Para entender hoje o Paraná e o Brasil. O nosso novo livro,
uma coletânea, do Núcleo de Estudos Paranaenses sobre Mulheres, Política,
Famílias e Nepotismo. Parte da minha conclusão: Podemos responder a seguinte
indagação sociológica – O que acontece com as famílias e descendentes dos novos
atores sociais, econômicos e políticos estudados ? Os emergentes e seus
descendentes muitas vezes casam com famílias já estabelecidas, com velhas
genealogias e com vínculos mais antigos na classe dominante tradicional,
operando a absorção dos novos e a continuidade da classe dominante. Mulheres
formam alianças matrimoniais decisivas. A ascensão do bacharel, do mulato, do
filho do imigrante espanhol, libanês, do empresário, do político, também passa
pelos casamentos, alianças e conexões com famílias estabelecidas das antigas
elites da classe dominante tradicional. Estas famílias antigas foram
escravistas e possuem as suas histórias familiares conhecidas e estudadas nas
genealogias tradicionais. Abdon Batista e Teresa, a mulher da família Oliveira
(classe dominante tradicional de São Francisco do Sul, Joinville). Moisés
Lupion e Hermínia, a mulher da família Borba Rolim (classe dominante
tradicional de Tibagi). Aníbal Curi e a mulher da família Saboia (classe
dominante tradicional dos Rios Iguaçu e Negro). Beto Richa e Fernanda Vieira
(Banco Bamerindus e classe dominante tradicional Junqueira). O papel e o
protagonismo das mulheres são muito importantes nestas formas de metamorfose
burguesa. Não há apenas o novo e novas rupturas, mas continuidades e
conciliações entre as novas dinâmicas e as velhas tradições. A desigualdade
social, a concentração de terras, rendas, riquezas e de poderes também são
fenômenos genealógicos de longa duração. Não houve e nem ocorreu uma “Revolução
Burguesa” no Brasil porque o “Antigo Regime” persistiu, sobreviveu, se associou
e mesmo se casou com muitos dos novos componentes do que seria a modernização
social, econômica e política. A metamorfose burguesa explica, em termos de uma
sociologia histórica e política, qual o papel das mulheres tradicionais e
estabelecidas na reprodução da ordem social.
Ricardo Costa de Oliveira