Confissão. Meu
primeiro voto foi para o Jânio Quadros. Não espalhe. Parafraseando o samba
antigo: se eu soubesse, naquele tempo, o que sei agora, eu não seria este ser
que tenta se explicar e explicar as anomalias da política brasileira. Que me
lembre, estava-se votando contra a corrupção do governo Kubitschek, que Jânio
varreria. Mas Jânio não era só o anti-JK. Seu sucesso se devia em grande parte
à sua personalidade diferente, justamente ao fato de ser uma anomalia. Como
aconteceria anos depois com o Collor, um Jânio Quadros sem a caspa, a suspeita
de que fosse meio louco era uma credencial. O Brasil precisava de um presidente não-convencional
para fazer o que os convencionais não faziam. Mas Jânio foi anômalo demais.
Não sei se votei na figura excêntrica ou na sua promessa de
limpar a sujeira de Brasília. A sujeira, vista desta distância no tempo, não
parece tanta assim, a ponto de justificar o Jânio. Não demorou para a História
– ou a falta de memória – absolver JK, que hoje é homenageado como um
presidente exemplar, e foi até citado como tal no discurso de posse do Fernando
Henrique. Mas na época foi a corrupção do seu governo que levou muitos
eleitores – inclusive estreantes como eu – a votar na vassoura. Mais intrigante
do que o breve governo do Jânio e o entusiasmo da maioria do eleitorado de
então pelas suas esquisitices, que já prefiguravam o que viria depois, foi essa
absolvição do Juscelino pelo tempo, essa sua lenta transformação de corrupto em
exemplo. Talvez enaltecer JK seja uma espécie de penitência por termos
acreditado no Jânio, sua alternativa maluca. Eu não posso rasurar meu currículo
de eleitor mas a nação pode corrigir suas opções do passado, esquecendo-as.
Também não perdoamos o Collor?
Ou talvez se tenha chegado à conclusão que para Juscelino
fazer o que fez, industrializando o país, construindo Brasília, etc., a
promiscuidade do governo com empreiteiras e empreendedores era quase
obrigatória e, em retrospecto, louvável. O governo só precisava se preocupar
com eventuais críticas da UDN e de parte da imprensa, a Polícia Federal da
época não se metias nessas coisas. Portanto do governo JK se podia dizer que
não era corrupto, era despreocupado. Fomos injustos com ele. Pela minha parte,
um pouco atrasado, peço desculpas.
- LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO.: 28 Aug 2011
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