Pós-modernidade sólida. Para mim, a grande revelação do
Facebook não foi descobrir que indivíduos que eu antes considerava tucanos
assumidos são na realidade petistas roxos, ou que eu julgava céticos-liberais
são na verdade reacionários consumados sempre dispostos a ostentar sua
reacionarice, mas perceber como as pessoas enquadram os acontecimentos mais
díspares em seus esquemas mentais pré-definidos, e os manifestam veementemente
sem o menor constrangimento. De uma rebelião de presos em Manaus, até um
atentado terrorista na Síria, passando, é claro, pelas machadadas no
missionário Valdomiro e pela PEC 55, todos os acontecimentos adquirem
prontamente, antes mesmo que todos os seus desdobramentos empíricos estejam
completamente claros e que os atores envolvidos sejam ouvidos, uma lógica
cristalina. E sem que muitas vezes se apresentem as evidências mais elementares
para a justificação de seus pontos de vista. É como se esses formadores de
opinião tivessem uma lente especial para explicar a realidade, advinda seja
leitura das obras de Gramsci-Althusser, seja de uma crença na sabedoria
infalível do deus ex-machina Mercado ou do Juiz Moro e dos procuradores da
República de Curitiba que os eximisse do dever de persuadir quem não
compartilha estritamente de suas premissas estreitas. A
Ao contrário de muitos, acho ótimo que todos expressem suas
opiniões, mas às vezes eu fico pasmo porque, quando me vejo diante de um evento
desconhecido, minha primeira preocupação é estuda-lo e conhecer todas as
interpretações dos fatos, antes de me posicionar sobre eles. Gostaria de ter a
convicção em suas próprias opiniões que esses fundamentalistas do Facebook
possuem... Talvez aí esteja a verdadeira fonte da tal religiosidade celebrada
por Cazuza e outros eruditos do Posto 6.
Sérgio Braga
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