domingo, 14 de julho de 2013

poemas do moçambicano luis Patraquim

CHAGALL

a Lagosta alando-se
ao flanco mais lúcido das estrelas,
mestre, esta é a casa
ou só silêncio em percussão de formas,

Rumor de virgens
sangrando de mênstruo as raízes

Luis Patraquim

PALINGENESIA

país, bestial camelo,
carrego-te e à bossa
uterina da viagem,
os veios de som explodindo,
nem Fanny Mpfumo, o delicado,
é sobrante nas areias
mais que a parábase de Georgina,
meu país boi flanando
no céu úbere da Mafalala

Luis Patraquim

"Luís Carlos Patraquim -- Antologia poética", livro organizado por Carmem Lúcia Tindó Secco e publicado pela editora da Universidade Federal de Minas Gerais, na coleção Poetas de Moçambique
''Nós vivemos em uma época épica que começou com a máquina a vapor e que termina através da desintegração do átomo.(...) A poesia deverá se alimentar nas baterias nucleares e pôr a alma humana e sua angústia em um herbário?Vivemos em uma época épica e de épico nada temos.''
- Léo Ferré


O Guardador de Rebanhos - Poema VII


Eu Sou do Tamanho do que VejoDa minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro,heterónimo de Fernando Pessoa

DO LIVRO ZAAR_________quadro 3 ( EDITORA EPÉRCULA-GALIZA)

..,...tentar espiritualizar a violência na matéria em agitação estética ondeante-cavalgadora e libertadora da vida: multiplicidade do corpo indomável, na consciência caótica, na espiritualidade, na energia do informulado, na fertilidade ardente da mãe-terra: serão sempre interrogações do deserto, na violenta nidação da ausência e do exílio, da perda que é risco construtor de vozes-entre-vozes: eis o cântico da fertilidade da terra enquanto rotação vertiginosa emancipadora do humano-animalizante (outra voz surge sem dinastias): vejam as interfaces das catástrofes e dos renascimentos hieroglíficos: contactos, movimentos, descentram-se de si e misturaram-se de e nos corpos-evasivos (impregnação e osmose intensiva de corpos que se alargam na memória-desmemoriada): tonturas, vertigens, interfaces, pirâmides que se infinitizam, infindáveis visões, setas de metamorfose, nós cáusticos, profligações interiores-exteriores, arrolamentos, memórias, acoplagens, sinais, ardis: é neste regresso à progénie nativa-em-obstinado-movimento que o poema esculpe o poeta, reconstrói o poeta, redobra-o, desdobra-o e devora-o em infinitas possibilidades entre a visão-outra, o inexplicável, a voz das vozes, o vórtice vulcânico e a transmutação dos signos ocasionais, resistindo sempre ao poder da presença, criando desterritorializações, esculturas de fendas, do caos até ao desaparecimento onde surgem novamente as dobraduras peregrinas, os descolamentos, a potência do AION e da ausência da linguagem-em-configuração-de-murmúrios: o poeta-surfista reaparece emaranhado de silêncio nessa voz de contiguidades-uranólitas-astrofísicas-explosíveis (plasticidade inapreensível). Na esfinge que o persegue procura o lugar verdadeiro-cavalgador-surfista-em-teia-cósmica-náutica: a vida verdadeira que está ausente Rimbaudeanamente dentro e através de si: eis o holomovimento das expressões-poéticas-surfistas-sonâmbulas acopladas nos umbrais do desconhecimento e na escavação das línguas extintas.

LUIS SERGUILHA


''Nós vivemos em uma época épica que começou com a máquina a vapor e que termina através da desintegração do átomo.(...) A poesia deverá se alimentar nas baterias nucleares e pôr a alma humana e sua angústia em um herbário?Vivemos em uma época épica e de épico nada temos.''
- Léo Ferré