terça-feira, 18 de setembro de 2012

“Se o poeta falar num gato, numa flor,
num vento que anda por descampados e desvios
e nunca chegou à cidade…
se falar numa esquina mal e mal iluminada…
numa antiga sacada… num jogo de dominó…
se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo que morriam de verdade…
se falar na mão decepada no meio de uma escada
de caracol…
...Se não falar em nada
e disser simplesmente tralalá… Que importa?
Todos os poemas são de amor!”


Mario Quintana:

Ninguém Perde Sempre

tive um tio chamado Sol
que era um fracasso completo e
quase todo mundo comentava que ele deveria
ter partido para o vaudeville talvez pois meu Tio Sol podia
cantar McCann He Was A Diver na noite de natal como o Diabo o
que pode ou não explicar o fato de meu Tio

Sol haver se metido na possivelmente mais imperdoável
de todas para usar uma frase pomposa
extravagâncias que é ou para aprender
a fazer criações e cultivos e seja
desnecessariamente acrescentado

a fazenda de meu Tio Sol
fracassou porque as galinhas
comeram as verduras então
meu Tio Sol teve uma
fazenda de galinhas até que
os gambás comessem as galinhas quando

meu Tio Sol
teve uma fazenda de gambás mas
os gambás pegaram gripe e
morreram então
meu Tio Sol imitou os
gambás de uma sutil maneira

ou porque se afogou na cisterna
mas alguém que havia dado ao meu Tio Sol uma Vitrola
Victor e discos enquanto ele era vivo deu-lhe de presente
à auspiciosa ocasião de seu falecimento um
delicioso para não dizer esplêndido funeral com
meninos grandes de luvas negras e flores e tudo mais e

eu lembro que todos choramos como o Missouri
quando o caixão de meu Tio Sol súbito se moveu pois
alguém apertou um botão
(e para baixo se foi
meu tio
Sol

e começou uma fazenda de vermes)

by e.e. cummings/ tradução Rodrigo Madeira