sábado, 3 de outubro de 2015


O problema do manipulado é que ele não sabe que é manipulado. Até fica bravo quando o chamam de manipulado. Sim, ele concorda que a mídia manipula e distorce informações. Só que pensa que ele, que se alimenta dela e de seus ecos nas redes sociais, é imune a essas manipulações. Vamos ver um exemplo. Ele está meio confuso agora, porque sempre lhe falaram que o Putin era do mal e o Exército Islâmico também. Então como entender que o mal ataque o mal? Ele só não sabe que o Exército Islâmico -- aquele que decapita e crucifica pessoas -- foi criado e sustentado pelo Ocidente para derrubar Bassad Al-Assad, sempre chamado com gosto de ditador sanguinário (como se Obama não fosse usar de força máxima se aparecesse nos EUA uma grupo terrorista que quisesse defenestrá-lo). Ele não sabe também que a Síria de Assad era o país árabe mais laico e moderno do Oriente Médio: lá conviviam numa boa xiitas, sunitas, alauítas, cristãos e laicos. Em Damasco, se você quisesse, podia tomar de boa uma cerveja num pub e dançar música eletrônica num clube. Pois bem: queriam derrubar esse regime para pôr o que no lugar? Os fanáticos do Exército Islâmico. Então o manipulado, que se sente bem informado e enche a boca pra falar mal dos bolivarianos, está meio sem entender nada agora. Acontece que a manipulação da mídia é tão descarada que ela pinta de mocinho de vilão e de vilão o mocinho. E o manipulado, coitado, não sabe que nesta história -- e em muitas outras -- o vilão é na verdade o mocinho.



 Otto Leopoldo Winck

Desgasta-me perceber que numa época em que dizer que a crítica literária não existe é algo como afirmar que todos os políticos são desonestos – uma sentença definitiva e abrangente –, uma resenha dupla de Amador Ribeiro Neto sobre os semifinalistas do Prêmio Oceanos acabe gerando tanta repercussão. Duas coisas me incomodam sobremaneira. 1) uma certa estratégia contemporânea: para ser ouvido atualmente é preciso andar mais na direção da agressão do que da compreensão, mais beligerância do que entendimento. 2) num território reconhecido de ausência de políticas educacionais – os dados estão aí, mostrando como o brasileiro sequer lê, na média, dois livros por ano –, penso que um crítico literário poderia cumprir um papel fundamental nesse cenário de excessos e desventuras: auxiliar leitores a procurar (ou não) certos autores, certos livros.

A crítica destrutiva por ela mesma pouco me interessa. Infelizmente gera audiência e desconfio que impele outros entusiastas a praticar o mesmo caminho retórico.

Daniel Zanella

Mídia - Propaganda Política e Manipulação


"CONSIDERANDO O PAPEL QUE A MÍDIA ocupa na política contemporânea, somos obrigados a perguntar: em que tipo de mundo e de sociedade queremos viver e, sobretudo, em que espécie de democracia estamos pensando quando desejamos que essa sociedade seja democrática? Permitam que eu comece contrapondo duas concepções diferentes de democracia. Uma delas considera que uma sociedade democrática é aquela em que o povo dispõe de condições de participar de maneira significativa na condução de seus assuntos pessoais e na qual os canais de informação são acessíveis e livres. Se você consultar no dicionário o verbete "democracia" encontrará uma definição parecida com essa.
Outra concepção de democracia é aquela que considera que o povo deve ser impedido de conduzir seus assuntos pessoais e os canais de informação devem ser estreita e rigidamente controlados. Esta pode parecer uma concepção estranha de democracia, mas é improtante entender que ela é a concepção predominante."

Noam Chomsky