terça-feira, 19 de março de 2013



"Contra o mundo de grosseria que a cercava, não tinha efetivamente senão uma arma: os livros que pedia emprestados na biblioteca municipal; sobre tudo os romances: lia-os em quantidade, de Fielding a Thomas Mann. Eles não só lhe ofereciam a possibilidade de uma evasão imaginária, arrancando-a de uma vida que não lhe trazia nenhuma satisfação, mas tinham também para ela um significado como objetos: gostava de passear na rua com um livro debaixo do braço. Eram para ela aquilo que uma elegante bengala era para um dândi do século passado. Eles a distinguiam dos outros.(…)"

- Milan Kundera, em "A Insustentável Leveza do Ser".

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redes sociais



"O segredo do sucesso dos sites de redes sociais não é o anonimato, mas a auto-apresentação de uma pessoa real conectada com pessoas reais. As pessoas constroem redes para estar com outras pessoas com quem elas querem estar, incluindo aí as pessoas que elas já conhecem ou aquelas que elas gostariam de conhecer. Castells (2012) trata, assim, da constituição de uma sociedade em rede auto-construída baseada em conectividade perpétua. Não é uma sociedade puramente virtual, pois existe uma estreita ligação entre as redes virtuais e as demais redes da vida em geral. O mundo real passa a ser um mundo híbrido, e não um mundo virtual ou segregado, que pode separar interações on-line e off-line. É nesse mundo que os movimentos em rede surgem, mais especificamente em processos de transição pelos quais muitos indivíduos passam do compartilhar sua sociabilidade para compartilhar sua indignação, esperança e luta."

  sociólogo Marcelo Castañeda


"É que o prazer e o sofrimento não passam de um contraste; em luta perpétua e continua, eles se acrisolam um no outro, e se deparam: não há homem verdadeiramente feliz senão aquele que já conheceu a desgraça."

- José de Alencar, In: "O Guarani".

1984: Tratado para devolver Hong Kong




No dia 19 de dezembro de 1984, depois de longas negociações, os primeiros-ministros da China, Zhao Ziyang, e do Reino Unido, Margaret Thatcher, chegaram a um acordo sobre a devolução de Hong Kong.

          Autoria Shi Ming (rw)
Os chineses nunca haviam demonstrado pressa. Apenas aguardaram, com paciência, o tempo passar. Eles pareciam sempre saber, ao longo de 156 anos, que Hong Kong era e continuaria sendo território chinês. Os chineses nunca esqueceram a humilhação por que passaram quando, em consequência da primeira Guerra do Ópio, em 1842, o imperador chinês foi obrigado a assinar o acordo que transferia Hong Kong "para sempre" ao domínio da Rainha Vitória no além-mar.

Naquela época, entretanto, o território não tinha a menor semelhança com o que é hoje. O então ministro britânico do Exterior, Lord Palmerstone, chegou a conceituá-lo como ilha infértil com poucas casas. Em 1860, a Inglaterra ditou à China a renúncia da região de Kowloon. E, em 1898, Londres assegurou ainda os New Territories, uma região agrícola em volta de Hong Kong, para garantir o abastecimento da colônia.

O acordo de "arrendamento" imposto pelo Reino Unido previa a devolução de Hong Kong em 99 anos (ou seja, 1997). Londres, entretanto, jamais pagou um centavo à China. Os próprios comunistas pareceram aceitar que seu antigo território se tornasse um centro do consumo e do capitalismo. Desde que os britânicos mantivessem a paz e a ordem, sem despertar na população local interesses democráticos, o sistema capitalista de Hong Hong era aceito pela China como a galinha dos ovos de ouro.

O Tratado de Devolução

Não houve reações revolucionárias nem quando a Revolução Cultural começou a repercutir na colônia britânica, em 1967. O temido "telefonema de Pequim", como era descrita – não só teoricamente – a possibilidade de Pequim intervir a qualquer momento, terminou nunca acontecendo.

A história tomou novos rumos em setembro de 1982, durante a visita da primeira-ministra Margaret Thatcher a Pequim. A "Dama de Ferro" encontrou em Deng Xiaoping um interlocutor à altura, em termos de determinação. Ele rejeitou seus argumentos de direitos de soberania, responsabilidade moral, tratados, liberdade...

Thatcher voltou para casa irritada, até mesmo deprimida, segundo palavras próprias. Dois anos mais tarde, retornou à China para assinar o Tratado de Devolução, elaborado por peritos de ambos os lados. Em 19 de dezembro de 1984, então, era selado o destino de Hong Kong, que retornaria à soberania chinesa em 1º de julho de 1997.

A Grã-Bretanha, "mãe" da democracia, havia fracassado: era obrigada a entregar o filé do capitalismo ao sistema comunista. Os 6,3 milhões de habitantes de Hong Kong não haviam sido questionados sobre suas preferências. Uma pequena vitória de Londres e faísca de esperança é o grau de autonomia concedido por Pequim à ex-colônia britânica. O sistema econômico e o nível de vida serão mantidos por 50 anos a partir da data da devolução e a parte administrativa foi deixada a cargo da própria Hong Kong.

Não só a devolução de uma colônia era um fato inédito na história. Também o conceito de um território de dois sistemas, com políticas econômica e social ao mesmo tempo capitalistas e comunistas, num mesmo país.

1839: China proíbe importação de ópio




Entre 1811 e 1821, o volume anual de importação de ópio na China girava em torno de 4,5 mil pacotes de 15 quilos cada (67,5 toneladas). Esta quantidade quadruplicou até 1835 e, quatro anos mais tarde, chegou a ponto de o país importar 450 toneladas, ou seja, um grama para cada um dos 450 milhões de habitantes da China na época.
A Companhia Britânica das Índias Orientais mantinha intenso comércio com os chineses, comprando chá e vendendo o ópio trazido da Índia. A droga chegou a representar a metade das exportações britânicas para a China. O primeiro decreto proibindo o consumo de ópio datou de 1800, mas nunca chegou a ser respeitado.
Em 1839, a droga ameaçava seriamente não só as finanças do país, como também a saúde dos soldados. A corrupção grassava. Em 18 de março, o imperador lançou um novo decreto, com um forte apelo à população.
Advertência imperial
Papoula fornece a matéria prima para o ópio
Através de um panfleto, o governo advertiu sobre o consumo de ópio. As firmas estrangeiras foram cercadas pelos militares, que em poucos dias apreenderam e queimaram mais de 20 mil caixas da droga na cidade de Cantão.
Principal atingido pela proibição, o Reino Unido decretou guerra contra a China no dia 3 de novembro de 1839. Nesta primeira Guerra do Ópio, em 1840, a Inglaterra enviou uma frota militar à Ásia e ocupou Xangai.
As previsões se confirmaram e os soldados, corroídos pela dependência, estavam incapacitados de defender a China. Restou o apelo aos camponeses. O imperador os incitou a atacar os invasores com enxadas e lanças. A única vantagem dos chineses contra os bem-armados britânicos era a superioridade numérica. Mesmo assim, perderam a guerra.
Derrotada, a China assinou o Tratado de Nanquim, em 1842, pelo qual foi forçada a abrir cinco portos para o comércio e ceder Hong Kong aos britânicos (a colônia só foi devolvida à administração chinesa em 1997). A paz, no entanto, não foi duradoura. A segunda Guerra do Ópio começaria em 1856.