terça-feira, 16 de novembro de 2010

Piano

Suavemente, na penumbra, uma mulher canta para mim;

Fazendo-me voltar e descer o panorama dos anos, até que vejo

uma criança sentada debaixo do piano, na explosão do prurido das

cordas

E pressionando os pequenos, suspensos pés de uma mãe que sorri

enquanto ela canta.

Apesar de mim, a insidiosa mestria da canção

Atraiçoa-me fazendo-me voltar, até que o meu coração chora para

pertencer

Ao antigo entardecer dos domingos em casa, com o inverno lá fora

E hinos na aconchegada sala de visitas, o tinido do piano o nosso guia.

Por isso agora é em vão que a cantora irrompe em clamor

Com o appassionato do grandioso piano negro. A magia

Dos dias infantis está em mim, a minha masculinidade

É desencorajada no fluxo da lembrança, choro como uma criança

pelo passado.


D.H. Lawrence
Tradução de Cecília Rego Pinheiro

Rosa do Mundo

2001 Poemas para o Futuro

Assírio & Alvim