sábado, 10 de novembro de 2012

'Voy a dormir'




(Últimos versos escritos antes de suicidarse)

Dientes de flores, cofia de rocío,
manos de hierbas, tú, nodriza fina,
tenme prestas las sábanas terrosas
y el edredón de musgos escardados.

Voy a dormir, nodriza mía, acuéstame.
Ponme una lámpara a la cabecera,
una constelación, la que te guste,
todas son buenas, bájala un poquito.

Déjame sola: oyes romper los brotes.
Te acuna un pie celeste desde arriba
y un pájaro te traza unos compases

para que olvides. Gracias... Ah, un encargo:
si él llama nuevamente por teléfono
le dices que no insista, que he salido....

 -Alfonsina Storni .poeta argentina

PARA OS MORTOS NA MINA DE CARVÃO TAPING




Os cadáveres foram carregados
um a um,
e o último a ser levado era apenas mais um.
Duros, escuros, como se fossem
carvão inútil.

Ei, vocês, que nem expeliram o frio
quando da explosão
foram atirados no crematório.
A fumaça preta os levou ao paraíso,
as almas queimadas do inferno.

Todavia, no mundo terrestre
o vento continua soprando frio e a energia
é cada vez mais objeto de cobiça.
O crematório? Insumo energético da China.
Yao Feng
Tradução : Régis Bonvicino

NOITE BRANCA



Tudo estava escuro no meu coração,
nada se via, nada se ouvia,
como se uma venda preta
me vendasse os olhos.
Quis a luz, luz para sempre.
Contei o que sentia a uma poetisa da Europa.
e ela me disse: no meu país, quase sempre frio,
muitas pessoas
ou ficam loucas, ou se suicidam,
devido à luz demasiado prolongada.

Yao Feng

Tradução:  Régis Bonvicino

AMSTERDÃ




Quando cheguei de carro a Amsterdã
já era meia-noite.
A reputada cidade do sexo
tornava ambíguas as luzes da rua.
Até o rosto do dono do hotel
insinuava prazer.

Mas nada me aconteceu.

O amanhecer refletia-se no rio
e o céu, muito nublado. No Museu Van Gogh,
os girassóis quebravam os raios de sol
para ficar irmanados num vaso.
Na noite distorcida, a terra de trigo,
grávida de luar,
ondulava enlouquecida.

Do auto-retrato do pintor sombrio
retirei uma orelha, de verdade,
e voltei para a rua: todos estavam com
seus órgãos intactos e saudáveis.

Yao Feng
Tradução: Régis Bonvicino

FIM




Talvez no inverno
me tenhas oferecido uma pedra,
acesa, tão acesa que a guardava
ora na mão esquerda, ora na outra.

Viraram-se os dias como páginas,
e a pedra, pouco a pouco, congelando.
O que as minhas mãos juntaram
acabou por ser apenas sombra.

Yao Feng
Tradução: Régis Bonvicino

CHUVA AO FIM DA TARDE



As gotas da chuva batem no telhado, porta e janela,
com tanta pressa, como crianças nuas
rogando abrigo.

Como não sou rio, nem sou terra,
nem o meu corpo cheio de buracos
é um pedaço de esponja,
em suma, não passo de um animal
que apodrece depressa
caso vivesse na água.


caso vivesse na água.

Com o vento agora intenso,
os dedos da chuva tornam-se mais grossos,
avessos ao tempo estiado,
insistindo em agarrar-se
às goteiras do telhado.

Yao Feng

Tradução: Régis Bonvicino