quarta-feira, 7 de novembro de 2012



Dona Maria,

quero que a mãe seja a primeira a saber: decidi investir no Brasil. Acredito na viabilidade deste país.
Vou ter um filho.
Meu filho será 100% nacional, meu filho gerará recursos para equilibrar a balança externa, meu filho incentivará o consumo interno e criará empregos diretos e indiretos. Que mais?... Olha, mãe (vó!), precisaria de um economista para mostrar as vantagens imensas que
o meu filho trará para o Brasil. Sem falar no crescimento do nosso parque de mão-de-obra barata, tenho como certa a sua integração nas nossas Forças Armadas ao completar os 18 anos.
Mas não comemore ainda.
Ainda estou aguradando o sinal verde do Ministério do Planejamento. Espero que eles aprovem minhas condições para investir um filho meu no Brasil. Quero isenções.
Quero isenção do Imposto de Importação, isenção do ICM e energia elétrica subsidiada. Isto na fase de gravidez. Depois, quando ele nascer, quero perdão do Imposto de REnda por dez anos (prorrogáveis por mais trinta), 300 mil alqueires da Amazônia pro meu filho correr, brincar etc...
Quero muito? Tô agora achando que o BRasil é uma gigantesca teta, uma imensa Mãe Joana?
Uai! Só quero o que a Alcoa-Shell ganhou do Ministério do Planejamento para investir em Carajás! E dou vantagens: com os dez anos de perdão do Imposto de REnda que deram pra Alcoa-Shell, eu prometo trigêmeos!
Vale o que está escrito.
A bênção da sua opção civil.

[Henfil - Diretas Já! Editora Record, 1984]

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