quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Vietnã

 Wislawa Szymborska

Mulher, como você se chama? - Nao sei.
Quando voçê nasceu, de onde voçê vem? - Nao sei.
Para que cavou uma toca na terra?- Nao sei.
Desde quando está aqui escondida?- Nao sei.
Por que mordeu meu dedo anular?- Nao sei.
Nao saber que nao te vamos fazer nenhum mal? - Nao sei.
De que lado voçê está? - Nao sei.
É a guerra, voçê tem que escolher.- Nao sei.
Tua aldeia ainda existe? - Nao sei.
Esses sao teus filhos? -Sao.


Traduçao: Regina Przybycien.

Los Adioses

"El sabía, porque yo se lo había dicho. Todos, los sanos y los otros, los que estaban de paso en el pueblo y los que aún podían convencerse de que estaban de paso, todos los que se dejaban sorprender por las fiestas como por un aguacero en descampado, los que habitan los hoteles y las monótonas casitas rojiblancas, todos adoptaban desde el atardecer de ambas vísperas, una forma de locura especial y tolerable. Y siempre las fechas les caían encima como una sorpresa; aunque hicieran planes y cálculos, aunque contaran los días, aunque previeran lo que iban a sentir y lucharan para evitar esta sensación o se abandonaran al deseo de anticipar e irla fortaleciendo para asegurarle una mayor potencia de crueldad. Tenían entonces algo de animales, perros, caballos, mezclaban una dócil aceptación de su destino y circunstancia con rebeldías y espantos, con mentirosas y salvajes intenciones de fuga.

(...)


Sabía que iban a estar gimiendo sin sonido bajo la música, los gritos, las detonaciones, teniendo sus orejas hacia supuestos llamados, de machos y hembras, de supuestas almas afines que se alzarían al otro lado de la selva, en Buenos Aires, o en Rosario, en cualquier nombre y distancia." In Los Adioses, JUAN CARLOS ONETTI, p. 58-59.

AINDA PENSO NAQUELA NOITE



pássaros se revoltam
o gavião ataca
Afonsina atravessa o mar
um pouco antes
ao anoitecer
Violeta dispara sua arma
a quietude se instala
em La Reina
mas os poetas não desistem
apesar do tiro no peito
apesar do cheiro de gás
apesar do mergulho
apesar do tamanho da queda
os pássaros ainda sobrevoam
o mundo
e o silêncio pesa
ao amanhecer

Lalo Arias


FUGA


Poema de Lera Auerbach

Estou coreografando

meu próprio descontentamento.

Os dias se acumulam

em vaidade seca e frugal,

complicando manobras

de mãos sempre em movimento,

pêndulo oscilante

do suicídio ao sacrifício,

do êxtase à gratidão

em todos os tons de cinza.

A fuga se acelera:

ainda lembro seu tema principal,

mas seu contra-sujeito me deixa

sem ar.

Esse contraponto é venenoso

em maiores quantidades,

e não tenho um antídoto

para essa música infecciosa.

Minha febre está subindo.

As pontas quentes dos meus dedos tocam

o corpo intocável da fuga —

ela não pode ser totalmente capturada

nas redes de notas e compassos,

ela foge, selvagem,

pelo riso indomesticável

de deuses e demônios, quem quer

que esteja vigiando as portas do som,

as quimeras lamuriantes

do céu e do inferno.

Olho para a chama negra.

Logo ela consumirá meus dias,

já congela meu coração,

e toma tudo o que ainda chamo de “meu”,

transformando em colheita seca

que queima — oh, tão intensamente —

até que já não seja

até que seja só cinzas,

até que retorne ao pó,

vire aquela nota silenciosa

depois do fim, mas logo

antes do aplauso

enquanto as mãos do maestro ainda seguram

as asas de uma frase musical

e a audiência segura a respiração

como que para não perturbar a mágica;

exceto por ninguém estar esperando

por mim do outro lado, não há

nenhum aplauso ou cumprimento, nem bravi,

mas apenas aquele momento de infinita

solidão

quando o som morre.


Tradução de Sofia Mariutti.

Sirin and Alkonost (the Birds of Joy and Sorrow)



Sirin is a mythological creature of Russian legends, with the head and chest of a beautiful woman and the body of a bird (usually an owl). According to myth, the Sirins lived "in Indian lands" near Eden or around the Euphrates River. These half-women half-birds are directly based on the Greek myths and later folklore about sirens. They were usually portrayed wearing a crown or with a nimbus. Sirins sang beautiful songs to the saints, foretelling future joys. For mortals, however, the birds were dangerous. Men who heard them would forget everything on earth, follow them, and ultimately die. People would attempt to save themselves from Sirins by shooting cannons, ringing bells and making other loud noises to scare the bird off. Later (17-18th century), the image of Sirins changed and they started to symbolize world harmony (as they live near paradise). People in those times believed only really happy people could hear a Sirin, while only very few could see one because she is as fast and difficult to catch as human happiness. She symbolizes eternal joy and heavenly happiness. The legend of Sirin might have been introduced to Kievan Rus by Persian merchants in the 8th-9th century. In the cities of Chersonesos and Kiev they are often found on pottery, golden pendants, even on the borders of Gospel books of tenth-twelfth centuries. Pomors often depicted Sirins on the illustrations in the Book of Genesis as birds sitting in paradise trees.

The Alkonost is, according to Russian mythos and folklore, a creature with the body of a bird but the head of a beautiful woman. It makes sounds that are amazingly beautiful, and those who hear these sounds forget everything they know and want nothing more ever again. She lives in the underworld with her counterpart the sirin. The alkonost lays her eggs on a beach and then rolls them into the sea. When the alkonost's eggs hatch, a thunderstorm sets in and the sea becomes so rough that it is untravelable. The name of the alkonost came from a Greek demigoddess whose name was Alcyone. In Greek mythology, Alcyone was transformed by the gods into a kingfisher.