quinta-feira, 30 de novembro de 2017

poema nos meus 43 anos

( Charles Bukowski)

terminar sozinho

no túmulo de um quarto

sem cigarros

nem bebida-

careca como uma lâmpada,

barrigudo,

grisalho,

e feliz por ter um quarto.

...de manhã

eles estão lá fora

ganhando dinheiro:

juízes, carpinteiros,

encanadores , médicos,

jornaleiros, guardas,

barbeiros, lavadores de carro,

dentistas, floristas,

garçonetes, cozinheiros,

motoristas de táxi...

e você se vira

para o lado pra pegar o sol

nas costas e não

direto nos olhos.




Figures


FIGURES (Jules Supervielle)

Je bats comme des cartes
Malgré moi des visages,
Et, tous, ils me sont chers.
Parfois l'un tombe à terre
Et j'ai beau le chercher
La carte a disparu.
Je n'en sais rien de plus.
C'était un beau visage
Pourtant, que j'aimais bien.
Je bats les autres cartes.
L'inquiet de ma chambre,
Je veux dire mon coeur,
Continue à brûler
Mais non pour cette carte
Q'une autre a remplacée :
C'est nouveau visage,
Le jeu reste complet
Mais toujours mutilé.
C'est tout ce que je sais,
Nul n'en sait d'avantage.

ROSTOS (Jules Supervielle / trad.: Carlos Drummond de Andrade)

Baralho a contragosto
Como cartas os rostos,
E todos me são caros.
Às vezes algum tomba,
Inútil procurá-lo.
Desaparece a carta.
Nada sei a respeito.
Entretanto era um rosto
Que eu amava, e tão belo.
Baralho as outras cartas.
O inquieto do meu quarto,
Ou seja, o coração,
A arder continua,
Não já por essa carta,
Por outra em seu lugar.
É um novo semblante.
E o baralho, completo,
Mas sempre desfalcado.
Eis tudo quanto sei,
E ninguém sabe mais.