“É um aparelho singular.” Desse modo, um oficial descreve ao visitante a máquina de execuções em Na Colônia Penal, de Franz Kafka. Essa frase inicial está na primeira cena da versão da graphic novel de Sylvain Ricard (roteiro), Maël (desenho) e Albertine Ralenti (cores), álbum agora lançado em português na tradução de Carol Bensimon pelo selo Quadrinhos na Cia.
Trata-se de um trabalho gráfico bastante sofisticado. Preserva o sumo da história de Kafka e a ilustra com desenhos muito expressivos, que ressaltam o absurdo da trama. O comandante, com seus olhos delirantes, é o personagem principal, que tenta explicar ao visitante o funcionamento da máquina e a beleza da administração da justiça que dela advém.
A primeira frase é um emblema. A máquina de tortura é apenas “singular”. Uma proeza técnica, na qual o engenho humano para infligir sofrimento ao seu semelhante é elevado à categoria de arte. Em sua descrição, o aparelho não é terrível, nem desumano, ou qualquer outro termo que expresse juízo de valor. É apenas singular, fruto da genialidade de outro comandante, antecessor deste que narra e se apresenta como guardião de uma tradição. Ao lado jaz, acorrentado, o pobre-diabo que provará da ação da máquina para deleite do comandante e ilustração do visitante. É um soldado raso que dormiu durante seu turno de guarda e reagiu com violência ao relho do seu superior.
A descrição da máquina “singular” é minuciosa. Trata-se de um aparelho munido de agulhas que imprimem a sentença no corpo do prisioneiro, perfurando-o cada vez mais fundo. O processo inteiro dura 12 horas e, nos “bons tempos”, segundo o oficial, era presenciado por toda a população da cidade. Mesmo pelas crianças, que tinham acesso privilegiado às proximidades do cadafalso. Afinal, era um espetáculo e uma lição. A finalidade: fazer com que o condenado, através da dor, compreendesse, em seu corpo, a verdade da sentença e a sabedoria da justiça.
No traço de Maël, a máquina é apresentada em seus detalhes, sem que a vejamos em seu todo, o que a torna ainda mais terrível. Ressaltam as agulhas compridas, as engrenagens, a mordaça que é colocada na boca para que os gritos da vítima não perturbem o público. Soturno, Maël faz jus a uma das características marcantes de Kafka, a de transformar objetos em personagens e personagens em objetos. Relação de intercâmbio entre homens e coisas que faz a genialidade de sua obra, talvez a mais poderosa sobre a desumanização da espécie.
Em seu texto, Kafka usa sua melhor arma ao tratar com fria objetividade uma situação absurda – não por acaso, Ernesto Sábato o chamava de escritor absolutamente realista. O que há de terrível em sua escrita é o contraste entre aquilo que descreve e a maneira como é descrito. Kafka naturaliza o horror e, assim o fazendo, o coloca diante de nós como um terrível espelho.
Sua paródia sinistra da justiça, apresentada em Na Colônia Penal, é esmiuçada passo a passo. Aquele que vai morrer sabe qual a sentença? Não. Sabe que foi condenado? Não. Sabe como foi conduzida a sua defesa? Não, ele não teve oportunidade de se defender. O oficial prossegue: se tivesse sido interrogado, contaria um monte de mentiras, advogados dariam sua interpretação e perderíamos tempo precioso nesse emaranhado de versões. Tudo pode ser mais simples: “O princípio segundo o qual eu sentencio é de que a culpabilidade nunca deixa dúvidas”. O réu é culpado de antemão, como em O Processo.
Em seu ensaio clássico, Kafka – Pró & Contra (Cosac Naify, 2007), Günther Anders fala da “calma sobriedade de Kafka”, referindo-se, justamente, a Na Colônia Penal. O livro de Anders é de 1946, lançado na ressaca da 2.ª Guerra Mundial, quando então o autor pôde aproximar esse absurdo da violência do texto kafkiano e a mistura de civilização e barbárie do 3.º Reich. Nos campos de extermínio, os nazistas construíam para si aposentos sofisticados, com toca-discos, estofados e abajures, separados por meia parede das câmaras de gás. Talvez a imaginação de Kafka não chegasse a esse ponto.
No entanto, ele escreve Na Colônia Penal em 1919, após a débâcle da civilização europeia na 1.ª Guerra. Essa noção do absurdo, que bebe na natureza humana mas também em sua contingência histórica, continua a garantir atualidade aos textos de Kafka. Afinal, como escreve no prefácio o roteirista da HQ, Sylvain Ricard, “Um olhar para a atualidade, para nossas telas de televisão, pode indicar que o homem colocou com frequência a sua inventividade a serviço da destruição do outro e que a fascinação diante da dor é cada vez mais banalizada. …Não há sombra de dúvida de que uma execução pública na Place de la Concorde teria mais sucesso e mais telespectadores que qualquer outra festividade. O que explica como a obra fascinante que é Na Colônia Penal se torna o espelho da sociedade em que vivemos e daquilo que somos.” Quem há de negar?
Luiz Zanin Oricchio – O Estado de S.Paulo
NA COLÔNIA PENAL
Autor: Franz Kafka. Quadrinhos na Cia (56 págs., R$ 56)
sábado, 21 de maio de 2011
Politicamente fascista
Todo pateta com pretensões à originalidade e à ironia toma a iniciativa de se dizer “incorreto”
O COMEDIANTE Danilo Gentili pediu desculpas pela piada antissemita que divulgou no Twitter. A saber, a de que os velhos de Higienópolis temem o metrô no bairro porque “a última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz”.
Aceitar suas desculpas pode ser fácil ou difícil, conforme a disposição de cada um. O difícil é imaginar que, com isso, ele venha a dizer menos cretinices no futuro.
Não aguentei mais do que alguns minutos do programa “CQC”, na TV Bandeirantes, do qual é ele uma das estrelas mais festejadas. Mas há um vídeo no YouTube, reproduzindo uma apresentação em Brasília do seu show “Politicamente Incorreto”, em outubro de 2010.
Dá para desculpar muita coisa, mas não a falta de graça. O nome oficial do Palácio do Planalto é Palácio dos Despachos, diz ele. “Deve ser por isso que tem tanto encosto lá.” Quem o construiu foi Oscar Niemeyer, continua o humorista. E construiu muitas outras coisas, como as pirâmides do Egito.
A plateia tenta rir, mas só fica feliz mesmo quando ouve que Lula é cachaceiro, ou que (rá, rá) o nome real de Sarney é Ribamar. Prossegue citando os políticos que Sarney apoiou; encerra a lista dizendo que ele só não apoiou o próprio câncer porque “o câncer era benigno”.
Os aplausos e risadas, pode-se acreditar, vêm menos da qualidade das piadas e mais da vontade de manifestação política do público. Detestam-se, com razão, os abusos dos congressistas brasileiros. Só por isso, imagino, alguém ri quando Gentili diz preferir que a capital do país ficasse no Rio: “Lá pelo menos tem bala perdida para acertar deputado”.
Melhor parar antes que eu fique sem respiração de tanto rir. Como se vê, em todo caso, o título do show não é bem o que parece. “Politicamente incorreto”, no caso, faz referência às coisas erradas feitas pelos políticos, mais do que ao que há de chocante em piadas sobre negros ou homossexuais.
A questão é que o rótulo vende. Ser “politicamente incorreto”, no Brasil de hoje, é motivo de orgulho. Todo pateta com pretensões à originalidade e à ironia toma a iniciativa de se dizer “incorreto” -e com isso se vê autorizado a abrir seu destampatório contra as mulheres, os gays, os negros, os índios e quem mais ele conseguir.
Não nego que o “politicamente correto”, em suas versões mais extremadas, seja uma interdição ao pensamento, uma polícia ideológica.
Mas o “politicamente incorreto”, em sua suposta heresia, na maior parte das vezes não passa de banalidade e estupidez.
Reproduz preconceitos antiquíssimos como se fossem novidades cintilantes. “Mulheres são burras!” “Ser contra a guerra é viadagem!” “Polícia tem de dar porrada!” “Bolsa Família serve para engordar vagabundo!” “Nordestino é atrasado!” “Criança só endireita no couro!”
Diz ou escreve tudo isso, e não disfarça um sorrisinho: “Viram como sou inteligente?”.
“Como sou verdadeiro?” “Como sou corajoso?” “Como sou trágico?” “Como sou politicamente incorreto?”
O problema é que “politicamente incorreto”, na verdade, é um rótulo enganoso. Quem diz essas coisas não é, para falar com todas as letras, “politicamente incorreto”. Quem diz essas coisas é politicamente fascista.
Só que a palavra “fascista”, hoje em dia, virou um termo… politicamente incorreto. Chegamos a um paradoxo, a uma contradição.
O rótulo “politicamente incorreto” acaba sendo uma forma eufemística, bem-educada e aceitável (isto é, “politicamente correta”) de se dizer reacionário, direitista, fascistoide.
A babaquice, claro, não é monopólio da direita nem da esquerda. Foi a partir de uma perspectiva “de esquerda” que Danilo Gentili resolveu criticar “os velhos de Higienópolis” que não querem metrô perto de casa.
Uma ou outra manifestação de preconceito contra “gente diferenciada”, destacada no jornal, alimentou a fantasia mais cara à elite brasileira: a de que “elite” são os outros, não nós mesmos. Para limpar a própria imagem, nada melhor do que culpar nossos vizinhos.
Os vizinhos judeus, por exemplo. É este um dos mecanismos, e não o vagão de um metrô, que ajudam a levar até Auschwitz.
MARCELO COELHO
Folha de São Paulo
O COMEDIANTE Danilo Gentili pediu desculpas pela piada antissemita que divulgou no Twitter. A saber, a de que os velhos de Higienópolis temem o metrô no bairro porque “a última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz”.
Aceitar suas desculpas pode ser fácil ou difícil, conforme a disposição de cada um. O difícil é imaginar que, com isso, ele venha a dizer menos cretinices no futuro.
Não aguentei mais do que alguns minutos do programa “CQC”, na TV Bandeirantes, do qual é ele uma das estrelas mais festejadas. Mas há um vídeo no YouTube, reproduzindo uma apresentação em Brasília do seu show “Politicamente Incorreto”, em outubro de 2010.
Dá para desculpar muita coisa, mas não a falta de graça. O nome oficial do Palácio do Planalto é Palácio dos Despachos, diz ele. “Deve ser por isso que tem tanto encosto lá.” Quem o construiu foi Oscar Niemeyer, continua o humorista. E construiu muitas outras coisas, como as pirâmides do Egito.
A plateia tenta rir, mas só fica feliz mesmo quando ouve que Lula é cachaceiro, ou que (rá, rá) o nome real de Sarney é Ribamar. Prossegue citando os políticos que Sarney apoiou; encerra a lista dizendo que ele só não apoiou o próprio câncer porque “o câncer era benigno”.
Os aplausos e risadas, pode-se acreditar, vêm menos da qualidade das piadas e mais da vontade de manifestação política do público. Detestam-se, com razão, os abusos dos congressistas brasileiros. Só por isso, imagino, alguém ri quando Gentili diz preferir que a capital do país ficasse no Rio: “Lá pelo menos tem bala perdida para acertar deputado”.
Melhor parar antes que eu fique sem respiração de tanto rir. Como se vê, em todo caso, o título do show não é bem o que parece. “Politicamente incorreto”, no caso, faz referência às coisas erradas feitas pelos políticos, mais do que ao que há de chocante em piadas sobre negros ou homossexuais.
A questão é que o rótulo vende. Ser “politicamente incorreto”, no Brasil de hoje, é motivo de orgulho. Todo pateta com pretensões à originalidade e à ironia toma a iniciativa de se dizer “incorreto” -e com isso se vê autorizado a abrir seu destampatório contra as mulheres, os gays, os negros, os índios e quem mais ele conseguir.
Não nego que o “politicamente correto”, em suas versões mais extremadas, seja uma interdição ao pensamento, uma polícia ideológica.
Mas o “politicamente incorreto”, em sua suposta heresia, na maior parte das vezes não passa de banalidade e estupidez.
Reproduz preconceitos antiquíssimos como se fossem novidades cintilantes. “Mulheres são burras!” “Ser contra a guerra é viadagem!” “Polícia tem de dar porrada!” “Bolsa Família serve para engordar vagabundo!” “Nordestino é atrasado!” “Criança só endireita no couro!”
Diz ou escreve tudo isso, e não disfarça um sorrisinho: “Viram como sou inteligente?”.
“Como sou verdadeiro?” “Como sou corajoso?” “Como sou trágico?” “Como sou politicamente incorreto?”
O problema é que “politicamente incorreto”, na verdade, é um rótulo enganoso. Quem diz essas coisas não é, para falar com todas as letras, “politicamente incorreto”. Quem diz essas coisas é politicamente fascista.
Só que a palavra “fascista”, hoje em dia, virou um termo… politicamente incorreto. Chegamos a um paradoxo, a uma contradição.
O rótulo “politicamente incorreto” acaba sendo uma forma eufemística, bem-educada e aceitável (isto é, “politicamente correta”) de se dizer reacionário, direitista, fascistoide.
A babaquice, claro, não é monopólio da direita nem da esquerda. Foi a partir de uma perspectiva “de esquerda” que Danilo Gentili resolveu criticar “os velhos de Higienópolis” que não querem metrô perto de casa.
Uma ou outra manifestação de preconceito contra “gente diferenciada”, destacada no jornal, alimentou a fantasia mais cara à elite brasileira: a de que “elite” são os outros, não nós mesmos. Para limpar a própria imagem, nada melhor do que culpar nossos vizinhos.
Os vizinhos judeus, por exemplo. É este um dos mecanismos, e não o vagão de um metrô, que ajudam a levar até Auschwitz.
MARCELO COELHO
Folha de São Paulo
Não tem volta
Se você vai por muito tempo
você nunca volta.
Você retorna,
Você contorna
mas não tem volta
a estrada te sopra pro alto
pra outro lado
enquanto
aquele tempo
vai mudando.
Aí, de quando
em quando você lembra
aquele beijo,
aquele medo
mas você sabe
que tudo ficou antigo
e você não volta
nem com escolta
nem amarrado
porque o passado
já te perdeu
e o perigo
muda mesmo de endereço
Não existe pretexto.
O dia mudou
o carteiro não veio
o principio é o meio
e você retorna
mas não tem volta.
Zélia Duncan
você nunca volta.
Você retorna,
Você contorna
mas não tem volta
a estrada te sopra pro alto
pra outro lado
enquanto
aquele tempo
vai mudando.
Aí, de quando
em quando você lembra
aquele beijo,
aquele medo
mas você sabe
que tudo ficou antigo
e você não volta
nem com escolta
nem amarrado
porque o passado
já te perdeu
e o perigo
muda mesmo de endereço
Não existe pretexto.
O dia mudou
o carteiro não veio
o principio é o meio
e você retorna
mas não tem volta.
Zélia Duncan
Definições
Sou fria e quase muda,
Quando quero ser terna,
Quando quero ser tua.
Sou pedra lisa e dura,
Que jamais canta
E que não se mostra viva,
Jamais.
Sou raiz que adentra pela terra,
Sou poeira que desaparece no ar.
Sou, quem sabe, o brilho na festa da janela,
Quando brilha o luar.
Sou água que evapora,
Sou nuvem que deságua,
Sou o sal que salga a água,
Sou a lágrima salgada
Que rolou do teu olhar…
Roseli Silveira
Primeira antologia dos poetas internautas, Editora Blocos, 1997 – Rio de Janeiro, Brasil
Quando quero ser terna,
Quando quero ser tua.
Sou pedra lisa e dura,
Que jamais canta
E que não se mostra viva,
Jamais.
Sou raiz que adentra pela terra,
Sou poeira que desaparece no ar.
Sou, quem sabe, o brilho na festa da janela,
Quando brilha o luar.
Sou água que evapora,
Sou nuvem que deságua,
Sou o sal que salga a água,
Sou a lágrima salgada
Que rolou do teu olhar…
Roseli Silveira
Primeira antologia dos poetas internautas, Editora Blocos, 1997 – Rio de Janeiro, Brasil
Amor Silêncio
Amor silêncio amargo a roçar-me a morte
grito partido do vidro sobre o peito
ilha deserta no meio das capitais do norte
grilhetas ajustadas no rio em que me deito.
Distância cumulada remanso duma espera
ponte de aventura do dois à unidade
amor brilho raiando a chave do desejo
minuto adormecido ao pé da eternidade.
Amor tempo suspenso, ó lânguido receio,
no pranto do meu canto és a presença forte
estame estremecido dissimulado anseio
amor milagre gesto incandescente porte.
Amor olhos perdidos a riscar desenhos
em largo movimento o espaço circular
amor segundo breve, lanceta, tempo eterno
no rápido castigo da lua a gotejar.
Salette Tavares
grito partido do vidro sobre o peito
ilha deserta no meio das capitais do norte
grilhetas ajustadas no rio em que me deito.
Distância cumulada remanso duma espera
ponte de aventura do dois à unidade
amor brilho raiando a chave do desejo
minuto adormecido ao pé da eternidade.
Amor tempo suspenso, ó lânguido receio,
no pranto do meu canto és a presença forte
estame estremecido dissimulado anseio
amor milagre gesto incandescente porte.
Amor olhos perdidos a riscar desenhos
em largo movimento o espaço circular
amor segundo breve, lanceta, tempo eterno
no rápido castigo da lua a gotejar.
Salette Tavares
Bella Ciao
- Stamattina mi sono alzato Oh bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao Stamattina mi sono alzato e ho trovato l'invasor. partigiano portami via partigiano portami via che mi sento di morir Se io muoio da partigiano Se io muoio da partigiano tu mi devi seppellir seppellire sulla montagna sotto l'ombra di un bel fior E le genti che passeranno ti diranno che bel fior Questo è il fiore del partigiono morto per la libertà
Соловьи - Les Rossignols (mars 1945 - march 1945)
Chanson soviétique Соловьи - Les Rossignols (mars 1945 - march 1945)
Musique par/Music by Vassili Soloviev-Sedoï
Paroles par/Lyrics by Alexeï Fatianov
Rossignols, ô Rossignols,
Ne dérangez point les soldats,
Laissez-les s'assoupir un instant,
S'assoupir un instant.
Le printemps est revenu au front,
Et les soldats n'arrivent pas à dormir,
Non pas à cause des salves de canon,
Mais en raison des rossignols qui ont perdu la tête!
Ils ont oublié que la bataille fait rage,
Et chantent comme à chaque retour du printemps.
(Refrain)
Mais que signifie la guerre, pour un rossignol ?
Un rossignol a sa vie à lui.
Un des soldats ne dort pas; il pense à sa maison,
Aux vertes prairies qui s'étendent par-delà l'étang,
Où les rossignols chantent toute la nuit,
Et où quelqu'un l'attend.
(Refrain)
Cependant, le combat reprendra demain.
C'est le destin, c'est notre devoir d'y aller,
Sans avoir reçu assez damour
Loin de nos bien-aimées épouses,
Loin de nos champs de maïs.
Mais chaque pas en avant
Nous rapproche davantage de notre patrie.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
The spring has come to the frontlines.
And soldiers cannot get asleep.
Not due to cannon salvos' din,
But due to nightingales who lost their minds!
They have forgotten that battles go on
And sing as usual in every spring.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
But what a war means for that bird!
A nightingale has a life of his own.
A soldier doesnt sleep, of his house thinking
And his green garden beyond the pond,
Where nightingales whole nights are singing,
And someone waits that soldier to come back home.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
Tomorrow comes another fight -
It is our fate that we had to go
Without having had enough of love,
Away from our cornfields and beloved wives;
But every step forward in that combat
Brings us closer back to our motherland.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного пусть поспят.
Пришла и к нам на фронт весна,
Солдатам стало не до сна —
Не потому, что пушки бьют,
А потому, что вновь поют,
Забыв, что здесь идут бои,
Поют шальные соловьи.
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного поспят.
Но что война для соловья!
У соловья ведь жизнь своя.
Не спит солдат, припомнив дом
И сад зелёный над прудом,
Где соловьи всю ночь поют,
А в доме том солдата ждут.
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного пусть поспят.
А завтра снова будет бой,—
Уж так назначено судьбой,
Чтоб нам уйти, не долюбив,
От наших жён, от наших нив;
Но с каждым шагом в том бою
Нам ближе дом в родном краю.
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного пусть поспят.
Musique par/Music by Vassili Soloviev-Sedoï
Paroles par/Lyrics by Alexeï Fatianov
Rossignols, ô Rossignols,
Ne dérangez point les soldats,
Laissez-les s'assoupir un instant,
S'assoupir un instant.
Le printemps est revenu au front,
Et les soldats n'arrivent pas à dormir,
Non pas à cause des salves de canon,
Mais en raison des rossignols qui ont perdu la tête!
Ils ont oublié que la bataille fait rage,
Et chantent comme à chaque retour du printemps.
(Refrain)
Mais que signifie la guerre, pour un rossignol ?
Un rossignol a sa vie à lui.
Un des soldats ne dort pas; il pense à sa maison,
Aux vertes prairies qui s'étendent par-delà l'étang,
Où les rossignols chantent toute la nuit,
Et où quelqu'un l'attend.
(Refrain)
Cependant, le combat reprendra demain.
C'est le destin, c'est notre devoir d'y aller,
Sans avoir reçu assez damour
Loin de nos bien-aimées épouses,
Loin de nos champs de maïs.
Mais chaque pas en avant
Nous rapproche davantage de notre patrie.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
The spring has come to the frontlines.
And soldiers cannot get asleep.
Not due to cannon salvos' din,
But due to nightingales who lost their minds!
They have forgotten that battles go on
And sing as usual in every spring.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
But what a war means for that bird!
A nightingale has a life of his own.
A soldier doesnt sleep, of his house thinking
And his green garden beyond the pond,
Where nightingales whole nights are singing,
And someone waits that soldier to come back home.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
Tomorrow comes another fight -
It is our fate that we had to go
Without having had enough of love,
Away from our cornfields and beloved wives;
But every step forward in that combat
Brings us closer back to our motherland.
Nightingales, nightingales, do not disturb the soldiers,
Let them sleep for a while,
Sleep for a while...
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного пусть поспят.
Пришла и к нам на фронт весна,
Солдатам стало не до сна —
Не потому, что пушки бьют,
А потому, что вновь поют,
Забыв, что здесь идут бои,
Поют шальные соловьи.
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного поспят.
Но что война для соловья!
У соловья ведь жизнь своя.
Не спит солдат, припомнив дом
И сад зелёный над прудом,
Где соловьи всю ночь поют,
А в доме том солдата ждут.
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного пусть поспят.
А завтра снова будет бой,—
Уж так назначено судьбой,
Чтоб нам уйти, не долюбив,
От наших жён, от наших нив;
Но с каждым шагом в том бою
Нам ближе дом в родном краю.
Соловьи, соловьи, не тревожьте солдат,
Пусть солдаты немного поспят,
Немного пусть поспят.
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