sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Se quisermos entender o comportamento de Joaquim Barbosa e de Fachin, Ministros indicados ao STF pelo PT, precisamos entender a dimensão do "câmbio moral" de algumas pessoas, com origens subalternas, em suas trajetórias de ascensão social, política e institucional. Esta é a problemática desenvolvida plenamente nos romances de Machado de Assis. Todas as pessoas e personagens iniciais atravessam fronteiras sociais e aceitam o jogo da dissimulação, para serem aceitas nas esferas superiores da mesma sociedade, dentro das regras sociais e institucionais dos dominantes.

Ricardo Costa de Oliveira 


A próxima vez que alguém me vier falar em meritocracia vou mandar nascer em Soweto, Capão Redondo ou Vidigal na década de 60 e se tornar médico, engenheiro nuclear ou Steve Jobs em 25 anos.

Otto Leopoldo Winck
"Vocês ficam criticando a PM porque ela diz que tinha menos pessoas do que pudemos ver nas manifestações. Absurdo. Até parece que vocês não sabem que o conceito de 'pessoa' que a PM admite é bem, bem restrito. Gente de camiseta vermelha ou falando em democracia, por exemplo, não conta - não é "pessoa" no sentido pleno. É alvo." 

Tarso de Melo

Dia da Hipocrisia


Dia 15 de outubro é o famoso dia dos professores. Um dia que é mais comemorado pelos alunos e professores por não ser um dia de trabalho na escola do que por qualquer outra coisa. Um dia que serve mais para a sociedade mandar mensagens de apoio aos professores do que realmente valorizar a profissão. Isso significa que o dia dos professores é mais uma valorização da boca pra fora do que uma valorização efetiva. Pois é mais fácil criar um dia dos professores do que dar estrutura adequada para uma escola, assim como é mais fácil mandar uma mensagem de apoio por ano do que prestar atenção na aula do professor ou realizar as atividades propostas por ele. Daí que o dia 15 de outubro é também o dia da hipocrisia.
Mas qual é causa desta hipocrisia? No Brasil, o professor não é valorizado porque a busca pelo conhecimento não é valorizada. De modo geral, a busca de conhecimento é a busca pelo domínio de conceitos e técnicas mais eficazes para resolver os problemas que nos aparecem, seja eles de ordem conceitual ou de ordem prática. Por exemplo, a busca pelo conhecimento serve: para decidir se a liberdade é mais importante que a igualdade dentro de uma sociedade; para saber se determinada espécie animal pode ser considera em processo de extinção, para decidir se a soja transgênica é mais rentável que a soja orgânica, para decidir se o tempo de um semáforo deve ser maior para pedestres do que para carros e bicicletas, etc. Pode ser entre amigos, pode ser na Assembléia Legislativa ou numa empresa, a busca pelo conhecimento é vista como algo desnecessário e aborrecedor. Assim, sempre que precisamos fazer escolhas, o conhecimento é sempre considerado algo secundário.
Numa roda de conversa entre amigos ou entre colegas de trabalho, muitas vezes em que a conversa tende a ser mais sofisticada e razoável, insatisfações são manifestadas. Isso porque a busca pelo conhecimento é inseparável da critica e controvérsia, de modo que a conversa ou o debate é mais trabalhoso e difícil. Mas a insatisfação não ocorre apenas pela dificuldade, mas também porque é considerada inútil. É comum dizer que tais conversas não “levam à nada”.
Nos gabinetes, câmaras e assembleias políticas, quase todas ações em prol do ensino são condicionadas à falta de urgências em prol de outras áreas. Por exemplo,  só constrói mais salas de aula ou contrata mais professores se não tiver urgências para a Secretaria de Meio Ambiente ou de Minas e Energia. Entre reformar uma escola e doar dinheiro para uma ONG que apoia um político ou governo é óbvio que a ONG tem preferência. Entre manter um ministro competente para o cargo e colocar um companheiro de luta política, a segunda opção é a eleita.
Até mesmo nas escolas a busca pelo conhecimento não é prioridade. Entre escolher se o notebook da escola vai ser usado em sala de aula para os professores utilizarem o data show ou se vai ser usado pela direção, a escolha sempre é para o uso da direção. Este ano em muitas escolas estaduais do Paraná, para citar outro exemplo, a comunidade escolar (inclusive professores) escolheu implantar a sexta aula para readequar o calendário após o período de greve. A justificativa foi as matrículas universitárias dos alunos de terceiro ano e a manutenção das férias, não foi a qualidade do ensino. Se as escolas estaduais não têm condições de ter cinco aulas, devido as péssimas condições de trabalho, tem menos condição ainda de ter seis aulas.
Estes casos mostram também que nós professores e comunidade escolar como um todo não fazemos escolhas melhores que as dos políticos. Muitas vezes é difícil julgar qual caminho tomar, e, no calor das circunstâncias, tendemos a tomar o caminho mais fácil. É assim que subvertemos prioridades. Nem todas as ações dos políticos brasileiros são resultado de má fé. Devido às circunstâncias, como pessoas falíveis e com necessidades particulares, os políticos acabam optando por ações que marginalizam a busca pelo conhecimento, assim como nós também marginalizamos a busca pelo conhecimento.
Ora, se a busca pelo conhecimento não é valorizada, o profissional desta atividade também não será valorizado. Se hoje é inútil utilizar uma máquina de escrever, também é inútil a necessidade de datilógrafos. A questão é que o mundo inteiro valoriza a busca pelo conhecimento, tendo a necessidade de valorizar os profissionais desta área. Mais que um folclore ou devoção religiosa, a valorização dos professores é uma necessidade social. Por isso, não basta tratar o dia do professor como se trata do dia do Papai Noel ou se trata do dia de uma entidade divina. Mais que admirações, devoções e preservação de costume, a profissão docente precisa ter suas funções e seus objetivos respeitados. Quem está disposto a respeitar?

Thiago Melo

Liberalismo, igualitarismo, direita, esquerda, individualismo…



A confusão sobre as perspectivas políticas nunca foi tão grande. É natural que isso ocorra, pois tem surgido na história cada vez mais posições ou matizes de posições já existentes. Tentarei fazer um breve quadro destas posições.

A direita é a perspectiva política que acredita que a natureza humana é ruim. Por essa razão, são conservadores. Dado a nossa natureza, não devemos nos aventurar em novas práticas e valores e devemos tomar os devidos cuidados para evitar que a sociedade vire uma guerra de todos contra todos.

A esquerda é a perspectiva política que acredita que a natureza humana é boa. Em vista disso, são progressistas. Dado a nossa natureza, podemos aceitar novas práticas e valores sem prejuízo para o desenvolvimento da sociedade.

Liberalismo é a perspectiva política que acredita que o valor fundamental de uma sociedade é a liberdade individual. Essa é a liberdade onde se permite a cada pessoa decidir sobre aquilo que diz respeito somente a ela.

Igualitarismo é a perspectiva política que acredita que o valor fundamental de uma sociedade é a igualdade em bens sociais. Essa igualdade é a oportunidade aos bens próprios de uma sociedade (aqueles que só existem dentro e por causa de uma sociedade) para todas as pessoas.
Individualismo é a perspectiva política que defende que os direitos pessoais estão acima dos direitos comuns, como, por exemplo, o direito de não estudar está acima do direito de estudar.
Comunitarismo é a perspectiva política que defende que as práticas e ideais comuns estão acima dos direitos pessoais. Neste caso, os direito à educação pode se encaixar como ideal comum.

Há ainda outras posições, mas estas são hoje as centrais. É importante notar também que as posições citadas não são únicas, ou seja, não há apenas uma concepção de direita ou uma só igualitarista. Há graduação nestas posições, podendo, por exemplo, ser de esquerda mais radical (comunista, que é diferente de comunitarista) ou mais central (socialista). Além do mais, uma vez que não são incompatíveis, pode-se ser um liberalista de esquerda ou um igualitarista de direita; um liberalista de direita individualista ou um liberalista de esquerda comunitarista. O que se deve evitar são inconsistências. Por exemplo, dizer que é um liberalista e não aceitar o aborto sobre qualquer circunstância. Pois estaria violando o princípio liberal.

Referências:

Filosofia moral e política. Paul Smith. Madras.
Filosofia. (Org.) Pedro Galvão. Edições 70.
Introdução à filosofia política. Jonathan Wolf. Gradiva.
Janelas para a filosofia. Desidério Murcho e Aires Almeida. Gradiva.

Justiça. Michael Sandel. Civilização Brasileira.

Thiago Melo

Critica Lógica

O’Brien também não está brincando


Numa carta, Maquiavel disse o seguinte: “Basta ler O Príncipe para perceber que nos quinze anos que me dediquei aos assuntos do Estado nem dormi nem brinquei”. O que tiro desta frase é que Maquiavel, quando foi secretário de Estado, não via seu trabalho como um passatempo e parece ter procurado fazer seu melhor. Ele parece ter aproveitado o máximo sua experiência para aprender e procurar melhorar.
Numa leitura do livro Introdução à Teoria do Conhecimento, de Dan O’Brien, leio um trecho que me fez lembrar a frase de Maquiavel. Pois percebi a preocupação do autor em procurar um jeito de ensinar por um caminho mais sólido. E provavelmente isso ocorreu por suas experiências em sala de aula.

Aqui vai o trecho:

“… dei-me conta de que começar com o cepticismo pode promover um certo tipo de atitude pouco construtiva. Se nos deixarmos persuadir pelos argumentos cartesianos — e não conseguirmos encontrar uma maneira de os rebater —, correremos o risco de não levar a teoria do conhecimento a sério: ‘Se não podemos aceder ao conhecimento, então, qual o interesse em estudar tal noção?’ Neste livro, no entanto, iremos investigar conceitos como percepção, testemunho e justificação num sentido que nos permita ver como eles fundamentam o conhecimento, um conhecimento que se presume possuirmos. À medida que formos progredindo no livro, as preocupações cépticas começarão a insinuar-se, assumindo plena expressão na parte IV. Por esta altura, no entanto, teremos adquirido uma concepção rica das noções epistemológicas relevantes, o que nos permitirá não só compreender melhor o cepticismo, como descobrir a melhor maneira de o contrariar”. (p. 29)

Referências:

Dicionário dos Filósofos. Denis Huisman. Martins Fontes.
Introdução à Teoria do Conhecimento. Dan O’Brien. Gradiva.

Thiago Melo

Critica Lógica


De la sed



Quitadme incluso el mar;
incluso el apretado cauce de los arroyos,
las acequias ruidosas de insectos, los estanques
donde los peces muerden la soledad del agua;
quitadme la tormenta,
los carriles de lluvia resbalando en el vidrio,
el rocío que preña de gotas los jarales,
la humedad de la noche lastimando los trigos.
Quitadme incluso el mar.

(La única sed que temo es la sed de su boca.)

 de Josefa Parra

El grande de España


Honoré de Balzac

En el momento de la expedición emprendida en 1823-4 por el rey Luis XVIII para salvar a Fernando VII del régimen constitucional, yo me encontraba por casualidad en Tours, camino de España. La víspera de mi marcha, fui al baile en casa de una de las mujeres más amables de esta ciudad en la que, como es sabido, se divertían más que en ninguna otra capital de provincia; y poco antes del souper, pues se soupe aún en Tours, me uní a un grupo de tertulianos en medio del cual, un señor que me resultaba desconocido, contaba una aventura.

El orador, llegado muy tarde al baile, había cenado, según creo, en casa del recaudador general. Al entrar se había incorporado a una mesa de écarté; luego, tras haber pasado varias veces, para alegría de sus contrincantes cuyo equipo perdía, se había levantado, vencido por un subteniente de carabineros; y, para consolarse, había participado en una conversación sobre España, tema habitual de mil disertaciones.

Durante el relato, examiné con un interés involuntario el rostro y la persona del narrador. Era uno de esos seres de mil rostros que se parecen a tantos tipos que el observador queda indeciso, y no sabe si tiene que incluirlos entre las personas de genio modestas o entre los intrigantes subalternos. En primer lugar, estaba condecorado con la cinta roja; pero ese símbolo demasiado prodigado, ya no prejuzga nada a favor de nadie; tenía una chaqueta verde, y a mí no me gustan las chaquetas verdes en un baile, cuando la moda aconseja a todo el mundo llevar traje negro; además llevaba pequeñas hebillas metálicas en los zapatos, en lugar de lazos de seda; su pantalón era de un casimir horriblemente desgastado, y su corbata estaba mal puesta; en definitiva, vi que no le daba demasiada importancia al atuendo ¡podía ser un artista!

Sus gestos y su voz tenían un no sé qué vulgar, y su rostro, presa de los rubores que el trabajo de la digestión le imprimía, no realzaba por ningún rasgo sobresaliente el conjunto de su persona; tenía la frente despejada y poco cabello en la cabeza. De acuerdo con todos esos diagnósticos, dudaba en hacer de él un consejero de prefectura, o un antiguo comisario de guerra; pero, al verlo posar la mano sobre la manga de su vecino de manera magistral, lo incluí en la categoría de los escribanos, los burócratas y sus compinches. Finalmente estuve completamente convencido de mi observación cuando noté que sólo era escuchado por su historia; ninguno de los oyentes le concedía esa atención sumisa y esas miradas complacientes que son privilegio de las personas muy consideradas. No sé si pueden imaginarse al hombre, llenándose la nariz con tomas de rapé, hablando con la rapidez de las personas con prisa por terminar su discurso por miedo a que se les abandone; por lo demás, expresándose con gran facilidad, contando bien las cosas, dibujando de un trazo, y jovial como un bufón de regimiento. Para evitarles el tedio de las digresiones, me permito trasvasar su historia a un estilo narrativo y añadirle ese toque didáctico necesario a los relatos que, de la charla informal pasan al estado tipográfico.

Algún tiempo después de su entrada en Madrid, el gran duque de Berg invitó a los principales personajes de esta ciudad a una fiesta francesa ofrecida por el ejército a la capital recién conquistada. Pese al esplendor de la gala, los españoles no se mostraron en ella muy risueños; sus mujeres bailaron poco; en definitiva, que los invitados jugaron y perdieron o ganaron mucho. Los jardines del palacio estaban bastante espléndidamente iluminados como para que las damas pudieran pasearse por ellos con tanta seguridad como lo habrían hecho en pleno día... La fiesta era imperialmente bella, y no se escatimó nada con el fin de darle a los españoles una elevada idea del emperador, si querían juzgarlo a partir de sus lugartenientes. En un bosquecillo cercano al palacio, entre la una y las dos de la mañana, algunos militares franceses charlaban del desarrollo de la guerra, y del futuro poco tranquilizador que auguraba la actitud misma de los españoles presentes en aquella pomposa fiesta.

-¡Caray! -dijo un francés cuyo traje indicaba que era médico jefe de algún cuerpo del ejército- ayer le solicité formalmente mi regreso a Francia al príncipe Murat. Sin tener precisamente miedo de dejar mis huesos en la península, prefiero ir a curar las heridas producidas por nuestros buenos vecinos alemanes; sus armas no penetran tanto en el torso como los puñales castellanos... Además, el miedo a España es para mí como una superstición... Desde mi infancia he leído libros españoles, un montón de aventuras sombrías y mil historias de este país, que me han predispuesto intensamente contra las costumbres de sus habitantes... ¡Pues bien!, desde nuestra entrada en Madrid, ya he podido ser si no protagonista, al menos cómplice de una peligrosa intriga, tan negra, tan oscura como puede serlo una novela de lady Radcliffe... Y como creo bastante en mis presentimientos, desde mañana mismo me largo... Murat no me negará sin duda el permiso; pues nosotros, gracias a los servicios secretos que prestamos, tenemos protecciones siempre eficaces...

-Puesto que te das a la fuga, ¡cuéntanos al menos tu aventura! -exclamó un coronel, viejo republicano que se preocupaba muy poco del lenguaje y de las adulaciones imperiales.

Entonces, el médico miró atentamente a su alrededor, pareció querer reconocer los rostros de quienes le rodeaban y, seguro ya de que no había ningún español cerca de él, dijo:

-Puesto que somos todos franceses... con mucho gusto, coronel Charrin... Hace seis días -prosiguió- regresaba tranquilamente a mi alojamiento hacia las once de la noche, después de haber dejado al general Latour, cuyo hotel se encuentra a unos pasos del mío, en mi misma calle; salíamos los dos de casa del ordenador de pagos, donde habíamos tenido una berlanga bastante animada... De repente, en la esquina de una calleja, dos desconocidos, o más bien dos diablos, se lanzaron sobre mí y me cubrieron la cabeza y los brazos con una capa... Grité, pueden creerlo, como un perro apaleado; pero el paño ahogó mi voz, luego fui llevado en un vehículo a gran velocidad; y cuando mis acompañantes me libraron de la dichosa capa, oí una voz de mujer y estas inquietantes palabras dichas en un mal francés:

-Si grita o hace ademán de escapar, si se permite el menor movimiento sospechoso, el señor que está delante de usted es capaz de apuñalarlo sin escrúpulos. Por lo tanto, manténgase tranquilo. Ahora voy a explicarle la causa de su secuestro... Si se molesta en tender su mano hacia mí, encontrará entre nosotros dos su instrumental de cirugía que hemos mandado a buscar a su casa, de su parte; sin duda, le será necesario. Lo llevamos a una casa donde su presencia es indispensable... Se trata de salvar el honor de una dama. En este momento está a punto de dar a luz un hijo de su amante, a espaldas de su marido. Aunque éste se separa poco de su mujer de la que está apasionadamente enamorado y que la vigila con toda la atención de los celos españoles, ella ha sabido ocultarle su embarazo. Él cree que se encuentra enferma. Le llevamos para que la asista en el parto. Por lo que, como ve, los peligros de la empresa no le conciernen; sólo tiene que obedecernos; si no lo hace, el amante de la dama, que está sentado frente a usted en el coche y que no sabe ni una palabra de francés, lo apuñalará a la menor imprudencia...

-Y ¿quién es usted? -dije buscando la mano de mi interlocutora, cuyo brazo estaba envuelto en la manga de una chaqueta de uniforme...

-Yo soy la camarera de la señora, su confidente; y estoy totalmente dispuesta a recompensarlo personalmente, si se presta galantemente a las exigencias de nuestra situación.

-¡Con mucho gusto! -dije viéndome embarcado a la fuerza en una aventura peligrosa.

Entonces, aprovechando la oscuridad, quise comprobar si la cara y las formas de la camarera estaban en armonía con las ideas que los sonidos, ricos y guturales, de su voz me habían inspirado... La camarera se había sometido por anticipado sin duda a todas las eventualidades de aquel singular rapto, pues guardó el más complaciente de los silencios, y el vehículo no había rodado más de diez minutos por Madrid cuando recibió y me devolvió un apasionado beso. El señor que llevaba enfrente no se molestó por algunos puntapiés que le propiné de forma involuntaria; pero como no comprendía el francés, supongo que no les prestó atención.

-Sólo puedo ser su amante con una condición -me dijo la camarera como respuesta a todas las bobadas que yo le recitaba, llevado por el calor de una pasión improvisada, para la que todo eran obstáculos.

-¿Cuál?

-Que no intentará nunca saber a quién pertenezco... Si voy a su casa, será de noche y me tendrá que recibir a oscuras.

Nuestra conversación se encontraba en ese punto cuando el vehículo llegó cerca de la tapia de un jardín.

-¡Déjeme taparle los ojos!- me dijo la camarera-; se apoyará en mi brazo y yo misma lo guiaré.

Luego me colocó sobre los ojos y me anudó fuertemente detrás de la cabeza un pañuelo muy tupido. Oí el ruido de una llave colocada con precaución en la cerradura de una puertecilla sin duda por el silencioso amante que había estado frente a mí; y pronto, la doncella de cuerpo arqueado, que tenía cierto meneo al andar, me condujo, a través de las avenidas enarenadas de un gran jardín, hasta un determinado lugar donde se detuvo. Por el ruido que hicieron nuestros pasos, supuse que nos encontrábamos delante de la casa.

-¡Ahora, guarde silencio! -me dijo al oído- y preste mucha atención... No pierda de vista ni una sola de mis señales, pues no podré ya hablarle sin peligro para los dos, y en este momento se trata de salvarle a usted la vida. -Luego añadió con voz más alta-: La señora está en una habitación de la planta baja; para llegar hasta allí, tendremos que pasar por la habitación y delante de la cama de su marido; por lo que no tosa, ande con cuidado, y sígame atentamente para no golpear ningún mueble o poner los pies fuera de la alfombra que he dispuesto para nuestros pasos...

En ese momento, el amante gruñó sordamente, como alguien impacientado por tantos retrasos. La camarera se calló; oí abrir una puerta, percibí el aire cálido de un apartamento y avanzamos con cautela, como ladrones en expedición. Por fin, la suave mano de la camarera me quitó la venda. Me encontré en una habitación grande, alta y mal iluminada por una única lámpara humeante. La ventana se encontraba abierta, pero había sido protegida por gruesos barrotes de hierro por el marido celoso; fui arrojado en ella como a un callejón sin salida.

En el suelo, y sobre una estera, se encontraba una magnífica mujer, cuya cabeza estaba cubierta por un velo de muselina, pero a través del cual sus ojos llenos de lágrimas brillaban con todo el esplendor de las estrellas. Oprimía con fuerza un pañuelo de batista sobre la boca, y lo mordía tan vigorosamente que sus dientes lo habían desgarrado y habían penetrado a medias en él... No he visto jamás cuerpo más bello, pero ese cuerpo se retorcía de dolor como se retuerce una cuerda de arpa que se arroja al fuego. La desgraciada había formado dos arbotantes con sus piernas apoyándolas sobre una especie de cómoda; y con las dos manos, se agarraba a los palos de una silla estirando los brazos, cuyas venas estaban horriblemente hinchadas. Se parecía a un criminal en las angustias del potro... Por lo demás, ni un grito, ni ningún otro ruido que no fuera el sordo crujido de sus huesos, y nosotros estábamos allí, los tres mudos e inmóviles... Los ronquidos del marido resonaban con constante regularidad...

Quise ver a la camarera, pero se había vuelto a poner la máscara de la que se había deshecho, sin duda, durante el trayecto y sólo pude ver dos ojos negros y formas muy pronunciadas que abombaban su uniforme. El amante estaba también enmascarado. Cuando llegó, arrojó unas toallas sobre las piernas de su amante, y dobló sobre el rostro el velo de muselina.

Una vez que hube observado concienzudamente a aquella mujer, reconocí por ciertos síntomas antaño observados en una muy triste circunstancia de mi vida, que el bebé estaba muerto; entonces me incliné hacia la camarera para informarle de la situación. En ese momento, el desconfiado desconocido sacó su puñal; pero tuve tiempo de decírselo todo a la doncella, que le dijo dos palabras en voz baja. Al oír mi pronóstico, el amante tuvo un ligero escalofrío que le subió de los pies a la cabeza como un relámpago, y me pareció ver palidecer su rostro bajo la máscara de terciopelo negro. La doncella, aprovechando un momento en el que este hombre desesperado miraba a la moribunda que se ponía morada, me indicó con un gesto los dos vasos de limonada servidos sobre una mesa, y me hizo un gesto negativo. Comprendí que debía abstenerme de beber, pese al horrible calor que me hacía sudar. De repente, el amante, que sin duda tenía sed, tomó uno de los vasos, y se bebió más o menos la mitad de la limonada que contenía.

En ese momento, la dama tuvo una violenta convulsión que me indicaba el momento favorable a la crisis, y, cogiendo mi lanceta, la sangré apresuradamente en el brazo derecho con bastante fortuna. La camarera recogió con toallas la sangre que brotaba abundantemente; luego la desconocida entró en un abatimiento propicio para mi operación... Me armé de valor, y tras una hora de trabajo, logré extraer al bebé en trozos. El español, que no pensaba ya en envenenarme, comprendiendo que acababa de salvar a su amante, lloraba bajo su máscara y, en ocasiones, gruesas lágrimas caían sobre su capa.

Por lo demás, la mujer no lanzó ni un grito, pero seguía mordiendo el pañuelo, temblaba como un animal salvaje cercado, y sudaba gruesas gotas. En un instante horriblemente crítico, hizo un gesto para indicar la habitación de su marido; el marido acababa de darse la vuelta; y, de los cuatro, era la única que había oído el roce de las sábanas, el ruido de la cama o de las cortinas. Nos detuvimos, y a través de los agujeros de sus máscaras, la camarera y el amante se lanzaron miradas de fuego...

Aprovechando esta especie de tregua, tendí la mano para coger el vaso de limonada que el desconocido había empezado; pero él, creyendo que iba a beber de alguno de los vasos llenos, saltó con la agilidad de un gato, y colocó su largo puñal sobre los dos vasos envenenados. Me dejó el suyo, haciendo un gesto con la cabeza para decirme que me tomara el resto. Había tantas cosas, tantas ideas, tanto sentimiento, en aquel gesto y en su vivo movimiento, que le perdoné casi las atroces combinaciones meditadas para matar y enterrar cualquier tipo de huella de aquellos acontecimientos. Me dio la mano cuando acabé de beber; luego, tras haber dejado escapar un movimiento convulsivo, envolvió personalmente con todo cuidado los restos de su hijo; y cuando, después de dos horas de cuidados y miedos, la camarera y yo recostamos a su amante, me apretó de nuevo las manos y, sin que yo lo supiera, introdujo en mi bolsillo una suma importante. Entre paréntesis, como yo ignoraba el suntuoso regalo del español, mi criado me robó aquel tesoro dos días después, y huyó provisto de una verdadera fortuna. Le dije al oído a la doncella las precauciones que había que tomar; luego le manifesté el deseo de que me dejaran libre. La camarera permaneció junto a su señora, circunstancia que no me tranquilizó en exceso; pero decidí mantenerme alerta. El amante hizo un paquete con el cuerpo del bebé muerto y la ropa teñida por la sangre de su amante; luego lo apretó fuertemente, lo ocultó bajo su capa; y, pasándome la mano sobre los ojos como para decirme que los cerrara, salió delante de mí invitándome con un gesto a que me agarrara a un faldón de su traje; lo que hice, no sin echarle una última mirada a la camarera. Ésta se quitó la máscara al ver que el español había salido, y me mostró el rostro más bello del mundo.

Crucé los apartamentos siguiendo al amante; y cuando me encontré en el jardín, al aire libre, confieso que respiré como si me hubieran quitado un enorme peso del pecho. Caminaba a una distancia respetuosa de mi guía, observando sus menores movimientos con la mayor atención.

Una vez llegados a la puertecilla, me cogió de la mano, y puso sobre mis labios un sello, montado en una sortija, que yo le había visto en un dedo de la mano izquierda. Comprendí todo el significado de aquel gesto elocuente. Salimos a la calle y, en lugar del vehículo, había dos caballos esperándonos. Montamos cada uno en un animal; el español cogió mi brida, la sujetó con la mano izquierda, cogió entre los dientes la brida de su montura, pues tenía el sangriento paquete en la mano derecha, y partimos con la rapidez del relámpago. Me fue imposible observar el menor objeto que pudiera servirme para reconocer la ruta que recorrimos. Al amanecer, yo me encontré cerca de mi puerta, y el español escapó, dirigiéndose hacia la puerta de Atocha.

-¿Y no vio usted nada que pudiera hacerle sospechar de qué dama se trataba? -preguntó un oficial al médico.

-Una sola cosa... -dijo-. Cuando sangraba a la desconocida, observé en su brazo, más o menos a la mitad, una pequeña verruga, del tamaño de una lenteja, rodeada de pelos oscuros... El palacio me pareció magnífico, inmenso; la fachada no se acababa nunca...

En ese momento, el indiscreto cirujano se detuvo, pálido. Todos los ojos fijos en los suyos siguieron la misma dirección; y los franceses vieron a un español envuelto en una capa, cuya mirada de fuego brillaba en la oscuridad, en medio de un bosquecillo de naranjos donde se mantenía de pie. El oyente desapareció de inmediato con una rapidez de silfo, cuando un joven subteniente se lanzó tras él.

-¡Caramba! Amigos míos -exclamó el médico- esos ojos de basilisco me han dejado helado. Oigo campanas; les digo adiós o me enterrarán aquí.

-¡No seas tonto! -dijo el coronel Charrin-, Lecamus ha seguido al espía, él sabrá darnos razón del mismo.

-¿Qué ha pasado Lecamus? -preguntaron los oficiales, al ver regresar jadeante al subteniente.

-¡Al diablo! -respondió Lecamus-. Creo que ha pasado a través de las murallas; y, como no creo que sea un brujo, sin duda es de la casa; conoce los pasadizos, los rodeos, y se me ha escapado fácilmente.

-¡Estoy perdido! -dijo el cirujano con voz taciturna.

-¡Vamos!, tranquilízate -contestaron los oficiales; te acompañaremos por turnos en tu casa hasta que te marches... y, por esta noche, te acompañamos todos.

Efectivamente, tres jóvenes oficiales, que habían perdido su dinero en el juego y no sabían qué hacer, recondujeron al médico a su alojamiento, y se ofrecieron a permanecer con él, lo que éste aceptó.

Dos días después, había obtenido su regreso a Francia, y hacía todos los preparativos para marcharse con una dama a la que Murat le había proporcionado una gran escolta. Acababa de cenar en compañía de sus amigos, cuando su criado vino a avisarle que una mujer joven quería hablar con él. El cirujano y los tres oficiales bajaron de inmediato; pero la desconocida sólo pudo decir: «¡Tenga cuidado!» Y cayó muerta. Era la camarera que, sintiéndose envenenada, esperaba llegar a tiempo para salvar al médico. El veneno la desfiguró por completo.

-¡Demonios! ¡demonios! -exclamó-. ¡A eso se le llama amor! ¡Sólo una española es capaz de correr con un monstruo de veneno en el estómago!

El médico permanecía singularmente pensativo. Finalmente, para ahogar los siniestros presentimientos que le atormentaban, volvió a la mesa y bebió inmoderadamente, lo mismo que sus compañeros; luego, medio ebrios, se acostaron temprano. En mitad de la noche, el médico fue despertado por el chirrido que hicieron los aros de las cortinas violentamente corridas sobre sus varillas. Se incorporó, presa de esa trepidación mecánica de todas las fibras que se adueña de nosotros en un momento de despertar súbito. Entonces vio delante de él a un español envuelto en su capa. El desconocido lanzaba la misma mirada ardiente que la que había salido de entre la vegetación durante la fiesta y por la que se había quedado tan impactado. El cirujano gritó: «¡Socorro!... A mí, amigos míos» Pero a esa llamada de auxilio, el español contestó primero con una risa amarga: «El opio crece para todo el mundo». Y, después de esa especie de sentencia, le mostró a sus tres amigos profundamente dormidos; y, sacando bruscamente de debajo de su capa un brazo de mujer recién cortado, se lo presentó al médico, mostrándole una señal similar a la que él había descrito tan imprudentemente: «¿Es la misma?» preguntó. Al resplandor de un farol colocado sobre la cama, el cirujano, helado de espanto, contestó con un gesto afirmativo y, sin más información, el marido de la desconocida le hundió el puñal en el corazón.

-Este cuento es furiosamente pardo -dijo uno de los oyentes- pero es más inverosímil todavía; porque ¿puede explicarme cuál de los dos le contó la historia, el muerto o el español?

-Señor -contestó el narrador, molesto por la observación-, como afortunadamente la puñalada que recibí en lugar de deslizarse hacia la izquierda lo hizo hacia la derecha, supongo que admitirá que yo conozca mi propia historia... le juro que hay aún algunas noches en las que veo en sueños aquellos dichosos ojos...

El cirujano en jefe se detuvo, palideció, y se quedó boquiabierto, en una verdadera crisis de epilepsia. Nos volvimos todos para mirar hacia el salón. En la puerta se encontraba un grande de España, uno de esos afrancesados en el exilio, que había llegado hacía quince días a Touraine con su familia. Aparecía por vez primera en sociedad y, como había llegado tarde, visitaba los salones, acompañado de su mujer cuyo brazo derecho permanecía inmóvil.

Nos separamos en silencio para dejar pasar a aquella pareja, que no vimos sin una emoción profunda. ¡Era un auténtico cuadro de Murillo! El marido tenía dos ojos de fuego en unas órbitas hundidas y ojerosas. Su rostro estaba demacrado, el cráneo sin cabello y el cuerpo de una delgadez extrema. La mujer... ¡imagínensela! No, porque no la pintarían como era. Tenía una estatura considerable; estaba pálida, pero era bella aún; su tez, por un privilegio inaudito para una española, era deslumbrante de blancura; pero su mirada caía sobre nosotros como una colada de plomo fundido... su hermosa frente, adornada con perlas y blanca, se parecía al mármol de una tumba; tenía sin duda una gran pena en el corazón... Era el dolor español en todo su esplendor... Es inútil añadir que el médico había desaparecido...

-Señora, -le pregunté a la condesa hacia el final de la velada- ¿en qué acontecimiento perdió usted el brazo?

-En la guerra de la Independencia -contestó.
FIN



Contes bruns, 1832

Traducción de Esperanza Cobos Castro





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