segunda-feira, 4 de março de 2013

Memoria del Fuego


Don Eduardo Galeano 

Y en eso estaba, espantando sonidos y tristezas y mosquitos, con los ojos clavados en la alta noche, cuando un niño de Bluefields, que yo no conocía, se echó a mi lado y se puso a mirar al cielo, como yo, en silencio. Entonces cayó una estrella fugaz. Yo podía haber pedido un deseo; pero ni se me ocurrió. Y el niño me explicó:
-¿Sabes por qué se caen las estrellas? Es culpa de Dios. Es Dios, que las pega mal. Él pega las estrellas con agua de arroz.

Pobre espantalho!
Os pássaros roubam favas
sob os seus pés de pau.

Yayu (1701-1783)
Tradução: Casimiro de  Brito
Fonte : Cláudio Daniel

O ladrão da casa
esqueceu-se duma coisa:
a lua na janela

Ryokan (1757-1831)
Tradução : Casimiro de  Brito
Fonte : Cláudio Daniel

Quincas Borba,capítulo XLV.


"E enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo, cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida."

- Machado de Assis, in "Quincas Borba" (1891), capítulo XLV.

"Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras."

Maiakovski

Difícil Passagem


Difícil, estreita passagem,
força quente perscrutada,
corpo de névoa, de imagem,
com sulcos de tatuagem,
voz absoluta escutada...

Destino de aranha, tece
com fios vários da vida
alegria se amanhece
ou chora se a luz fenece
pela noite perseguida.

Intimidade exterior,
pureza de impuras formas,
conhecimento e amor,
água límpida, estertor,
sem regras feita de normas.

António Salvado, in "Difícil Passagem"
Mulher sem filhos –
como ela é terna
com as bonecas!

(Ransetsu, 1654-1707)


Tradução: Casimiro de Brito

Fonte      : Cláudio Daniel
O vento, no outono, 
toma a forma do capim, 
tão espesso!

(Kigin, 1624-1704)
Tradução : Casimiro Brito

Fonte :      Cláudio Daniel
Mulheres no arrozal – 
tudo nelas é sujo
menos o seu canto

(Raizan, 1654-1716)


Tradução : Casimiro Brito
Fonte      : Cláudio Daniel
A cobrir os milênios
da minha ausência
o véu duma cascata

(Natsuishi Banya, 1955)


Tradução : Casimiro Brito
Fonte      : Cláudio Daniel
Visita ao cemitério.
O velho cão de família
ensina o caminho

Issa (1763-1827)

Tradução : Casimiro de Brito

Fonte :       Cláudio Daniel

Epílogo



Não, o melhor é não falares, não explicares coisa alguma. Tudo agora está suspenso. Nada aguenta mais nada. E sabe Deus o que é que desencadeia as catástrofes, o que é que derruba um castelo de cartas! Não se sabe... Umas vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca... Outras vezes senta uma mosca e desaba uma cidade.

- Mario Quintana, in: Sapato Florido, 1948.

Escurana

Él piensa que soy santa. 
Está loco. 
Las santas son morenas y menudas, 
o blancas como el yeso, 
y no gritan, 
como yo bajo su cuerpo.
Él piensa que soy santa. 
Lo sé: me unta de saliva, 
me cubre de gasas, 
me prende velas. 
Dice: Hazme un milagro. 
Entonces, reúno los doce miembros 
de su cuerpo infiel, 
y los coso, punto de cruz, 
sobre la blanca superficie. 
Parece un alfabeto, dice, 
y los puntos le duelen. 
El hilo seco 
imprime su carne. 
Ya estoy listo, anuncia. 
Ya puedo leerme. 
Sé lo que viene. 
Me cubro el rostro 
mientras se va. 
Adiós, Escurana. 
Ése es mi nombre 
cuando él sale por mi puerta.

( de Escurana, 2004)



Escurana

He thinks I am a saint.
He's crazy.
Saints are brown and tiny,
or white as chalk,
and do not scream,
like me under his body.
He thinks I am holy.
I know: he smears me with saliva,
covers me with gauze,
and lights candles.
He says: Make me a miracle.
Then, gathering the twelve members
of his unfaithful body,
I sew, cross stitch,
on the white surface.
It looks like an alphabet, he says,
and the stitches hurt.
The dry thread
prints his flesh.
I'm ready, he announces.
You can read me.
I know what's coming.
I cover my face
as he leaves.
Goodbye, Escurana.
That is my name
when he walks out my door.



Beverly Pérez Rego (Halifax, Canadá, 1957) Vive en Venezuela
en Poesía reunida, Monte Ávila Editores Latinoamericana, Caracas, 2006 / Traducción de la autora
http://emmagunst.blogspot.com.ar/2013/03/beverly-perez-rego-2-poemas-2-ii.html

Pedagogía del Oprimido


"Lo importante, desde el punto de vista de la educación liberadora y no “bancaria”, es que, en cualquiera de los casos, (las mujeres), los hombres se sientan sujetos de su pensar, discutiendo su pensar, su propia visión del mundo, manifestada, implícita o explícitamente, en sus sugerencias y en las de sus compañeros.
Porque esta visión de la educación parte de la convicción de que no puede ni siquiera presentar su programa, sino que debe buscarlo dialógicamente con el pueblo, y se inscribe, necesariamente, como una introducción a la Pedagogía del Oprimido, de cuya elaboración él debe participar." 

Freire, Paulo . inPedagogía del Oprimido pág. 109

Gramática descritiva do português


‎"Relembremos primeiro que as habilidades de raciocínio, de
observação, de formulação e testagem de hipóteses – em uma palavra, de independência de pensamento – são um pré-requisito à formação de indivíduos capazes de aprender por si mesmos, criticar o que aprendem e criar conhecimento novo [...] e é nesse
setor que nosso sistema educacional se tem mostrado particularmente falho: se há algo que nossos alunos em geral não desenvolvem durante sua vida escolar é exatamente a independência de pensamento. O estudante brasileiro (e, muitas vezes, também o professor) é tipicamente dependente, submisso à autoridade acadêmica, convencido de que a verdade se encontra, pronta e acabada, nos livros e na cabeça das sumidades. Daí, em parte, a perniciosa ideia de que educação é antes de tudo transmissão de conhecimento – quando deverá ser em primeiro lugar procura de conhecimento e desenvolvimento de habilidades."
(Mário Perini, Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 1996. - p. 31)

Livro do Desassossego


"Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais."

(Fernando Pessoa - do livro: Livro do Desassossego)

 “A fala poética deixa de ser fala de uma pessoa: nela, ninguém fala e o que fala não é ninguém, mas parece que somente a fala ‘se fala’ (...) “Isso significa, em primeiro lugar, que as palavras, tendo a iniciativa, não devem servir para designar alguma coisa nem para dar voz a ninguém, mas têm em si mesmas seus fins."(...)
"Sob essa perspectiva, reencontramos a poesia como um potente universo de palavras cujas relações, a composição, os poderes afirmam-se, pelo som, pela figura, pela mobilidade rítmica, num espaço unificado e soberanamente autônomo. Assim, o poeta faz obra de pura linguagem e a linguagem nessa obra é retorno à sua essência. Ele cria um objeto de linguagem, tal como o pintor não reproduz com as cores o que é mas busca o ponto onde as suas cores dão o ser".
(...) "o poema entendido como um objeto independente, auto-suficiente, um objeto de linguagem criado por si só, mônada de palavras onde só se refletiria a natureza das palavras e nada mais, talvez seja então uma realidade, um ser particular, de uma dignidade, de uma importância excepcional, mas um ser e, por isso mesmo, de forma nenhuma mais próximo do ser, do que escapa a toda a determinação e a toda forma de existência.”

M. BLANCHOT

O Aprendiz de Feiticeiro


"Vou andando feliz pelas ruas sem nome...
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
Nem sei se é muito longe o Mar Oceano...
Mas há vasos cobertos de conchinhas
Sobre as mesas... e moças nas janelas
Com brincos e pulseiras de coral...
Búzios calçando portas... caravelas
Sonhando imóveis sobre velhos pianos...
Nisto,
Na vitrina do bric o teu sorriso, Antínous,
E eu me lembrei do pobre imperador Adriano,
De su'alma perdida e vaga na neblina...
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
Se eu morresse amanhã, só deixaria, só,
Uma caixa de música
Uma bússola
Um mapa figurado
Uns poemas cheios de beleza única
De estarem inconclusos...
Mas como sopra o vento nestas ruas de outono!
E eu nem sei, eu nem sei como te chamas...
Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano,
Quando eu também já não tiver mais nome."

- Mario Quintana, In: O Aprendiz de Feiticeiro - Obsessão do Mar Oceano

A Arte de Viver, pela Fantasia



A fantasia é a mãe da satisfação, do humor, da arte de viver. Apenas floresce alicerçada num íntimo entendimento entre o ser humano e aquilo que objetivamente o rodeia. Esse ambiente envolvente não tem de ser belo, singular ou sequer encantador. Basta que tenhamos tempo para a ele nos habituarmos, e é sobretudo isso que hoje em dia nos falta.

- Hermann Hesse, in 'Ainda da Felicidade'