sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Ernesto Geisel, o ‘pai da distensão lenta, gradual e segura’ da ditadura militar

Quarto presidente após o golpe de 64, general, que morreu há 20 anos, iniciou processo de abertura política do país. No seu governo, reprimiu linha-dura, mas fechou Congresso

Próximo ao poder. Ernesto Geisel, então capitão do Exército, 
Geisel baixa o ‘Pacote de abril’
Após mortes no DOI-Codi de São Paulo, general Ednardo D’Ávila é exonerado
Teotônio Vilela, líder da luta pela anistia, visitou presos políticos no Rio em 1979
Anistia mobilizou o Brasil nos anos 70
Exilados voltam ao Brasil
Bomba explodiu no Riocentro e matou sargento do Exército, ferindo capitão
No fim da ditadura, carta-bomba explodiu na OAB, no Rio, matando secretária
Criado em 1890, STF sofre cassação na ditadura e apoia a redemocratização
Após redemocratização, Brasil escolhe presidente no 2º turno em cinco eleições

Natasha Correa Lima*

“Morre Geisel, o patrono da distensão". Foi com esse título que O GLOBO noticiou a morte do ex-presidente Ernesto Geisel, em sua edição de 13 de setembro de 1996, ocorrida no Rio na véspera, de insuficiência respiratória, motivada por uma broncopneumonia, quando se tratava de um câncer. Quarto presidente militar a assumir o poder, o general governou entre 1974 e 1979, período no qual iniciou o desmantelamento do regime militar, pavimentando o caminho que levaria o Brasil de volta à democracia.

Ernesto Beckmann Geisel, caçula de cinco filhos, nasceu em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, em 3 de agosto de 1907. Seguindo os passos de dois de seus irmãos, Henrique e Orlando – que se tornou ministro do Exército no governo do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) –, o menino Ernesto ingressou cedo na vida militar. Em 1921, entrou no Colégio Militar de Porto Alegre, onde terminou os estudos como melhor aluno da turma. Ocupando o posto de primeiro-tenente, participou da Revolução de 1930, movimento que depôs o presidente Washington Luís e alçou Getúlio Vargas ao poder. Geisel também teve participação decisiva em outros dois movimentos militares na década de 1930: combateu a Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo, ainda como tenente, e, em 1935, já como capitão, reprimiu o levante comunista na Escola de Aviação Militar no Campo dos Afonsos, no Rio, dentro do movimento conhecido como Intentona Comunista.
A partir daí, Geisel ampliou cada vez mais sua participação na política. Foi chefe da secretaria geral do Conselho de Segurança Nacional entre 1946 e 1947, no governo de Eurico Gaspar Dutra, e subchefe do Gabinete Militar, no governo de João Café Filho, em 1955, o vice que assumiu após o suicídio de Vargas. Desempenhou, também, a função de adido militar no Uruguai entre 1947 e 1950. No governo Jânio Quadros, foi nomeado oficial de gabinete do ministro da Guerra e chefiou o Comando Militar de Brasília. Em meio à crise política gerada pela renúncia do presidente, Geisel foi nomeado chefe do Gabinete Militar do então presidente interino, Ranieri Mazzili. Nesse contexto, atuou como uma espécie de negociador entre os militares – que tentavam a todo custo impedir a posse do vice-presidente João Goulart – e os setores civis da política brasileira, que defendiam a posse. A solução encontrada para garantir a posse de Jango foi a adoção do parlamentarismo. Diante da expressa insatisfação de João Goulart, Geisel dirigiu-se ao presidente e, como publicado no GLOBO de 13 de setembro de 1996, lhe disse:

- Presidente, tenha certeza de que tivemos imensas dificuldades aqui em Brasília para Vossa Excelência assumir. E nós esperamos que conduza o governo de modo a que se pacifique a nação.
A História, porém, tomou outros rumos. Após a antecipação, de 1965 para 1963, do plebiscito sobre o regime do país, o povo escolheu o presidencialismo e teve início uma grave crise institucional, que culminou com o golpe que depôs João Goulart, comandado pelos militares e com o apoio de líderes civis. Com a instauração do regime autoritário, Geisel ajudou a articular, junto ao alto comando militar, o nome do marechal Humberto Castelo Branco para a Presidência. Com a posse deste, em 15 de abril de 1964, Geisel foi nomeado chefe do Gabinete Militar e percorreu a Região Nordeste, a fim de averiguar denúncias de tortura, prática que sempre rechaçou. Na verdade, ele se opunha não só à tortura, como também ao excessivo endurecimento do regime e a consequente ascensão ao poder dos setores mais radicais do Exército, a chamada linha-dura. Isso porque o general acreditava que a repressão corrompia a hierarquia militar, a censura protegia ladrões, e a existência de poderes absolutos, em vez de fortalecer o presidente, na verdade, o enfraquecia.

Essa postura de Ernesto Geisel era vista pela linha-dura como uma ameaça à própria existência do regime. Retirá-lo da alta cúpula do governo passou, então, a ser algo necessário e urgente. Dessa forma, a ascensão dos militares conservadores ao poder ocasionou uma espécie de ostracismo político para Geisel, que foi mantido longe das funções de confiança do governo militar entre 1967 e 1973, nos mandatos de Arthur da Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici. Nesse período, foi ministro do Superior Tribunal Militar (1967-1969) e presidente da Petrobras (1969-1973).
Em 15 de março de 1974, Geisel toma posse na Presidência da República, após ser eleito pelo colégio eleitoral, em janeiro do mesmo ano. Em 29 de agosto, durante entrevista coletiva, anunciou o projeto político que seria a marca de seu governo: a distensão lenta, segura e gradual do regime militar, o que significaria maior oportunidade para o diálogo com a oposição e a sociedade civil. A edição do GLOBO de 30 de agosto de 1974 trouxe a íntegra do discurso, no qual o presidente afirmou que o processo de abertura ocorreria dentro da ordem vigente:

- Prosseguirá o Governo na missão que lhe cabe de promover para toda a nação o máximo de desenvolvimento possível com o mínimo de segurança indispensável. E deseja, mesmo, empenhando-se o mais possível para isso, que esta exigência de segurança venha gradativamente a reduzir-se. Erram os que pensam que podem apressar este processo pelo jogo de pressões manipuladas sobre a opinião pública (…). Tais pressões só servem para provocar contrapressões (…) invertendo-se o processo de lenta, gradativa e segura distensão, desejado pelo Executivo.

Ernesto Geisel defendia um Estado política e economicamente forte. A política econômica de seu governo, definida no II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), apontava para o investimento no setor energético, ao mesmo tempo em que considerava primordial o desenvolvimento de indústrias de base, como forma de preparar a economia brasileira para os impactos do choque do petróleo, ocorrido em 1973. Teve destaque na área econômica, também, a assinatura do acordo nuclear entre Brasil e Alemanha, bem como o lançamento do Programa Nacional do Álcool (Proálcool). A economia do período Geisel teve média de crescimento de 5,5% ao ano; no entanto, a inflação saltou de 16% para 45% e a dívida externa subiu de US$ 6 bilhões, no início do governo, para US$ 45 bilhões, no final do mandato.

A política externa do período foi marcada pela busca de novas oportunidades para o comércio exterior brasileiro. Tendo isso em mente, o governo Geisel deixou de lado a concepção ideológica de bipolaridade que ainda era forte no momento – devido à Guerra Fria – e optou por uma aproximação com a Ásia e a África. O Brasil reatou as relações diplomáticas com a China, rompidas desde a ocorrência da Revolução Chinesa, em 1949, e estabeleceu novas relações com os Emirados Árabes e o Bahrein. Além disso, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer o governo português estabelecido após a Revolução dos Cravos, movimento que pôs fim à ditadura salazarista em Portugal. O governo também reconheceu os direitos do povo da Palestina e pediu a Israel que retirasse suas tropas dos territórios árabes ocupados desde 1967.

A maior marca do governo, no entanto, está na política interna adotada, no intuito de garantir a distensão do regime militar. Ernesto Geisel não queria a prática de atos de tortura em seu governo. Quando assumiu o poder, tratou de emitir comunicados aos comandantes de Exército para que enquadrassem os chefes dos DOI-Codi, a fim de evitar a ocorrência de torturas. O tema, inclusive, apareceu em várias comunicações entre o presidente e o chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), general João Figueiredo. Em um desses diálogos, publicado no GLOBO em 13 de setembro de 1996, Geisel afirma não concordar com as prisões e perguntava a Figueiredo, que viria a ser seu sucessor na Presidência:

- Não será o caso de fazer um honesto exame crítico, rever o que está errado e imaginar novos e melhores procedimentos?

A preocupação em barrar a tortura, entretanto, não evitou a ocorrência de mortes nos porões militares. As mais emblemáticas foram a do jornalista Vladimir Herzog, que apareceu enforcado no DOI-Codi de São Paulo em outubro de 1975, e a do operário Manuel Fiel Filho, no mesmo DOI-Codi, em janeiro de 1976. Estas mortes levaram Geisel a demitir o comandante do II Exército e, posteriormente, o próprio ministro do Exército, Sylvio Frota.

Se, por um lado, Ernesto Geisel parecia empenhar-se pelo fim das torturas e pelo desmonte da máquina repressora do Estado – através da Emenda Constitucional número 11, de 1978, o presidente aboliu oficialmente a censura, restabeleceu o habeas corpus e revogou todos os atos institucionais em vigor, inclusive o AI-5 – por outro, o general não hesitou em utilizar a máquina da repressão a seu favor, a fim de manter a ordem em seu governo. Tal como um ditador, Geisel cassou 11 mandatos parlamentares, fechou o Congresso por duas semanas (no chamado Pacote de Abril, que também criou os senadores biônicos), censurou 47 filmes, 117 peças de teatro, 840 músicas e diversas reportagens. Também foram registrados 39 desaparecimentos, além de mais de mil casos de tortura.
Ernesto Geisel deixou o poder em 1979 e recolheu-se da vida política. O general da abertura era um homem discreto, de hábitos simples, amante da música clássica, apreciador do clima da cidade de Teresópolis, na Serra do Rio, onde mantinha uma casa, e dono de uma inteligência astuta: foi aprovado em primeiro lugar em todos os concursos militares que prestou. A discrição e a quietude, no entanto, escondiam uma imensa dor, a qual Geisel carregaria pela vida toda: a morte do filho Orlando, atropelado por um trem aos 17 anos. A perda fez com que nunca mais tivesse gosto por comemorações, e vê-lo em atos da vida social era uma raridade. Geisel morreu de câncer, aos 89 anos, deixando a viúva Lucy, a filha Amália e seu lugar na história como “o general que matou a ditadura no país”, ou como O GLOBO o definiu, "o pai da distensão lenta, gradual e segura".
* com edição de Matilde Silveira

Avanços e retrocessos. O presidente Geisel fecha o Congresso, por decreto: Pacote de Abril também cria senador biônico
Avanços e retrocessos. O presidente Geisel fecha o Congresso, por decreto: Pacote de Abril também cria senador biônico Orlando Brito 30/04/1977 / Agência O Globo
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PAÍSPublicado: 25/09/13 - 16h 49minAtualizado: 09/09/16 - 23h 52min
Geisel baixa o ‘Pacote de abril’Para conter a oposição, governo pôs o Congresso em recesso e criou o ‘senador biônico’
Próximo ao poder. Ernesto Geisel, então capitão do Exército, e Getúlio Vargas em 1940, no Recife
EM FOCO: A TRAJETÓRIA DE GEISEL, DE VARGAS A FH
Geisel baixa o ‘Pacote de abril’
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Criado em 1890, STF sofre cassação na ditadura e apoia a redemocratização

Após redemocratização, Brasil escolhe presidente no 2º turno em cinco eleições

Em 1977, a abertura política - que o então presidente, general Ernesto Geisel, pretendia gradual, lenta e segura - avançara demais, em função do crescimento eleitoral da oposição a partir de 1974. Os estudantes voltaram às ruas e logo ocorreriam mais prisões e cassações políticas.

No dia 13 de abril, Geisel fechou o Congresso Nacional por duas semanas e, nesse vácuo, outorgou um conjunto de leis, o "Pacote de abril", constituído de uma emenda constitucional e seis decretos-leis.

Antevendo nova derrota eleitoral em 1978, o governo militar estabeleceu, entre outras medidas, restrições nas campanhas eleitorais e eleição indireta para a ocupação de metade das vagas em disputa no pleito. Com isso, um terço do Senado foi preenchido pelos chamados "senadores biônicos".

Além disso, o mandato presidencial foi ampliado de cinco para seis anos e as leis passaram a ser aprovadas por maioria simples no Congresso. O objetivo de desarticular a oposição foi alcançado. A Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido da ditadura, desde a eleição de 1974 não detinha mais dois terços dos votos nas duas Casas do Congresso, porém mantinha a maioria das cadeiras.

Dessa forma, em São Paulo, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido da oposição, 
reelegeu Franco Montoro para o Senado, pelo voto popular, enquanto a Arena conseguiu emplacar o senador Amaral Furlan, escolhido pelo colégio eleitoral.

Por ter discursado contra as decisões tomadas por Geisel, o líder do MDB na Câmara dos Deputados, Alencar Furtado, teve seu mandato cassado em junho de 1977.

Leia mais sobre esse assunto em http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/geisel-baixa-pacote-de-abril-10144638#ixzz4LllRJuH4
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PAÍSPublicado: 18/05/15 - 21h 05minAtualizado: 12/09/16 - 11h 59min

Criado em 1890, STF sofre cassação na ditadura e apoia a redemocratização

Atos institucionais pós-golpe de 64 elevam total de magistrados e aposentam Evandro Lins e Silva, Hermes Lima e Victor Nunes Leal. Entulho autoritário só acabou nos anos 80

17 de Janeiro de 1969, Geral, 

Atentado dos Guararapes. O vice-almirante Nelson Fernandes, diretor da Chesf, morto após a explosão de bomba no aeroporto do Recife, onde desembarcaria o marechal Costa e Silva, sucessor de Castello Branco na Presidência da República

Matheus Guedes*

Criado em 1890, o Supremo Tribunal Federal (STF) surgiu com a responsabilidade de ser a instância máxima de um dos três poderes recém-instituídos pela República, o Judiciário. E assim permaneceu até 9 de abril de 1964, data da promulgação do primeiro dos Atos Institucionais (AIs) impostos pela ditadura militar. Ele permitia ao governo que derrubara o presidente João Goulart demitir ou aposentar os magistrados. Era o início de uma escalada de sanções que chegaria ao seu ápice com o AI-5, de 1968, e a aposentadoria compulsória de Evandro Lins e Silva, Victor Nunes Leal e Hermes Lima, ministros do STF. No ano seguinte, viria o AI-6, que transferia ao Superior Tribunal Militar (STM) o poder de julgar em caráter definitivo aqueles que se opusessem ao regime.

Apesar de o AI-1 permitir que o governo pudesse arbitrar sobre a composição do Supremo, a ditadura não atuou de fato até baixar o segundo Ato. Baseado na Constituição de 1934 criada no governo Getúlio Vargas, o AI-2, de 27 de outubro de 1965, aumentava de 11 para 16 o total de ministros do STF e tinha, segundo opositores na época, a intenção de enfraquecer a instituição. Embora permitido, nem na época da ditadura de Vargas durante o Estado Novo (1937-45) o aumento do número de ministros foi instituído.

Mas foi em 13 de dezembro de 1968, com o AI-5, que a ditadura iniciou sua fase mais autoritária. Com ele, o presidente Artur da Costa e Silva aposentou compulsoriamente os ministros Evandro Lins e Silva, Vitor Nunes Leal, que também seria afastado de seu cargo na UFRJ, e Hermes Lima. Em solidariedade, os também ministros Lafaiete de Andrade e Antônio Gonçalves de Oliveira pediram aposentadoria. Além das destituições, Costa e Silva retirou o poder do tribunal de conceder habeas corpus nos casos de “crimes políticos contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular”, dando mais poderes à Justiça Militar.

Hoje todos falecidos, os ministros cassados haviam ocupado cargos de destaque antes da ditadura. Lins e Silva fora procurador-geral da República entre 1961 e 1963, chefe de Gabinete da Presidência em 1963 e ministro das Relações Exteriores, no mesmo ano. Nunes Leal, por sua vez, chefiou o gabinete do presidente Juscelino Kubitschek, entre 1956 e 1959, e se tornou consultor geral da República em 1960. Já Lima, dono de vasto currículo, foi deputado federal pelo Distrito Federal entre 1946 e 1951 (à época, na cidade do Rio de Janeiro), chefe do Gabinete da Presidência nos governos de Jânio Quadros e Jango, entre 1961 e 1962, ministro do Trabalho em 1962 e das Relações Exteriores entre 1962 e 1963, além de primeiro-ministro do país entre 1962 e 1963.

Após a saída dos cinco ministros, o governo militar impôs o Ato nº 6, em 1º de fevereiro de 1969. Com ele, os poderes da Justiça Militar aumentavam ainda mais e era restabelecido o número de 11 ministros. Cabia ao STM, a partir de então, o julgamento em última instância dos civis processados nos casos de “crimes contra a segurança nacional ou as instituições militares”. O STF não tinha mais o poder de julgar estes réus em recurso. Foi o tiro de misericórdia da ditadura na instituição mais importante do Judiciário brasileiro.

A mordaça do regime ao STF só começaria a ser superada em 19 de janeiro de 1979, no final do governo do presidente Ernesto Geisel, que seria sucedido por João Figueiredo, o quinto e último dos generais a comandar o país. A Emenda Constitucional nº 11 revogava todos os atos institucionais e restituía ao Supremo os seus poderes. O papel do STF seria fundamental no apoio aos novos rumos jurídicos do país.

Mais de três décadas depois, em solenidade do então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2 de dezembro de 2002, os três ministros do Supremo cassados foram restituídos de suas condecorações militares, retiradas na aposentadoria compulsória. Apenas Lins e Silva pôde receber a medalha, uma vez que Nunes Leal e Hermes Lima já haviam morrido, em 1985 e 1978, respectivamente. Fundador do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e membro da Academia Brasileira de Leras (ABL), Lins e Silva faleceria duas semanas depois, no dia 17 do mesmo mês. “Jurista da democracia” foi o título do GLOBO no dia seguinte ao seu sepultamento, que fora acompanhado por personalidades e políticos, entre eles o recém-eleito presidente Lula.

* com edição de Gustavo Villela, editor do Acervo O GLOBO
Juristas. Hermes Lima (à esq.) passa o comando do Ministério das Relações Exteriores a Evandro Lins e Silva: após AI-5, aposentadoria compulsória no STF
Juristas. Hermes Lima (à esq.) passa o comando do Ministério das Relações Exteriores a Evandro Lins e Silva: após AI-5, aposentadoria compulsória no STF 20/06?

Leia mais sobre esse assunto em http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/criado-em-1890-stf-sofre-cassacao-na-ditadura-apoia-redemocratizacao-16197190#ixzz4LlmFVNfY


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Rio Grande do Sul, Brasil



Enquadramento Histórico e Urbanismo

Com a descoberta das minas de ouro no Brasil, no fim do século XVII, aumentaram as preocupações das autoridades portuguesas no sentido de garantir a ocupação da região Sul do continente. Ao mesmo tempo, as constantes escaramuças e invasões sofridas pela Colónia de Sacramento e a grande distância a que aquela colónia ficava do Rio de Janeiro, a que estava subordinada administrativamente, faziam com que pensassem num ponto de apoio mais próximo. Daí, “fazer porto no Rio Grande de São Pedro” passou a ser cogitado com mais frequência pela metrópole. Em 19 de abril de 1730, o Conselho Ultramarino redigiu um parecer onde dizia que era evidente o quanto seria conveniente ao rei de Portugal fortificar o porto do Rio Grande de São Pedro da banda do sul, e sugeria que o tenente‐general David Marques Pereira fosse nomeado para essa empresa. É importante salientar que o porto acima mencionado está localizado no canal de saída para o mar das águas da Lagoa dos Patos, então conhecido como Rio Grande de São Pedro. A decisão de se fundar um povoado nessas paragens levou ainda algum tempo, pois somente em 1737 se efetivou uma grande operação naval para cumprir as ordens régias, que visavam impedir o prosseguimento do avanço espanhol na região e continham também a ordem de fundar um presídio no local anteriormente definido pelo Conselho Ultramarino. Assim, em 19 de fevereiro daquele ano, foi fundado, pelo brigadeiro José da Silva Paes, o Presídio de Jesus, Maria, José, primeiro assentamento português no Rio Grande do Sul, que deu origem à atual cidade do Rio Grande. O presídio cresceu, embora com dificuldades, e em 1747 foi elevado a vila, só instalada em 1751, com o nome de vila do Rio Grande. Para ali foram os imigrantes açorianos, a partir de 1752 e os engenheiros militares que iriam iniciar as demarcações das fronteiras resultantes do Tratado de Madrid. Com este objetivo se deslocou o governador do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, que chegou ao Sul em 1751. Em 1763, a vila do Rio Grande foi invadida pelos espanhóis de Buenos Aires, que se mantiveram por treze anos no local. Com isso a vila perdeu seu título e teve um forte declínio populacional, só vindo a florescer após a retomada pelos portugueses, em 1776. Sua localização estratégica permitiu a incursão dos portugueses pelos caminhos fluviais do interior do Rio Grande do Sul, que deram origem a vários outros pequenos aglomerados urbanos, solidificando a ocupação da região.


Luiz Fernando Rhoden

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