quinta-feira, 8 de novembro de 2012



Piensa que la realidad es una trampa de los sentidos, que cada cosa que aferras está por desaparecer y que eres una de esas cosas, que el tiempo borrará cada uno de mis rasgos de tu memoria y borrará los tuyos de todos aquellos que prometieron no olvidarte. La vida es una brusca sensación y el deseo una joya preciosa. No me importa si quedará piedra sobre piedra, sólo quiero hundirme en el naufragio de tu cuerpo antes que el último destello de luz se vaya de mis ojos.


Pense que a realidade é uma armadilha dos sentidos, que cada coisa com a qual te agarras, está para desaparecer e que és uma dessas coisas, que o tempo apagar á cada traço meu de tua memória e apagará os teus [traços] de todos aqueles que prometeram não te esquecer. A vida é uma sensação súbita e o desejo uma jóia preciosa. Não me importa se ficará pedra sobre pedra, só quero afundar-me no naufrágio do teu corpo antes que o último flash de luz se vá dos meus olhos.


Efreim Medina Reyes
Tradução : Ricardo Alejandro Pozzo

'' Uma revolução é sempre contra os deuses, a começar pela de Prometeu, o primeiro dos conquistadores modernos. Trata-se de uma reivindicação do homem contra seu destino: a reivindicação do pobre é apenas um pretexto. Mas só posso captar esse espírito em seu ato histórico, e aí que me junto a ele. Não pensem,porém, que isto me agrada: diante da contradição essencial, sustento a minha humana contradição. Instalo minha lucidez no meio daquilo que a nega. Exalto o homem, diante daquilo que o esmaga, e minha liberdade, minha rebeldia e minha paixão se unem, nessa tensão, nesta clarividência e nesta repetição desmedida.''

Albert Camus

[ A Conquista - O Mito de Sisífo]

CANIBALISMO REPENSADO



Às vezes tenho a imprensão
que, apressado, vivo deglutindo a vida
pensando em comer-comer
com a voracidade do gourmand
sem a sutileza do gourmet.

Às vezes, penso que estou, na pressa
perdendo o sabor, o refino do tempero
o bouquet do sentimentos
e que os fatos e pessoas
é que finalmente me devoram.

Estou cansado disto.

Paro. Penso. E , então, escrevo:
Oh! vida, que generosa tens sido!
Adeus canibalismo apressado!
Começo a saborear minúcias
quero mais delicadezas
na minha cama
na minha mesa.

Affonso Romano de Sant'Anna

 (POESIA REUNIDA, L&PM, VOL.2 P 238)



''Visceralmente inclinados à estruturação de sistemas, nós os construímos sem descanso, sobretudo em política, domínio de pseudoproblemas, onde se dilata o mau filósofo que reside em cada um de nós, domínio do qual gostaria de afastar-me por uma razão banal, uma evidência que aparece aos meus olhos como uma revelação: a política gira unicamente em torno do homem.''

Emil Cioran
[História e Utopia]

A Curva dos Teus Olhos




A curva dos teus olhos dá a volta ao meu peito
É uma dança de roda e de doçura.
Berço noturno e auréola do tempo,
Se já não sei tudo o que vivi
É que os teus olhos não me viram sempre.

Folhas do dia e musgos do orvalho,
Hastes de brisas, sorrisos de perfume,
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,
Barcos de céu e barcos do mar,
Caçadores dos sons e nascentes das cores.

Perfume esparso de um manancial de auroras
Abandonado sobre a palha dos astros,
Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar.

- Paul Eluard, in "Algumas das Palavras" (Tradução de Antônio Ramos Rosa)