quinta-feira, 3 de janeiro de 2019


Já tenho uma boa análise do Ministério do Bolso, completamente dominado por vínculos hereditários e familiares. Agora quero falar do secretariado do Ratinho no Paraná. Lamento o desprestígio e o desinteresse na educação superior, ciência e tecnologia, cuja secretaria, a SETI, foi extinta. Brincavam que a SETI buscava vida inteligente no Paraná, agora nem isso. A visão rasteira de educação como mercadoria pode ser constatada pelo perfil de secretariado neoliberal. O secretariado do Ratinho, em boa parte, segue o padrão social, político e espacial do próprio, uma nova e astuta elite política e empresarial do interior do Paraná (os Vips, que alguns não gostam do termo), porém, contudo, todavia, a presença de famílias políticas do Paraná dos Campos Gerais, com Sandro Alex, irmão do prefeito de Ponta Grossa, na poderosa Infraestrutura e Logística, junto com nomes tradicionais de Curitiba, Ney Leprevost, Secretaria de Justiça, Família e Trabalho e Daniel Pimentel Slaviero, neto do ex-governador Paulo Pimentel e irmão do vice-prefeito de Curitiba, homem da mídia e de família empresarial acoplada ao Estado há várias gerações, bem instalado como presidente da Copel. O dinossauro-camaleão da ARENA, Reinhold Stephanes, que esteve em todos os governos dos últimos quarenta anos, do PDS, Lerner, PMDB de Requião, PT, Beto Richa, agora na Secretaria de Gestão Pública, isso em um governo de caras novas ! Militares na Segurança e DER, o que não impedem crises políticas, como bem vimos nos escândalos dos anos 1970. No mais um secretariado limitado, sem programas de inclusão social, sem políticas sociais arrojadas, sem interesse na esfera educacional, desprezando as universidades, a ciência e tecnologia, que seriam fundamentais para o progresso do Paraná. Governo sem a valorização da cultura, Luciana Pereira, filha do ex-governador Mario Pereira, não terá o status de secretária, em uma área sempre desvalorizada e desmotivada. Um secretariado e um programa de governo adaptado ao tamanho das ideias políticas e mentalidade do Ratinho.
RCO


Michelle Bolso passou o recibo de que está sentindo mal as críticas. A notícia de hoje é que a ex-secretária Michelle Bolso vai estar no centro das crises políticas e dragará a família Bolso inteira para um rápido aumento na rejeição política. Uma pessoa com origens simples, periféricas e populares, que poderiam ser vantagens no jogo do poder, mas sem letramento, sem cultura, sem o mínimo tato político e que se aproximou de Bolso com uma grande diferença de idade, diferença social e de status. Rosane Collor foi outra protagonista na queda de Collor e com a mesma empáfia, mas Rosane e Thereza Collor eram sinhazinhas oligárquicas, enquanto Michelle, se fosse inteligente, deveria ter algo da discrição pública e simpatia de Marisa Letícia Lula no auge do poder. Paul Valery definiu elegância como a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se distinguir, mas Michelle se somará ao desastre político em curso. O que ela deveria responder junto com Bolso é a resposta sobre o dinheiro de Queiroz e companhias, as graves denúncias de crime e peculato legislativo da famiglia.


RCO


Na composição do núcleo militar do Ministério Bolso, todos os generais pertencem a famílias militares, com tradições conservadoras, muitas vezes com pais que atuaram no Golpe de 64 e no serviço da ditadura, com antigos vínculos no pensamento político autoritário de ideologias dos tempos da “Guerra Fria” e da “Doutrina de Segurança Nacional”. Os generais Hamilton Mourão, Augusto Heleno, Fernando Azevedo são todos filhos de oficiais do Exército, o General Santos Cruz e o atual Comandante do Exército, o General Pujol, são filhos de oficiais da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Os militares, ao lado das famílias políticas do executivo, legislativo e judiciário, só podem ser entendidos quando vistos no conjunto de suas famílias. Há forte hereditariedade militar na composição e recrutamento da elite militar brasileira. Os oficiais generais quase sempre possuem vínculos genealógicos com a classe dominante tradicional ou entram pela tradição militar conservadora. A família do General Etchegoyen era um caso de hereditariedade militar. O General Eduardo Villas Boas, um dos responsáveis pelo fracasso da democracia brasileira, é mais um caso. Filho do Coronel do Exército Antonio Villas Boas e de Inalda Dias da Costa. Neto materno de Antonio Joaquim Dias da Costa e de Edith Neves, grandes fazendeiros em Cruz Alta, Rio Grande do Sul e descendentes das principais famílias latifundiárias, escravistas e políticas da Fronteira Sul, Simões Pires, Carneiro da Fontoura e outras. Parece que voltamos à República Velha e suas oligarquias políticas familiares entreguistas, antimodernidade e antidemocracia. O Ministério do Bolso poderia estar em 1929, antes do Movimento de 1930.


Ricardo Costa de Oliveira