quarta-feira, 28 de maio de 2014

odes de horácio


"[...]
Prudente do futuro, ocultara um deus
o que há de vir na noite de bruma e breu
e ri se algum mortal se aflige
rumo ao nefasto. Mas tenhas calma
na lida do presente; que o mais se vai
seguindo o fluxo, ora pacífico
no seu canal ao mar Tirreno,
ora entre rochas debilitadas
que arrasta e tronco, gado, até mesmo o lar
num só tormento, e não sem algum clamor
da vizinhança em monte e bosque,
quando a feroz enxurrada irrita
as águas calmas. Há de ter mais poder,
ser mais alegre aquele que ao fim puder
dizer 'Vivi! O Pai já pode
vir pelo céu com as nuvens negras
ou puro sol, mas nunca removerá
aquelas coisas findas que ficarão,
nem poderá tornar desfeito
tudo que a fuga das horas trouxe.'
[...]"



trecho do penúltimo poema, 3.29.
fim de tese, aí vou eu.

trad : Guilherme Gontijo Flores

A relação entre literatura e guerra

A relação entre literatura e guerra é tão antiga quanto a história de cada uma destas manifestações humanas. Um dos textos fundadores da Literatura Ocidental é o relato de uma guerra: A Ilíada, de Homero. Em textos ainda mais antigos que sobreviveram a guerras posteriores – nas quais tudo se queimou, de casas a bibliotecas – escritores celebraram vitórias ou lamentaram derrotas. É o caso de Lamento pela Destruição de Ur, escrito há quatro mil anos e que descreve a devastação de uma das mais antigas cidades do mundo durante uma invasão estrangeira.

O papel do poeta épico era cantar as glórias de sua nação. São conhecidas as histórias de reis que levavam poetas a guerras para que seus feitos fossem imortalizados. No caso de derrotas, os poetas muitas vezes transformavam os acontecimentos em mitos de coragem e bravura, propagandas militaristas de caráter patriótico. No poema The Charge of the Light Brigade, de Alfred Tennyson, por exemplo, o massacre da cavalaria britânica numa batalha da Guerra da Crimeia é alçado a mito.

Essa relação cultural com o caráter bélico de impérios ainda era muito forte no início do século 20, e não foram poucos os autores que se lançaram à Primeira Guerra Mundial com fervor literário e patriótico. É o caso dos poetas britânicos Rupert Brooke e Siegfried Sassoon, do francês Guillaume Apollinaire e do alemão Ernst Stadler, que morreriam no conflito ou por ferimentos decorrentes dele. O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein, então em Oxford, partiria para as trincheiras acreditando que elas "fariam dele um homem". Era o tempo dos futuristas, que celebravam a guerra como a grande higiene do mundo.
Escrevendo em plena guerra

Nos poemas de Siegfried Sassoon, há uma transformação clara. Seus versos, que foram, desde o princípio, contra a percepção pública do conflito, influenciaram o grande poeta britânico da Primeira Guerra Wilfred Owen. Poemas seus como Dulce et Decorum Est e Anthem for Doomed Youth permanecem como monumentos contra aqueles crimes de megalomania imperial. Owen morreu em novembro de 1918, apenas uma semana antes do armistício.

Outros autores ingleses importantes foram Isaac Rosenberg – que morreu numa batalha também em 1918 e nos deixou textos assombrosos sobre a vida nas trincheiras –, e também Yvor Gurney e David Jones. Uma figura nem sempre associada ao conflito, por ter lutado na África, fez, no entanto, de parte de suas memórias da Primeira Guerra um dos mais conhecidos livros que relatam acontecimentos do período: T.E. Lawrence, o Lawrence da Arábia, e seu Sete Pilares da Sabedoria, publicado em 1922.

Entre os escritores germânicos, a guerra tornou-se a confirmação das profecias de destruição e apocalipse que os autores expressionistas vinham compondo há alguns anos. Gottfried Benn, que serviu na guerra como médico, havia publicado em 1912 seu primeiro livro, intitulado Morgue (Necrotério).

 poetas que lutaram e escreveram de forma desiludida durante o conflito
o austríaco Georg Trakl, também médico e que se suicidou em 1914, e ainda os alemães Ernst Stadler, Alfred Lichtenstein, August Stramm e Kurd Adler, todos mortos entre 1914 e 1916. Dos romances alemães sobre a Primeira Guerra Mundial, o mais conhecido é sem dúvida Im Westen nichts Neues (Nada de novo no front, 1929), de Erich Maria Remarque, que captura a transformação do entusiasmo juvenil de muitos soldados desiludidos com a realidade da guerra.

Em Zurique, os alemães Hugo Ball, Emmy Hennings, Walter Serner e Hans Arp lançaram sua campanha antimilitarista e suas críticas veementes à cultura bélica alemã em meio ao Cabaret Voltaire e ao Dadaísmo. Ludwig Wittgenstein levou à batalha o manuscrito de seu Tractatus Logico-Philosophicus. O texto, projetado inicialmente como um ensaio sobre lógica, ganharia seus questionamentos sobre a natureza do místico e de Deus durante a guerra e seus horrores, escreve a crítica norte-americana Marjorie Perloff no livro Wittgenstein´s Ladder, baseado na biografia monumental de Ray Monk para o pensador austríaco. 
Também neste clima de destruição, mesmo que longe dos campos de batalha, um dos maiores escritores do século 20 produziria textos como A metamorfose e O Processo: Franz Kafka.

O impacto pós-guerra e sua literatura
Muitos historiadores argumentam hoje que não se pode mais falar em Primeira e Segunda Guerra Mundial, mas numa única Grande Guerra. As consequências do conflito entre 1914 e 1918 foram sentidas para além dele. Na Guerra Civil decorrente da Revolução Russa de 1917, por exemplo, um batalhão de refugiados entraria, em muitos casos, numa Alemanha devastada pela guerra e pelas reparações impostas pelo Tratado de Versalhes.


As conturbações políticas da República de Weimar, que logo desembocariam no Regime Nazista e na Segunda Guerra, foram muito bem retratadas no grande romance alemão do período, Berlin Alexanderplatz (1929), de Alfred Döblin, e no trabalho de expressionistas que sobreviveram à Primeira Guerra, como Bertolt Brecht. A morte de vários expoentes das vanguardas europeias durante o conflito teria consequências drásticas para a arte do período entreguerras.

Deutsche Welle
 “A pessoa que sou é única, limitada a um nascer e a um morrer, presente a si mesma e que só à sua face é verdadeira, é autêntica, decide em verdade a autenticidade de tudo quanto realizar. Assim a sua solidão, que persiste sempre talvez como pano de fundo em toda a comunicação, em toda a comunhão, não é 'isolamento'. Porque o isolamento implica um corte com os outros; a solidão implica apenas que toda a voz que a exprima não é puramente uma voz da rua, mas uma voz que ressoa no silêncio final, uma voz que fala do mais fundo de si, que está certa entre os homens como em face do homem só. O isolamento corta com os homens: a solidão não corta com o homem. A voz da solidão difere da voz fácil da fraternidade fácil em ser mais profunda e em estar prevenida."

Virgílio Ferreira

O Estado Novo em Portugal

Em 28 de Maio de 1926, pôs fim à Primeira República portuguesa e implantou a ditadura, que trouxe Salazar e O Estado Novo.
A revolução começou em Braga, comandada pelo general Gomes da Costa, sendo seguida de imediato em outras cidades como Porto, Lisboa, Évora, Coimbra e Santarém. Consumado o triunfo do movimento, a 6 de Junho de 1926, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, Gomes da Costa desfila à frente de 13 mil homens, sendo aclamado pelo povo da capital.

Depois de 18 anos anos de uma república atribulada, com governos a sucederem-se a um ritmo alucinante (23 ministérios entre 1920 a 1926), a Primeira Guerra, que foi um desastre para os portugueses e uma grande crise económica.

fonte Marisa Soveral
«PERSONA NON GRATA»

Henry Alfred Kissinger (nascido Heinz Alfred Kissinger; Fürth, 27 de Maio de 1923) diplomata americano, de origem judaica, que teve um papel importante na política estrangeira dos Estados Unidos entre 1968 e 1976.
Kissinger foi conselheiro para a política estrangeira de todos os presidentes dos EUA de Eisenhower a Gerald Ford, sendo o secretário de Estado dos Estados Unidos, conselheiro político e confidente de Richard Nixon.
Em 1973 ganhou, com Le Duc Tho, o Prêmio Nobel da Paz, pelo seu papel na obtenção do acordo de cessar-fogo na Guerra do Vietname. Le Duc Tho recusou o prémio.
Ainda hoje é uma figura polémica e controversa, alguns dos críticos de Kissinger acusam-no de ter cometido crimes de guerra durante a sua longa estadia no governo como dar luz verde para a invasão indonésia de Timor (1975) e a golpes de estado no Chile e no Uruguai (1973). Kissinger usava de uma política tortuosa, em que parecia jogar com um "pau de dois bicos". Apesar de essas alegações ainda não terem sido provadas em uma corte de justiça, considera-se perigoso para Kissinger entrar em diversos países da Europa e da América do Sul.


João Calvino


João Calvino (Noyon, 10 de Julho de 1509 — Genebra, 27 de Maio de 1564,) teólogo cristão francês. Calvino teve uma influência muito grande durante a Reforma Protestante, uma influência que continua até hoje. Esta variante do Protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africânderes),Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.
Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como "padre". Vítima das perseguições aos protestantes na França, fugiu para Genebra, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo Europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça .
Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Lutero era dotado de uma retórica mais directa, por vezes grosseira, enquanto que Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado, de uma severidade clássica, que se identifica pela clareza do estilo.


GRANDE DAMA DE LÍNGUA AFIADÍSSIMA



Maria da Conceição Tavares sobre o Brasil

"Há avanço social, mas ele não conta para essa classe média. É verdade que ela não tem sofrido de desemprego. Mas, vendo os pobres se aproximarem da sua condição, ela tem a impressão de que está estagnada, decadente, perdendo posição relativa.

No fundo, estava acostumada a ser elite, e, quando vê os pobres subindo e sendo valorizados com exclusividade pelo discurso do governo, ao mesmo tempo em que ela perde o peso decisório, começa a se achar enxovalhada.

E, aí, a imprensa conservadora surfa. Ela não dá destaque a essas melhorias sociais. Publica quando não pode deixar de publicar, mas não dá destaque! Então, essa classe média, que o PT chama de udenista, se junta com essa grande imprensa.

Só que eles perdem a eleição de novo, o que só aumenta a sua irritação. É uma retórica que mistura preconceito, reacionarismo, incômodo com a manutenção de não ter alternância na marra, de postergação de seus interesses e de sua visão de mundo."

http://www.insightinteligencia.com.br/64/PDFs/pdf1.pdf



dica de Mescla Notícias

Contrastes


Ismael Silva

Existe muita tristeza
Na rua da alegria
Existe muita desordem
Na rua da harmonia

Analisando essa estória
Cada vez mais me embaraço
Quanto mais longe do circo
Mais eu encontro palhaço

Cada vez mais me embaraço
Analisando essa estória
Existe muito fracasso
Dentro do largo da Glória

Analisando essa estória
Cada vez mais me embaraço
Quanto mais longe do circo
Mais eu encontro palhaço


СОНЕТ
Переживи всех.
Переживи вновь,
Словно ониснег,
Пляшущий снег снов.
Переживи углы.
Переживи углом.
Перевяжи узлы
Между добром и злом.
Но переживи миг.
И переживи век.
Переживи крик.
Переживи смех.
Переживи стих.
Переживи всех.
Иосиф Бродский

SONETO

a experiência de todos.
Experimente outra vez, como se eles estão dançando, neve neve neve.
Experimente os cantos.
Canto de experiência.
Bandagem nós entre o bem e o mal.
Mas o MiG experiência.
Experiência e idade.
O grito de experiência.
Experiência do riso.
O verso de experiência.
Experiência de todos.


Joseph Brodsky 

Rainha Vitória


Vitória (Londres, 24 de Maio de 1819 – East Cowes, 22 de Janeiro de 1901), oriunda da Casa de Hanôver, foi rainha do Reino Unido de 1837 até a morte, sucedendo ao tio, o rei Guilherme IV. A incorporação da Índia ao Império Britânico em 1877 conferiu a Vitória o título de Imperatriz da Índia.
Vitória era filha do príncipe Eduardo, Duque de Kent e Strathearn, o quarto filho do rei Jorge III. Tanto o Duque de Kent como o rei morreram em 1820, fazendo com que Vitória fosse criada sob a supervisão da sua mãe alemã, a princesa Vitória de Saxe-Coburgo-Saalfeld.
Herdou o trono aos dezoito anos, depois de os três tios paternos terem morrido sem descendência legítima. O Reino Unido era já uma monarquia constitucional estabelecida, na qual o soberano tinha relativamente poucos poderes políticos directos. Em privado, Vitória tentou influenciar o governo e a nomeação de ministros. Em público tornou-se um ícone nacional e a figura que encarnava o modelo de valores rigorosos e moral pessoal.
Casou-se com o seu primo direito, o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota, em 1840. Os seus nove filhos e vinte e seis dos seus quarenta e dois netos casaram-se com outros membros da realeza e famílias nobres por todo o continente europeu, unindo-as entre si, o que lhe valeu a alcunha de "a avó da Europa".
Após a morte de Alberto em 1861, Vitória entrou num período de luto profundo durante o qual evitou aparecer em público. Como resultado do seu isolamento, o republicanismo ganhou força durante algum tempo, mas na segunda metade do seu reinado, a popularidade da rainha voltou a aumentar.

O seu reinado de 63 anos e 7 meses foi o mais longo, até à data, da história do Reino Unido e ficou conhecido como a Era Vitoriana. Foi um período de mudança industrial, cultural, política, científica e militar e ficou marcado pela expansão do Império Britânico.

O TERRORISTA, ELE OBSERVA


A bomba vai explodir no bar às treze e vinte.
Agora são só treze e dezesseis.
Alguns ainda terão tempo de entrar.
Alguns de sair.
O terrorista já cruzou para o outro lado da rua.
A distância o protege de qualquer perigo
e a vista, bom, é como no cinema:
Uma mulher de casaco amarelo, ela entra.
Um homem de óculos escuros, ele sai.
Uns jovens de jeans, eles conversam.
Treze e dezessete e quatro segundos.
Aquele cara mais baixo tem sorte, sai de lambreta,
Aquele mais alto entra.
Treze e dezessete e quarenta segundos.
Uma moça, ela passa com uma fita verde no cabelo.
Só que o ônibus a encobre de repente.
Treze e dezoito.
A moça sumiu.
Se foi tola de entrar ou não
vai se saber quando os carregarem para fora.
Treze e dezenove.
Parece que ninguém mais entra.
Aliás, um gordo careca sai.
Remexe os bolsos como se procurasse algo
e faltando dez segundos para as treze e vinte
volta para buscar a droga das luvas que perdeu.
São treze e vinte.
O tempo, como ele voa.
Deve ser agora.
Ainda não.
É agora.
A bomba, ela explode.
Wislawa Szymborska

Poeta polonesa, traduzida por Regina Przybycien

Poema publicado na revista Coyote #18

Quem estiver procurando este e outros números da revista encontra aqui:

http://www.zonabranca.com.br/?page_id=297

''Confesso que, de minha parte, acho-a uma delícia. Adoro imensamente a democracia. Ela é incomparavelmente idiota e, por isto, tão divertida. Ela não exalta os parvos, os covardes, os oportunistas, os pilantras e os blefes? Sim, mas a tortura de vê-los subir na vida é compensada pela alegria de vê-los cair do galho. A democracia não é perdulária, extravagante e desonesta? É, como qualquer outra forma de governo: todas são inimigas dos homens decentes. Não são os velhacos que a dirigem? Sim, mas temos suportado esta velhacaria desde 1776 e continuamos sobrevivendo. A longo prazo, pode ser que que a velhacaria seja uma necessidade inerradicável de qualquer governo e até da própria civilização - ou que, no fundo, a civilização não passa de um colossal calote. Não sei. Só sei que, quando os sangue-sugas estão se dando bem, o espetáculo fica hilariante. Mas talvez eu seja um homem malicioso: quando se trata de sangue-sugas, minha simpatia por eles tende a ser tímida. O que me intriga é como um homem que é a favor deles e se sente como eles pode acreditar em democracia, e até se compadece quando os vê expostos como um bando de sacanas. Como um homem que é sinceramente democrata pode ser democrata?''
__H. L. Mencken; O Livro dos insultos.



Cuando el ahogo venía
él me visitaba, con su cara
ya gastada, irreconocible.
"Soy yo, no te asustes"
decía, mientras acariciaba
mi pelo transpirado.
Pero la bronca de los bronquios
no se apaciguaba.
-Existe una estrecha relación
entre la persona asmática
y lo injusto.-
Cuando al fin pude decirle
de que no volviera,
que las cosas eran así;
que aprendería a ser,
más o menos, un buen padre,
él ya no vino más.
Hasta que llegó el día
en que pude conocerlo.
"Soy yo, no te asustes"
le dije
acariciándole el pelo de la foto.
Un viento fresquísimo
atravesó el pinar

y sopló en la piedra.

Gustavo Caso Rosendi