segunda-feira, 1 de julho de 2013

As utopias



Utopias
são facas
de dois
gumes:

Num dia
dão flores,
noutro
são estrume.

Na travessia
do deserto
as utopias
são miragens.

Mas como
se alimentar
de paisagens?

As utopias
mobilizam.
E a longo prazo
paralisam.

Utopias
são ambíguas:
podem aliviar
no presente
as fadigas,
mas no futuro
levam a um muro
sem saída.

Mais que
dilema
bigume:
estrela
e negrume,
trampolim
e tapume
ou fênix
implume,
nenhuma
imagem
as utopias
resume.

As utopias
são facas
de três gumes.

Affonso Romano de Sant'Anna; in: Intervalos amorosos e outros poemas escolhidos


cidadão e consumidor



""Quando se confundem cidadão e consumidor, a educação, a moradia, a saúde, o lazer aparecem como conquistas pessoais e não como direitos sociais. Até mesmo a política passa a ser uma função do consumo. Essa segunda natureza vai tomando lugar sempre maior em cada indivíduo, o lugar do cidadão vai ficando menor, e até mesmo a vontade de se tornar cidadão por inteiro se reduz."
Milton Santos - geógrafo e professor na USP.

O barão nas árvores

Para conservar os livros, Cosme construiu em diversas ocasiões algo semelhante a bibliotecas pênseis, protegidas da chuva e dos roedores, mas mudava-a constantemente de lugar, segundo estudos e os gostos do momento, pois ele considerava os livros um pouco como pássaros e não queria vê-los parados ou engaiolados, senão entristeciam.Na mais maciça daquelas estantes aéreas alinhava os tomos da Enciclopédia, de Diderot e D'Alembert, á medida que lhe chegavam de um livreiro de Livorno. E mesmo que, nos últimos tempos, à força de estar em meio aos livros ficara com a cabeça meio nas nuvens, cada vez menos interessado pelo mundo ao redor, agora, a leitura da Enciclopédia, certos belíssimos verbetes como Abeille, Arbre, Bois, Jardin faziam-no redescobrir todas as coisas em torno como novas. Dentre os livros que encomendava começaram a figurar também manuais de artes e ofícios, por exemplo, a arboricultura, e não via a hora de aplicar os novos conhecimentos.


 De Italo Calvino.

OS PROTESTOS PRECISAM SE FOCAR NA CRÍTICA AO CAPITALISMO



“As manifestações atuais são relevantes, mas não estão atacando a estrutura. É revelador que as pessoas destinem seus impulsos de agressividade e de ódio à arena política estatal, mas quase nunca ao campo econômico e ao próprio sistema capitalista. Por exemplo, ao criticar o transporte público, voltamos os olhos para o papel do Estado, mas esquecemos das empresas e dos empresários que operam as máquinas do transporte público. As pessoas estão mirando um horizonte de conquistas imediatas, talvez porque compreendam os limites da política e dos governantes. No mais das vezes, os manifestantes querem riscar do mapa as estruturas políticas impostas, mas, sem propor alternativas, tendem a substituí-las por estruturas similares. No fim, com o estoque de utopias que temos agora, se nos fosse dada a possibilidade de reescrever essa história, escreveríamos o mesmo que já lemos antes. Não temos tinta nas mãos para escrever coisas novas nessas páginas.”

Alysson Leandro Mascaro, autor de “Estado e forma política”, em entrevista para o jornal O Estado de São Paulo: http://goo.gl/Yitfv

O ebook de "Estado e forma política" já está disponível: http://bit.ly/14mqRZ4


Estado

 “[...] o Estado nunca enfrenta a consciência intelectual ou moral de um homem, mas apenas seu corpo, seus sentidos. Não está equipado com inteligência ou honestidade superiores, mas com força física superior.”

- Henry David Thoreau