sábado, 16 de agosto de 2014

Terrível é o pensar./ Eu penso tanto / E me canso tanto com meu pensamento / Que às vezes penso em não pensar jamais./ Mas isto requer ser bem pensado / Pois se penso demais / Acabo despensando tudo que pensava antes / E se não penso / Fico pensando nisso o tempo todo./

 Millôr Fernandes
" A família é o conjunto de pessoas que descendem de um antepassado comum. O antepassado é o sinal de uma realidade profunda: o sangue, isto é, «chama da vida». A finalidade da família é a procriação, ou seja, a transmissão de energia vital através do sacrifico, a manutenção da vida essencial do antepassado. A família aparece como um microcosmo, a célula primária da sociedade, da qual as outras estruturas-povoação, tribo, reino, império-derivam. A família é uma comunidade (democrática) cujo o chefe, que é também sacerdote e juiz, atua como delegado do conselho de família. Na povoação, na tribo, no império são caracteres de uma teocracia democrática."

Senghor (1977)
“A filosofia já não tem razão de ser e, por isso, o homem moderno, se fosse corajoso e honesto, deveria rejeitá-la e bani-la com palavras semelhantes àquelas com que Platão expulsou os poetas trágicos do seu Estado. Ela poderia, sem dúvida, replicar, como também os poetas trágicos retorquiram a Platão. Se fosse obrigada a falar, poderia, por exemplo, dizer: "Pobre povo! Será por minha culpa que eu vagueio no teu solo como uma profetiza e que tenho de me esconder e de me disfarçar, como se fosse uma pecadora e vós os meus juízes? Olhai a minha irmã, a arte: acontece-lhe como a mim, refugiamo-nos junto dos Bárbaros e já não sabemos salvar-nos. Aqui, é verdade, já não temos nenhuma boa razão de ser: mas os juízes, perante os quais encontramos razão, também vos julgam e hão de vos dizer: "Tende primeiro uma civilização; depois, aprendereis o que a filosofia quer e pode".
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Friedrich Nietzsche

Germinal

"O sol surgia no horizonte glorioso, era um despertar de regozijo por tôda a extensão do campo. Uma vaga de ouro rolava do oriente ao ocidente, sôbre a imensa planície. Êsse calor de vida avançava, estendia-se num estremecer de juventude, e nêle vibravam os suspiros da terra, o canto dos pássaros, todos os murmúrios das águas e dos bosques. Era bom estar vivo, o velho mundo queria viver mais uma primavera."
- Émile Zola, em "Germinal". 
[tradução Francisco Bittencourt]. Rio de Janeiro: Editorial Bruguera, 1969, p. 606.
http://www.elfikurten.com.br/2014/08/emile-zola.html
Depois de décadas de políticas públicas voltadas para o crescimento econômico, o mundo deveria estar mais igualitário. Mas, ao contrário, persistem enormes disparidades entre países industrializados e em desenvolvimento. Das razões subjacentes a tal desequilíbrio trata “A corrida pelo crescimento: países em desenvolvimento na economia mundial”.

Em linguagem concisa e acessível a quem se interesse por economia, ciências sociais e relações internacionais, o renomado economista indiano Deepak Nayyar analisa de um prisma interdisciplinar esse conjunto de países desde o início do segundo milênio, quando todos estavam mais ou menos em idêntico patamar.

Nos séculos XVII e XVIII eram China e Índia os líderes da economia mundial, mas já no XIX a Revolução Industrial e o colonialismo forjaram uma grande divergência entre o Ocidente e o restante do planeta. No rastro da reconstrução do após-guerra, o quadro tendeu a se inverter, originando uma convergência de 1950 a 2010. Estávamos no caminho certo? Nayyar tem dúvidas, pois a convergência foi modesta. Só catorze países subdesenvolvidos lograram o salto qualitativo para o emparelhamento — o “catch up”, como dizem os economistas — com os mais ricos. E nem sempre o crescimento se traduziu em desenvolvimento.
Celso Furtado, em seus trabalhos teóricos seminais, insistia em que o crescimento só se torna verdadeiro desenvolvimento quando atende as múltiplas dimensões e aspirações do ser humano. Se longe disso está o pelotão de frente dos países em desenvolvimento, que dizer dos que formam o resto do resto? É premente repensar, junto com o autor, o desenvolvimento em novas bases.
O grande, mas não único, mérito do livro de Deepak Nayyar é fincar-se, muito além da economia, em pilares históricos e culturais para escrutar o passado e incorporar a imprescindível dimensão política para prospectar o futuro visando uma convergência inclusiva.

Rosa Freire d’Aguiar

Deepak Nayyar é professor emérito da Universidade Jawaharlal Nehru, de Nova Delhi. Lecionou em Oxford, onde se doutorou, em Sussex, e na New School for Social Research, de Nova York. Integrou os quadros do World Institute for Development Economics Research em Helsinque, do South Centre, em Genebra, do Social Science Research Council, e ocupou funções de governo na Índia. É autor, entre outros, de Trade and Globalization (2008) e Liberalization and Development (2008). “A corrida pelo crescimento” é seu primeiro livro publicado no Brasil.

Estado Islâmico do Iraque e do Levante

"O assim chamado "Estado Islâmico do Iraque e do Levante" (ISIS, na sigla em inglês) é um grupo terrorista formado por fundamentalistas islâmicos recrutados em diversos países, como o Paquistão, Chechênia, Líbia, Arábia Saudita e até Estados Unidos e Europa Ocidental. Desde o início, foram financiados, armados e apoiados pelos EUA, Israel e petromonarquias do Golfo Pérsico. Seu objetivo é implantar um "califado" salafista (versão deturpada do Islã praticada na Arábia Saudita) em regiões ocupadas do Iraque e da Síria, expulsando ou assassinando populações cristãs, curdas, xiitas ou sunitas de outros ramos do Islã. Enquanto foi interessante para os EUA, eles apoiaram esses terroristas; agora que eles saíram de seu controle, a Casa Branca mudou de aliado e passou a apoiar os curdos contra o ISIS, mas mantendo o seu mesmo objetivo estratégico: a divisão do Iraque em vários estados -- um curdo, um sunita e outro xiita -- para enfraquecer o país árabe e facilitar o domínio imperialista na região. A mesma estratégia seria implantada na Síria, onde, felizmente, Bashar Al-Assad está vencendo a guerra e expulsando esses criminosos do heroico país árabe. Mais informações a respeito no excelente livro "A segunda guerra fria", do professor Moniz Bandeira."
 ( Claudio Daniel)