando a mostra toda sua beleza, e lhe diz sem olhar em seus olhos:



“ Por que não me acordou? Preciso ir! Já estou atrasada…”



Cláudia Ferreira de Moura (1977) é paulistana, casada e tenho um filho. Além de dona de casa e estudante de pedagogia, escreve, como diz, “por que é assim que consigo organizar meu mundo. Amo as palavras e elas me completam”. Profere conferências sobre relacionamentos. Atualmente mora em Gravatal, Santa Catarina.

fonte : Blog Releituras
E-mail: feiapracaramba@yahoo.com.br

História do Olho, Georges Bataille

Georges Bataille é um autor que tem seus estudos reverberando mais no meio acadêmico do que sua literatura nas livrarias; e quando chega a elas, acaba recebendo o rótulo incompleto de “literatura erótica”. Há quem defenda que até essa denominação seja errônea: uma leitura superficial sobre um montador de histórias vastamente embasado em excelentes teorias próprias e narrador sagaz.

Bataille teve a chance de ver em vida três edições de História do Olho, todas sob o pseudônimo de Lord Auch. A primeira em 1928, a terceira em 1952. Mesmo esta última não passou da tiragem de 500 exemplares, mostrando que sua obra seria mais bem aproveitada por gerações futuras.

A grande magia já acontece no título: História do Olho. Não se trata de um olho, mas de vários olhos que estão interligados numa mesma história – mesmo que não participem dela, ou mesmo até mortos. É esse deleite de Bataille em lançar luz sobre o que está esquecido pela narrativa, apontando vida em todas as direções, outras possíveis histórias sendo escritas ao mesmo tempo.

O primeiro capítulo, por exemplo: «O olho do gato». No início, a personagem Simone senta-se nua em um prato de leite levando ao orgasmo o protagonista que observa tudo a certa distância. Sabemos que o prato de leite no corredor era deixado para o gato, mas o animal não aparece na cena. Quer dizer: com o título criado pelo autor, é possível sentir a presença do gato no mesmo recinto, mesmo que nenhuma palavra na narrativa tenha se preocupado em designar isso. E o livro vai se sucedendo desta maneira: a exploração do erotismo através desses personagens, utilizando-se de várias experiências – não somente sentindo, mas contextualizando, compreendendo, associando. Num fluxo narrativo claro e elegante, mesmo que palavrões apareçam constantemente no texto para identificar “porra”, “merda” ou “cu”. O contexto abarca uma suavidade e valorização das sensações físicas para a qual seria impossível o uso de uma linguagem que camuflasse essa vivência mais básica. E a nudez da linguagem torna-se extremamente original e delicada, em oposição à sexualidade quase etérea de Anaïs Nin ou o bruto descortinar de Sade – já que o nu em Sade é a humilhação; em Bataille, a liberdade. «O ser absurdo possui todos os direitos», nos afirma o autor no decorrer do livro.

O prefácio a esta edição, de Eliane Robert Moraes, deixa claro que esta curta narrativa tem muito de autobiográfico e que foi feita por recomendação do psicanalista de Bataille, para que seu paciente expelisse no papel fantasias sexuais e obsessões de infância. O término desta narrativa gerou no autor um nítido tipo de cura, onde suas lembranças só puderam tomar vida deformadas, irreconhecíveis; e assim se instaura uma obra de ficção.

Aí pode entender-se quando Bataille afirma no livro O Erotismo que «o sentido último do erotismo é a morte». O erotismo, embora se oponha à reprodução, é seu fundamento. A reprodução envolve a relação sexual entre dois seres descontínuos que trazem em si a continuidade. Por si só, o ser humano possui o que Bataille chama de «nostalgia da continuidade perdida». Essa nostalgia é a base das três formas de erotismo que defende: erotismo dos corpos, erotismo dos corações e erotismo sagrado.

Nessas três formas de experiência erótica existe a busca pela substituição do isolamento do ser, a substituição de sua descontinuidade por um sentimento de continuidade profunda. O erotismo dissimula a descontinuidade individual e será sempre violência, pois arrancar o ser da descontinuidade é um ato violento comparável com a morte que nos tira da nossa persistência em conservar o ser descontínuo que somos. Ao mesmo tempo em que buscamos a experiência da continuidade, a tememos, por ela simbolizar a morte. Tememos o aniquilamento da individualidade descontínua, pois a realização erótica visa a destruição.

O erotismo dos corações sempre tem origem no dos corpos, mas difere dele por alcançar uma estabilidade proveniente da afeição entre os amantes. Aqui também há violência, pois a paixão pode ser mais brutal do que o simples desejo, fazendo com que a felicidade anunciada seja facilmente perdida e a vida se transforme em não-presente, prisão. Trata-se da relação entre dois seres descontínuos que anseiam uma continuidade impossível, despertando desejos de morte quando da constatação dessa impossibilidade.

A transcendência do ser pode ser alcançada através da terceira forma de erotismo, o sagrado, e em torno disso gira História do Olho. Nesse caso a ação erótica é comparável ao sacrifício religioso: a morte ritualística quebra a descontinuidade por meio do retorno ao divino. A continuidade do ser não é conhecível, mas sua experiência é dada através da experiência mística. Para Bataille, esse erotismo representa um tipo de religião sem dogmas: uma experiência erótica interior verdadeira criando consciência, retorno à natureza.

por Enzo Potel

Blog Orgia Literária  http://www.orgialiteraria.com/


História do Olho
Georges Bataille
trad. Eliane Robert Moraes
Cosacnaify
2008
Margaret Price – “Liebst du um Schönheit” do Rückert lieder, de Mahler


If you love for beauty, oh, do not love me!
Love the sun, she has golden hair!
If you love for youth, oh, do not love me!
Love the spring, it is young every year!
If you love for treasure, oh, do not love me!
Love the mermaid, she has many shimmering pearls!
If you love for love, oh yes, do love me!
Love me ever, Ill love you evermore!

Liebst du um Schönheit, o nicht mich liebe!
Liebe die Sonne, sie trägt ein goldnes Haar!
Liebst du um Jugend, o nicht mich liebe!
Liebe den Frühling, der jung ist jedes Jahr!
Liebst du um Schätze, o nicht mich liebe!
Liebe die Meerfrau, sie hat viel Perlen klar!
Liebst du um Liebe, o ja mich liebe!
Dich lieb’ ich immer dar!

Fonte: Blog Leituras Favre

José van Dam sings An die Musik

The Music Teacher - Ich Bin Der Welt Abhanden Gekommen

"A Tanto Duol" Music Teacher

A Carícia Perdida

Tradução de Carlos Seabra




Sai-me dos dedos a carícia sem causa,

Sai-me dos dedos… No vento, ao passar,

A carícia que vaga sem destino nem fim,

A carícia perdida, quem a recolherá?

Posso amar esta noite com piedade infinita,

Posso amar ao primeiro que conseguir chegar.

Ninguém chega. Estão sós os floridos caminhos.

A carícia perdida, andará… andará…

Se nos olhos te beijarem esta noite, viajante,

Se estremece os ramos um doce suspirar,

Se te aperta os dedos uma mão pequena

Que te toma e te deixa, que te engana e se vai.

Se não vês essa mão, nem essa boca que beija,

Se é o ar quem tece a ilusão de beijar,

Ah, viajante, que tens como o céu os olhos,

No vento fundida, me reconhecerás?


Alfonsina Stormi
fonte:Mulheres que Amo  http://zezepina.utopia.com.br/poesia

La Atlántida

Cuando aquella vasta isla que los antiguos llamaban Atlántida comenzó a hundirse en el océano, los más sagaces de sus habitantes decidieron embarcarse y mudarse a otro continente. Lamentablemente sus barcos eran pequeños y bastó una sola tempestad para tragarse a todos los emigrantes. Pero la gran mayoría de los atlánticos se habían quedado en la isla; de hecho, todas las profecías preveían un gradual reelevamiento del nivel de las tierras, y los isleños, como sucede a menudo, creían más en las profecías que en la realidad de lo que veían con los ojos y tocaban con la mano. Por eso, inundadas las llanuras costeras y amenazadas por las olas las primeras colinas, los periódicos atlánticos continuaban alentando a la población: "Hemos tenido una nueva confirmación, venida de las más altas esferas científicas de la isla, de que está prevista la progresiva elevación de la plataforma continental atlántica, cuyo movimiento parece haber sido tan repentino que ha arrastrado consigo las aguas del océano; esto explica el hecho de que éstas hayan alcanzado en algunas localidades un nivel falsamente preocupante. En la espera del retorno, sin duda inminente de las aguas geológicamente impelidas, los habitantes y animales sobrevivientes se han refugiado en las montañas que rodean a la capital. El gobierno ha tomado las medidas apropiadas para evitar este temporario peligro, mediante oportunos diques y barreras, mientras los sacerdotes amorosamente se ocupan de bendecir los restos flotantes".

Más subían las aguas, más optimistas se volvían los comunicados distribuidos por las agencias de noticias, más inminente era declarado el reflujo de la marea, con la consiguiente adquisición por parte del patrimonio nacional de nuevas e ilimitadas extensiones de tierra enriquecida por el fértil humus de milenios de vida submarina. Por eso nadie hizo nada, y cuando el último habitante, que era justamente el presidente del consejo, se encontró en la cima de la más alta montaña del país, con el agua al pecho, se oyó decir a los ministros que flotaban en torno suyo, cada uno aferrado a su propio escritorio: "Valor, excelencia, lo peor ya pasó".

FIN

http://www.ciudadseva.com/
Maria Rita Kehl
- O Estado de S.Paulo, 03/05/2010




O motoboy Eduardo Pinheiro dos Santos nasceu um ano depois da promulgação da lei da Anistia no Brasil, de 1979. Aos 30 anos, talvez sem conhecer o fato de que aqui, a redemocratização custou à sociedade o preço do perdão aos agentes do Estado que torturaram, assassinaram e fizeram desaparecer os corpos de opositores da ditadura, Pinheiro foi espancado seguidas vezes, até a morte, por um grupo de 12 policiais militares com os quais teve o azar de se desentender a respeito do singelo furto de uma bicicleta. Treze dias depois do crime, a mãe do rapaz recebeu um pedido de desculpas assinado pelo comandante-geral da PM. Disse então aos jornais que perdoa os assassinos de seu filho. Perdoa antes do julgamento. Perdoa porque tem bom coração. O assassinato de Pinheiro é mais uma prova trágica de que os crimes silenciados ao longo da história de um país tendem a se repetir. Em infeliz conluio com a passividade, perdão, bondade, geral.



Encararemos os fatos: a sociedade brasileira não está nem aí para a tortura cometida no País, tanto faz se no passado ou no presente. Pouca gente se manifestou a favor da iniciativa das famílias Teles e Merlino, que tentam condenar o coronel Ustra, reconhecido torturador de seus familiares e de outros opositores do regime militar. Em 2008, quando o ministro da Justiça Tarso Genro e o secretário de Direitos Humanos Paulo Vannuchi propuseram que se reabrisse no Brasil o debate a respeito da (não) punição aos agentes da repressão que torturaram prisioneiros durante a ditadura, as cartas de leitores nos principais jornais do País foram, na maioria, assustadoras: os que queriam apurar os crimes foram acusados de ressentidos, vingativos, passadistas. A culpa pela ferocidade da repressão recaiu sobre as vítimas. A retórica autoritária ressurgiu com a força do retorno do recalcado: quem não deve não teme; quem tomou, mereceu, etc. A depender de alguns compatriotas, estaria instaur ada a punição preventiva no País. Julgamento sumário e pena de morte para quem, no futuro, faria do Brasil um país comunista. Faltou completar a apologia dos crimes de Estado dizendo que os torturadores eram bravos agentes da Lei em defesa da - democracia. Replico os argumentos de civis, leitores de jornais. A reação militar, é claro, foi ainda pior. "Que medo vocês (eles) têm de nós."



No dia em que escrevo, o ministro Eros Graus votou contra a proposta da OAB, de revisão da Lei da Anistia no que toca à impunidade dos torturadores. Para o relator do STF, a lei não deve ser revista. Os torturadores não serão julgados.



O argumento de que a nossa anistia foi "bilateral" omite a grotesca desproporção entre as forças que lutavam contra a ditadura (inclusive os que escolheram a via da luta armada) e o aparato repressivo dos governos militares. Os prisioneiros torturados não foram mortos em combate. O ministro, assim como a Advocacia Geral da União e os principais candidatos à Presidência da República sabem que a tortura é crime contra a humanidade, não anistiável pela nossa lei de 1979. Mas somos um povo tão bom. Não levamos as coisas a ferro e fogo como nossos vizinhos argentinos, chilenos, uruguaios. Fomos o único país, entre as ferozes ditaduras latino-americanas dos anos 60 e 70, que não julgou seus generais nem seus torturadores. Aqui morrem todos de pijamas em apartamentos de frente para o mar, com a consciência do dever cumprido.



A pesquisadora norte-americana Kathrin Sikking revelou que no Brasil, à diferença de outros países da América latina, a polícia mata mais hoje, em plena democracia, do que no período militar. Mata porque pode matar. Mata porque nós continuamos a dizer tudo bem.



Pouca gente se dá conta de que a tortura consentida, por baixo do pano, durante a ditadura militar é a mesma a que assistimos hoje, passivos e horrorizados. Doença grave, doença crônica contra a qual a democracia só conseguiu imunizar os filhos da classe média e alta, nunca os filhos dos pobres.



Um traço muito persistente de nossa cultura, dizem os conformados. Preço a pagar pelas vantagens da cordialidade brasileira. "Sabe, no fundo eu sou um sentimental (...). Mesmo quando minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar/ Meu coração fecha os olhos e sinceramente, chora." (Chico Buarque e Ruy Guerra).



Pouca gente parece perceber que a violência policial prosseguiu e cresceu no País porque nós consentimos - desde que só vitime os sem-cidadania, digo: os pobres.



O Brasil é passadista, sim. Não por culpa dos poucos que ainda lutam para terminar de vez com as mazelas herdadas de 21 anos de ditadura militar.



É passadista porque teme romper com seu passado. A complacência e o descaso com a política nos impedem de seguir frente. Em frente. Livres das irregularidades, dos abusos e da conivência silenciosa com a parcela ilegal e criminosa que ainda toleramos, dentro do nosso Estado frouxamente democratizado.
Russian and American soldiers, part of the Allied occupation forces, at a multi-national party. In May 1945 Berlin was liberated by the Allied and the Soviet troops. On May 7th Germany signed its defeat, thus ending the Second World War.