terça-feira, 28 de junho de 2011

Tua mão em mim

Você me acorda no meio da noite

e eu que navegava tão distante

cravada a proa em espumas

desfraldados os sonhos

afloro de repente entre as paradas ondas dos lençóis

a boca ainda salgada mas já amarga

molhada a crina

encharcados os pêlos

na maresia que do meu corpo escorre.

Cravam-se ao fundo os dedos do desejo.

A correnteza arrasta.

Só quando o primeiro sopro escapar

entre os lábios da manhã

levantarei âncora.

Mas será tarde demais.

O sol nascente terá trancado o porto

e estarei prisioneira da vigília.

Marina Colasanti,

Gargantas abertas, Editora Rocco, 1998 – Rio de Janeiro, Brasil

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