sábado, 13 de setembro de 2014

ambientalismo e rentismo

Esse ambientalismo quer brecar o crescimento econômico e, por isso, a política do rentismo lhes é mais favorável. Ambos, ambientalismo e rentismo, elegeram o neodesenvolvimentismo como inimigo principal. Não querem saber de investimentos públicos em estradas, portos, hidrelétricas. Os ambientalistas porque imaginam que, assim, preservarão a natureza; os rentistas porque querem conter os gastos do Estado para aumentar o superávit primário e rolarem sem sobressaltos a dívida pública."
Armando Boito

A FEBRE



as mãos da febre entram em volúpia nos corpos desalojados. moldam crianças nos rostos, acendem labaredas nos olhos.

caçadora-irmã dos lobos que saltam das veias, a febre faz o medo afiar-se num outro espaço ôntico e os pés estremecerem numa casa de novos partos.

os membros de bronze fundido agarram as horas pela nuca em banhos de gelo suado. querem alcançar o escadote que leva para além das clepsidras.

a febre devora os náufragos. envolve num estranho carnaval aqueles que perderam todas as máscaras e se esqueceram de tirar a gargantilha.

as patas da febre sulcam trilhos infernais na voz. aurora boreal estilhaçada no corpo, corrompida em fios quentes de tecer infernos e outras místicas alcovas.

mas a febre não é vermelha, a febre é negra como a boca dos velhos. a febre faz os dentes medirem o vazio entre as estrelas.
Abre a boca pássaro cego 

(de María Ramos; trad. de Alberto Augusto Miranda)


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
...
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sofia de Mello Breyner Andresen

  
Havia um homem que corria pelo orvalho dentro.
O orvalho da muita manhã.
Corria de noite, como no meio da alegria,
Pelo orvalho parado da noite.
Luzia no orvalho. Levava uma flecha
pelo orvalho dentro, como se estivesse a ser caçado
loucamente
por um caçador de que nada se sabia.
E era pelo orvalho dentro.
Brilhava.

Não havia animal que no seu pelo brilhasse
assim na morte,
batendo nas ervas extasiadas por uma morte
tão bela.
Porque as ervas têm pálpebras abertas
sobre estas imagens tremendamente puras.

Pelo orvalho dentro.
De dia. De noite.
A sua cara batia nas candeias.
Batia nas coisas gerais da manhã.
Havia um homem que ia admiravelmente perseguido.
Tomava alegria no pensamento.
do orvalho. Corria.

Ouvi dizer que os mortos respiram com luzes transformadas.
Que têm os olhos cegos como sangue.
Este corria, assombrado.
Os mortos devem ser puros.
Ouvi dizer que respiram.
Correm pelo orvalho dentro, e depois
estendem-se. Ajudam os vivos.
São doces equivalências, luzes, ideias puras.
Vejo que a morte é como romper uma palavra e passar



— a morte é passar, como rompendo uma palavra,
através da porta,
para uma nova palavra. E vejo
o mesmo ritmo geral. Como morte e ressurreição
através das portas de outros corpos.
Como uma qualidade ardente de uma coisa para
outra coisa, como os dedos passam fogo
à criação inteira, e o pensamento
para e escurece

— como no meio do orvalho o amor é total.
Havia um homem que ficou deitado
com uma flecha na fantasia.
A sua água era antiga. Estava
tão morto que vivia unicamente.
Dentro dele batiam as portas, e ele corria
pelas portas dentro, de dia, de noite.
Passava para todos os corpos.
Como em alegria, batia nos olhos das ervas
que fixam estas coisas puras.
Renascia.



Herberto Helder

we are welcome to elsinore



Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinor

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar


Mário Cesariny

A Perna Esquerda de Paris

"Um poema não é uma coisa que se coloca sobre o teu dia como um condimento sobre o teu almoço. A vida de uma pessoa não tem material semelhante a nada que conheças. Existir é feito de peças impossíveis de copiar. E a poesia não entra nesse material único - a vida de uma pessoa - como o avião no ar ou o acidente do avião na terra dura. Um poema não é manso nem meigo, não é mau nem ilegal.
Os homens não se medem pelos poemas que leram, mas talvez fosse melhor. O que é a fita métrica comparada com algo intenso? Há poemas que explicam trinta graus de uma vida e poemas que são um ofício de demolição completa: o edifício é trocado por outro, como se um edifício fosse uma camisa. Muda de vida ou, claro, muda de poema."


Gonçalo M. Tavares, in 'A Perna Esquerda de Paris'

Círculos infinitos.


Por Juan Brian Doyle

Una piedra cae al agua
Y los círculos se expanden
Avanzan hacia el infinito
Y en ese infinito se pierden
Una vida nueva llega
Y sus círculos se expanden
Mientras busca el infinito
En ese infinito se pierde.
Un instante aquí estamos
Abrazados en el amor
Ese instante es nuestro infinito

Donde nunca nada se pierde.

Estepario



Aquí estoy de nuevo como lobo de estepa
que no sabe si la frontera de la soledad es la sombra lumbre
sobre heridas hermanadas sobre naipes fríos corazones
las sienes aúllan en la creencia de la calma
me sostengo en la arquitectura de las tripas
con las entrañas pasmadas en los ojos del buitre
sin encontrar explicación en la estocada
haciendo irreconocible la luz que espanta al espectro
por viejos dialectos por brazos gibosos de péndulos
frondosas las ruinas se reconstruyen
brillando en el sumiso tránsito del hambriento
y cada mañana deambulo abierto a la belleza
de la lluvia barrote que suena detrás de la ventana
como látigo sangrante con su esqueleto.

Giovanni Collazos Carrasco

Uma trágica orgia de abelhas


Vi como uma orgia de abelhas
entrava na tua boca
e as sombras deixavam de estar erectas.
O meu coração perdeu a sua elasticidade.
A chuva de ouro
que deixaste no meu estômago
é ácido numa ferida
que nunca vi.
Agora és uma constelação
híbrida, congelada, cujo brilho
me provoca cataratas.
Tiveste a oportunidade de ver
como engendrava uma estação
com árvores alimentadas
de pirilampos,
um paraíso sem noites de sol,
pelo menos no teu sonho.
Agora o teu corpo fissurado pode ser
urinado pelos anjos.
A tua sombra deixou os seus genitais
para correr feridas de luz
no meu coração.
Vieram os gatos para cuidarem de ti,
mordendo as tuas bochechas inchadas,
não deixando que os gusanos
comam o inverno
que masturbou os nossos estômagos
olvidados numa árvore de outono.
Sim, as nossas vísceras ficaram
agarradas a uma árvore alimentada por pirilampos.
Lamento, cometi o erro de deixar que isto fosse
um sonho de um adolescente
que aprende a estudar astrologia
nas minhas feridas feitas
por uma faca de cortar oxidada.
As abelhas continuam a sua infância
na tua boca já masturbada pela noite de sol.

Patrícia Úbeda
(tradução de Alberto Augusto Miranda)

Editorial de O Globo. O velho e bom racismo de classe

Adriano Codato
Editorial de O Globo. O velho e bom racismo de classe. Ao menos eles descobriram o óbvio. O que, para a imprensa brasileira, já é uma revolução intelectual:
" O mesmo fenômeno ocorreu com o PSDB, nos tempos de Planalto. O poder do Executivo federal é tamanho na distribuição de recursos para estados e municípios, e no assistencialismo, que a população dessas regiões, dependente de bolsas, é sempre governista. Por isso são petistas."
O editorialista quer fazer uma teoria geral sobre o perfil do eleitorado do PT olhando apenas para as intenções de voto em Dilma segundo pesquisas eleitorais de 2014. A realidade, naturalmente, é muito mais complexa. Por um lado, o PT governa os seis maiores municípios da região metropolitana de São Paulo. Por outro lado, os eleitores do que o editorialista chama de "grotões" não votam apenas para presidente, votam também para governador, prefeito etc. Será que o PT predomina nas intenções de voto desses locais, para esses níveis de governo? Será que a "lógica" do voto identificada pelo editorialista é tão sui generis que só funciona no voto dado para um partido (no caso o PT) e para um cargo (no caso, as eleições presidenciais)? Claro está que o buraco analítico é bem mais embaixo.


Guilherme Simões Reis Hilária a interpretação de que o "voto dos grotões" no PT tem o mesmo significado do que era dado na ARENA/PDS. Igualar isso ignora politicas públicas.

Animal de Silêncios

3
No céu apenas duas
Nuvens ao rés da terra e sem destino
certo, uma extensão do pó, sem medida,
as bisnagas, tão somente cinco plantas
espargidas no monte magro,
uma lebre assombrosa, um veado
talvez, e a tarântula, o escorpião
astuto, as formigas gigantes,
os coiotes, os animais pobres
puxados pelo avanço teimoso
dos homens até o limite
último, a vida, este cobre
deserto na memória, a luz
que, feita metal, delira. Meio-dia
sem fronteira, seco, duro,
um vento e este pó decisivos.
Aí estou eu, feito um torrão
do tempo, com a garganta a punhaladas
ardida. A lua é um coiote
cego. Afundo o arado neste terra
irada. Extraio ervas, minerais
certos. Os fósseis tragados
pelo âmbar, o sangue e sua corrente
de papoula. Aqui faz a morte,
mas nasce o idioma, está aqui
o espanhol, suas consoantes,
a suave voz sussurro, o poema
San Juan, essas cores ávidas
do Greco, todas as letras fricativas,
a lua palatal, o tempo, o sacrifício.
Em cima, nas montanhas, as águas turbulentas,
dominadas. Embaixo está a luz aos borbotões,
dura. Aproxima a hora do panal,
o dia do lavrador, o vaticínio
exato e o vinhedo,
a risonha floração da abelha.
Quando a tarde então se reclina
na nuvem mortal, quando em meu quarto
se estaciona um crepúsculo antigo
e ronda um tigre pela cama opaca
e acossa minha garganta, a memória
trai, descubro-te na minha sombra,
busco teu centro vegetal, noturno,
afundo o arado nesta terra amada.
Quando esse tigre, então, se apresenta
com sua boca tremenda, destruidora,
quando mastiga o corpo magro
do veado, ele, implacável, só,
em metade deste planalto de cobalto,
edifica um pleno dia, sob este sol
salobro, uma imagem noturna
da morte. Talvez então
suas estrelas puras brilhem um pouco mais
com esse sangue. Embaixo está o silêncio,
a estrutura cristal dos objetos.
Porque tudo se agita em uma pressa
de puras carniças. E os diamantes
mesmos, por assim dizer, apodrece
e o ferro se derrete ou grasna.
Apareces então no eco de outro
eco perdido, já em mim recobrado.
Tão ausente teu sorriso, tão longe
tu toda, tão longe. Eu mesmo
o cervo devorado, eu esse tigre
também de luz e de fadiga.
Já não posso dormir. Ergo-me,
frio. Quando a cama, pois,
a cama mesma é um leito de cactos
e se escuta na rua o pavor
de mandíbulas e eu só recordo
aquele sol, sua chaga certa,
quando a cama toda se levanta
comigo, porque o próprio insone
a rebela, quero tocar-te
entre a luz e o pó, como uma abelha
azul, e é impossível.
A luz do ocidente e a tarântula,
as formigas guerreiras que desarmam
os élitros do grilo ou o olho seco
da mosca que vê dez vezes dez
o mesmo objeto, refugiam-se dentro
de suas covas, quando o silêncio
então se retira dentro dos cactos
do deserto, e o tigre dorme
junto à carne seca de sua vítima,
aí, nesse mesmo espaço aberto
pelos ventos, estou também,
enterrando o arado, tocando-te
sensual, furiosamente, mastigando,
uma, mil vezes, mil vezes mil
mil vezes trabalhar e viver,
mil vezes mil mil vezes, mil.

Jaime Labastida / As quatro estações / Animal de Silêncios

trad. Hermenegildo José Bastos


A política não é o império do mal; nem muito menos a religião expressa o bem absoluto



77. http://www.espacoacademico.com.br/052/52pol.htm


"A política não é o império do mal; nem muito menos a religião expressa o bem absoluto. Se a primeira instrumentaliza o mal e o bem e, neste sentido, sacraliza-se; a segunda, na medida em que não pode se ausentar completamente do mundo real, institucionaliza-se e têm interesses materiais a defender, politiza-se. Nisso, ambas utilizam o discurso do bem e do mal. Política e religião são manifestações sociais legítimas; podem referenciar ações humanas que mantém ou transformam a sociedade – e uma se apóia na outra em seus objetivos. Porém, quando prisioneiras de raciocínios maniqueístas, tendem a gerar fanatismo e intolerância. Nestes casos, à ingenuidade e ignorância soma-se a cegueira. Também aqui, temos muito a aprender com a história; uma história que não se resume à identificação de mocinhos e bandidos, do bem e do mal..."

Prof. Antonio Ozaí da Silva - Universidade Estadual de Maringá

O solitário



Para mim é odioso seguir e também guiar.
Obedecer? Não! E tampouco – governar!
Quem não é terrível para si, a ninguém inspira terror:
E somente quem inspira terror é capaz de comandar.
Para mim já é odioso comandar a mim mesmo!
Gosto, como os animiais da floresta e do mar,
De por algum tempo me perder,
De permanecer num amável recanto a cismar,
E enfim me chamar pela distância,
Seduzindo-me para – voltar a mim.

.

[Friedrich Nietzsche. In: A Gaia Ciência]

Marina caiu e Dilma subiu


Marina caiu e Dilma subiu. Mesmo a pesquisa do ibope de hoje (12/09) revela a aceleração do derretimento de Marina. O Instituto Marina Silva financiado pela Neca (da família do Banco Itaú) e a ideia de Banco Central independente derrubaram Marina. A esperança da direita desesperada para ressuscitar Aécio Neves não funcionou. Denúncias de última hora apócrifas e eleitoreiras na Petrobras não surtiram efeitos, ainda que sejam simulacros a serem investigados, mas não são denúncias oficialmente comprovadas e de fonte confiável. Qual a fonte e a origem das denúncias ? Ninguém acreditaria na hipótese de uma fonte de dentro da Polícia Federal em Curitiba, uma fonte aparelhada por uma revista e por grupos políticos histéricos de oposição e que não conseguiriam modificar o cenário político-eleitoral.

 http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/noticia/2014/09/ibope-mostra-dilma-com-39-marina-com-31-e-aecio-com-15.html

Ibope mostra Dilma com 39%, Marina com 31% e Aécio com 15%

Na simulação de segundo turno, Marina tem 43% e Dilma, 42%. Instituto ouviu 2.002 eleitores entre as últimas sexta (5) e segunda (8).

Ricardo Costa de Oliveira

Câmara de Curitiba aprova divisão de custos de obras públicas com moradores

Câmara de Curitiba aprova divisão de custos de obras públicas com moradores | Gazeta do Povo
Com emendas, proposta volta à pauta na sessão da próxima segunda-feira (15) para votação em redação final

GAZETADOPOVO.COM.BR

Gustavo Biscaia de Lacerda ..Prefeito Gustavo Fruet: tenha a decência de vetar essa lei ridícula e vergonhosa.

J.c. Cardoso... Tão vergonhosa que nunca me passou pela cabeça que um dia em alguma cidade do Brasil isso seria proposto.


Vandixon Richard DeLemos... Na verdade já existe há muito tempo um instituto constitucional e tributário com o mesmo fim: CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA, elencada pelo artigo 145, inciso III, da Constituição Federal, combinado com os artigos 81 e 82 do Código Tributário Nacional. Mas é muito pouco aplicado pleas administrações públicas devido à exigência legal de publicação do orçamento da obra, e porque o contribuinte tem o direito de impugnar o respectivo valor. Então, para implementar a medida da Contribuição de Melhoria, os processos de licitação, formação de preço e demais itens contratuais necessitam de uma relevante transparência, o que não é muito conveniente para as empreiteiras de obras públicas e para os governos.

A taça


Uma taça cheia, bem lavrada,
Segurava e apertava nas mãos ambas,
Ávido sorvia do seu bordo doce vinho
Para, a um tempo, afogar mágoa e cuidado.
Entrou o Amor e achou-me sentado,
E sorriu discreto e sábio,
Como que lamentando o insensato:
«Amigo, eu conheço um vaso inda mais belo,
Digno de nele mergulhar a alma toda;
Que prometes, se eu to conceder
E to encher de outro néctar?»
E com que amizade ele cumpriu a palavra!
Pois ele, Lida, com suave vénia
Te concedeu a mim, há tanto desejoso.
Quando estreito o teu amado corpo
E provo dos teus lábios fidelíssimos
O bálsamo de amor longo tempo guardado,
Feliz digo eu então ao meu espírito:
Não, um vaso tal, a não ser o Amor,
Nenhum deus o formou ou possuiu!
Formas assim não as forja Vulcano
Cos martelos finos e sensíveis!
Pode Lieu em frondosos outeiros
P'los seus faunos mais velhos e sagazes
Fazer pisar as uvas escolhidas
E ele mesmo presidir ao fermentar secreto:
Bebida assim não há desvelo que lha dê!

- Johann Wolfgang von Goethe, em "Canções". in: "Poemas" Goethe (Antologia).. [tradução de Paulo Quintela]. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1958.

Der Becher

Einen wohlgeschnitzten vollen Becher
Hielt ich drückend in den beyden Händen,
Sog begierig süßen Wein vom Rande,
Gram und Sorg’ auf Einmal zu vertrinken.
Amor trat herein und fand mich sitzen,
Und er lächelte bescheidenweise,
Als den Unverständigen bedauernd.
„Freund, ich kenn’ ein schöneres Gefäße,
Werth die ganze Seele drein zu senken;
Was gelobst du, wenn ich dir es gönne,
Es mit anderm Nektar dir erfülle?“
O wie freundlich hat er Wort gehalten,
Da er, Lida, dich mit sanfter Neigung
Mir, dem lange sehnenden, geeignet!
Wenn ich deinen lieben Leib umfasse,
Und von deinen einzig treuen Lippen
Langbewahrter Liebe Balsam koste,
Selig sprech’ ich dann zu meinem Geiste:
Nein, ein solch Gefäß hat außer Amorn
Nie ein Gott gebildet noch besessen!
Solche Formen treibet nicht Vulcanus
Mit den sinnbegabten, feinen Hämmern!
Auf belaubten Hügeln mag Lyäus
Durch die ältste, klügste seiner Faunen
Ausgesuchte Trauben keltern lassen,
Selbst geheimnißvoller Gährung vorstehn:
Solchen Trank verschafft ihm keine Sorgfalt!

- Johann Wolfgang von Goethe, in "Goethes Schriften". Achter Band, G. J. Göschen. 1789.


http://www.elfikurten.com.br/2014/07/johann-wolfgang-von-goethe.html