terça-feira, 13 de janeiro de 2015

"Desde muitos anos insisto em que a poesia é uma chave do conhecimento, com a ciência, a arte ou a religião: sendo por tanto óbvio que lhe atribuo um significado muito superior ao de simples confidência ou de jogo literário. Diversas são as faces da poesia, tal como se tem esta revelado através dos séculos. Que o instrumento básico da poesia é a linguagem, não há a menor dúvida."

(Trecho do ensaio "A poesia e o nosso tempo", Murilo Mendes, publicado no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, de 25/07/1959.)

A poesia e o nosso tempo

"Nossa época, nascida sob o signo do relativismo, se distingue em boa parte pela flutuação e instabilidade das ideias. Hoje é difícil, senão impossível, fixar um critério seguro no que se refere à validez de escolas e estilos literários. O que agora parece moderníssimo torna-se "superado", datado, em pouco tempo. Nenhum de nós viverá quinhentos anos para saber o que vai ficar da imensa produção literária de nossa época."
(Trecho do ensaio "A poesia e o nosso tempo", Murilo Mendes, publicado no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, de 25/07/1959.)
Noitefazes
Ou disfazes?
Noite redonda
Cararredonda
Ar voando:
Sono da palavra
Coisa-feita.
Dia quadrado
Caraquadrada
Ar parando:
Insônia da palavra.
Coisa-fazes.
Diafazes.

Texto de informação, fragmento. MENDES, Murilo. Antologia Poética. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
Quem
Quem um dia dançou os pés de outro?
Todos os que dançam, todos
Apenas dançam os próprios pés.
Quem pensa na imortalidade do outro
E durante seu próprio sonho
Sonha com o sonho do outro?
Quem, no nascimento do menino humilde,
Pede sua coroação pelos reis?
Quem manda violetas ao pobre encarcerado?
Quem se sente poeta pelo que o não é?
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MENDES, Murilo. Antologia Poética. São Paulo: Cosac Naify, 2014.