Hoje desaprendo o que tinha aprendido até hoje...
Hoje desaprendo o que tinha aprendido até hoje
e que amanhã recomeçarei a aprender.
Todos os dias desfaleço e desfaço-me em cinza efêmera:
todos os dias reconstruo minhas edificações, em sonho
eternas.
Esta frágil escola que somos, levanto-a com
paciência
dos alicerces às torres, sabendo que é trabalho sem
termo.
E do alto avisto os que folgam e assaltam, donos de
riso e pedras.
Cada um de nós tem sua verdade, pela qual deve
morrer.
De um lugar que não se alcança, e que é, no
entanto, claro,
minha verdade, sem troca, sem equivalência nem
desengano
permanece constante, obrigatória, livre:
enquanto aprendo, desaprendo e torno a reaprender.
- Cecília Meireles, do livro "Cecília de
bolso" [org. Fabrício Carpinejar], Porto Alegre/RS: L&PM, 2010.
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