terça-feira, 22 de março de 2011

Entre lojas de flores e de
sapatos, bares
mercados, butiques, viajo
num ônibus Estrada de Ferro-
Leblon.
Volto do trabalho, a noite em
meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus
Rimbaud,
relógio de lilazes, concretismo,
neoconcretismo, ficções de
juventude, adeus, que a vida
eu a compro à vista dos donos
do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso
sufoca,
a poesia agora responde a
inquérito policial-militar.
digo adeus á ilusão
mas não ao mundo. Mas não a
vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do terror,
retiramos algo e com eles
construímos um artefato
um poema uma bandeira

Ferreira Gullar

Mascarada

Vejo agora este teu lindo olhar
Olhar que eu sonhei
E sonhei conquistar
E que um dia afinal conquistei
Enfim, findou-se o carnaval
E só nos carnavais, encontrava-te
sem encontrar esse seu lindo olhar
porque o poeta era eu
Cujas rimas eram compostas
na esperança de que
tanto me faz mal
Mal que findou só depois do carnaval.

Zé Kéti e Elton Medeiros

Rua Augusta

"...A maquiagem forte esconde
os hematomas na alma
fumando, calma , ela observa
os faróis que vêm e vão
viver em vão,
os que vêm e não te têm
são, se necessário, o homem de bem, fujão
que não aguentou ser solitário
a mesma grana que compra o
sexo, mata o amor
traz a felicidade, também chama o rancor
as madrugadas que testemunha,
vermelho sangue, na unha
sem nome, vàrias alcunhas
Dentro da bolsa de punho
garota propaganda da cidade fria
em seus caminhos
um milhão de seres sozinhos
sonha como se não vivesse
vive se perguntando por que
é que não morre..."

(Trecho)

Emicida

Álbum japonês

A gueixa dentro de mim

aprova o homem que tu és

Já meu samurai

retesou-se ao máximo

quando a mulher dentro de ti

soltou os cabelos

nuvens douradas sobre os ombros

e ofereceu-me sensualmente

a cabeça para que os prendesse

As minhas mãos

prontas para o vôo

ficaram ao longe de meu corpo

nenhum músculo se mexeu.

Só meu coração

era cavalo bravo

galopando

alucinado

de desejo.


Eliane Pantoja Vaidya


Antologia do Primeiro Concurso Blocos de Poesia, Editora Blocos, 1998 – Rio de Janeiro, Brasil