Dia 15 de outubro é o famoso dia dos professores. Um dia que
é mais comemorado pelos alunos e professores por não ser um dia de trabalho na
escola do que por qualquer outra coisa. Um dia que serve mais para a sociedade
mandar mensagens de apoio aos professores do que realmente valorizar a
profissão. Isso significa que o dia dos professores é mais uma valorização da boca
pra fora do que uma valorização efetiva. Pois é mais fácil criar um dia dos
professores do que dar estrutura adequada para uma escola, assim como é mais
fácil mandar uma mensagem de apoio por ano do que prestar atenção na aula do
professor ou realizar as atividades propostas por ele. Daí que o dia 15 de
outubro é também o dia da hipocrisia.
Mas qual é causa desta hipocrisia? No Brasil, o professor
não é valorizado porque a busca pelo conhecimento não é valorizada. De modo
geral, a busca de conhecimento é a busca pelo domínio de conceitos e técnicas
mais eficazes para resolver os problemas que nos aparecem, seja eles de ordem
conceitual ou de ordem prática. Por exemplo, a busca pelo conhecimento serve:
para decidir se a liberdade é mais importante que a igualdade dentro de uma
sociedade; para saber se determinada espécie animal pode ser considera em
processo de extinção, para decidir se a soja transgênica é mais rentável que a
soja orgânica, para decidir se o tempo de um semáforo deve ser maior para
pedestres do que para carros e bicicletas, etc. Pode ser entre amigos, pode ser
na Assembléia Legislativa ou numa empresa, a busca pelo conhecimento é vista
como algo desnecessário e aborrecedor. Assim, sempre que precisamos fazer
escolhas, o conhecimento é sempre considerado algo secundário.
Numa roda de conversa entre amigos ou entre colegas de
trabalho, muitas vezes em que a conversa tende a ser mais sofisticada e
razoável, insatisfações são manifestadas. Isso porque a busca pelo conhecimento
é inseparável da critica e controvérsia, de modo que a conversa ou o debate é
mais trabalhoso e difícil. Mas a insatisfação não ocorre apenas pela
dificuldade, mas também porque é considerada inútil. É comum dizer que tais
conversas não “levam à nada”.
Nos gabinetes, câmaras e assembleias políticas, quase todas
ações em prol do ensino são condicionadas à falta de urgências em prol de
outras áreas. Por exemplo, só constrói
mais salas de aula ou contrata mais professores se não tiver urgências para a
Secretaria de Meio Ambiente ou de Minas e Energia. Entre reformar uma escola e
doar dinheiro para uma ONG que apoia um político ou governo é óbvio que a ONG
tem preferência. Entre manter um ministro competente para o cargo e colocar um
companheiro de luta política, a segunda opção é a eleita.
Até mesmo nas escolas a busca pelo conhecimento não é
prioridade. Entre escolher se o notebook da escola vai ser usado em sala de
aula para os professores utilizarem o data show ou se vai ser usado pela
direção, a escolha sempre é para o uso da direção. Este ano em muitas escolas
estaduais do Paraná, para citar outro exemplo, a comunidade escolar (inclusive
professores) escolheu implantar a sexta aula para readequar o calendário após o
período de greve. A justificativa foi as matrículas universitárias dos alunos
de terceiro ano e a manutenção das férias, não foi a qualidade do ensino. Se as
escolas estaduais não têm condições de ter cinco aulas, devido as péssimas
condições de trabalho, tem menos condição ainda de ter seis aulas.
Estes casos mostram também que nós professores e comunidade
escolar como um todo não fazemos escolhas melhores que as dos políticos. Muitas
vezes é difícil julgar qual caminho tomar, e, no calor das circunstâncias,
tendemos a tomar o caminho mais fácil. É assim que subvertemos prioridades. Nem
todas as ações dos políticos brasileiros são resultado de má fé. Devido às
circunstâncias, como pessoas falíveis e com necessidades particulares, os
políticos acabam optando por ações que marginalizam a busca pelo conhecimento,
assim como nós também marginalizamos a busca pelo conhecimento.
Ora, se a busca pelo conhecimento não é valorizada, o
profissional desta atividade também não será valorizado. Se hoje é inútil
utilizar uma máquina de escrever, também é inútil a necessidade de datilógrafos.
A questão é que o mundo inteiro valoriza a busca pelo conhecimento, tendo a
necessidade de valorizar os profissionais desta área. Mais que um folclore ou
devoção religiosa, a valorização dos professores é uma necessidade social. Por
isso, não basta tratar o dia do professor como se trata do dia do Papai Noel ou
se trata do dia de uma entidade divina. Mais que admirações, devoções e
preservação de costume, a profissão docente precisa ter suas funções e seus
objetivos respeitados. Quem está disposto a respeitar?
Thiago Melo
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