sexta-feira, 31 de março de 2017



O capiroto acabou de aprovar a coisa. Fingiu que cortou uma coisinha, aqui outra ali, mas o que cortou é irrelevante e diz respeito ao tempo de experiência do funcionário antes da contratação definitiva. A terceirização será ampla . Fica uma pergunta: ainda nos organizaremos com hora marcada para estar nas ruas e derrubar esse governo? Ou não sairemos dela até que ele caia? A Globo faz o papel dela direitinho, o de convencer que sindicatos e afins não é povo. E nós parecemos mais um bando de largados no baile gostando da música.

Lázara Papandrea

309.


A política tem que ser moderada. O que tem de ser radical, nazi-jacobinisticamente radical, é o humor.

RM

310

Como espécie de antídoto sociossintático pruma época de “ingênua hipertrofia da personalidade” (como Nabuco definiu a intolerância), gostaria que os gramáticos, num próximo acordo ortográfico, defendessem esta urgente, urgentíssima medida: os pontos de exclamação, a separação silábica de ênfase e a caixa alta devem ser com-ple-ta-men-te ELIMINADOS!!!!!

RM
Quando Rio Branco morreu (o mesmo que, sem um único tiro de canhão, aumentou o Brasil em 900.000 km²), o carnaval foi adiado por Hermes da Fonseca. Era fevereiro de 1912. Marcou-se, em respeito às exéquias do fronteiro-mor brasileiro, nova data pra folia. Foi o ano em que houve – muito antes de carnavais fora de época e das micaretas de hoje em dia – dois carnavais. Pulou-se com o corpo do Barão ainda quente, extraoficialmente, e pulou-se depois, conforme deixa e pretexto do Presidente da República nos Estados Unidos do Brasil.
Dizem que Juca Paranhos (o Barão) adorava uma birita, um rabo de saia, uma dívida impagável e um carnaval rasgado pra se esboroar. Depois, sempre voltava pros seus mapas, títulos e diplomas. Se é verdade que os mortos custam um pouco a entender que já morreram, o espírito do Barão só pode ter pulado – e como! – os tristes carnavais daquele ano.
*
Brasil, a maior potência mundial na guerra de serpentinas.

RM

[Um Amor Depois do Outro]



Chegará o momento
em que, eufórico,
você se saudará ao chegar
a sua própria porta, ao seu próprio espelho
e cada um sorrirá à saudação do outro
e dirá, sente aqui. Coma.
Você amará de novo o estranho que você era.
Dê vinho. Dê pão. Devolva seu coração
para si mesmo, pro estranho que o amou
toda a sua vida, que você ignorou
por um outro, que o conhece de cor.
Tire as cartas de amor da prateleira,
as fotografias, as anotações desesperadas,
descasque do espelho a sua própria imagem.
Sente-se. Banqueteie-se de sua vida.
[Derek Walcott, 1930-2017/ trad. Rodrigo Madeira]


ÉL


Él ganó todas las batallas.
Su pelea fue cuerpo a cuerpo
con armaduras y sin ellas.
Se armó con flechas
pudo crear espadas
hizo alianzas con el veneno
logró esculpir el fuego
desnudó el alma de los químicos
supo afilar las palabras
y blandir los libros.
Él murió tantas vezes
y fue vencedor muchas más,
peleó tanto y viene tan cansado.
Él ganó todas las batallas
menos una,
menos una con cara de mujer.


 LUZ HELENA CORDERO (Bucaramanga,Colômbia, 1961-)
Tradução Rodrigo Madeira