quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O que me aconteceu nas minhas férias

(Para Elias Fawcett, 1978-1996)

“Fomos dar as úldimas braçadas: o Blapo bringou gom o seu dubarão insuflável e levava os «bracinhos» insufláveis bosdos. E quando xegou a aldura de nos fazermos à esdrada, o Baplo regusou-se a deixar figar o beixinho. Disse que queria levá-lo bara gasa e insdalá-lo num sago, no seu quardo… o beixinho ia ser o animal dele – em vez de um gão ou um gado!
No garro, eu disse:
- Bem, Baplo, esse garapau há-de dar um rigo ambiendador bara o deu quardo.
- Borquê? – berguntou ele.
- Borquê? Borque não darda gomeça a xeirar a beixe mordo.
- Não me imbordo.
- Borque não?
- Besundo-o gom greme.
- Ai sim? Que esbécie de greme, Baplo?
- Greme bara beixes.
Dodos soldámos uma boa gargalhada ao ouvir isdo. E eu disse:
- E os rados, Baplo? Se abarece um rado de noide?
- Não me imbordo.
- Borque não?
- Borque gausa do greme de beixe.
Mais gargalhadas.
- Borque é que não voldas ao Dead Man`s Landing, Baplo, e vais busgar o garankejo mordo? Era um bom gombanheiro bara o teu beixe.
Mas o meu bai disse que o Baplo já dinha o brado xeio, brimeiro o beixe, debois o rado.
Quando xegámos a gasa dele, o Baplo abresendou a mãe ao seu novo animal.
- Esde é o meu beixe. É bradeado. É bequeno. Esdá mordo. Veio do mar. Mora nesde sago.
Gomo se esdar mordo fosse só mais uma goisa de beixe, mais um dos seus adribudos. A mãe do Baplo figou dudo menos endusiasmada. Mas quando delefonámos na manhã seguinde, bara saber novidades, o Baplo disse que o seu beixe esdava ódimo. (…)

Era evidende que o Baplo ainda não gombreendia o que é a morde.
Mas quem gombreende?
A morde esdeve muito na minha gabeça no cerão; muido na minha gabeça. Bor causa do Iliaz. O Iliaz morreu, na Cidade de Londres. E bor isso a morde andou muido na minha gabeça.
O meu papá disse que no brincíbio do verão o Iliaz foi a gasa. Foi a gasa busgar o gasago, mas o esdava no garro do meu babá e o garro esdava noudro sídio a arranjar a baderia, edc., edc. díbigo do Iliaz, andar bela cidade adrás de um gasago. (…)

Foi a gaminho do aerobordo que surgiu o dema Iliaz: o dema da morde. O meu babá disse:
- Sendes-de diferende quanto a isso? Quando à morde?
Eu disse:
- Agora já gombreendo que as bessoas morrem.
O Jagob indromedeu-se e disse:
- Eu há anos que bercebi isso.
- Não seu idioda. – Disse eu. – Eu bercebia. Mas só agora é que gombreendi.
E o Jagob gongordou. Dambém ele dinha gombreendido.
Andes, eu sabia que os garankejos morrem e que os beixes morrem. Sabia que os velhos, gom dodas as suas dores emazelas, bodiam der razões bara se sentirem grados ande a bersbecdiva do fim. E glaro que, em dodo o mundo, um crante número de bessoas dem desadres, bassa fome, sangra, arde, leva bauladas, murros, fagadas, e gaem, gaem em crante número, em dodo o mundo. Mas a morde nunga dinha esdado dão berdo, onde não devia esdar. O Baplo, O Jagob, o Iliaz. Somos a juvendude. Não somos? (…)

As férias vieram e foram-se. As férias acabaram.
Adeus a tudo.
E foi isto o que aconteceu nas minhas férias.

New Yorker, 1997.”

AMIS, Martin (trad. Telma Costa), “Água Pesada”, Lisboa, Editorial Teorema Lda., 1998, p.p. 225-230.

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