sábado, 29 de setembro de 2012



.. Quero o tempo das músicas
que a noite me traz
sons que para dançar
não se necessite ter corpo
Espanha pegando fogo
sob os pés da bailarina ....

( Do livro - Impresso da Meia Noite -
de - Beto Carminatti )

LETRA NEGRA



(fragmento)

V

“quando nada mais faz sentido” —
busco o mistério animal,
a ferocidade da noite:
deslizando por meus lábios,
ela se transforma, revoluta,
desentranhada, não me decifra,
não te devoro, abisma fábulas
na desordem dos cabelos;
entre pupilas, expandindo luas,
tensionando a pele, na cegueira dos mamilos.

Claudio Daniel

28 de setembro - Receita para tranqüilizar os leitores




Hoje é o dia internacionalmente consagrado ao direito humano à informação.
Talvez seja oportuno recordar que, um mês e pouco depois que as bombas atômicas aniquilaram Hiroshima e Nagasaki, o jornal  New York Times desmentiu os rumores que estavam assustando o mundo.
No dia 12 de setembro de 1945, esse jornal publicou, na primeira pagina, um artigo assinado pelo seu redator de temas científicos, William L. Laurence. O artigo batia de frente nas versões alarmistas e assegurava que não havia radicação alguma nessas cidades arrasadas, e que a tal radioatividade não passava de "uma mentira da propaganda japonesa".
Graças a essa revelação, Laurence ganhou o prêmio Pulitzer.

Tempos depois, soube-se que ele recebia dois salários mensais: o New York Times pagava um, e o outro corria por conta do orçamento militar dos Estados Unidos.

 Galeano -

29 de setembro - Um precedente perigoso




Em 1948, Seretse Khama, o príncipe negro de Botsuana, se casou com Ruth Williams, que era inglesa e branca.
Ninguém gostou da noticia. E a coroa britânica, dona e senhora de boa parte da África negra, nomeou uma comissão de especialistas para estudar o assunto. "O matrimônio entre duas raças estabelece um precedente perigoso", determinou a comissão do reino britânico, e o casal foi condenado ao exílio.
Khama encabeçou, do desterro, a luta pela independência de Botsuana. em 1966, se transformou no primeiro presidente, eleito por ampla maioria, em votação indiscutível.
Então recebeu, em Londres, o título de "sir".

 Galeano


Sobre a morte de Ted Boy Marino e as lutas de ontem e de hoje:

"Os bons geralmente começavam apanhando e, quando parecia que estavam liquidados e que o Mal triunfaria, vinha a eletrizante reação, durante a qual o inimigo pagava por todas as suas maldades. Humilhação e vingança, nada na história do teatro é tão antigo e tão eficaz. Nove entre dez novelas de televisão têm o mesmo enredo.

Não sei se ainda fazem espetáculos de “catch” pelo interior do país. Hoje na TV o que se vê é o “ultimate fighting”, ou “mixed martial arts”, dois lutadores simbolizando nada trocando socos e pontapés sem simulação, quando não se engalfinham no chão como um bicho de duas costas e oito patas em convulsão.

Nessas lutas não vale, exatamente, tudo — parece que esgoelar o outro e xingar a mãe não pode. Mas é o “catch” despido da fantasia, com sangue de verdade. Não há mais mocinho e vilão, apenas duas máquinas de brigar, brigando.
Nem Ted Boy Marino nem Homem Montanha, apenas a violência em estado puro. Sei não, acho que empobrecemos."

Luiz Fernando Verissimo