terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Pós-modernidade sólida. Para mim, a grande revelação do Facebook não foi descobrir que indivíduos que eu antes considerava tucanos assumidos são na realidade petistas roxos, ou que eu julgava céticos-liberais são na verdade reacionários consumados sempre dispostos a ostentar sua reacionarice, mas perceber como as pessoas enquadram os acontecimentos mais díspares em seus esquemas mentais pré-definidos, e os manifestam veementemente sem o menor constrangimento. De uma rebelião de presos em Manaus, até um atentado terrorista na Síria, passando, é claro, pelas machadadas no missionário Valdomiro e pela PEC 55, todos os acontecimentos adquirem prontamente, antes mesmo que todos os seus desdobramentos empíricos estejam completamente claros e que os atores envolvidos sejam ouvidos, uma lógica cristalina. E sem que muitas vezes se apresentem as evidências mais elementares para a justificação de seus pontos de vista. É como se esses formadores de opinião tivessem uma lente especial para explicar a realidade, advinda seja leitura das obras de Gramsci-Althusser, seja de uma crença na sabedoria infalível do deus ex-machina Mercado ou do Juiz Moro e dos procuradores da República de Curitiba que os eximisse do dever de persuadir quem não compartilha estritamente de suas premissas estreitas. A
Ao contrário de muitos, acho ótimo que todos expressem suas opiniões, mas às vezes eu fico pasmo porque, quando me vejo diante de um evento desconhecido, minha primeira preocupação é estuda-lo e conhecer todas as interpretações dos fatos, antes de me posicionar sobre eles. Gostaria de ter a convicção em suas próprias opiniões que esses fundamentalistas do Facebook possuem... Talvez aí esteja a verdadeira fonte da tal religiosidade celebrada por Cazuza e outros eruditos do Posto 6.

Sérgio Braga 

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