Foi-se o tempo em que a disputa se resumia ao clássico Ser x
Ter. Dizem que ninguém mais dá a mínima para o que é, só para o que tem.
Exagero. As pessoas ainda se preocupam com o que são. O problema é que não
gostam do que são. Gostariam de ser outra coisa. E aí entra o verbo que está no
topo das paradas hoje em dia: parecer.
Tem gente que quer parecer rica, e adota um padrão de vida
que não condiz com a sua realidade. Pra manter a fachada de bem-nascida, acaba
colecionando dívidas e queimando seu nome na praça. Nos eventos sociais, pode
até ser a mais fotografada, mas para os comerciantes é bola preta na certa. A
rica mais sem crédito das colunas.
Tem aqueles que querem parecer mais bem relacionados do que
são, e se enturmam, forçam intimidade e grudam feito chiclete em pessoas que
mal conhecem, só para descolar um convite para uma festa, um show, uma estreia,
qualquer lugar que projete.
Os que querem parecer mais cultos do que são, você sabe, são
aqueles que nunca foram além do prólogo do livro e é o que basta para olharem a
ralé de cima para baixo, como se fossem portadores da sabedoria universal.
Há os que querem parecer mais jovens do que são: bom, quem
não gostaria? É uma dádiva parecer ter cinco anos menos, sem esforço. A
genética é mais generosa com uns do que com outros. Há muito tempo que eu não
tento mais adivinhar a idade de ninguém: sempre erro, já que todo mundo parece
ter bem menos. Mas se você tem 56 e parece ter 56, não é caso para enfiar a
cabeça dentro do forno.
Os casos mais patéticos, no entanto, são os daquelas pessoas
que querem parecer mais felizes do que são. O recurso adotado: mentem.
O casamento delas está uma lua de mel, os filhos só dão
alegrias, são muito requisitadas no trabalho, os amigos não param de telefonar,
a vida tem sido um passeio num campo florido, e fica sem explicação aquele
olhar melancólico, o sorriso forçado, a exaustão de ter que passar o falso
entusiasmo adiante, como se não tivéssemos condições de perceber seu verdadeiro
estado de ânimo, que é coisa que se transmite sem palavras. Ver alguém se
esforçando para parecer feliz é das situações mais constrangedoras que se pode
testemunhar.
Está triste? Esteja! Não é rico, nem jovem, nem belo? Nem
por isso ficará sozinho. Pessoas não se apaixonam por estereótipos, mas pela
singularidade de cada um, pela capacidade de ser surpreendido, pela sedução que
o inusitado provoca. Uma pessoa que se preocupa em “parecer” já está derrotada
no primeiro minuto de jogo.
Dá valor demais à opinião dos outros, não age conforme a
própria vontade, não se assume do jeito que é, inventa personagens para si
mesmo e acaba se perdendo justamente deste “si mesmo”, que fica órfão. Quer
parecer mais inteligente? Comece admitindo que não sabe nada sobre nada e toque
aqui: ninguém sabe.
MARTHA MEDEIROS - 21 Sep 2011
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