terça-feira, 28 de dezembro de 2010

"A arte não imita o visível,ela torna visível o não visível"
Paul Klee

a arte sai dos limites fáceis do que é sensível, do que tem nome e forma , para buscar no caos, em que a forma é sempre provisória, pontos soltos, linhas soltas e então dar-lhes corpo.Dar corpo tátil ao som, dar corpo sonoro ao tempo ,dar visibilidade ao que é tátil, dar sonoridade ao que era apenas volume em uma pedra.

Deleuze,Gilles
Cult 108. Ano 9.nov.p63

CHINE MUSIQUE AVEC L'ERHU LE VIOLON CHINOIS

A Máscara

W. B. Yeats

«Tira essa máscara de ouro ardente

E olhos de esmeralda.»

«Oh não, meu amor, atreves-te demasiado

A ver se um coração é selvagem e sábio,

Sem ser frio.»



«Só quero ver o que houver para ver,

O amor ou o engano.»

«Foi a máscara o que ocupou a tua mente,

E fez bater o teu coração,

Não o que está por detrás.»



«Mas a não ser que sejas minha inimiga

Devo inquirir.»

«Oh não, meu amor, deixa tudo ser como é;

Que importa, se entretanto houver fogo

Em ti e em mim?»



W. B. Yeats

in Uma Antologia

Assírio & Alvim, 1996

BUEN AMIGO

[Tango]

Música: Julio De Caro

Letra: Juan Carlos Marambio Catán .


En las buenas o en las malas

triunfante de pie o vencido,

la mano del buen amigo,

se tiende cordial y buena.

Consuelo en la dura pena,

aliento en amarga vida

si adoré a mi madre en vida,

también cultivé amistad.

Si alguna vez

me ves rodar

tu mano firme y fiel

me alzará

fraternal.

Tu corazón,

noble sin par,

está vibrando al son

del violín

dormilón.

En los riscos del camino

mil veces lloré vencido,

mil veces fui mal herido,

sangrando en la dura huella,

de pronto alumbró una estrella

tu mano me dio la vida

se cerraron mis heridas

al soplo de tu bondad.

(recitado)

Mil veces caído

sentí desmayar,

mil veces tu mano

me diste al pasar.

Hermano fiel

en mi orfandad

tu mano firme y noble

floreció en amistad.

El tiempo cruel

no ha de borrar

jamás tu fiel recuerdo,

buen amigo leal.
«Às vezes chegamos a acreditar, no meio deste caminho sem margens, que depois não haverá mais nada; que não se poderá encontrar nada do outro lado, no fim desta planura rachada de gretas e de arroios secos. Mas sim, há algo. Há uma aldeia. Ouvem-se os cães a ladrar e sente-se no ar o cheiro do fumo, e saboreia-se esse cheiro de gente como se fosse uma esperança.


Mas a aldeia está ainda muito para lá. É o vento que a aproxima.»


Juan Rulfo. O Llano em chamas in Obra Reunida. Trad. Rui Lagartinho, Sofia Castro Rodrigues, Virgílio Tenreiro Viseu. Cavalo de ferro.1ª ed., 2010, p. 145
Por felicidade, contudo, o que é o ser? - Não há senão maneiras de ser, sucessivas. Há tantas quanto objectos. Tantas quantos os batimentos de pálpebras.


Tanto quanto, tornando-se nosso regime, um objecto nos concerne, também o nosso olhar o cerca, o discerne. Trata-se, graças aos deuses, de uma «discrição» recíproca; e o artista acerta logo no alvo.

Sim, só o artista, então, sabe como fazer.

Deixa do olhar, atira ao alvo.

O objecto, é certo, acusa o golpe.

A verdade afasta-se em voo, indemne.

A metamorfose aconteceu.







Francis Ponge. Alguns poemas. Edição bilingue. Selecção, introdução e tradução de Manuel Gusmão. Edições Cotovia, Lisboa, 1996, p. 133