domingo, 12 de fevereiro de 2017




O que o início de 2017 mais uma vez comprova é que o Brasil é incompatível com um governo de direita. O caos, a crise e a ingovernabilidade na perda de salários, direitos e o aumento da corrupção também revelam que não existe golpe de direita contra governo de direita. O General Newton Cruz não conseguiria o golpe contra o General Figueiredo e as Diretas Já. O General Sílvio Frota não conseguiria o golpe contra o General Geisel e a Abertura. Hoje a extrema direita é sócia e integrante do desgoverno do temer. Bolsonaro e outros extremistas elegeram diretamente esse bando golpista no poder. Um golpe de direita só existe contra governos de esquerda, tipo Jango, Allende e outros. As forças empresariais, jurídicas e políticas de direita, que apoiariam outro golpe de direita já estão no poder e se afundando juntas. O PSDB golpista cresceu nos ministérios, hoje com 5 e está fundido com Temer. O PSDB é para o PMDB golpista o que o PMDB foi para o PT ganhador das eleições, um bando de traíras querendo mais poder, com chantagens nos bastidores. Um golpe de extrema direita contra os golpistas significaria o imediato nocaute e colapso de toda direita, o que Newton Cruz ficou com medo no desastre do Governo de Figueiredo, em 1984, quando a ditadura se desmoronava em todas as frentes. Temer já fracassou miseravelmente, total insegurança jurídica e política, total desagregação político-moral e se conseguir ser um Sarney no quinto ano, ou um Figueiredo piorado, será muita sorte para o bloco golpista, caso não sejam expulsos do poder pelo povo via movimentos sociais e por movimentos redemocratizadores vindos de dentro do Estado, como a Revolução dos Cravos, de 1974.

Ricardo Costa de Oliveira




De todas as medidas perversas e reacionárias de Greca na prefeitura, uma das mais socialmente regressivas foi a eliminação da passagem de ônibus domingueira, com o aumento de 2,50 para 4,25. Outra verdadeira política de expulsão dos trabalhadores e pobres do centro e dos bairros com mais equipamentos coletivos urbanos, lazer, diversões e cultura. Os excluídos, principalmente os negros, os mais jovens e as mulheres, que utilizavam a domingueira, devem ficar estagnados e isolados nas periferias abandonadas e desassistidas pelo capital, pelos governos e pela prefeitura. A violência aumenta na falta de políticas públicas para essa juventude oprimida.

Ricardo Costa de Oliveira

Só para leitores


"Eu tomo um remédio para controlar a pressão.
Cada dia que vou comprar o dito cujo, o preço aumenta.
Controlar a pressão é mole. Quero ver é controlar o 'preção.'
Tô sofrendo de 'preção' alto.
O médico mandou cortar o sal. Comecei cortando o médico, já que a consulta era salgada demais.
Para piorar, acho que tô ficando meio esquizofrênico.
Sério!
Não sei mais o que é real.
Principalmente, quando abro a carteira ou pego extrato no banco.
Não tem mais um Real.
Sem falar na minha esclerose precoce. Comecei a esquecer as coisas:
Sabe aquele carro? Esquece!
Aquela viagem? Esquece!
Tudo o que o presidente prometeu? Esquece!
Podem dizer que sou hipocondríaco, mas acho que tô igual ao meu time:
- nas últimas.
Bem, e o que dizer do carioca? Já nem liga mais pra bala perdida...
Entra por um ouvido e sai pelo outro.
Faz diferença...
'A diferença entre o Brasil e a República Checa é que a República Checa tem o governo em Praga e o Brasil tem essa praga no governo'
'Não tem nada pior do que ser hipocondríaco num país que não tem remédio'."

(LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO)

Stálin


1945: Conferência de Ialta sela ordem do pós-Guerra na Europa


Quando a vitória já parecia certa, os Aliados se reuniram de 4 a 11 de fevereiro de 1945 na Crimeia. Aceitação de imposições de Stalin selou fronteiras da futura Cortina de Ferro.

 Konferenz von Jalta 1945 (gemeinfrei)
Churchill, Roosevelt e Stalin decidiram as fronteiras pós-guerra

Os três grandes líderes reuniram-se de 4 a 11 de fevereiro de 1945 em Ialta, na Crimeia, após mais de cinco anos de guerra e milhões de mortos. Praticamente já ocupada, a Alemanha não estava mais em condições de resistir por muitas semanas. A Itália estava rendida, mas o Japão ainda resistia no Oceano Pacífico.

Embora a Segunda Guerra Mundial ainda não estivesse oficialmente encerrada, Franklin D. Roosevelt, Josef Stalin e Winston Churchill, considerando-se vencedores sobre os nazistas e fascistas, iniciaram a discussão sobre a ordem internacional no pós-Guerra.

A Conferência de Ialta, às margens do Mar Negro, foi uma das três grandes conferências que determinaram o futuro da Europa e do mundo no pós-Guerra (além da de Teerã, em 1943, e a de Potsdam, em meados de 1945). Mesmo que a divisão do mundo não estivesse nos planos das lideranças aliadas neste momento, a Guerra Fria acabou sendo uma das consequências do encontro.

Para o historiador Jost Dülffer, da Universidade de Colônia, Ialta tinha boas chances de estipular uma nova ordem de paz no pós-Guerra: "Foi aprovada uma declaração sobre a Europa libertada e discutiram-se várias questões, cuja solução era apenas parcial. Por fim, eles tiveram que se curvar aos fatos: os russos estavam às margens do rio Oder, no Leste, e os norte-americanos na fronteira oeste da Alemanha".

Polônia, o tema mais controverso

Com relação à Organização das Nações Unidas, que estava por ser criada, decidiu-se a composição de um conselho de segurança com direito de veto. Quanto à Alemanha, as potências aliadas resolveram exigir a "capitulação incondicional" e decidiram dividir o país em três zonas de ocupação.

Os detalhes seriam resolvidos por uma comissão constituída para este fim. Por pressão dos soviéticos, a única decisão tomada foi em relação a reparações e o desmonte de instalações industriais.

A capital polonesa, Varsóvia, estava em ruínas em 1945

A Polônia foi o tema mais controverso da conferência na Crimeia, em fevereiro de 1945. Temendo o avanço soviético na Europa Central, o premiê britânico, Winston Churchill, e o presidente norte-americano, Franklin D. Roosevelt, planejavam para Varsóvia um governo com legitimação democrática, escolhido através de eleições livres. Enquanto Stalin ressaltava o poder democrático do governo por ele constituído na Polônia, os britânicos salientavam a legitimidade do governo polonês no exílio, estabelecido em Londres.

Churchill e Roosevelt cederam a Stalin

As duas frentes optaram por uma solução consensual: o governo constituído pelos soviéticos foi ampliado em alguns membros apontados pelos aliados. A partir de junho de 1945, entretanto, o governo polonês passou a ser dominado por membros pró-soviéticos.

Stalin ainda conseguiu impor o deslocamento da fronteira soviética para o oeste. Afinal, o aliados ocidentais precisavam do apoio de Moscou contra os japoneses no Oceano Pacífico. A fronteira leste da Alemanha ao longo dos rios Oder e Neisse foi sugestão do secretário-geral do partido comunista soviético. A nova linha divisória viria a delimitar o que mais tarde ficou conhecido como Cortina de Ferro, dividindo o mundo durante quase 50 anos de Guerra Fria.

Em 1946, o próprio Churchill reconheceria: "De Sczecin, no Mar Báltico, até Trieste, no Mar Adriático, transcorre uma cortina de ferro pelo continente. Por trás desta linha estão todas as capitais da Europa Central e do Leste Europeu. Todas as cidades e suas populações estão sob influência soviética. Os acertos feitos em Ialta foram vantajosos demais para os soviéticos.

Mas estas decisões foram tomadas numa época em que ainda não se sabia que a guerra não duraria nem até o fim de 1945, num momento em que achávamos que o conflito com o Japão persistiria pelo menos 18 meses após o final da guerra com a Alemanha".



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1943: "Três Grandes" reúnem-se em Teerã


Churchill e Roosevelt encontram-se com Stalin em 28 de novembro, no Irã. É combinada uma coordenação dos ataques soviéticos à Alemanha nazista com o iminente desembarque dos aliados na Normandia.


O primeiro-ministro do Reino Unido, Winston Churchill, e o presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, já haviam se encontrado no Cairo para falar sobre a Segunda Guerra Mundial e fazer planos para o futuro da Europa, da Turquia e do Extremo Oriente.

Antes de tentarem em vão a adesão da Turquia à aliança ocidental contra a Alemanha nazista e de nomearem Dwight D. Eisenhower como comandante supremo da iminente invasão da Normandia, os dois deixaram a cidade às margens do Nilo e viajaram para Teerã. Lá, em 28 de novembro de 1943, eles haviam marcado um encontro de três dias com o presidente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), Josef Stalin.

Novo papel para URSS no pós-guerra

Churchill foi ao encontro do líder comunista com desconfiança, mas Roosevelt estava convencido de que eles teriam de se arranjar de alguma maneira com a URSS e que esse país teria um papel importante na Europa e no mundo do pós-guerra. E isso deveria ocorrer no contexto de uma nova organização mundial, ambicionada por Roosevelt e muitos americanos, e destinada a assumir as tarefas da comunidade internacional fracassada. Sem os soviéticos, tal organização seria ineficaz.
Norte-americanos e britânicos já estavam tentando há tempos deter as invasões alemãs. Roosevelt tinha consciência de que um futuro pacífico depois da guerra dependeria decisivamente das relações com a URSS.

Para Washington e Londres, esse futuro já estava traçado na mensagem de Roosevelt ao Congresso em 1941, na qual ele se referiu especialmente a quatro liberdades: de opinião, de religião, do medo e da miséria. As duas potências ocidentais declararam essas liberdades como metas de guerra em seu acordo conhecido como Carta do Atlântico, e acrescentaram o direito à autodeterminação e a rejeição de conquistas territoriais por meio de guerras.

Do ponto de vista de Roosevelt, o que fosse acertado entre os dois aliados atlânticos deveria servir de base para um tratado com a URSS e a China, pois só as quatro nações juntas poderiam assumir a responsabilidade de preservar a paz no mundo.

Stalin esconde seus planos

Numa retrospectiva histórica, constata-se que essa era uma visão fantástica, idealista. Churchill e Roosevelt encontraram em Teerã um Stalin cordial. O chefe do Kremlin não tinha abandonado sua ideia de vitória do comunismo, mas sabia que seu país precisava do apoio do Ocidente. A União Soviética tinha de suportar o maior fardo da guerra, e para Stalin estava claro que isso afetaria também seu sonho de expansão do comunismo.

Em Teerã, combinou-se, em primeiro lugar, que Moscou deveria coordenar seus ataques contra a Alemanha com o iminente desembarque planejado pelos aliados ocidentais na Normandia. Mas Stalin também pôde fazer algumas exigências, indicando o que se confirmaria depois no decorrer da Guerra: ele reivindicou a Prússia Oriental e as fronteiras que foram asseguradas à União Soviética nos acordos com Berlim e Helsinque, em 1939 e 1940.

A ideia de uma organização não foi detalhada em Teerã. Nem houve acordo sobre o futuro da Polônia e, no que se referia ao Irã, a declaração conclusiva do encontro dos "Três Grandes" dizia que o país, parcialmente ocupado, receberia sua independência de volta depois da Grande Guerra.
Há muito, Stalin vinha fazendo planos para a divisão da Europa e a ampliação das fronteiras da URSS. Entretanto, ele não revelou seus planos militares aos parceiros ocidentais. O líder soviético mostrou-se, ao mesmo tempo, muito insatisfeito com o projeto de transformar a Alemanha e uma série de outros Estados da Europa Central e do Leste Europeu em nações agrícolas. Stalin viu no plano uma tentativa do Ocidente de frear a expansão soviética e, em vez disso, defendeu uma balcanização do Leste Europeu e um enfraquecimento da França e da Itália.

Data 28.11.2016

Autoria Peter Philipp (ef)
fonte : deutsche welle


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1941: Selada aliança entre Londres e Moscou


Quando as tropas alemãs invadiram a União Soviética, em 22 de junho de 1941, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill declarou que não estava surpreso com o rumo dos acontecimentos: ele próprio já tinha advertido Stalin e outros sobre essa possibilidade.

Winston Churchill: "Hoje, às quatro horas da manhã, Hitler atacou e invadiu a Rússia. Isso não foi nenhuma surpresa para mim, pois eu já tinha advertido Stalin de maneira explícita e clara sobre o que ocorreria. Eu o adverti do mesmo modo como já advertira outros antes. Hitler é um monstro maligno, insaciável na sua sede de sangue e de pilhagem. É por isso que esse filho sanguinário da sarjeta está mandando agora seus exércitos blindados a uma nova missão de carnificina, de saque e de destruição".

Abandonando a política britânica anterior de apaziguamento, o primeiro-ministro ressaltou publicamente sua intenção de "destruir Hitler e todos os vestígios do regime nazista". Nada mais consequente, portanto, que a assinatura do tratado de aliança soviético-britânico, no dia 12 de julho de 1941, com o compromisso de apoio recíproco contra a Alemanha de Hitler.

Modificações territoriais só com aprovação dos povos

O tratado representou também uma mudança na estrutura das alianças internacionais. Isso desagradou sobretudo aos Estados Unidos, que viam ameaçada a futura ordem global de paz sob liderança sua e do Reino Unido, como era almejada pelo presidente americano Franklin D. Roosevelt.

O chefe de Estado americano convidou Churchill para um encontro secreto, sem a participação soviética, em alto-mar, diante da costa canadense de Terranova – desprezando de forma demonstrativa a ameaça à navegação marítima por parte dos submarinos alemães.

Após quatro dias de negociações, os dois estadistas divulgaram em 14 de agosto uma declaração final sobre os princípios "para um futuro melhor do mundo", conforme afirmava textualmente a chamada Carta Atlântica.

No auge dos triunfos bélicos da Alemanha nazista na Europa, o documento exigia que se abrisse mão de modificações territoriais sem a aprovação voluntária dos povos afetados, defendia o direito de autodeterminação dos povos, principalmente na escolha dos seus regimes governamentais e propagava a igualdade de direitos no acesso ao comércio mundial e às matérias-primas.

Até que fosse constituído um sistema duradouro de segurança, Roosevelt e Churchill pronunciaram-se conjuntamente pela "eliminação definitiva da tirania nazista". Eles consideraram necessário o desarmamento de todos os países agressores que representassem uma ameaça para os seus vizinhos.

Marco para entrada dos EUA na guerra

A Carta Atlântica, que era composta de oito pontos, foi inicialmente apenas uma declaração de intenções sobre as metas conjuntas de guerra e paz – sem um compromisso assegurado pelo direito internacional. Ela também não levava em conta os interesses especiais da União Soviética, que só a assinou com ressalvas, em setembro de 1941.

Permaneceu em aberto, além disso, a criação de uma organização internacional de segurança. Em face de fortes correntes partidárias de um isolamento americano, Roosevelt considerava impossível impor tal conceito dentro dos Estados Unidos, que formalmente ainda continuavam sendo neutros.

Apesar disso, a declaração final do encontro entre Roosevelt e Churchill representou um decisivo marco político-moral para a entrada dos EUA na guerra. Depois que o Japão atacou a base americana de Pearl Harbor, no Oceano Pacífico, Roosevelt pôde requerer ao Congresso que declarasse oficialmente o estado de guerra contra o Japão: "Solicito ao Congresso uma declaração de que, desde o ataque infundado e covarde do Japão a 7 de dezembro de 1941, os EUA encontram-se em estado de guerra com o Império Japonês".

Durante a guerra, só no papel

Como resposta, seguiu-se no dia 11 de dezembro a declaração teuto-italiana de guerra contra os Estados Unidos, que entraram assim definitivamente na Segunda Guerra Mundial, lutando contra as potências do Eixo. Pouco depois, a 1º de janeiro de 1942, uma aliança bélica de 26 países, constituída por iniciativa americana, aderiu aos princípios da Carta Atlântica, que se tornou assim uma parte importante da propaganda de guerra dos Aliados.

A sua realização prática, contudo, foi deixada propositadamente de lado, a fim de não estorvar os esforços militares conjuntos. Até março de 1945, outros 21 países aderiram a essa chamada Declaração das Nações Unidas.

Após demorados acertos sobre uma ordem internacional de paz, a Carta Atlântica foi incluída finalmente no catálogo das metas e princípios da Carta das Nações Unidas, de 26 de junho de 1945. Por isto, pode-se afirmar com razão que o seu conceito e a sua organização de um sistema coletivo de segurança originou-se, no fundo, da coalizão internacional contra as potências do Eixo.

Autoria Matthias Schmitz (am)

Fonte : deutsche welle


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A las estrellas


Pedro Calderón de la Barca
Esos rasgos de luz, esas centellas
que cobran con amagos superiores
alimentos del sol en resplandores,
aquello viven, si se duelen dellas.

Flores nocturnas son; aunque tan bellas,
efímeras padecen sus ardores;
pues si un día es el siglo de las flores,
una noche es la edad de las estrellas.

De esa, pues, primavera fugitiva,
ya nuestro mal, ya nuestro bien se infiere;
registro es nuestro, o muera el sol o viva.

¿Qué duración habrá que el hombre espere,
o qué mudanza habrá que no reciba
de astro que cada noche nace y muere.

 CALDERÓN DE LA BARCA


Biblioteca Digital Ciudad Seva

O MEDO DE SER LIVRE PROVOCA O ORGULHO EM SER ESCRAVO


"O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde onde as certezas moram." Os Irmãos Karamazov, Dostoiévski.

Há no homem um desejo imenso pela liberdade, mas um medo ainda maior de vivê-la. Algo parecido disse Dostoiévski, ou talvez eu esteja dizendo algo parecido com o dito pelo escritor russo. No entanto, como seres significantes que somos, analisamos as coisas sempre a partir de uma determinada perspectiva e, assim, passamos a atribuir-lhes valor. Dessa maneira, até conceitos completamente opostos, como liberdade e escravidão, podem se confundir ou de acordo com o prisma de quem analisa, tornarem-se expressões sinônimas, como acontece no mundo distópico de George Orwell, 1984, em que um dos lemas do partido – “Escravidão é Liberdade” – é repetido à exaustão.
Não à toa, as boas distopias têm como grande valor predizer o futuro. E em todas elas – 1984, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451, Laranja Mecânica – há um ponto em comum: a liberdade dos indivíduos é tolhida e, consequentemente, convertida em escravidão. No entanto, através de mecanismos sócio-políticos a escravidão é ressignificada como liberdade, de modo que mesmo tendo a sua liberdade cerceada, os indivíduos entendem gozarem plenamente desta.
Nas histórias supracitadas, embora a maior parte da população esteja acomodada e aceite com enorme facilidade absurdos, existem indivíduos que se permitem compreender as suas reais situações e ousam lutar contra a ordem estabelecida. Esse processo é, todavia, extremamente doloroso, uma vez que é muito mais fácil se acomodar a enfrentar a realidade e todas as consequências dolorosas que enfrentamos invariavelmente quando decidimos sair da caverna, para lembrar Platão.
Posto isso, há de se considerar que ser verdadeiramente livre requer a responsabilidade de encarar o mundo sem fantasias, ou seja, tal como ele é. Dessa forma, existe no homem grande suscetibilidade a aceitar o irreal como real, a fantasia como verdade, a Matrix como o mundo real. Sim, Matrix é um grande exemplo do medo que possuímos de encarar a realidade. No personagem de Cypher (Joe Pantoliano) encontramos o maior expoente desse comodismo, já que sendo a realidade um mundo destruído, um caos constante, é muito melhor viver na Matrix, onde ele “pode ser o que quiser”, ainda que não passe de uma grande mentira.
Em outras palavras, Cypher representa a ideia de que sendo a realidade algo tão assustador, a ignorância é uma benção, pois sendo ignorante, pode-se comprar mentiras como verdades facilmente, bem como, aceitar a Matrix como realidade e a escravidão como liberdade.
As realidades apresentadas no mundo das artes (ficções, que ironia), refletem a nossa própria realidade, em que, assim como Cypher, temos preferido viver vidas fantasiosas, cercadas de superficialidade e aparências, determinadas pelo hedonismo da sociedade de consumo e, consequentemente, o nosso egoísmo ganancioso buscando galopantemente realizar todos os desejos que impedem de acordarmos de um sonho ridículo.
Apesar de tudo isso, pode-se considerar que de fato é melhor ser um escravo feliz do que um ser livre, triste, inconformado e amedrontado. No entanto, a problemática ganha corpo na medida em que se entende que há coisas que só podem ser feitas sendo o sujeito livre, uma vez que a gaiola é sempre limitadora, sobretudo, aos desejos mais intrínsecos e, portanto, mais latentes e verdadeiros no ser. Assim, por mais que a escravidão seja ressignificada, fantasiada e “transformada” em liberdade, sempre haverá pontos em que o indivíduo sentirá necessidade de alçar voos mais altos, os quais, obviamente, não poderão ser realizados, haja vista a limitação das gaiolas, o que implica a insatisfação, ainda que tardia, da condição escrava em que o indivíduo se encontra.
Sendo assim, constatamos que “O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo”, posto que para gozar a liberdade é preciso coragem para se arriscar no terreno das incertezas e da luta. E, assim, temos preferido permanecer na caverna, orgulhosos das nossas sombras, já que lembrando outra vez Dostoiévski – “As gaiolas são o lugar onde as certezas moram”. Entretanto, como disse, mais hora, menos hora, nos enxergamos e percebemos que o que nos circunda é falso, de tal maneira que desejamos sair, correr, voar, ser livres.
O grande problema nisso é que quando se acostuma a viver em uma gaiola, quando se é livre perde-se a capacidade de voar, pois as correntes que nos prendem são criadas pelas nossas mentes, de forma que mesmo fora da caverna, continuamos prisioneiros de uma mente que se acostumou a ser covarde e preferiu acreditar na contradição de que ser escravo era o maior ato de liberdade.
 
ERICK MORAIS
Um menestrel caminhando pelas ruas solitárias da vida.

fonte : © obvious: http://obviousmag.org/genialmente_louco/2017/o-medo-de-ser-livre-provoca-o-orgulho-em-ser-escravo.html#ixzz4YUIlPGzg