10 DE MARÇO
Forte tornado durante todo o fim da noite. Torrentes de
água, que pela manhã tornam-se escarros. Eu me acostumo à vila, encontro até
algum atrativo em arrumar um armário embutido, que me permite não deixar nada
largado. Sempre amei a ordem. Esta, de resto, é uma daz razões por que me
agrada o que se convencionou chamar "selvageria". Penso nas panóplias
tão corretas dos Somba; nos belos celeiros dos Kirdi de Mora, rodeados por uma
cerca; nas cabanas tão lustrosas dos Mundang. Admirável nitidez das pessoas
nuas. Absoluta correção de porte, perto do qual tudo que está vestido parece
troca-tintas ou vagabundo. Que bagunça horrível, nossas civilizações.
"Híbrido de etnografia e literatura, A África fantasma
ficou mesmo conhecido por seu tom marcadamente confessional. Entre 1931 e 1933,
ao exercer a função de "secretário-arquivista" da Missão Etnográfica
e Linguística de Dacar a Djibuti que atravessou a África do Atlântico ao Mar
Vermelho, Michel Leiris [1901-1990] registrou diariamente o cotidiano de uma
equipe interdisciplinar liderada pelo antropólogo Marcel Griaule. Entraves
diplomáticos, rituais funerários, furtos de objetos sagrados, sacrifícios,
sonhos, erotismo e até o esboço de uma ficção fazem parte deste livro
monumental, ponto de inflexão na obra de Leiris rumo a uma prosa
autobiográfica". [da contracapa do livro]
Michel Leiris – A África fantasma [excerto]
fonte : Sandro Brincher
Uma daquelas leituras que valem cada uma das 688 páginas. Lançado no Brasil pela Cosac Naify em 2007 com Tradução de André Pinto Pacheco e introdução de Fernanda Arêas Peixoto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário