domingo, 26 de março de 2017

Não ha lugar para a poesia em Kassel

"Diferente das bienais e outros eventos de promoção e discussão da arte como o Documenta, as festas literárias não dão conta de um encontro do leitor com acontecimento literário. Aliás, acreditar que aconteça algo de muito relevante para o debate literário ali é acreditar também que a literatura se basta na presença ou na glamorização póstuma dos autores, pois estes eventos apenas endossam um sistema de canonização forjado pelo mercado editorial que é, por sua vez, sustentado pelas mídias de grande circulação. " 
(Juliana Bratfisch, "Não ha lugar para a poesia em Kassel", Suplemento Pernambuco, Setembro de 2016)


O professor disserta
Sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
Cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudi-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz
Com medo de acordá-lo.

Carlos Drummond de Andrade, “Mosaico de Manuel Bandeira” .
Um Bolsonaro incomoda muita gente; milhões de Bolsonarinhos incomodarão muito mais... Eu não sei porque tem tanta gente surpresa com o "ódio nas redes", como se isso fosse culpa da internet. Basta ler as considerações de Marcuse (dentre outros) nos anos 60 sobre as fontes do ódio nas sociedades industriais modernas; está tudo explicado lá. Uma socialização primária excessivamente individualista e competitiva, pouco cosmopolita, sem confiança no próximo e autoritária, gera um sentimento neurótico que faz com que indivíduos de certos grupos sociais descarreguem sua ira nos outros sem motivo aparente, especialmente nos que julgam ser os mais fracos e que recebem auxilio do Estado, por exemplo. Isso explica facilmente porque Bolsonaro tem maiores índices de popularidade nos setores mais escolarizados. Não se trata de ignorância, mas sim de um fenômeno ideológico e psico-social que já foi exaustivamente mapeado nas democracias mais institucionalizadas. A solução para essa intolerância é uma educação cívica nos valores democráticos sistemática desde a infância, como ocorre nos países civilizados, inclusive nos EUA. É por isso que esses mesmos grupos se opõem ao ensino de ciências humanas nas escolas públicas e privadas. Ao eliminar disciplinas como Sociologia, Filosofia e História do Ensino Médio, o governo PSDB-PMDB está criando as condições favoráveis para a proliferação de pequenos bolsonarinhos pelo Brasil afora. Reflitam sobre isso antes que seja muito tarde....

Sérgio Braga
Só no Brasil mesmo é que se faz manifestação contra o voto em lista fechada. Na maioria dos países de democracia mais avançada, este é o sistema predominante e o que ocorre na maior parte das vezes é justamente o contrário, ou seja, manifestações contra as exclusões de minorias nos sistemas majoritários. Dizer que no Brasil já existe a lista fechada porque os partidos são oligárquicos, só pode ser piada. Lista fechada no Brasil não seria nenhuma catástrofe, é plenamente compatível com a democracia, ao contrário do que dizem os oportunistas mal-intencionados de sempre, embora eu mesmo não a considere a melhor solução para os problemas de representação no Brasil atual.

Sérgio Braga
"Alguém já viu uma ditadura bater na porta, e se apresentar: "boa tarde, eu sou a ditadura e vou entrar, ok?" Nem quando ela arromba a porta, meu amigo. Até nesses casos, ela diz: "olha, entrei assim porque sou a democracia, estavam me perseguindo e eu não posso morrer, você não acha? Pode deixar que eu conserto a fechadura".
Pronto, quando você se dá conta, já está com um hóspede indesejado que só te dá despesa, e ainda te dá na cara, por vinte anos.
Fiquem atentos. A condução coercitiva do blogueiro hoje é mais uma prova de que esse cara que está aí tocando seu interfone é para lá de suspeito..."
Leonardo Valente
"Vocês ainda não perceberam que eles vão continuar aprovando isso e todo o resto? Não se deram conta de que o sofrimento será grande e a única chance é que seja pedagógico? Ainda não viram que no dia em que o vento soprar em direção contrária não haverá outra alternativa a não ser desfazer tudo o que fizeram e ainda vão fazer? Todas as portas nos serão fechadas, a única a continuar aberta será a da revolução."

Leonardo Valente
"Não vi ninguém fazendo essa ligação direta entre os fatos, mas me parece bem clara a ligação entre o escândalo da carne e a votação da terceirização ontem. Vejam: só na indústria da carne são mais de 6 milhões de empregos. Não se enganem que o desemprego seja sinal de incompetência do governo golpista. Pelo contrário, é objetivo do golpe, visto que jamais teria sucesso a terceirização sem que houvesse um índice elevado de desemprego. Como se irá convencer o empregado a trabalhar 12 hs/dia, sem férias, sem 13º, com baixos salários, se ele tiver opção de emprego? A destruição das maiores empreiteiras, da industria naval e agora, às vésperas da votação, da indústria da carne, foi cirurgicamente planejada para reduzir drasticamente o emprego e viabilizar o projeto da terceirização. Sem emprego perde-se a capacidade de resistência, a capacidade de negociação e mesmo a dignidade, pois a sobrevivência pessoal e da família é a prioridade. Muito mais do que a criação de empregos, sabemos que o capitalismo vive da exploração dos empregados e, muito pelo contrário, quanto maior o desemprego maior o sucesso do capitalista na exploração do trabalho."

Eduardo Cabral

A Educação pela Pedra


(João Cabral de Melo Neto)

Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, frequentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra (de fora para dentro,
Cartilha muda), para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,

Uma pedra de nascença, entranha a alma.