sábado, 12 de setembro de 2015

"A classe média paga mais impostos que as pessoas mais ricas do Brasil, isentas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirma o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães. Segundo dados recentes da Receita Federal 71 mil brasileiros detêm 1/3 da renda nacional, o que corresponde a 1 trilhão e 200 bilhões de reais em propriedades. "Nenhum jornal repercutiu, não se fala nisso", destaca o embaixador. E a política econômica neoliberal implementada pela presidenta Dilma Rousseff é preocupante porque cria uma crise que vai justificar certas ações que contrariam as necessidades do processo de desenvolvimento brasileiro, comenta o embaixador."

Cálculo político

Sérgio Braga:Alguém poderia me informar que tipo de cálculo político maquiavélico estaria por trás da nomeação de Kátia Abreu para a chefia da casa civil? Ou será só um balão de ensaio para nomear outro menos ruim para o lugar do Mercadante?


Stéphane Monclaire :Os erros de cálculo da parte dos principais atores políticos é um sintona da existência de uma forte crise política. Pois quanto mais aumenta a fuidez da situação e a perca de recursos políticos, mais diminui a visibilidade a curto e médio prazo. O que complica os cálculos e a definição da estratégia dos atores.

Sérgio Braga :Se for verdadeira a notícia e não apenas "intriga da oposição" acho que é isso mesmo, prof. Stéphane Monclaire. O que revelaria uma completa desorientação política do governo e aumentaria a probabilidade do impeachment, e não o contrário a meu ver.


Dimas Soares Ferreira :Prof. Sérgio Braga, nós que estamos na base, longe das cúpulas dirigentes, pouco sabemos o que se passa nas hostes do governo, principalmente o que se passa no interior dos palácios e gabinetes ministeriais. Aliás, há um claro distanciamento entre o Partido e o governo Dilma. As teses de radicalização à esquerda e de a crítica ao tal ajuste fiscal mal mal está presente nos cadernos de teses do último Congresso. Os diretórios municipais estão mergulhados em disputas internas já visando-se as eleições municipais do ano que vem e a companheirada parece ainda não ter se dado conta dos impactos desastrosos dessa conjuntura extremamente desfavorável que poderão recair sobre a disputa eleitoral que se avizinha. Além disso, aqui em Minas o Partido foi tomado por um bando de gente que só se interessa mesmo pela disputa por cargos e nomeações no governo. O debate é cada vez menos qualificado. Nós sobreviventes dos tempos em que o partido era referência de oposição ao projeto neoliberal somos cada vez mais sufocados por essa gente que faz qualquer coisa pelo poder, até mesmo se juntar a velhos inimigos e adversários.


Wilson Roberto Nogueira :Tentar chamar ou cooptar o agronegócio para o governo com vistas a não ser derrotado no Centro- Oeste e sul,tanto nas eleições municipais quanto na aprovação de emendas por parte da bancada ruralista (alguns já em partidos da base -infiel- do governo) nas casas parlamentares .Uma guinada sim, a direita , mas procurando se adaptar ao novo quadro reacionário que se apresenta para manter-se até o fim do mandato.A perda das bases  sociais coma administração optando por lotear   poder a adversários ideológicos , se submetendo a novas agendas exógenas , por força da tempestade de crises oportunamente majorada pelo sistema financeiro e suas agencias de extorsão (S&P,et caterva ), as corporações de mídia e seus interesses empresariais rentistas. O governo hipotecou o galinheiro  a voracidade de lobos e chacais atingindo não somente a administração , os interesses nacionais e do povo trabalhador mas  embrulhando as conquistas da esquerda em chumbo e jogando as no Tietê .Bom , elas flutuaram , espero. No mais sei que devo estar errado na minha análise .

A flor do embiroçu



"Noite, melhor que o dia, quem não te ama?

Fil. Elis."

Quando a noturna sombra envolve a terra
E à paz convida o lavrador cansado,
À fresca brisa o seio delicado
A branca flor do embiroçu descerra.
E das límpidas lágrimas que chora
A noite amiga, ela recolhe alguma;
A vida bebe na ligeira bruma,
Até que rompe no horizonte a aurora.
Então, à luz nascente, a flor modesta,
Quando tudo o que vive alma recobra,
Languidamente as suas folhas dobra,
E busca o sono quando tudo é festa,
Suave imagem da alma que suspira
E odeia a turba vã! da alma que sente
Agitar-se-lhe a asa impaciente
E a novos mundos transportar-se aspira!
Também ela ama as horas silenciosas,
E quando a vida as lutas interrompe,
Ela da carne os duros elos rompe,
E entrega o seio às ilusões viçosas.
É tudo seu, — tempo, fortuna, espaço,
E o céu azul e os seus milhões de estrelas;
Abrasada de amor, palpita ao vê-las,
E a todas cinge no ideial abraço.
O rosto não encara indiferente,
Nem a traidora mão cândida aperta;
Das mentiras da vida se liberta
E entra no mundo que jamais não mente.
Noite, melhor que o dia, quem não te ama?
Labor ingrato, agitação, fadiga,
Tudo faz esquecer tua asa amiga
Que a alma nos leva onde a ventura a chama.
Ama-te a flor que desabrocha à hora
Em que o último olhar o sol lhe estende,
Vive, embala-se, orvalha-se, rescende,
E as folhas cerra quando rompe a aurora.


[Machado de Assis]

O construtor em tempos líquidos.


Ele se apresenta como sociólogo e faz questão de mostrar a sociologia como ciência capaz de desfazer impasses que atormentam a humanidade há séculos. Se não todos, pelo menos os mais prementes. Passou pelo Rio numa fulminante temporada e aos quase 90 anos exibe formidável disposição para mediações e compartilhamentos. Do inspirador, Sócrates, pediu emprestada a capacidade de armar diálogos e produzir sínteses – sempre intensas mesmo quando breves. O saber enciclopédico flui com incrível naturalidade e isso a tal ponto que os interlocutores mal distinguem o que é seu ou deles. Prodígios da maiêutica.

Polonês meio-inglês, Zygmunt Bauman tem sobrenome alemão, certamente por conta dos antepassados judeus: construtor. Ironicamente é dele o conceito de que nosso tempo é essencialmente líquido, nada consegue solidificar-se em formas estáveis. Para Bauman, o problema não é nossa incapacidade para remediar esta condição líquida mas a falta de um agente capaz de produzir o conhecimento necessário para corrigir a situação com a necessária urgência.

Para ele, tudo é gerenciável: por isso enquadra-se como pessimista a curto prazo e otimista numa perspectiva maior. O mal-estar e desconforto que dominam o mundo contemporâneo não são indícios de uma guerra iminente e inevitável. Parafraseando Klausewitz, pondera que existem guerras por outros meios.

A Europa tem jeito, garante, falta apenas a experiência para lidar com circunstâncias inéditas. Afinal, para manter um continente sem guerras nem fronteiras faz-se necessário desenvolver um repertório de soluções compatível com as diferentes situações.

Este gerenciador contumaz de aflições preocupa-se seriamente com o consumismo desenfreado, esta felicidade “faz-de-conta” – líquida — de acumular coisas. O mundo não tem condições de suportar este tipo de desgaste. E não será com o mero clicar de um teclado que produziremos as saídas para este impasse. Esse crítico dos meios de comunicação está mais próximo do quase esquecido Marshall McLuhan cuja preocupação maior eram os meios convertidos em mensagem.

Ao ser questionado sobre o seu segredo para vender quase 600 mil exemplares com os 35 títulos editados pela Zahar no Brasil ao longo de 26 anos abriu uma gostosa gargalhada: “eu não conhecia estes números !…”.


(Por Alberto Dines em 11/09/2015 na edição 867 do Observatório da Imprensa)

russ

"How're you?" or "How is life" which in Russian are "Kak dela?"(Как дела) or "Kak zhizn'?" (Как жизнь?). Usually you are responded with "Excellent!" (Atlichna - Отлично); Ok (Narmalna - Нормально), Good (Harasho - Хорошо), So-so (Tak sibe - Так себе), Bad (Ploha - Плохо).
 "Zdarova" - Здорово! (suits for man, like 'hey')
 "how did you spend your weekend?' (Kak provel weekend),

 What are you going to do on your vacation? (Kakie plani na otpusk) 

O Leopardo

 “‘Veja bem, dom Pietrino, os ‘senhores’, como você diz, não são fáceis de compreender. Eles vivem um universo particular criado não diretamente por Deus mas sim por eles mesmo durante séculos de experiências especialíssimas, de fadiga e alegria deles; possuem uma memória coletiva no mínimo robusta e assim se perturbam ou se alegram por coisas que para você ou para mim não significam nada mas que para eles são vitais porque se relacionam com esse patrimônio de recordações, de esperanças, de temores de classe. [...] E com isso não quero dizer que são maus: é outra coisa. Eles, na verdade, são diferentes [...] Talvez por isso pouco se importam com coisas que para nós tem valor; quem está nas montanhas não se preocupa com os mosquitos da planície e quem vive no Egito chega a esquecer que existe guarda-chuva. O primeiro, porém, teme as avalanches os crocodilos, coisas que no entanto nos preocupam pouco. Para os aristocratas surgiram novos temores que nós ignoramos: já vi Dom Fabrizio, ele que é um homem sério e sábio, ficar enraivecido por causa de um colarinho mal passado a ferro; e ouvi dizer que o príncipe de Làscari não conseguiu dormir uma noite inteira de tão furioso que ficou por terem lhe dado o lugar errado num almoço na intendência.’” (Tommasi di Lampedusa, em O Leopardo)

A partilha dos mitos

"Setembro
A poesia dá-se bem com este mês,
cuja medida se assemelha à do verso - dias
partidos ao meio, deixando a alma indecisa
numa evocação de gastos sentimentos. Mas é
no campo, ao poente, saboreando o cheiro doce
dos frutos que apodrecem na terra, como algas
mortas, que uma voz insistente me chama - poe -
sai? Quem, por detrás do seu rosto sonoro e
abstracto? Memória que a noite depressa apaga..."



Nuno Júdice, in. A partilha dos mitos (1982)