Considerando as muitas variáveis possíveis, entendo que
entre duas pessoas que estiverem com risco de morte iminente, salva-se primeiro
aquela que tem mais chances de sobreviver. Se uma estiver em estado
"grave" e a outra "leve", salva-se primeiro a grave.
Penso que o profissional da saúde deve julgar suas escolhas
por esses critérios ou outros mais adequados, que um leigo como eu desconhece.
A resposta à pergunta da Fátima Bernardes ("salva-se antes o traficante em
estado grave ou o policial levemente ferido?"), me parece mais que óbvia:
salva-se antes o traficante.
Mas não parece racional para aqueles que atacaram com fúria
a apresentadora, como se ela estivesse defendendo "bandidos". Aliás,
os tais "bandidos" se tornaram uma categoria discursiva interessante
no pensamento binário: universais e homogêneos, são seres maus e que precisam
ser exterminados sumariamente.
A polêmica, portanto, não foi dar ou não a preferência ao
atendimento do policial, mas de se negligenciar ou não o atendimento ao
"bandido". Uma parcela da população deseja que o médico julgue seus
pacientes e, se for o caso, autorizam que ele execute, a seu critério, a pena
de morte. Assim, a pergunta em questão seria se o traficante pobre (ou que
assim o for pelo julgamento do médico), que vende a cocaína para as festas dos
ricos, deveria ou não ser salvo quando toma um tiro do policial.
Ou melhor, sem tergiversar, o que se pretende por essas
pessoas é permitir que os policiais possam entrar em uma favela e eliminar quem
quer que seja, em nome do extermínio da "bandidagem", quando os
verdadeiros bandidos estão justamente entre aquelas "pessoas de bem"
que invariavelmente pregam a chacina dos pobres.
André Castelo Branco Machado
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