terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Uma tese de doutorado sobre Mano Brown e a periferia

Ricardo Costa de Oliveira...........“A Periferia Pede Passagem: Trajetória social e Intelectual de Mano Brown”. Filho de pai porteiro e mãe diarista, o sociólogo cresceu numa Cohab... Precisamos de mais intelectuais, teses e sociólogos de origens populares porque a sua sociologia poderá ser um olhar crítico e detalhado das realidades periféricas, populares e subalternas. Interessante escolha de tema de pesquisa. O que leva um sociólogo a escolher "livremente" um tema sempre é uma autobiografia na forma de uma autossociologia do que se vive, do que incomoda, do que deve ser dito e pesquisado. As dimensões de classe, etnia, gênero e principalmente ideologia atuam de forma direta. O que se fala, como escolher um objeto, como se escreve, o que se silencia, todas conceituações passam por estas categorias estruturantes e ambiências vividas. Toda sociologia é profundamente política e biográfica. Precisamos de sociólogos periféricos críticos, que jamais devem esquecer a ideologia de uma sociologia oficial da ordem dominante, com alguns pseudo formalismos e rigorismos, frutos de inseguranças sociais e políticas dos que vieram mais de baixo na sociedade de classes, vítimas de preconceitos e que procuram apenas o verniz uma sociologia importada, estrangeira e colonizada, supostamente técnica, profissional, asséptica, uma ciência social acrítica e defensora da ordem desigual. Todos sempre sentirão as pesadas influências e heranças da própria condição humana, familiar, social, política e identitária de qualquer cientista social. Origens já determinam em boa parte as atitudes, os horizontes ideológicos de qualquer texto e mesmo a escolha do tema nas ciências sociais. Na verdade é o objeto sociológico, o tema de pesquisa, que também escolhe o sociólogo.


Uma tese de doutorado sobre Mano Brown e a periferia
“A Periferia Pede Passagem: Trajetória social e Intelectual de Mano Brown”. Tese de doutorado explica que líder dos Racionais MC's é um intelectual

Roseli Bregantin Advogada Com certeza, Professor, e por isso é tão importante que o lugar de fala do pesquisador seja explícito, e não se esconda atrás de um total distanciamento do objeto para que suas observações ganhem status de isenção. Estudar é sempre uma forma racional de lidar com as nossas paixões e incomodos.

Marcio Mittelbach Olha aí, Sandro F. Paim, sobre o q vc estava tentando me dizer ontem...
Paulo Cesar Da Silva Acompanho a carreira do Mano desde o início.E o nojo que a polícia tem dos negros e pobres?Notório na obra de Mano,Eduardo e outros rappers!

Danilo Svirbul Vieira A academia ainda tem sua estrutura baseada no elitismo intelectual daqueles que possuem os meios para alcançá-la. A resistência intrínseca para aceitar intelectuais de origem "marginal" sempre foi muito evidente, ainda mais por se tratar de um núcleo do qual a residência é nativa das classes médias/altas. Ora, não se faz pesquisador de barriga vazia, e sabemos como é difícil se manter vivo neste meio sem as condições necessárias para um bom estudo, tendo que deliberar entre as complicações de uma vida privada penosa e toda a carga de desconfiança dos pares dentro da universidade. Que se façam mais destes pesquisadores, que se quebrem esses paradigmas elitistas dos cursos (principalmente de humanas) e que sociólogos de origens periféricas possam dar voz para aqueles que costumam ser apenas um objeto de estudo distante.

Valeria Tuleski Prof., na sua frase sobre os sociólogos, a questão é essa: Todo o cientista social sentirá as heranças que sofre em termos de determinações culturais? DE minha parte, tão importante quanto teses de doutorado que conseguem vir a público de uma maneira mais bem acabada, também precisávamos de jornalistas que sabem dialogar com as CS. Tenho encontrado um abismo entre uns e outros...

Valeria Tuleski A frase é: Todos sempre sentirão as pesadas influências e heranças da própria condição humana, familiar, social, política e identitária de qualquer cientista social. Desculpe-me a confusão.


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Um sociólogo norte-americano dos anos 50 já deu o diagnóstico: com o deslocamento geográfico de um segmento da classe média intelectualizada para os "campi" universitários, um setor importante da esquerda, que varia de numero segundo a institucionalização do aparelho burocrático-universitário de país para país, separou sua experiência de vida quotidiana da grande massa da classe trabalhadora. Daí que surjam tantas palavras de ordem e arroubos radicais dos quais a massa sequer toma conhecimento. A pergunta que se coloca é: as redes sociais agravaram esse fenômeno, insulando ainda mais os "liberals" do restante da população comum, ou serviram para "reconectar" as camadas médias liberais com o duro e sofrido cotidiano do cidadão comum? Talvez esteja aí a fonte do famoso "mal-estar" com a democracia monitorada que tantos ideólogos sentem...

Sérgio Soares Braga

terça-feira, 17 de janeiro de 2017


Você possui algum parente preso ? Responda abaixo os 20 itens para saber a probabilidade social de ser preso e morto no Brasil.
Você possui algum parente ganhando até um salário mínimo ?
Você possui algum parente migrante de regiões mais pobres e do meio rural ?
Você possui algum parente pardo ou negro ?
Você é vítima de preconceitos e discriminações ?
Você possui algum parente morador em sub-habitações, na periferia ou favela ?
Você não mora em bairro com mínima infraestrutura urbana ?
Você possui algum parente analfabeto ou com ensino fundamental incompleto ?
Você possui algum parente evangélico ?
Você possui algum parente com histórico de violência e de transgressões, desde a infância e adolescência ?
Você possui algum parente assassino e/ou assassinado, cresceu entre corpos mortos ?
Você possui mãe e pai distantes ou separados ?
Você não cresceu com segurança física, emocional e ambientado em uma tradição de inclusão ?
Você tem medo da polícia e das forças de segurança ?
Você nunca viu nenhuma escola, centro cultural, musical, de esportes, ou lazer minimamente organizado e acessível ?
Você nunca possuiu referência de contato com carreiras científicas ou tecnológicas ?
Você foi educado para sempre obedecer, ser submisso e ser subalterno como modelo de vida ?
Você possui parentes desempregados e deve seguir ocupações de baixa renda, baixa escolaridade e baixo prestígio social ?
Você não sabe o que são direitos humanos ?
Você não sabe o que é uma cultura cívica, nem valores democráticos e nacionais ?

Você nunca teve direitos sociais e políticos plenos, nunca teve cidadania ?

Ricardo Costa de Oliveira

domingo, 15 de janeiro de 2017

O PALÁCIO DE INVERNO



Muitos se dizem mais sábios na velhice:
a mim isso parece-me uma tolice.
No meu segundo quarto de século perdi
tudo o que na universidade aprendi.
E no que se passou depois, a minha mente nem pensa.
Já não conheço os que saem na imprensa
e as pessoas ofendem-se pois esqueço as suas caras
e juro que nunca estive em suas casas.
Valeria a pena se conseguisse eliminar
o que quer que seja que me começa a prejudicar.
E no final não saberei nada.
A minha mente encerrar-se-á como um campo, uma nevada.


- in Antología Poética, Cátedra, 2016.

Philip Larkin (1922-1985) poeta inglês. 
Tradução :Fátima Diogo .

a classe dominante tem um projeto

 Embora as pessoas não reconheçam, a classe dominante tem um projeto muito bem elaborado para o país (e o está aplicando com bastante sucesso). Este projeto é o de acabar com a ideia de desenvolvimentismo, ou seja, a ideia de que Estado deve induzir o desenvolvimento, em detrimento de uma ideia de que o Estado deve garantir as condições de funcionamento do mercado; acabar com a ideia de Estado de bem-estar social, ou seja, que o Estado tem a função de garantir alguns direitos sociais aos cidadãos - e, para isso, não estão preocupados com a degradação da democracia -; e o retorno a um tipo de sociedade em que o Estado tem a única função de garantir a segurança e o controle orçamentário. Esta classe pretende acabar com a ideia de que os cidadãos têm qualquer direito a ser garantido pelo Estado, para que o setor privado possa vir a suprir as necessidades das pessoas e obter lucros com isso, e também que o Estado tem qualquer função de administrar empresas públicas, que devem ser privatizadas. Para que as pessoas possam adquirir planos de saúde, pagar pela educação e pela previdência privada, enfim, tudo o que precisam, este projeto inclui o estímulo à iniciativa privada, as pessoas devem abrir seus próprios negócios e assim se dará a manutenção da economia. Os cortes dos gastos primários (sem contar os juros da dívida) tem isso como objetivo, a única função do Estado é a segurança e o pagamento dos juros da dívida pública, e, para pagá-los, o Estado deve arrecadar impostos, que servirão apenas para isso, para o pagamento dos juros para os detentores da dívida pública. Isso é o Consenso de Washington, uma receita de desregulamentação financeira, em que é preconizado um conjunto de 10 medidas para o ajustamento econômico, e significa uma reconfiguração do capital, que exige a disciplina fiscal, realinhamento dos gastos públicos, a liberalização financeira, a liberalização comercial, a desregulamentação e a questão da propriedade intelectual. Enfim, estamos em um momento em que os interesses financeiros dominam todas as sociedades, que devem canalizar toda a arrecadação para o sistema financeiro, e a sociedade acabar com toda a regulação e controle do Estado para que os investidores privados possam atender às necessidades das pessoas por meio da iniciativa privada. Por fim, não vemos resistência porque para isso precisamos de uma classe trabalhadora forte, e a classe trabalhadora se torna forte com a garantia e a proteção de direitos - sobretudo a garantia de emprego, e com o crescimento da economia; com a política, ou seja, a disputa do Estado através da organização de partidos políticos capazes de apresentar um projeto e obter apoio de massa; e com a mobilização dos movimentos sociais. Não há outro caminho para lidar com estas questões, mas a economia e as condições de emprego estão degradadas, e a classe trabalhadora, frágil; e a política, e, sobretudo, os partidos de origem popular, foi deliberadamente deslegitimada pela classe dominante exatamente para impedir a resistência aos seus interesses... Mais especificamente, acho que o objetivo é que o atual governo aprove essas medidas duras e estruturais (o teto dos gastos, a reforma da previdência, a flexibilização das leis trabalhistas, e, também, a privatização das empresas públicas) já que ele não tem condições de disputar eleições e, portanto, não tem problema em sofrer com o desgaste político, e depois o PSDB deve entrar para controlar essa sociedade. Em geral, apenas os setores das classes populares são prejudicados. O único setor da classe dominante que também está sendo prejudicado é o da indústria, e não sei porquê eles aderem a esse projeto. Mas, de qualquer forma, esse é um projeto do setor financeiro internacional, que a mídia, a política, os poderes constitucionais, e a sociedade em geral, entram de roldão... Enfim, houve um setor da classe dominante, o setor financeiro internacional, que ascendeu ao domínio, e que esta situação, embora ruim para a sociedade como um todo, e mesmo para a manutenção do capitalismo e da democracia, é bom para esse setor, e, enquanto for bom para esse setor, este continuará impondo os seus interesses sobre o restante da sociedade.


 Mauro Costa Assis




O FIM DO NEOLIBERALISMO PROGRESSISTA

Publicado por Gilberto Maringoni e o Opera Mundi: uma análise de Nancy Fraser sobre o significado da vitória de Donald Trump

Já publiquei aqui este ótimo artigo de Nancy Fraser, em inglês. Agora o Opera Mundi lança sua tradução.
Trata-se de texto fundamental para se perceber o crescimento de um movimento anti-globalização pela direita que pode também auxiliar a identificação de suas decorrências aqui no Brasil. (Indicação de Breno Altman).

"Ao longo dos anos, à medida que o setor industrial ruía, o país ouviu falar muito de “diversidade”, “empoderamento” e “não discriminação”. Ao identificar “progresso” com meritocracia, em vez de igualdade, o discurso igualou o termo “emancipação” à ascensão de uma pequena elite de mulheres “talentosas”, minorias e gays na hierarquia corporativista exclusivista.
Esta compreensão individualista e liberal de “progresso” gradualmente substituiu o entendimento de emancipação mais abrangente, anti-hierárquico, igualitário, sensível às questões de classe e anticapitalista, que prosperou nos anos 1960 e 70.

À medida que a Nova Esquerda sucumbia, sua crítica estrutural da sociedade capitalista desapareceu, e o pensamento individualista e liberal característico de nosso país se reafirmou, abalando imperceptivelmente as aspirações dos “progressistas” e autodeclarados esquerdistas. O que selou o acordo, no entanto, foi o fato de tais acontecimentos terem sido simultâneos à ascensão do neoliberalismo. Um partido que apoie a liberalização da economia capitalista é o parceiro perfeito para o feminismo corporativo e meritocrático focado em “assumir riscos” e “superar as barreiras da discriminação de gênero no trabalho”"

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

CASI ALBA



Casi alba,
como decir arroyo entre la fuente,
como decir estrella,
como decir paloma en cielo de alas.
Esta noche se ha ido
casi aurora, casi ronda de luna entre montañas,
como una sensación de golondrina
al picar su ilusión en una rama.
Amanecer, sin alas para huirse,
regreso de emoción hasta su alma,
palomitas de amor entre mis manos
que al asalto de amor subieron castas.
Noche rasgada al tiempo repetido,
detenida ciudad de esencias altas,
como una claridad rompes mi espíritu,
circundas mi emoción como una jaula.
Amor callado y lejos...
tímida vocecita de una dalia,
así te quiero, íntimo,
sin saberte las puertas al mañana,
casi sonrisa abierta entre las risas,
entre juego de luces, casi alba...


 Julia de Burgos. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Se o sono é o ponto mais alto da distensão física, o tédio é o ponto mais alto da distensão psíquica. O tédio é o pássaro de sonho que choca os ovos da experiência

O Narrador - Walter Benjamin

Cinta verde en el cabello


Había una vez una aldea en algún lugar, ni mayor ni menor, con viejos y viejas que viejaban, hombres y mujeres que esperaban, y chicos y chicas que nacían y crecían.

Todos con juicio suficiente, menos -por el momento- una nenita.

Un día, ella salió de la aldea con una cinta verde imaginada en el cabello.

Su madre la mandaba con una cesta y un frasco, a ver a la abuela -que la amaba- a otra aldea vecina casi igualita.

Cinta Verde partió, enseguida, ella la linda, todo érase una vez. El frasco contenía un dulce en almíbar y la cesta estaba vacía, para llenarla con frambuesas.

De ahí que, al atravesar el bosque, vio solo los leñadores, que por allá leñaban; pero ningún lobo, desconocido ni peludo. Pues los leñadores habían exterminado al lobo.

Entonces, ella misma se decía:

-Voy a ver a abuelita, con cesta y frasco, y cinta verde en el cabello, como mandó mamita.

La aldea y la casa esperándola allá, después de aquel molino, que la gente piensa que ve, y de las horas, que la gente no ve que no son.

Y ella misma resolvió escoger tomar ese camino de acá, loco y largo, y no el otro, corto. Salió, detrás de sus alas ligeras, su sombra también le venía corriendo detrás.

Se divertía con ver que las avellanas del piso no volaran, con no alcanzar esas mariposas nunca, ni en buquet ni en pimpollo, y con ignorar si las flores -plebeyitas y princesitas a la vez- estaban cada una en su lugar al pasar a su lado.

Venía soberanamente.

Tardó, para dar con la abuela en casa, que así le respondió, cuando ella, toc, toc, golpeó:

-¿Quién es?

-Soy yo… -y Cinta Verde descansó la voz-. Soy su linda nietita, con cesta y frasco, con la cinta verde en el cabello, que la mamita me mandó.

Ahí, con dificultad, la abuela dijo:

-Empuja el cerrojo de madera de la puerta, entra y abre. Dios te bendiga.

Cinta Verde así lo hizo y entró y miró.

La abuela estaba en la cama, triste y sola. Por su modo de hablar tartamudo y débil y ronco, debía haber agarrado una mala enfermedad. Diciendo:

-Deja el frasco y la cesta en el arcón y ven cerca de mí, mientras hay tiempo.

Pero ahora Cinta Verde se espantaba, más allá de entristecerse al ver que había perdido en el camino su gran cinta verde atada en el cabello; y estaba sudada, con mucha hambre de almuerzo. Ella preguntó:

-Abuelita, ¡qué brazos tan flacos los suyos, y qué manos temblorosas!

-Es porque no voy a poder nunca más abrazarte, mi nieta…. -la abuela murmuró.

-Abuelita, pero qué labios tan violáceos.

-Es porque nunca más voy a poderte besar, mi nieta…. -la abuela suspiró.

-Abuelita, y qué ojos tan profundos y quietos en este rostro ahuecado y pálido.

-Es porque ya no te estoy viendo, nunca más, mi nietita… -la abuela aún gimió.

Cinta Verde más se asustó, como si fuese a tener juicio por primera vez. Gritó:

-¡Abuelita, tengo miedo del Lobo!

Pero la abuela no estaba más allá, estaba demasiado ausente, a no ser por su frío, triste y tan repentino cuerpo.

FIN

“Fita verde no cabelo”


 JOÃO GUIMARÃES ROSA


Biblioteca Digital Ciudad Seva

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Pós-modernidade sólida. Para mim, a grande revelação do Facebook não foi descobrir que indivíduos que eu antes considerava tucanos assumidos são na realidade petistas roxos, ou que eu julgava céticos-liberais são na verdade reacionários consumados sempre dispostos a ostentar sua reacionarice, mas perceber como as pessoas enquadram os acontecimentos mais díspares em seus esquemas mentais pré-definidos, e os manifestam veementemente sem o menor constrangimento. De uma rebelião de presos em Manaus, até um atentado terrorista na Síria, passando, é claro, pelas machadadas no missionário Valdomiro e pela PEC 55, todos os acontecimentos adquirem prontamente, antes mesmo que todos os seus desdobramentos empíricos estejam completamente claros e que os atores envolvidos sejam ouvidos, uma lógica cristalina. E sem que muitas vezes se apresentem as evidências mais elementares para a justificação de seus pontos de vista. É como se esses formadores de opinião tivessem uma lente especial para explicar a realidade, advinda seja leitura das obras de Gramsci-Althusser, seja de uma crença na sabedoria infalível do deus ex-machina Mercado ou do Juiz Moro e dos procuradores da República de Curitiba que os eximisse do dever de persuadir quem não compartilha estritamente de suas premissas estreitas. A
Ao contrário de muitos, acho ótimo que todos expressem suas opiniões, mas às vezes eu fico pasmo porque, quando me vejo diante de um evento desconhecido, minha primeira preocupação é estuda-lo e conhecer todas as interpretações dos fatos, antes de me posicionar sobre eles. Gostaria de ter a convicção em suas próprias opiniões que esses fundamentalistas do Facebook possuem... Talvez aí esteja a verdadeira fonte da tal religiosidade celebrada por Cazuza e outros eruditos do Posto 6.

Sérgio Braga 
"A morte de Mário Soares pode ser um bom gancho para refletirmos sobre o fim da social-democracia no sentido em que o termo ganhou especialmente a partir da I Guerra Mundial.
Primeiro, é importante dizer que a social-democracia jamais foi possível nos países periféricos, justamente porque ela se alimentava do fluxo de capitais do sul para o norte.
Segundo, que a social-democracia só foi possível pela soma de dois fatores, ambos extintos.
De um lado, a Guerra Fria que obrigou o capital a fazer determinadas concessões.
De outro lado, o fordismo que permitia, em momentos de expansão na economia, fazer acordos do tipo ganha-ganha entre capital e trabalho.
Com a extinção das condições históricas que lhe permitiram o surgimento, a social-democracia entrou para o rol dos museus, quer gostamos dela ou não. A degeneração dos partidos social-democratas é apenas a consequência inevitável desse processo."
por

Gustavo Gindre

sábado, 7 de janeiro de 2017

"A arte só serve para alguma coisa se é irreverente, atormentada, cheia de pesadelos e desespero. Só uma arte irritada, indecente, violenta, grosseira, pode nos mostrar a outra face do mundo, a que nunca vemos ou nunca queremos ver, para evitar incômodos à nossa consciência."

Pedro Juan Gutiérrez
"Qual será o novo mobilizador das paixões sociais? Impossível sabê-lo. Todos os futuros são possíveis a partir do “nada” herdado. O comum, o comunitário, o comunista é uma dessas possibilidades que está aninhada na ação concreta dos seres humanos e na sua imprescindível relação metabólica com a natureza. Em qualquer caso, não existe sociedade humana capaz de se desprender da esperança. Não existe ser humano que possa prescindir de um horizonte e hoje estamos compelidos a construir um. Isso é o comum dos humanos, e esse comum é o que pode nos levar a desenhar um novo destino diferente a este emergente capitalismo errático que acaba de perder a fé em si mesmo."

García Linera é o vice-presidente do Estado Plurinacional da Bolívia.
A privatização é realmente ideal...para se terceirizar a responsabilidade: a empresa joga a culpa das cagadas no poder público e o governo joga nas costas da empresa privada que administra o serviço público. De resto, é sempre mais caro e serve apenas para engordar o bolso dos chegados.
ACBM
Realmente, muitas pessoas estão aplaudindo de pé as chacinas nos presídios, como disse o Francischini. São pessoas, como o próprio deputado, que se acham "pessoas de bem", mas estão comemorando (como bem pontuou o Galindo) a vitória do crime organizado, que mata dentro e fora dos presídios. Estão comemorando a falência do sistema prisional, que deveria ressocializar pessoas e serve apenas para inserir uma maioria condenada por crimes leves (ou sequer julgadas) no mundo da mais severa barbárie. Me parece que estão exatamente do mesmo lado daqueles que julgam combater.
Podem defender o ostracismo de todos os presos para uma ilha distante, a prisão perpétua ou a pena de morte, pensando que isso vai distancia-los da barbárie, mas o que estão produzindo é somente o fortalecimento dela. Afinal, os ícones da turma que pensa assim, como o Francischini ou o Bolsonaro, são os reacionários que estão de plantão em Brasília para defender os privilégios dos mais ricos e os cortes nos gastos sociais, fazendo somente aumentar as desigualdades sociais existentes hoje.
Daí o que sobra para os bolsões de miséria crescentes é a repressão, o encarceramento e a eliminação. "Pessoas de bem"? Não. Só se for "bem perversas".

ACBM

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Presídios privatizados, os mais caros, ruins e lucrativos para a ganância privada de poucos e sofrimento de muitos. Daí especialistas afirmaram que presídios estão sob administração, controle e direção dos próprios criminosos, o que não é diferente do resto do Estado, porque o executivo, legislativo e judiciário também estão ocupados pelos mais corruptos golpistas. Somente escolas diminuem a população carcerária do futuro. Para quem não quer entender basta a metáfora dos mosquitos, o mais importante é acabar com a reprodução das águas sujas e paradas. Sem escolas de qualidade e sem professores de qualidade, bem formados, investidos e estruturados, a bandidagem só aumenta. Quem maltrata, bate nos professores e nas suas justas reivindicações são os criadores, multiplicadores de bandidos, que depois tanto mal farão a toda sociedade.

RCO

Чёрный ворон_-_Чапаев.mp4

Валерий Золотухин в фильме "Хозяин тайги"

Казачий Круг — Ой, да не вечер (05.04.2010)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Krushshov







POEMA SEM TÍTULO


Digo ao chumbo:
por que você permitiu
ser moldado em bala?
Esqueceu os alquimistas?
Desistiu da esperança
de tonar-se ouro?
Ninguém responde.
Chumbo. Bala. Com nomes
como esses
o sono é longo e profundo.
.

[Charles Simic / Trad. Carlos Machado]




IX


Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

~ “O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa


domingo, 1 de janeiro de 2017

Alexandrov Ensemble (Red Army Choir) - Whole Concert

Alexandrov Ensemble (Red Army Choir) - Whole Concert

Alexandrov Ensemble (Red Army Choir) - Whole Concert

ODE À ALEGRIA


(Friedrich Schiller)

Ó, amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!
Alegria, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.
Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!
Alegremente, como seus sóis voem
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.
Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões, vocês estão ajoelhados diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do Céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora!


- Friedrich Von Schiller, Ode à Alegria (An die Freude), 1786 - tradução do original, tal como se canta na Nona Sinfonia de Ludwig Van Beethoven, 1824.

Meu Amor da Rua Onze




Tantas juras nós trocámos,
Tantas promessas fizemos,
Tantos beijos nos roubámos
Tantos abraços nós demos.
Meu amor da Rua Onze,

Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
Mais mentir.
Meu amor da Rua Onze,
Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
Mais fingir.

Era tão grande e tão belo
Nosso romance de amor
Que ainda sinto o calor
Das juras que nós trocámos.

Era tão bela, tão doce
Nossa maneira de amar
Que ainda pairam no ar
As vezes promessas, que fizemos.

Nossa maneira de amar
Era tão doida, tão louca
Qu´inda me queimam a boca
Os beijos que nos roubámos.

Tanta loucura e doidice
Tinha o nosso amor desfeito
Que ainda sinto no peito
Os abraços que nós demos.

E agora
Tudo acabou
Terminou
Nosso romance
Quando te vejo passar
Com o teu andar
Senhoril,
Sinto nascer
E crescer
Uma saudade infinita
Do teu corpo gentil
de escultura
Cor de bronze

Meu amor da Rua Onze.


Aires Almeida Santos nasceu em Bié,  Angola, em 1921, falecendo em 1992 na cidade de Benguela. Recebeu instrução primária em Benguela e secundária em Nova Lisboa e Sá de Bandeira. Esteve preso por atividades ligadas ao MPLA. Fixou-se em Luanda em 1961, trabalhando como contador de algumas empresas. Em 1970 ingressou no jornalismo. Foi co-fundador da União dos Escritores Angolanos - UEA.  Sua obra poética é constituída de dois únicos livros:  Meu Amor da Rua Onze (Lisboa: Edições 70, 1987) e  A Casa (Lubango: edição do autor, 1987). Seu poema mais conhecido, publicado pela primeira vez em Mákua - Antologia Poética, vol 3 (Sá da Bandeira: Publicações Imbondeiro, 1963), é justamente o que dá título ao seu primeiro livro. Meu Amor da Rua Onze não é, como muito da produção poética do período, nenhuma peça de vanguarda; tampouco pertence ao rol dos textos angolanos que buscavam, de alguma forma, denunciar o colonialismo ou tratar das injustiças do regime. É um poema de amor, simples e nostálgico, mas que tem como principal característica a musicalidade. Pois foi justamente este o elemento que motivou este post. Em uma busca aleatória por poemas musicados na web, deparei-me com esta versão em ritmo de semba feita pelos angolanos da Banda Maravilha. O vídeo contém legendas com a letra em Português e Inglês.

Eu ia postar uma foto de praia, emanar um axé bacana, e ponto. Mas lembrei de súbito, nesses últimos momentos de 2016, o quanto tudo foi difícil pra nós todos. Alegrias imensas também, claro, no âmbito artístico ( o que pra mim significa a região pessoal, a intima e a profissional unidas como siamesas condenadas ), mas a lembrança firme de um susto coletivo, um incômodo de jogo em xeque-mate, de uma traição profunda, uma Ré, com maiúsculo mesmo, me paralisou. Então fico querendo, para o ano, se deixarem, passar a limpo o que desejo pra nós, porque eu tenho a clareza de que só se é feliz se muitos estiverem felizes. E assim, como foi, não dá. Eu sei ser sozinho, mas não sei ser feliz sozinho.
PS - Gente é pra brilhar! Lembra ?



 Matheus Nachtergaele: