segunda-feira, 24 de março de 2014

É que as coisas do pensamento são radicalmente simples. Não constituem privilégio de nenhum saber, de nenhum ter, de nenhum agir. Estão por toda parte onde se recolhe um modo de ser. Pensador é todo homem. Todos têm gosto pela revelação do mistério do des-velamento do não saber. A arte de pensar é dada por um movimento extraordinário de sentir e escutar o silêncio do sentido, nos discursos das realizações. No pensamento não somos apenas enviados a remissões e referências. Não está na semântica ou na sintaxe a originariedade do pensamento. Uma paixão mais originária do que toda semântica ou qualquer sintaxe, a paixão do sentido, toma posse do nosso ser e nos faz viajar por dentro do próprio movimento de referir, de remeter, de enviar.


Emmanuel Carneiro Leão, na apresentação de "Ser e Tempo".

Cabral Soho


Li dia desses que mais um bairro de Curitiba - o Cabral - decidiu adotar um sobrenome. Agora será Cabral Soho, seguindo o exemplo de Batel Soho.
O SoHo é um bairro de Manhattan, na cidade de Nova York. Seu nome é a abreviação de South of Houston, indicando que se trata da região ao sul da rua Houston, e um trocadilho com o conhecido bairro do Soho, em Londres.
Já em Londres o Soho tem uma tradição histórica. No século 18, as ruas do Soho conquistaram o prestígio dos nobres. No século 19 ele era o local escolhido por artistas e livres pensadores da Europa para germinar seus ideais, produzir suas obras ou mesmo para se ocultarem dos olhos do mundo.
Na liberal e visionária década de 60 o Soho londrino ganhou ares de liberação sexual, com suas lojas de produtos sexuais e seus estabelecimentos voltados para a liberação dos desejos humanos, frequentados até mesmo por austeros cidadãos ingleses, os pretensos guardiões da moral da sociedade vitoriana.
Nesta mesma época a Carnaby Street, uma das mais célebres do Soho, tornou-se conhecida por se tornar o cenário idílico do aparecimento da minissaia, bem como de vestes coloridas e estampadas, e das famosas calças boca-de-sino, usadas por quase todos os jovens deste período.
Voltando à Curitiba, século 21, e depois de conhecer um pouco sobre a origem de Soho, me pergunto se incluir o sobrenome Soho trará algum benefício para o bairro.
Me pergunto se isso não seria de uma breguice e de uma falta de originalidade tamanha - além de ser tacanho - incorporar um "estilo" ao que sequer existe.
Pretenciosamente arrogante acreditar que trazer um nome a um bairro significará uma mudança de comportamento como vimos em Londres e Nova York, por exemplo. Pior ainda, achar que trará benefícios econômicos à região.

Tomara que o meu Mercês permaneça intacto. E longe, muito longe de cabeças pensantes como a desses senhores.
História de Curitiba Soho.

A madame entra na Louis Vuitton no shopping Pátio Batel ostentando em seu antebraço a linda bolsa da mesma marca da loja.

Eis que, educada e discretamente, a atendente vai ao seu encontro e diz que enquanto ela permanecesse no interior da loja a "bolsa" deveria ficar dentro de uma sacola fornecida imediatamente pela vendedora.


Tudo indica que a madame portava uma Luiz Vintão comprada nas melhores lojas do ramo de Ciudad Del Leste, no Paraguai.

Rodrigo Fornos
"Religião! Eu admito a vida eterna e talvez a tenha admitido sempre. Vamos que a consciência seja inflamada pela vontade de uma força superior, que a consciência olhe para o mundo e diga: ‘Eu existo’ - e que de repente essa força superior lhe tenha prescrito destruir-se, porque lá isso é muito necessário para algo - e até sem explicações para quê -, que eu admito tudo isso, no entanto lá vem outra vez a eterna pergunta: nesse caso, para que se faz necessária minha resignação? Será que não podem simplesmente me devorar, sem exigir de mim o elogio àquele que me devorou?"


- Fiódor Dostoiévski, O Idiota, p. 464. Tradução de Paulo Bezerra. 

discussões acerca da educação

Roberto Elias Salomão
Sinto uma certa angústia em amigos educadoras e educadores com a emergência desse fascismo de araque em nossas plagas. Concluem que a escola falhou, quando o certo é que essa juventude degenerada expressa interesses de classe, nada mais. Por melhor que seja o sistema educacional (e isso tem um limite no sistema capitalista), sempre haverá uma porta aberta para o fascismo. Se não fosse assim, como explicar o nazismo alemão, o fascismo italiano, o franquismo espanhol? Escolas ruins, professores incompetentes?
Andrea Caldas Acho que você tem razão, mas também nos falta um orgânico projeto educativo e cultural que dispute esta juventude. Em doze anos de governo popular, construímos prédios, melhoramos índices mas somos tímidos no debate curricular da escola e da cultura na sociedade. Ganhamos pontos no economicismo e perdemos muitos na "direção moral e intelectual".
Márcia Marques há, também, um gap de educação provocado pela ditadura, que desmontou um modelo de educação pública, implementada em grande parte por Anísio Teixeira, e que, com ele e Darcy Ribeiro, tem na construção da UnB sua elaboração mais refinada. Este desmonte foi crucial em transformar nossa educação no caos em que se encontrava. reconstruir, em meio a escombros (e tanta informação de preconceitos e xenofobias), é muito mais difícil. creio que a educação pública tem melhorado bastante, mas ainda faltam muitos anos para vermos os resultados desse investimento (que não pode ser interrompido, porque ainda precisa de muito)
Maerlio Barbosa O nosso modelo educacional tem que ser repensado. Os filhos da 5692 estão ai. Os estragos também. Tem que haver melhora no ensino desde a mais tenra idade até as universidades. De nada adianta melhorar as estatísticas na marra, como sempre fizeram. Esses planos emergenciais como o Mobral, Supletivo e cotas, que vieram com data para acabar, mas que são perenes, servem apenas como um "cala a boca" de parcelas excluídas, mas que votam, em nada ajudam a resolver o verdadeiro problema. Falta coragem e vontade política.
Márcia Marques tem sido implementadas mudanças – muitas muito boas – pelo MEC em parceria com outros ministérios com sociedade civil. falta comunicação e espaços de ampliação do debate. há uma mudança importante a ser feita no ensino médio, que não serve para nada. frustra os mlks no período mais complicado da vidinha deles, querem ganhar o mundo, mas não querem o ônus que isso acarreta. começou a ser implementada na gestão do haddad. as mudanças de ministros a partir dele sustaram as coisas. e as escolhas dos ministros não são feitas para dar continuidade aos planos e trabalhos. o MEC é um monstro (basta olhar o portal pra entender), cada mudança paralisa, pede novos estudos. não acho que quem chegue não deva fazer isso, porque não posso assinar cheque preenchido por outro sem olhar a fatura direitinho. falta é uma reforma política que contemple relações de Estado mais estáveis.
Maerlio Barbosa Olha, eu ainda cursava o primário quando entendi que quando se tem vontade política e se quer fazer alguma coisa, eles vão lá e fazem. Quando não querem, formam um comissão. o MEC tem comissão para tudo. Tenho visto muitos planos e coisas bonitas no papel, mas na prática.. E esse negócio de "parceria com a sociedade civil" lembra muito a já existente com as empresas particulares de ensino, que já levam muuuiiiiitoooo dinheiro nosso e só fazem o que lhes interessam financeiramente. Agem em nome do lucro e eu não gosto disso. Eles nem deviam ser chamados ou ouvidos, visto que não são responsáveis pela formulação de um plano nacional de educação popular. ACORDA BRASIL, EDUCAÇÃO É PROBLEMA DE TODOS!
Márcia Marques essa parceria com a sociedade civil, com a população, tem se dado muito nas universidades federais, por meio de cursos e atividades de extensão, com resultados muito interessantes. não podemos esquecer o quanto o país é desigual em muitas coisas: dinheiro, acesso, educação, geografia, história, cultura. em muitos casos é bom sermos desiguais e em outros absolutamente abjeto. e é neste contexto complexo que se insere a educação, num momento em que precisamos sair das caixinhas do conhecimento positivista