domingo, 15 de novembro de 2015


Não, não é cansaço...
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço porquê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...


- Álvaro de Campos [Heterônimo de Fernando Pessoa], In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002.
"Detesto comportamento xenófobo. E detesto comparações, normalmente comparam alhos com bugalhos. Nosso sentimento de dor se expressa com a cor que quisermos dar. Eu choro pelas vítimas de Paris, eu choro pelas crianças da Síria que tombam sem saber do que se trata, eu choro pelo nosso País tão contrário a si mesmo, tão avesso as suas dores, e tão revoltado e participante na sua luta contra o preconceito e a injustiça. Eu amo esses estudantes que com sua coragem e determinação ocupam as escolas e defendem um bem e um direito que o Estado de São Paulo teima em extinguir em nome de uma pseudo reforma que, sabemos, só vai piorar o que já está quase falindo. Eu lamento que o atual governador esteja dando um tiro no pé de seu partido, esse "social-democrata" que deveria fazer jus ao nome. Os nomes, esses e outros politicamente encabeçados... que sentido agora fazem? Eu lamento que a ganância esteja enterrando nossa riqueza natural. O rio Doce sucumbiu ao amargo dos desejos. Estou estarrecida com tudo. Cansada de ver tanto ódio brotando dos que se dizem tementes a Deus. Que Deus é esse que deseja tanto ódio? Eu desejo que o povo brasileiro se erga contra esses desmandos e elejam quem não faz panfletagem religiosa e fascista e sexista e misógena. Que este túnel que estamos atravessando de lama e horror encontre alguma luz e oxigênio do outro lado, ao fim da travessia. Os mais corajosos encontrarão, tenho certeza. Os medrosos morrerão com a boca e os ouvidos entupidos pelos dejetos. Não há deuses a temer. Há homens há temer, gente como a gente, loucos e alucinados, doentes mentalmente, sexualmente mal resolvidos. Estão presos nos seus padrões, nos seus muros. Gostaria muito que se libertassem e respirassem o ar puro que se tem de graça. Seriam mais felizes e mais humanos."


Por Susanna Busato