segunda-feira, 25 de novembro de 2013


La turba turba
La tumba turba
La turba tumba
La tumba tumba
¿No oyen, hermanitos,
al viento amarillo
retumbar como cañones
sus corazones de miedo
tambores negros
entre las raíces de la tierra?
La tumba tumba
La turba tumba
La tumba turba
La turba turba
¿A quién le toca tocar ahora
este cuero cansado
oveja solitaria que salta
el mismo alambrado
viene y va y nadie puede
ya dormir ni morirse del todo?
La turba turba
La tumba tumba
Turba la tumba turbia
la turbia turba
 
Gustavo Caso Rosendi
 

 
“A beleza ainda me emociona muito. Não só a beleza física, mas a beleza natural. Hoje, com quase oitenta e cinco anos, tenho uma visão da natureza muito mais rica do que eu tinha quando era jovem. Eu reparava mais em certas formas de beleza. Mas, hoje, a natureza, para mim, é um repertório surpreendente de coisas magníficas e coisas belas. Contemplar o vôo do pássaro, contemplar uma pomba ou uma rolinha que pousa na minha janela... Fico estático vendo a maravilha que é aquele bichinho que voou para cima de mim, à procura de comida ou de nem sei o quê. A inter-relação dos seres vivos e a integração dos seres vivos no meio natural, para mim, é uma coisa que considero sublime.”


- Carlos Drummond de Andrade, em trecho da última entrevista, publicada no suplemento Idéias - Jornal do Brasil, de 22 agos/1987.

As musas cegas



IV

É preciso falar baixo no sítio da primavera, junto
à terra nocturna. Junto à terra transfigurada.
Tudo ouve as minhas palavras talvez irremediáveis..
Infatigável perfume se acrescenta nos jacintos, fogo
sem fim circunda suas raízes leves.
É preciso não acordar do seu ofício a luz que inclina
os meus espinhos frios, a lua que inclina
meu sangue ligado e o sangue da terra nocturna.

Agora a primavera trabalha nas galerias mais antigas,
bate os seus martelos contra um milhão de estrelas.
É uma coisa estupenda a primavera que trabalha
nas caveiras dos cavalos enterrados.
E os cavalos ressuscitam pela noite adiante.
Inspiro-me na primavera com suas grutas de água
atenta, e amo a loucura -
a cabeça gelada sobre a corrente pura do terror.

Tenho medo de erguer a voz mais alto
que o meu coração, onde uma candeia
concentra um grande silêncio.
A primavera é algo prodigioso para o meu desbarato.
Que a tristeza me ajude, que me ajudem
os dentes da minha boca, os dedos das minhas mãos,
todos os mortos, todos os que amam
entre sangue no mundo, entre as águas das noites eternas.

Sinto os ossos ascenderem às cobras da cabeça -
e a obra está nas mãos.
Terra, terra preenchida. Enquanto os outros dormem,
fundo-me no verbo interior da primavera
como o vermelho se funde na flor futura.
Tu cantavas, sangue, a torrente translúcida da morte.
Cantavas o que já se não quebra com o uso
das vozes. Porque tu eras a minha
água salgada.

Fecho os olhos para ver como as acácias se iluminam
e a rutilação ascende pelas veias.
Tomo entre meus dedos a soturna amplidão dos mortos.
Primavera, como cresces.
Desespero ou alegria, como correm
nos membros reaparecidos.
Dizer devagar na humidade da carne, evocar
tuas colinas de sal, mistério.
Tudo em volta da primavera e da noite
com uma porta no coração para passar
num tremendo silêncio.

Ressuscitar uma vez com a cara extrema
junto a líquenes inocentes.
Entre os meses saber de um só que pede
a mudez aterradora.
A primavera cresce num núcleo de ideias, as cabras
evaporam-se, reaparecem em espírito
mastigando giestas. Primavera é uma palavra
numa língua demasiado estrangeira.
Uma coisa enorme, sem música.

Falo tão devagar que mal distingo
a noite sobre a terra
da minha garganta onde os animais passam
lentamente inspirados.
Só encosto a testa ao oculto fogo dos nomes,
e o sangue alimenta a loucura
devagar, devagar - como quem ressuscita.


Herberto Helder

Fotografía de la muchedumbre


En la fotografía de la muchedumbre
mi cabeza es la séptima de la orilla,
o tal vez la cuarta a la izquierda,
o la veinte desde abajo;

mi cabeza no sé cuál,
ya no una, no única,
ya parecida a las parecidas,
ni femenina, ni masculina,

las señales que me hace
son ningunos rasgos personales;

quizás la ve el Espíritu del Tiempo,
pero no la mira;

mi cabeza estadística
que consume acero y cables
tranquilísima, globalísimamente;

sin la vergüenza de ser una cualquiera,
sin la desesperación de ser cambiable;

como si no la tuviera en absoluto
a mi manera y por separado;
como si se hubiera desenterrado un cementerio
lleno de anónimos cráneos
en un aceptable estado de conservación
a pesar de su mortalidad;

como si ya hubiera estado allá
-mi cabeza, una cualquiera, ajena-

donde, si recuerda algo,
sea tal vez el profundo futuro.

De "Si acaso" 1978
Versión de Abel A. Murcia


La habitación del suicida

Seguramente crees que la habitación estaba vacía.
Pues no. Había tres sillas bien firmes.
Una lámpara buena contra la oscuridad.
Un escritorio, en el escritorio una cartera, periódicos.
Un buda despreocupado. Un cristo pensativo.
Siete elefantes para la buena suerte y en el cajón una agenda.
¿Crees que no estaban en ella nuestras direcciones?

Seguramente crees que no había libros, cuadros ni discos.
Pues sí. Había una reanimante trompeta en unas manos negras.
Saskia con una flor cordial.
Alegría, divina chispa.
Odiseo sobre el estante durmiendo un sueño reparador
tras las fatigas del canto quinto.
Moralistas,
apellidos estampados con sílabas doradas
sobre lomos bellamente curtidos.
Los políticos justo al lado se mantenían erguidos.

No parecía que de esta habitación no hubiera salida,
al menos por la puerta,
o que no tuviera alguna perspectiva, al menos desde la ventana.

Las gafas para ver a lo lejos estaban en el alféizar.
Zumbaba una mosca, o sea que aún vivía.

Seguramente crees que cuando menos la carta algo aclaraba.
Y si yo te dijera que no había ninguna carta.
Tantos de nosotros, amigos, y todos cupimos
en un sobre vacío apoyado en un vaso.


Wislawa Szymborska