terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Duas amostras de microcontos (até 50 letras):


1. De Lygia Fagundes Telles:

"-- Fui me confessar ao mar.
-- E o que ele disse?
-- Nada."

2. De Dalton Trevisan:

"-- Lá no caixão...
-- Sim, paizinho.

-- ... não deixe essa aí me beijar".

VELHAS ÁRVORES

 Olavo Bilac

Olha estas velhas árvores, mais belas,
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fome e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!




Na Roma antiga celebrava-se o nascimento de Mithra em 25 de dezembro. Na Europa medieval celebrava-se Jesus. Mas não estamos no mundo antigo, tampouco no medieval. Estamos na modernidade capitalista na qual existe apenas um deus: o deus-mercado. E o deus-mercado baseia-se em duas leis: a exploração do trabalho e o fetichismo da mercadoria. Pouco importa se acredita-se em alguma divindade. O que importa é mentir para as crianças que um "bom velhinho" lhe traz presentes produzidos por "duendes" e trazidos pelas "renas", quando na verdade os duendes são operários em jornadas insanas de trabalho e as renas são contâiners transocêanicos. Tudo isto para uma empresa capitalista lucrar mais que em outra época do ano. Papai Noel é um porco que menospreza aqueles que não têm dinheiro. Feliz festa da hipocrisia! Feliz hora extra aos operários!

Thomas de toledo
"Há uma primeira leitura da 'Comédia'; não há uma última, já que o poema, uma vez descoberto, segue acompanhando-nos até o fim. Como a linguagem de Shakespeare, como a álgebra ou como nosso próprio passado, a 'Divina Comédia' é uma cidade que nunca teremos explorado de todo; o mais gasto e repetido dos tercetos pode, uma tarde, revelar-me quem sou ou o que é o universo". 
Jorge Luís Borges (citado em "Por que ler Dante" de Eduardo Sterzi. S.Paulo: Globo, 2008, p. 104).

O fascismo


“O fascismo não é provocado por uma psicose ou ‘histeria’, mas por uma crise econômica e social profunda que devora o corpo da Europa sem piedade”. Pronunciadas em 1933, as palavras de Leon Trótski (1879-1940) soam mais atuais do que nunca diante do recrudescimento dos partidos neonazistas na Europa novamente em crise. O revolucionário russo estava em seu desterro de quatro anos na Turquia quando foi entrevistado pelo então jovem escritor belga Georges Simenon (1903-1989).
Simenon tinha acabado de criar seu mais célebre personagem, o inspetor Maigret, que marcaria presença em mais de 70 romances e 30 contos do escritor. Atuava como correspondente para o jornal Paris-Soir e corria o mundo escrevendo reportagens, uma hora na África, outra na União Soviética, ou nas ilhas Príncipe (Prinkipo), onde vai encontrar Trótski vivendo uma tranquila vida de aposentado que não duraria muito: em seguida partiria para a França e de lá para a Noruega, de onde seguiria para o México encontrar a morte, encomendada pelo rival Stalin.
As análises de Trótski, judeu, sobre raça, e a previsão, seis anos antes, de que a Alemanha de Hitler iria levar a Europa à guerra demonstram sua profunda visão estratégica e o desprezo dos comunistas pelos conceitos e “ideias” nazistas. O texto de Simenon, é claro, flui deliciosamente, como as águas azuis e tranquilas que cercam a ilha e que ele, amante do mar, faz questão de destacar. Quanto o jornalismo de hoje tem a aprender com o passado… 

Leonardo Padura

Tradução : socialista morena 
http://socialistamorena.cartacapital.com.br/leonardo-padur…/

Pessoas como sendo de direita ou de esquerda


Há quem questione a conveniência de se classificar as pessoas como de direita ou de esquerda... Eu acredito que essas categorias políticas ainda continuam muito válidas. Para mim, é de esquerda o sujeito que tem sensibilidade social, que não é indiferente à tragédia social da nossa realidade quotidiana (que não está anestesiado e ainda se choca quando vê -- mesmo aqui no Sul maravilha -- gente revirando o lixo doméstico e comendo a comida que rejeitamos, quando vê gente morando na rua, quando vê crianças acompanhando os pais carrinheiros puxando, como burros de carga, seus carrinhos etc) e faz a opção política correspondente a essa sua insatisfação... É de esquerda, o sujeito que avalia tudo o que ocorre na sociedade (capitalista) em que vivemos pela ótica dos trabalhadores e não dos empresários, que não vota em rico porque este não sabe o que é passar o mês vivendo de salário, que se preocupa com aqueles que nem salário têm, pois os empresários não geram os empregos formais necessários para absorver todos os que chegam ao mercado de trabalho, que acha por isso legítimo o Estado adotar políticas compensatórias para não deixar conterrâneos nossos morrer de fome, que acha que o Estado, no capitalismo, normalmente dominado pelos interesses do capital, deve ampliar o peso dos interesses do trabalho ou da maioria da população etc...
Se você compartilha dessas opiniões, e apoia políticos comprometidos com a mudança da nossa trágica realidade social, que têm a mesma urgência que você em enfrentá-la e atribuem prioridade n° 1 a essa questão, você é de esquerda, mesmo que não saiba...

É claro que essa postura é rejeitada por muitos, e estes são os que classifico como de direita. E é muito mais rejeitada por uma extrema direita, aquela direita burra que ainda existe entre nós, principalmente aqui no Sul...

Domingos van Erven