quarta-feira, 7 de agosto de 2019

O avanço tecnológico tem um preço: o fim da possibilidade de escolher e testar livros e discos novos no mundo real



LUÍS ANTÔNIO GIRON*




Imagine o que seria das mulheres se, de repente, suas lojas favoritas de roupas, acessórios e perfumes desaparecessem. Não de repente, mas de uma forma lenta, cruel e inevitável, até que toda e qualquer roupa e acessório só fosse acessível via internet. Tenho certeza de que elas fariam uma revolução para recolocar as vitrines nos seus antigos lugares. Seria um choque a ausência da possibilidade de se aventurar pelos produtos materiais, escolher ao acaso um item e se arriscar. É assim que estou me sentindo: como uma mulher sem loja. Não quero sexualizar o debate. De fato, muitas são as mulheres que consomem produtos culturais com a mesma fúria dos homens (não avistei nenhuma até hoje, mas creio que elas existem). Assim, uma grande parcela do público está sendo atingida com a eliminação do varejo de cultural.

Sempre fui um consumidor da área. Um dos meus prazeres em viagens era (estou enfatizando o pretérito mais que perfeito) encontrar lojas de discos e DVDs e livrarias, passear pelas estantes e, sem um objetivo definido, descobrir uma banda, um autor, um filme. Mesmo em casa, eu adorava ir a uma locadora de vídeos e pegar um filme no qual jamais pensei, e que nem conhecia. Era um gesto de acaso, um ato lúdico de apostar em uma manifestação artística desconhecida. Como visitar uma galeria desconhecida, era desse modo que as coisas funcionavam. Aos poucos, estou assistindo ao desmoronamento desse hábito. A evolução tecnológica é inevitável e cobra seu preço: o consumidor terá os produtos que deseja, mas não mais o prazer da interação concreta com eles – e, não raro, não mais a qualidade q ue eles apresentavam anteriormente.

As primeiras lojas a sumir do mapa foram as de CDs. Com a pirataria de arquivos digitais pela internet, tornou-se possível achar qualquer coisa sem pagar por isso. Depois os e-books derrubaram as livrarias. E, finalmente, as locadoras estão com os dias contados. As lojas de videogame, os últimos baluartes da compra cultural, são as próximas. Tudo está migrando para o buraco cintilante do atacado do mundo virtual.

Os exemplos são incontáveis. Assisti ao fechamento de muitas lojas que eu amava. Alguém lembra da Virgin na Times Square de Nova York? Ou da Tower Records em San Francisco? Acabaram de fechar a mais antiga loja da HMV de Londres, a primeira especializada em discos clássicos, que estava no local, na Oxford Street, desde 1897, desde a invenção do gramofone. No lugar dela, estão inaugurando neste momento uma loja de moda jovem, a Forever 21. Lamentável para mim e todos os consumidores de cultura, que bom para as lolitas. Em Toronto, fecharam a venerável Sam Goody’s – loja de vinil e CDs que serve como cenário para o filme Scott Pilgrim. Estão construindo uma torre de 40 andares no local. As lojas HMV de Toronto estão liquidando todos os seus discos clássicos, a preço de banana. Não tenho m ala para tantos itens preciosos. Afinal, eles estão lá desde o ano 4 A.B. (antes de Bieber, sendo que o Annus Bieberi é 2009), quando vim à cidade pela primeira vez. Os discos demoravam a desaparecer das prateleiras. Eles esperavam por quem se interessasse por eles e os comprasse. Eu demorava anos até me decidir por este ou aquele disco.

Vamos às livrarias. Os livros eletrônicos vieram para sempre. Não nego sua funcionalidade e incrível rapidez. Mas muitas e inimagináveis são as transformações que eles impõe aos hábitos de leitura e de compra de títulos. Só nos Estados Unidos, o consumo de livros em papel caiu 14 por cento nos dois últimos anos, com um crescimento acelerado de downloads de livros eletrônicos, na ordem de 30 por cento ao ano. Isso pode ser verificado na vida real. Observo as grandes livrarias vendendo e-readers, como que assinando a rendição ao mundo digital. Isso quando já não estava falida mesmo. É o caso da cadeia Borders. Presenciei a liquidação de estoque das filiais londrinas há um ano. Agora vi a xepa da Borders do CNN Center, em Nova York. Antes a gente reclamava que as pequenas livrarias havi am sido devoradas pelas grandes cadeiras. Agora a gente chora pelas grandes cadeias... Também as redes de bancas de revistas e jornais de aeroportos do mundo inteiro estão restringindo o espaço aos livros de bolso, os populares best-sellers. É o que nos Estados Unidos chamam de “mass market books”, livros do mercado de massas. Curiosamente, a popularidade dessas brochuras baratas está em queda. Os livros de bolso barato deixaram de ser expostos – suprimindo, com isso, a eventual a possibilidade de comprar um livro ao acaso, um dos maiores deleites que um passageiro pode ter para matar o tédio das viagens. Hoje, as bancas de aeroporto, rodoviária e ferroviária americanas preferem os livros em capa dura de autores consagrados e as brochuras de prestígio, com autores vendáveis conhecidos. Não parece haver mais espaço para surgirem talentos nem mesmo na área dos best-sellers. Não existe mais a pausa para folhear um volume qualquer, ruim ou não.

Também não vale a pena chorar pelas lojas e locadoras de DVD, embora eu continue a lamentar seu extermínio. Provavelmente por culpa do meu sentimentalismo, ainda freqüento a locadora do meu bairro, para manter viva a chama da resistência. O que é cretino, já que eu sozinho não consigo segurar a integridade de minha locadora, que já terceirizou parte do espaço para um bar e uma loja de consertos de computadores. Eu raramente compro DVDs, mas agora é o caso, já que os espaços para o produto estão encolhendo nas poucas lojas que sobraram. No Brasil, já há vários serviços de aluguel de filmes pela televisão ou pelo computador. O Netflix – que inclui envio pelo correio de DVDs e downloads de filmes – acaba de chegar ao país.

Não pretendo condenar a evolução, mas apenas um aspecto do progresso que desconsidera o gosto e os hábitos dos consumidores. À medida que as compras no mundo online estão cada vez mais divertidas, o mundo offline – antigamente conhecido como mundo real – ficou mais triste. Pelo menos para quem gosta de livros, revistas, HQs, discos, DVDs e games. Não há o que fazer. Preciso me acostumar com cidades sem as lojas que eu adorava freqüentar, e me render à intangibilidade e à desvalorização dos produtos que gostava de tocar, escolher e arriscar. O comércio de massa aboliu o comprador distraído, expulsou o devaneio do mundo das compras em shopping centers e ruas. Tudo aquilo que fazia parte do mercado de massa tornou-se um nicho alternativo. Aos saudosistas, só resta mesmo freqüentar os seb os e lojas de artigos de segunda mão. O detalhe é que, nesses negócios, o material é exibido sem cuidado, amontoado e empoeirado. Quem consome artigos de cultura não terá mais acesso a produtos novos que possa testá-los antes de comprá-los. É a morte do experimento. É a morte da experiência física. Eu gostava de objetos, de coisas, não de algoritmos abstratos na internet. Por isso me considero vítima do assalto do suposto progresso. E o pior é que o criminoso não tem corpo.

Comprar pela internet é como sexo virtual: muita imaginação para nenhuma presença...

*Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV.

Texto publicado em 06/09/2011



"Em cada linha que escrevo trato sempre, com maior ou menor fortuna, de invocar os espíritos esquivos da poesia, e trato de deixar em cada palavra o testemunho de minha devoção pelas suas virtudes de adivinhação e pela sua permanente vitória sobre os surdos poderes da morte"

 (Gabriel García Márquez, discurso em 1982).

La candelaria de Juan Candelario



[



Todos los meses iba Juan Candelario al almacén de don Teodorito Valdepié, con toda la verdura de su finca:

-Aquí traigo, don Teodorito, una carguita pa que usté me la estime.

-La carga está chiquita, Juan. Parece que se te ha cansado la tierra.

-La seca ha sío grande, don Teodorito.

-Habrá que tener paciencia para cobrarte más adelante. Esta vez no puedo abonarte ni siquiera el interés del préstamo. Tú sigue trabajando que mientras yo viva, yo no dejo en la calle a ningún jíbaro¹ decente.

-Asina Dios se me lo aconseje.

Se pusieron a trabajar Juan Candelario y su jíbara como dos desesperados, sin hacerle dengues ni a la llovizna, ni al sol, ni al ortigal. Eran dos lomos de bestia curvados sobre el terreno, con esa fealdad terrosa que da la finca cuando no salva, con ese tremendo piojillo de la mala suerte que ha acabado con la salud, con la esperanza, con la alegría de nuestros terratenientes de la altura. Después de haber desbabado hasta el pepino angolo y de no haberse comido nada más que los rabos de las batatas jojotas, volvió al mes siguiente Juan Candelario al almacén de don Teodorito Valdepié, con todas las verduras de su finca:

-Aquí traigo, don Teodorito, otra carguita pa que usté me la estime.

-La carga está más chiquita aún, Juan. Parece que se te ha lavado la tierra.

-El chubasco ha sío grande, don Teodorito.

-Habrá que tener paciencia para cobrarte más adelante. Esta vez no puedo abonarte ni siquiera el interés sobre los intereses del préstamo. Tú sigue trabajando que mientras yo viva, yo no dejo en la calle a ningún jíbaro decente.

-Asina Dios se me lo aconseje.

Se pusieron a trabajar Juan Candelario y su jíbara como dos demonios, sin hacerle dengues ni a la fiebre, ni al tabardillo, ni al vértigo. Eran dos lomos de bestia curvados sobre el terreno, con el sometimiento brutal que da la finca cuando no salva, con esa voraz piojera de la desgracia que ha acabado con la pujanza, con la ilusión, con la moral de nuestros terratenientes de altura. Después de destallar hasta los rabos de las batatas jojotas y de no haberse comido nada más que el palmiche de los cerdos, volvió al mes siguiente Juan Candelario al almacén de don Teodorito Valdepié, con la última gota de verdura de su finca:

-Aquí traigo, don Teodorito, otra carguita pa que usté me la estime.

-La carga está más chiquita que nunca, Juan. Parece que se te ha salado la tierra.

-La hormiguilla ha sío grande, don Teodorito.

-Habrá que tener paciencia para cobrarte más adelante. Esta vez no puedo abonarte ni siquiera el interés sobre los intereses del interés del préstamo. Tú sigue trabajando que mientras yo viva, yo no dejo en la calle a ningún jíbaro decente.

-Asina Dios se me lo aconseje.

Cuando hubo entregado su última carga, Juan Candelario se sentó una noche, frente a su bohío, a seguirle la lucecita a un cucubano para ver si se le ocurría algo. La mujer, adivinando la desazón de su hombre, se le sentó al lado, por si acaso le daba a otro cucubano por volar cerca del primero. La jíbara de Juan Candelario era una hembra padecedora, con el corazón más bueno que una marifinga; sabía cuando el coraje de un hombre necesitaba de un sobo de mano encariñada. A Juan Candelario se le adormeció la pena bajo los dedos cuarteados de su jíbara:

-Ya esta finca no es de nojotros ná más que a medias. Semos casi agregaos, Juana.

-Tú eres el que mandas, Juan.

-Toas las cosas malas han venío juntas y don Teodorito lleva bien la cuenta, Juana.

-Haberá que entregal la finca, Juan.

Juan Candelario se arrugó como una hoja de tabaco oyendo la simple verdad que le había descubierto su jíbara. Para él entregar la finca era como caer en el limbo. El finquista había visto nacer sus pies en aquel barro cipey y tenía por la tierra ese oscuro cariño que sabe poner en su finca un terrateniente jíbaro. La finca había sido de su bisabuelo, la achicó su abuelo, la volvió a agrandar su padre y a Juan Candelario la pena le retorcía las tripas cuando pensaba que fuera él quien tuviera que entregarla.

Desde el momento en que entró en cuentas la refacción, Juan Candelario solo tuvo un pensamiento bravo: pagar aquella manita de ayuda que había estrangulado a tantos finquistas de Puerto Rico. La cogió porque le dio por sembrar unos palitos de café para aprovechar una sombra baldía que le había crecido en los barbechos. En el pueblo le hicieron un cuento fantástico de lo mucho que producía ese grano mártir, que era el pan de la montaña, del cual todo el mundo huía, porque al cañero le dio por decir que la flor del café atraía a los huracanes. Don Teodorito le prestó setenta y cinco pesos y al final del año, cuando aún estaban los palos niños, ya le debía a su prestamista más de cuatrocientos pesos, después de haberle entregado toda la verdura de su finca; ahora el jíbaro comprendía, dentro de su recelo de perdidoso, lo que era aquel pacto donde había que entregar los frutos sin que se pagara nunca el rédito, en una de esas tiendas mitad almacén, mitad pulpería, donde por unas telas y unas cuantas provisiones de boca, dejaba el jíbaro año tras año la sangre verde de sus entrañas.

¡Casi nada, se trataba nada menos que de don Teodorito Valdepié!, sanguijuela grasienta del interés triple sobre uno compuesto, cuyos calcetines se paraban solos cuando se descalzaba su ñame patricio. Aquel hombre pegado todo el día a un mondadientes, tenía una trágica matemática de pulpero. Su negocio consistía en no dejar nunca a ningún jíbaro decente en la calle mientras él estuviera vivo y tener a cada finquista agarrado por el pescuezo trabajando para él, sin pagar contribuciones ni peones.

Juan Candelario era el más avispado de los parientes de Juan Pateta y había visto demasiadas cosas en su vida para que lo engañara el mondadientes meloso de don Teodorito. Se sentía enfermo, con esa amarra en la cintura que padece el encorvado, con las manos tajeadas y el alma mugrienta. Su dilema era tan claro, que tenía la disyuntiva picándole en los ojos: o le pagaba a don Teodorito o este se llevaba la finca para su almacén. Bastaba que el pulpero le mandara los papeles de la corte, para que él tuviera que seguir andando con su jíbara, a vivir de las mañas. En estos momentos es cuando el pata de pon se le acerca a un jíbaro para hacerle su propuesta; se le apareció, de pronto, un compadre ambidiestro, que andaba con las posaderas puestas en tres tajarrias:

-¡Diache, Juan! ¿Qué te se acontece?

-Cosas de la finca que van mal. Haberá que entregal un día de estos.

-¿Debes mucho?

-Cuatrocientos y la quema.

-Pos sí que es un pleitito ese. Yo púe salval la mía pol unos deos que me dejé en el trabajo. Me dieron quinientos pesos pol ellos.

-¿Unos deos?

-Sí, mi amigo; un tajo de buena suelte. Me los colté con el mocho tumbando caña. Tié que pagal el gobierno.

-¡Pol la finca daba yo una mano!

-Me han dicho que pol ahí hay un colte aonde arreglan eso. Si te interesa, procura al crucificaol. Ese te salva.

Aquella noche la pasó Juan Candelario con desvelo de hamaca que es el peor desvelo del mundo. El recurso era un poco fuerte, pero el calcetín de don Teodorito era implacable. Por la mañana tenía los ojos hundidos pero una calma absoluta. A su jíbara le dijo:

-Voy a un colte pol aquí, a vel si me lío con unos pesos. Tú atiende la finca, Juana.

Cuando preguntó por el crucificador los cortadores bajaron el machete, como si le presentaran armas al intruso: se le acercó un gordiflón tostado, haciéndole un guiño de inteligencia:

-Teño un recao pa usté de un compai mío que a la ve es compai de usté.

-Venga el recao.

-Me jallo en un apuro y voy a peldel mi finca si no reúno cuatrocientos y pico de pesos. Lo que yo necesito es una ayúa de la comisión.

-Pa que le sobren cuatrocientos y pico limpios, haberá que pical tres dedos y una falange. Polque aquí cobro yo y los testigos.

-Usté me arregla eso.

-Si acaso vié usté a echalse pa atrás, más vale que no entre. Ya teña cuatro dándole tiempo a la coltá.

-Búsqueme usté trabajo que vengo mañana.

-Yo lo hablaré con el capatá pa que me lo apunte.

Juan Candelario empezó a cortar caña con tres dedos y una falange menos en la conciencia. Cada rato se secaba el sudor de la frente, un sudor nazareno, que le goteaba por última vez por entre cinco dedos. El crucificador lo rondaba continuamente, espiándole el ánimo, temeroso de que pudiera arrepentírsele su hombre, como otros picadores que allí estaban. Juan Candelario escuchaba a su alrededor el respingo irresoluto de los aspirantes; había algunos que bromeaban con su propio miedo:

-Adéjeme eso pa la semana que viene, ¡hom!, que me he descubielto que teño el deo bonito.

-Tiés que resolvel o dejal el trabajo. El crucificaol está peldiendo el aguante.

-Se lo contesto mañana.

Por las noches Juan Candelario no dormía palpándose los dedos de la mano comprometida. El pacto concertado con el crucificador le parecía una traición contra una pobre mano que había encallecido luchando por salvar la finca de su padre. Noche tras noche, por sus nervios agitados, pasaba toda la tragedia chica de la mutilación. La treta era macabra. No era cuestión de ir, estirar la mano y que le cortaran los dedos. Había que disimular, vivir con aquella angustia por unos cuantos días, para no tener obstáculos en la investigación.

Una mañana antes de partir, acarició a su jíbara por última vez con los dedos completos. La envejecida lo miró con su instinto de hembra padecedora, y le besó los dedos, como si hubiera adivinado el pacto:

-No se me apure si vengo talde. Teño que dil al pueblo, Juana.

-Dios te abendiga, Juan -contestó la envejecida involuntariamente. Juan Candelario se fue hasta el crucificador tan pronto llegó al corte:

-Me corre priesa el asuntito ese. Tié que sel esta talde.

-Esta talde será -contestó el feroz cirujano, asombrado a su pesar por la sangre brava del enclenque-. Afila bien el mocho, celca del cabo, que debe sel con tu mesmo filo.

Aquella tarde fue la crucifixión de los tres dedos y una falange de Juan Candelario. El hombre no pudo quejarse del trabajito. Le rodearon en el corte los testigos, le tendieron la mano sobre una piedra negra y el crucificador no dio nada más que un solo golpe. El dolor vino en ayuda del pequeño héroe y lo desmayó.

Del cañaveral lo recogieron el crucificador y los tres testigos para llevarlo a curar y jurar el informe. Cuando llegó hasta el practicante del poblacho, aún seguía sin conocimiento. Se le había desmoronado el coraje, no ante el dolor de la mano, sino ante la tramposería del espíritu. Era la primera canallada, una canallada impuesta por la miseria, después de haberse baldado la cintura, de haber desbotonado hasta las cepas machorras, de no haber comido otra cosa que no fuera el palmiche de los cerdos. El desmoronamiento lo libró de los horrores de nuestra cirugía industrial.

Juan Candelario volvió a su finca, más pálido que un lerén, con la mano vendada, buscando el amparo mimoso de su jíbara. La envejecida se pasó toda la noche con los vendajes encanallecidos apretados contra su corazón.

La cura fue monstruosa, el expediente largo, pero Juan Candelario obtuvo sus cuatrocientos y pico de pesos y fue al pueblo a buscar a don Teodorito:

-Aquí tié usté sus chavos, don Teodorito. Deme el recibo.

-¿Para qué necesitas tú recibo, malgenioso? Deja eso hasta el domingo que venga el tenedor de libros.

-Deme el recibo agora aquí, don Teodorito. Usté anda muy bien de salú y sería una lástima que le ocurriera un arsidente. Pagarle a usté me cuesta a mí tres déos y una mitá.

Don Teodorito Valdepié tenía una gran ilusión por seguir parando su calcetín por muchos años. Le entregó el saldo, olisqueando la tragedia de su refaccionado, con el mondadientes quieto por el miedo.

Desde aquel pago Juan Candelario fue un jíbaro enconado, que cada vez que podía robarle un atierro a su finca, se ponía a mirarse la mano mutilada con una extráviga fijeza. La jíbara se le sentaba al lado, a contarle cositas buenas a la mano herida de su Juan, para que su arrullo de hembra consolara a su hombre de aquel dolor muñoso. Algunas veces Juan Candelario se apretaba la boca, con una pena que no era de este mundo:

-Carijo, me duele esta mano como no me había dolío nunca, ni cuando la cura, Juana.

-Adéjame tentártela un poco, Juan.

-No, si el dolol no es asina de esos. Me duele como pué dolel una injustisia. Este dolol no tié cura ni consuelo güeno, Juana.

En estos momentos es cuando el pata de pon se le acerca a un jíbaro para hacerle su propuesta. Se le apareció, de pronto, un compadre ambidiestro, que andaba con las posaderas puestas en tres tajarrias:

-¡Diache, Juan! ¿Qué se te acontece?

-Cosas de esta mano que me duele como si se me estuviera prudriendo. Haberá que coltalse el brazo un día de estos.

-¿Duele mucho?

-Más que los cuatrocientos pesos y la quema.

-Pos sí que es un pleitito ese. A mí el dolol me lo quitó la candela.

-¿La candela?

-Sí, mi amigo, una candelita que le metí a un ranchón de enlatado de mi prestamista. Tié que pagarle agora él a to el mundo.

-¡Pol quitalme este dolol le pegaba yo fuego al pueblo entero!

-Me han dicho que pol ahí vamos a tenel mucha candela ahoritita. Si tiés interés, arrecuelda que esta noche es noche de candelaria. Esta noche la que salva es la candela.

Como si estuvieran pendientes de una palabra diabólica, empezaron a arder los barbechos y los resquebrajos de la lejanía. ¡Grande fiesta de la candela la Candelaria de Puerto Rico! Fiesta que prende en barrancales y barranquillas, donde no crecen más frutos ni más flores, que los amargos frutos y flores de la aguantatúa; noche donde la candela se come a pedazos a la mala suerte, para que descanse la cintura baldada de nuestro finquista; júbilo religioso cerca de fogatas y humaredas, donde un jíbaro decente se descuelga de los hombros los murciélagos de la desgracia. Juan Candelario se puso de pie, dinamizado por la vieja caricia de la candela.

Era la primera vez que en la finca de Juan Candelario no se habían encendido a tiempo los tizones alegres de la candelaria. ¡Cuando mozo encendía su hoguerita porque le iba bien al hombre!

-¡A Juancho Candelario le va bien la candela de la candelaria! -más tarde, para guardarle el recuerdo a su mai, que año tras año se ahumaba los ojos con el chorrito de la candela, para darle gusto a su hijo y apagar siempre las brasas con la misma guasita-: ¡A Juancho Candelario le va bien la candela de la candelaria! -por el resto de los años, como una espantada grande que le puede dar un jíbaro decente a los murciélagos de la desgracia. La jíbara de Juan Candelario se tiró a reunir una bruca, entre la hojarasca de la finca, para que no muriera también aquella otra parte de su hombre, un hombre que ya había empezado a morir por tres dedos y una mitad, a quien el rencor de una injusticia estaba pudriendo poco a poco.

Como un niño embelesado Juan Candelario se sentó junto a su jíbara a escuchar los crujidos de las ramas estallantes. La candela se le iba metiendo poco a poco por los ojos, removiendo sus fibras de mozo, calentándole el coraje desmoronado, sintiendo que los dedos de la mano le estaban naciendo de nuevo, para empuñar un pensamiento. Estuvo encuclillado junto a su jíbara hasta que se apagó el último tizón de su candelaria. Ella lo vio levantarse más feliz que nunca:

-Muchas grasias pol habelme salvao unos recueldos que yo quieo mucho, el de mí cuando moso, el de mí mai, Juana.

-A Juancho Candelario le va bien la candela de la candelaria, Juan.

-Deme usté un besito pol si acaso se me acontece algo esta noche. ¡Lo que es la candela! Jasta hoy no se me había ocurrío. Ande, deme el besito que teño que dilme, Juana.

La jíbara tembló un momentito pero no le dijo nada. Le dio el beso a su hombre, lo acompañó hasta los espeques y le dijo involuntariamente:

-Dios te abendiga, Juan.

Juan Candelario tiene el pecho lleno de candela, de la candela alegre y chismosa de su mocedad, candela de candelaria, llama que achispa al jíbaro, como si alguien le descolgara de los hombros los murciélagos de la desgracia. Por el camino, platicaban con él cuatrocientas hogueras de jíbaros candelistas:

-¡Ahí va Juan Candelario con el pecho lleno de candela!

-¡A Juancho Candelario le va bien la candela de la candelaria!

-¡Corre a tu asunto, Juan Candelario, que esta noche la que salva es la candela!

Llegó al pueblo en tres trancos, con todos los fósforos de su cajeta saltando de minúsculo goce; en el pueblo le saludaron las ingenuas candelillas de los títeres, que encendían sus pequeñas bracerías en los solares aislados:

-¡Aquí está Juan Candelario con el pecho lleno de candela!

-¡A Juancho Candelario le va bien la candela de la candelaria!

-¡Corre a tu asunto, Juan Candelario, que esta noche lo que salva es la candela!

Juan Candelario se metió en el patio de don Teodorito Valdepié, con los dedos llenos de una misteriosa comezón, y se puso a reunir una brusca entre la basura de la trastienda. ¡Juy, qué alegría la de aquella mano cuando encendió la punta de un saco, y el saco humeó el serrín, y el serrín al cajón, y el cajón al trasto, y el trasto a la ristra, y la ristra al gas, y el gas al calcetín, y el calcetín al pulpero, y el pulpero a la libreta del interés triple sobre un compuesto.

Juan Candelario se escurrió hasta la acera del frente para contemplar, con su muñón en alto, la más grande candelaria que jamás se hubiera encendido en aquel beatífico pueblo. Lo menos que hubiera podido sospechar la policía era que aquel jíbaro bobón, que contemplaba la candela con la cara risueña de un niño encandilado, fuera el autor de un incendio malicioso.

El pueblo entero creyó que el fuego del almacén había sido otra jaibería² de don Teodorito Valdepié para cobrar de sus pólizas. Cuando la aseguradora se decidió a remover los escombros, buscando eximentes para su pleito, se encontró con un esqueletito meloso, que dormía como un bendito, anestesiado aún por la fragancia bruta y sucia de un calcetín de pulpero.

FIN

Cuentos para fomentar el turismo, 1946


 Emilio S. Belaval_________PortoRico

1. Jíbaro: perteneciente o relativo al campesino de ascendencia española, generalmente en las regiones montañosas de Puerto Rico.
2. Jaibería: astucia.


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