sábado, 30 de maio de 2015

Sobre os governantes

Sobre os governantes, se pode dizer, com Maquiavel:

“Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se.”

MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.

TRÊS PALAVRAS QUE DEFINEM UM GOVERNO

Will Coutinho Hamon

Não sei o que é maior entre nós educadores. Se é a descrença ou se é a revolta. É provável que seja um misto destes dois sentimentos e o sabor intragável que eles nos proporcionam.
Acompanhando a cobertura da mídia e conversando com colegas cheguei à conclusão de que não disponho de outro modo de expressar o que estamos vivendo em nosso Estado do que a descrença e a revolta.
Vivemos em uma democracia. Reconhecemos e respeitamos os seus mecanismos de participação e nos lançamos em uma luta legítima (entendendo como legítima uma luta que se trava pela garantia dos direitos constitucionais que são prerrogativa de todos os cidadãos). Ainda assim, após uma extensa e custosa greve que a todos afetou e afeta – dos diretamente prejudicados (alunos, pais, funcionários, pedagogos, professores e diretores) aos indiretamente implicados (condutores de vans escolares, proprietários de pequenos comércios locais, empresas de eventos e formaturas, etc.) nos deparamos novamente com a tríade de palavras-ações que melhor caracterizam este governo e que são a INDIFERENÇA, a PILHERIA e a TRUCULÊNCIA.

Senão vejamos.

O que foi proposto neste dia 27/05/15 por parte do governo do Estado do Paraná (deste governo com letra minúscula mesmo) não foi senão o resultado da ausência de diálogo, do desdém frente aos direitos adquiridos e da tentativa de manipulação descarada da opinião pública por intermédio de propagandas enganosas que não tem outro objetivo que o de tratar a população como massa de manobra, lançando-a contra uma classe de trabalhadores. E o que é pior. Contra aqueles trabalhadores que formam e muitas vezes e educam os seus filhos.

Ir aos meios de comunicação disseminando a falsa informação de que se está dando um aumento de 12% para o funcionalismo público quando na verdade o que se oferece são 3,45% em três suaves parcelas de 1,15% a serem pagas em setembro, outubro e novembro de 2015, vinculando o restante dessa “correção” a um labirinto de condicionantes jurídicos do tipo “se” e “dependendo da disponibilidade orçamentária e financeira”, e isso tudo a ser pago no longínquo janeiro de 2016 é, em outras palavras, dizer para nossos alunos e para os seus pais – “Estão vendo os seus professores! Estão acompanhando os professores dos seus filhos! Pois aprendam. Não vale a pena lutar por direitos. O melhor a fazer é aceitar o que vier e seguir de cabeça baixa.” É também esperar que funcionários e professores comportem-se como cães acovardados, daqueles que mesmo sendo tratados com migalhas, sobras e vivendo sob a mais escancarada violência, pela absoluta falta de orgulho próprio e de capacidade de iniciativa, retornam para suas casas-prisões com seus “rabos entre as pernas”.

Lembramos, para nunca mais esquecer, que num passado bastante recente nossas reivindicações também foram encerradas sob a garantia da ampla discussão, porém que, quando nos deparamos com a realidade dos fatos, o que encontramos foi um verdadeiro esquema de guerra nos vedando a participação em qualquer diálogo, e que custou, não uma ou duas, porém centenas de vítimas, maculando para sempre a imagem de um Estado que até então era tido como ordeiro e progressista.
Aqueles que mentem e traem com tanta naturalidade vivem num círculo vicioso e doentio. Obtém sucesso nas suas malfadadas iniciativas tão somente por encontrar pessoas tão inescrupulosas ou fracas quanto a si mesmas. Para seu azar aqui no Paraná neste ano de 2015 encontraram funcionários públicos e professores em seu caminho. Também encontraram uma população cansada de engolir mentiras, sofrer com aumentos de impostos e tarifas, e, ser mal atendida por intermédio de serviços públicos inexistentes, ausentes, quando não absolutamente precários.

Não vejo a hora desta greve acabar. Quero muito voltar a dar aula. É o que eu gosto e acredito que de alguma forma saiba fazer. Infelizmente, na contramão desta minha vontade, não vejo de que Realmente Cris! forma ela poderá ter fim...

                 Chegamos a um impasse. Não vejo possibilidade de recuo. Mas a frente, até que o tempo se abra novamente, segue-se um longo e denso nevoeiro.

    Ana Amorim__________________Estou com saudades do colégio, mas quando achei que o governador iria abaixar a bola para tentar amenizar o gigantesco índice de rejeição, ele se mostra ainda mais incompetente.

    Eu devo estar muito mal de matemática mesmo... Não consigo entender essa conta do reajuste acima de 12%. Será que usaram a mesma calculadora mágica que chegou aos 60% de aumento salarial?! Ele pensa estar lidando com acéfalos, somando os dois índices(e somente assim chegaria a algo entorno de 12%) e dividindo pelos dois anos daria mais ou menos 6% ao ano, abaixo da inflação e sem qualquer garantia que irão mesmo receber... que porcaria de proposta...

    Ainda tive o desprazer de ver o Traiano sorridente ao apresentar a proposta à mídia... sem contar o Betinho se dizendo perseguido e apelando para a infinita bondade de Deus contra as "terríveis agressões e maldades" que ele diz sofrer... É o fim mesmo.

        Will Coutinho Hamon_________________ Como sempre falou muito bem Ana! A proposta e tão absurda que beira ao ridículo. E no mínimo subestimar a capacidade de alguém esperar que venha a acreditar numa alternativa que consegue ser pior que a anterior (que já era pífia). A proposta de resolução da greve não e outra que a de que todos façamos papel de trouxas. Os alunos por terem que se adequar a um novo calendário escolar, fruto de uma luta malsucedida. Os professores por desperdiçarem esforços e meses de luta em vão. Os pais e responsáveis por assistirem um péssimo político e ator posar de "bom moço", que se diz perseguido e que não têm o mínimo de hombridade para assumir sua responsabilidade. A educação de um modo geral e a escola pública no Estado do Paraná tornaram-se um "cemitério" de possibilidades. Lamentável que se esteja assim...
             Para todo o lado que miramos (rádio, tv, internet) não vemos outra coisa que não a corrupção e o erro. A coisa chegou a um ponto que nem se faz questão de esconde-la. E escancarada mesmo. Penso que mais do que nunca seja importante nos voltarmos para nossas famílias, nossos amigos e nossa espiritualidade para ressignificar esse mundo que de outra forma está perdido. Também, que ao buscar equilíbrio nesse lado positivo da vida possamos encontrar forças para lutar e exercer nossa cidadania.

            -Teremos de buscar ainda um pouco de otimismo mesmo quando, como agora, ele falhar. Penso que o saldo final de todo esse esforço e luta ainda será positivo. Enquanto movimento nos fortalecemos muito e conquistamos importantes apoios. Não podemos contar com o bom senso onde ele não existe. Este governo terá que ser destituído para que qualquer razoabilidade prevaleça.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Братья Жемчужные - Годы мчатся...

A  vida  escorre em gotas preciosas diante da sede dos  sonhos em meio a escuridão raios rasgam os céus das bocas com maldições cegas enquanto a  escuridão  a vela precipícios  .Embriagados passos flertam com a morte da razão.Na miragem da planície sem sol delira a esperança .

Wilson Roberto Nogueira

Farid Al Atrache - Yaritni Tir فريد الاطرش - يارتني طير

Os filhos dos dias

 Eduardo Galeano

28 de maio - Oswiecim

No dia de hoje do ano de 2006,o papa Bento, sumo pontífice da Igreja Católica, passeou entre os jardins da cidade que se chama, em língua polonesa, Oswiecim.
A certa altura do passeio, a paisagem mudou.
Em lingua alemã, a cidade de Oswiecin se chama Auschwitz.
E em Auschwitz o papa falou. Na fábrica de morte mais famosa do mundo, falou:
- E Deus, onde estava?
E ninguém informo a ele que Deus nunca havia mudado de endereço.
E perguntou:
- Por que Deus ficou calado?

E ninguém explicou que quem havia se calado era a Igreja, a sua Igreja, que falava em nome de Deus.

fenômenos viróticos

Dois "fenômenos viróticos", sociais e políticos, aparentemente absurdos e incompatíveis com o século XXI surgiram no ano passado. A epidemia de ebola na África Ocidental e o Estado Islâmico (ISIL, ISIS, EI) no Oriente Médio. "Epidemias" só se espalham com nichos ecológicos e habitats favoráveis. Após um ano a epidemia de ebola parece ter diminuído e começou a ser contida, já o EI resistiu e amplia a sua esfera de ação. Vitórias no Iraque, Ramadi, na Síria, Palmira e na fronteira entre os dois Estados. Existe uma base social de apoio ao Estado Islâmico. As ditaduras, a pobreza, a ignorância, a violência, o caos, a humilhação e o desespero dos últimos anos aumentaram e criaram esta grande base social na região. Pela primeira vez o EI ataca uma mesquita xiita na Arábia. Os Estados Unidos não vão enfrentar mais um tiranete árabe facilmente derrubável. Uma intervenção terrestre seria extremamente cara para um país quebrado financeiramente, com Fergusons e Baltimores explodindo e um custo militar bem mais elevado para uma nova guerra no Oriente Médio. Cenários iniciais de 50 mil mortos e 500 mil feridos dos Estados Unidos para tentarem extirpar o Estado islâmico não receberão nenhum apoio eleitoral por lá e uma guerra ainda poderia ser mais um trauma como as guerras anteriores, com possibilidade de uma derrota ainda mais humilhante do que no Vietnã. Para Israel o pior pesadelo seria o Estado Islâmico fazendo fronteiras ou com presenças na Síria, Jordânia, Cisjordânia, Palestina, Gaza, Sinai, com células ativas em Jerusalém e dentro de Israel. O cenário é de grave instabilidade política espalhada pela Arábia Saudita, o Egito, a Líbia, o Paquistão e o Afeganistão convulsionados pelas ações do Estado Islâmico nos próximos dez anos em graus variáveis.


Ricardo Costa de Oliveira
"O velho mundo queria viver mais uma primavera"..
"O sol surgia no horizonte glorioso, era um despertar de regozijo por tôda a extensão do campo. Uma vaga de ouro rolava do oriente ao ocidente, sôbre a imensa planície. Êsse calor de vida avançava, estendia-se num estremecer de juventude, e nêle vibravam os suspiros da terra, o canto dos pássaros, todos os murmúrios das águas e dos bosques. Era bom estar vivo, o velho mundo queria viver mais uma primavera."

Émile Zola, em "Germinal".Tradução Francisco Bittencourt. Rio de Janeiro: Editorial Bruguera, 1969, pg. 606.

http://www.elfikurten.com.br/2014/08/emile-zola.html
La libertà è una sorella morta appena nata.
Un lamento che ti segue è non sai dove trovare.
Un'altro mondo ricoperto dalla superficialità del presente mondo.

Antonio Oliani

quarta-feira, 27 de maio de 2015

PAULO FREIRE JÁ DIZIA: Fundamental diminuir a distância daquilo se fala e o que se faz, de tal forma que em determinado momento sua fala seja sua prática.

Epigrama

Ernesto Cardenal

Al perderte yo a ti, tú y yo hemos perdido:
yo, porque tú eras lo que yo más amaba,
y tú, porque yo era el que te amaba más.

Pero de nosotros dos, tú pierdes más que yo:
porque yo podré amar a otras como te amaba a ti,
pero a ti no te amarán como te amaba yo.


Es olvido



Nicanor Parra

Juro que no recuerdo ni su nombre,
mas moriré llamándola María,
no por simple capricho de poeta:
por su aspecto de plaza de provincia.
¡Tiempos aquellos!, yo un espantapájaros,
ella una joven pálida y sombría.
Al volver una tarde del Liceo
supe de la su muerte inmerecida,
nueva que me causó tal desengaño
que derramé una lágrima al oírla.
Una lágrima, sí, ¡quién lo creyera!,
y eso que soy persona de energía.
Si he de conceder crédito a lo dicho
por la gente que trajo la noticia
debo creer, sin vacilar un punto,
que murió con mi nombre en las pupilas,
hecho que me sorprende, porque nunca
fue para mí otra cosa que una amiga.
Nunca tuve con ella más que simples
relaciones de estricta cortesía,
nada más que palabras y palabras
y una que otra mención de golondrinas.
La conocí en mi pueblo (de mi pueblo
sólo queda un puñado de cenizas),
pero jamás vi en ella otro destino
que el de una joven triste y pensativa.
Tanto fue así que hasta llegué a tratarla
con el celeste nombre de María,
circunstancia que prueba claramente
la exactitud central de mi doctrina.
Puede ser que una vez la haya besado,
¡quién es el que no besa a sus amigas!,
pero tened presente que lo hice
sin darme cuenta bien de lo que hacía.
No negaré, eso sí, que me gustaba
su inmaterial y vaga compañía
que era como el espíritu sereno
que a las flores domésticas anima.
Yo no puedo ocultar de ningún modo
la importancia que tuvo su sonrisa
ni desvirtuar el favorable influjo
que hasta en las mismas piedras ejercía.
Agreguemos, aún, que de la noche
fueron sus ojos fuente fidedigna.
Mas, a pesar de todo, es necesario
que comprendan que yo no la quería
sino con ese vago sentimiento
con que a un pariente enfermo se designa.
Sin embargo sucede, sin embargo,
lo que a esta fecha aún me maravilla,
ese inaudito y singular ejemplo
de morir con mi nombre en las pupilas,
ella, múltiple rosa inmaculada,
ella que era una lámpara legítima.
Tiene razón, mucha razón, la gente
que se pasa quejando noche y día
de que el mundo traidor en que vivimos
vale menos que rueda detenida:
mucho más honorable es una tumba,
vale más una hoja enmohecida,
nada es verdad, aquí nada perdura,
ni el color del cristal con que se mira.

Hoy es un día azul de primavera,
creo que moriré de poesía,
de esa famosa joven melancólica
no recuerdo ni el nombre que tenía.
Sólo sé que pasó por este mundo
como una paloma fugitiva:
la olvidé sin quererlo, lentamente,
como todas las cosas de la vida.


21 Nov 2012


Biblioteca Digital Ciudad Seva

Masa




Al fin de la batalla,
y muerto el combatiente, vino hacia él un hombre
y le dijo: «No mueras, te amo tanto!»
Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.

Se le acercaron dos y repitiéronle:
«No nos dejes! ¡Valor! ¡Vuelve a la vida!»
Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.

Acudieron a él veinte, cien, mil, quinientos mil,
clamando: «Tanto amor, y no poder nada contra la muerte!»
Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.

Le rodearon millones de individuos,
con un ruego común: «¡Quédate hermano!»
Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.

Entonces, todos los hombres de la tierra
le rodearon; les vio el cadáver triste, emocionado;
incorporose lentamente,
abrazó al primer hombre; echose a andar.


  

Biblioteca Digital Ciudad Seva

Cartas a una desconocida


Nicanor Parra

Cuando pasen los años, cuando pasen
los años y el aire haya cavado un foso
entre tu alma y la mía; cuando pasen los años
y yo sólo sea un hombre que amó,
un ser que se detuvo un instante frente a tus labios,
un pobre hombre cansado de andar por los jardines,
¿dónde estarás tú? ¡Dónde

estarás, oh hija de mis besos!

Imigrantes no Brasil

O que eu vi sobre os haitianos e senegaleses que chegaram em Santa Catarina é bem diferente de coisas que tenho lido e ouvido sobre eles. O que eu vi: homens, em sua maioria, fortes, que parecem saudáveis, dispostos a trabalhar. “Em qualquer coisa”, eles dizem. “Queremos emprego, educação, qualidade de vida”, dizem outros. “O Brasil é uma terra de oportunidades”, afirmam os que estão aqui há mais tempo e os receberam. Ainda sobre o que eu vi: vi pessoas que sabiam o que estavam fazendo. Que não chegaram aqui com o objetivo de “sugar” o estado, viver de favor, “roubar nossos empregos” (até porque há empregos para elas. Informe-se). Vi pessoas que, aparentemente, não são movidas por esse radicalismo absurdo. Mas também vi coisas que me chocaram: o olhar para o chão, o medo, vergonha, insegurança, não sei ao certo, de encarar os que aqui vivem nos olhos. Parece ingenuidade, parece respeito, parece educação. Mas a mim, pareceu um sinal de subserviência de alguém que se coloca numa condição inferior aos que ali estão. E isso, obviamente, não é uma escolha deles ou um traço de sua personalidade. Pode até ser, e eu preferia que assim fosse, mas me parece um sintoma. Sintoma de gente que já não foi tratada como gente. Que já foi mal tratada, repudiada, desprezada. De gente que vê nesse comportamento uma chance de sobreviver aqui, “sem atrapalhar”, “sem se impor”. E isso me dói, sabe? Imaginar que se colocar numa condição de inferioridade é estratégia de sobrevivência. Talvez nem seja assim, mas eu tenho medo que seja. Porque imagino o que causou isso. E causar isso nos torna menos humanos. Hoje eu ouvi um comentário sobre os haitianos e senegaleses que era o seguinte: “tem que mandar ‘isso’ aí pra Brasília”. “Isso?”, me pergunto. Por que usar uma palavra que dê a eles a condição de objeto, de bicho, e não de gente? Mesmo que, na frase, o autor deste absurdo tivesse substituído o “isso” por “eles”, ainda assim seria triste. Porque “mandar pra lá” os coloca mais uma vez em condição de objetos, de algo que não tem capacidade para escolher. E é o contrário daquilo que eu vi: eles sabem o que querem, sabem o que estão fazendo, precisam de ajuda, mas estão fugindo de uma realidade que mesmo que a gente queira, aqui, de longe, sem sentir na pele, jamais seremos capazes de entender. Eu só queria que da mesma forma como somos rápidos em julgar, expulsar, separar “eles” de “nós”, fossemos capazes de acolher. Lembrar o passado, a história. Pensar que nossos avós, bisavós, já foram “eles” também, talvez até “isso” pra uns. E se nada disso for capaz de te fazer ter o mínimo de empatia por aquelas pessoas que agora chegam aqui, procure ajuda. Porque o "isso", essa "coisa" vazia, sem alma, sem coração, me parece ser você.


por Stefani Ceolla

Adriano Codato....Ministros no Brasil consideram uma ofensa (e os jornalistas um crise grave) serem convocados ou comparecerem ao Parlamento para dar explicações, quaisquer que sejam.
Um outro ponto interessante é que, no Brasil, ministros "técnicos" são supervalorizados em relação aos políticos, i.e., aos políticos eleitos que vêm a ocupar alguma posição ministerial.
É bastante sintomática das nossas diferenças (e das nossas escalas de prestígio e legitimidade) essa frase do deputado da direita para a ministra da Educação da França:
--- "Senhora ministra, quem é a senhora para se dirigir assim a um representante eleito pelo povo, a senhora que nunca foi eleita pra nada?"
p.s.: a reforma educacional é altamente defensável e a direita acusa o governo socialista de implantar uma pedagogia, mutatis mutandis, bolivariana e acabar com a meritocracia...

Felipe Calabrez....Essas diferenças a que se refere estão no âmbito da "sociedade" em geral ou opinião pública, não? Pergunto porque tenho a impressão de que "dentro" do Parlamento a postura lá é a mesma daqui. Isto é, os parlamentares sempre usam do discurso de que são "representantes do povo" e não costumam gostar muito de conversa de técnico e gestor. Duvido que explicações "técnicas" dadas no congresso mudem um único voto. E os técnicos e gestores de políticas públicas também não vêem políticos com bons olhos.

Adriano Codato.......Penso que essas são diferenças que são expostas à sociedade; ou que podem ser expostas sem chocar a opinião pública. E que alguma repercussão social devem ter. Imagine no Brasil alguém falar, por exemplo, para um juiz: 'o senhor fique quieto porque eu fui eleito para falar sobre esse tema, e o senhor não'. Seria o fim. Além disso, políticos parlamentares aqui e aí esgrimem essa retórica pomposa de Povo, Nação, etc.. Mas tenho a impressão que o eleitor médio ouve isso, no Brasil, como uma coisa caricata e sem sentido. E sim, de fato, político não engole técnico e vice-versa.

Eric Gil Dantas Apesar do avanço dos "economistas no governo", o técnico judiciário ainda é mais "respeitado" do que o técnico econômico, pelo que me parece.

Chants berbères de Kabylie

« J’ai dit ma peine à qui n’a pas souffert,
Il s’est ri de moi,
J’ai dit ma peine à qui a souffert, il s’est penché vers moi.
Ses larmes ont coulé avant mes larmes,
Il avait le cœur blessé ».


Jean Amrouche

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Quanto não lucra o complexo industrial militar em termos de encomendas para as forças armadas americanas; Sem falar nas suas empresas civis, as quais atendem às bases americanas no estrangeiro.Destroem um país para reconstruí-lo , financiando empresas estadunidenses em contratos milionários com governos enfraquecidos, que não colocaram obstáculos aos seus aliados libertadores paladinos da democracia e o que mais Hollywood disser que são ,desde que não contradiga o departamento de Estado . Pois todos nós sabemos quem é o mocinho "O Tio Sam ".

Wilson Roberto Nogueira

A disputa política no Paraná

A ignorância sempre custa muito caro. A disputa política no Paraná é uma disputa entre uma concepção de cidadania representada pelos professores contra uma estrutura oligárquica-familiar representada pelas engrenagens da teia do nepotismo paranaense. Educadores concursados contra famílias politiqueiras eleitas pelo abuso do poder econômico, pelo discurso ideológico enganador e pelos desfalques, como o escândalo da Receita Estadual e outras formas de corrupção, formas de extrativismo estatal. Professores contra uma máquina de comissionados alugados, opiniões que se compram e vendem, juntos com certas mídias estabelecidas com taxímetros caça-níquéis do erário público. A luta é de todos que defendem e querem criar um Estado moderno de bem-estar social, todos que apoiam a luta dos servidores e funcionários públicos da cidadania paranaense, contra as ilhas de privilégios e de luxo das famílias na governadoria e vice-governadoria do poder executivo, no legislativo e sua bancada do camburão, do judiciário, muitas vezes parcial, tendencioso e suas obras suntuosas, do tribunal de contas e seus indicados, apadrinhados políticos e do ministério público seletivo. O GAECO é uma esperança ! É uma luta do Brasil do século XXI contra o Brasil arcaico dos séculos XX e XIX. Isto é apenas a continuidade, em novos patamares, de longas lutas pela democracia, cidadania, modernização, transparência, educação e maior igualdade social.
Por que colocar dezenas de milhares de pessoas nas ruas do Paraná?

- Auditores fiscais do Paraná com salários de aproximadamente R$ 30 mil. Doaram à campanha do governador Beto Richa (PSDB) e a outros 25 aliados quase R$ 1 milhão;
- Aumento de 26,3% para os deputados (passando de R$ 20.400,00 para 25.200,00);
- Aumento no salário do governador (de R$ 29 400,00 para R$ 33 800,00);
- Aumento para os juízes estaduais (novo salário R$28.900,00) e desembargadores (R$30.400,00), juízes substitutos (R$27.8000,00);
- Aumento para os secretários do governo do estado (salário de R$23.600,00);
- Auxílio moradia de R$ 4.337,74 para os conselheiros do tribunal de contas.
E o problema é a data base dos funcionários públicos e dos professores concursados, os que ganham os piores salários trabalhando com os mais necessitados socialmente e com os menores reajustes possíveis ?


http://blogdotarso.com/…/richa-diz-que-esposa-nao-e-corrup…/

Uma crônica do casamento do Deputado do Camburão



Publicação de Izabel Cristina Marson


"Estive no casamento do deputado Tiago Amaral.Fui como professora e para observar como Londrina reagiria ao protesto. Em síntese: convidados constrangidos entrando na igreja aos gritos "O Amaral vai ter um treco, os convidados tão na lista do Gaeco". Álvaro Dias se irritando com nossa presença. Romanelli entrando às escondidas dentro de um furgão. O noivo entrando "cafofado" em banco traseiro de camioneta carissima. Teve convidada fazendo uma selfie conosco. Durante a cerimônia veio a resposta de Londrina, centenas de carros que passavam buzinavam contra a corrupção. A PM que alegou ter feito uma blitz, ali estava para proteger a elite. O cerco foi dando errado, a cada rua bloqueada a população nos ajudava furando o esquema e vinha de outros lados para nos ajudar com o buzinaço. Casamento rápido, uma noiva nervosa entrando pela porta lateral, porque a porta principal era nossa. Na saída, a elite nervosa, camionetas aceleravam, os noivos escondidos em alguma delas. E os manifestantes deixando claro: "O dinheiro da festa é nosso". Na manifestaçao de ontem nós mostramos a cara, mas eles se esconderam. Como imagem simbólica da noite uma convidada chiquérrima tentou se esconder por detrás da bolsinha de prata que trazia às mãos. Uma manifestante perguntou de que você se esconde, ela simplesmente baixou a bolsa e nos olhou com perplexidade. Algo dentro dela ruiu. Enfim, foi o casamento do século. Quem não foi, perdeu!"
Valéria Arias 


Já sabemos como funciona a mente e o modus operandi das oligarquias que dominam os poderes econômico e político no Paraná. De algumas dezenas de anos para cá, o "extrativismo estatal" (expressão comum no âmbito da Ciência Política) é basicamente o mesmo. Porém, o "esclarecimento" das famílias empoderadas parece ter minguado. Para a economia política do poder, a diferença é que o discurso conservador, dantes refinado, agora expressa abertamente o caráter anti-povo que o fundamenta.

sábado, 23 de maio de 2015

Ebarcação com 300 migrantes a bordo, ao largo da Sicília.


Judiciário dá a medida do estofo moral de nossa elite.


(Professor Nilson Lage)

Se querem a perfeita medida do estofo moral da elite brasileira, olhem para o Judiciário do país.
Sua origem está na primogenitura dos latifundiários antigos que, buscando expandir propriedades e plantéis de escravos, cuidaram de prover, primeiro, na descendência, o doutor em leis.
Agora se vê que, em espírito, manteve-se esse compromisso ancestral com o próprio bolso e patrimônio.
No momento em que encontram caminhos fáceis, pela fratura da unidade política do Estado, a primeira preocupação dos magistrados é assaltar o Tesouro Nacional, arrancar o máximo de dinheiro possível e se espojar nele, numa disputa imoral de privilégios indecentes – do auxílio moradia a quem tem casa ao inalienável direito de ir comprar ternos em Miami.
Aos trabalhadores, o arrocho; ao Judiciário do Brasil, 78,56% de aumento, fora inúmeros e ridículos penduricalhos.



A comunicação dos governos e a sociedade

Eugênio Bucci é categórico ao afirmar que a comunicação de todos os governos é usada para fins partidários ou pessoais, e os brasileiros são os maiores anunciantes do mercado publicitário nacional por um único motivo: as verbas para esse fim saem dos cofres públicos.
- Brasileiros – Em O Estado de Narciso, o senhor aponta que o principal objetivo de parte das campanhas de todos os governos não é o de alertar a sociedade…
- Eugênio Bucci: O principal objetivo de comunicação das campanhas públicas, vacinação, prevenção de doenças, água, não é o de alertar a sociedade, mas convencê-la de que aquele governo está preocupado com os cidadãos. Trata-se de promoção de uma imagem, a partir da noção de que as pessoas se sentirão cuidadas, seguras e amparadas. Não estou falando do governo Lula, Dilma, Alckmin ou Haddad, mas de traços dominantes que atravessam todos os níveis das unidades da Federação e percorre todos os partidos.
- Brasileiros - Estamos sendo enganados?
- Eugênio Bucci: Não iria tão longe. Diria que há um esforço instalado no Estado para engambelar o eleitor. Se é bem-sucedido é outra conversa. Não existe uma publicidade do governo que diga: “Erramos aqui, precisamos da sua ajuda”. A publicidade governamental é de enaltecimento e é óbvio que se trata de uma versão parcial.


a entrevista:

A moralidade seletiva das corporações de mídia

"A imprensa brasileira trabalha os casos de corrupção não a partir do ato em si, mas, sim, a partir de quem praticou a corrupção e quem está envolvido nesses escândalos. Só depois desse filtro, dessa censura prévia, e só depois de verificar se não irá atingir interesses dos grupos econômicos influentes, é que a imprensa decide qual o tamanho da cobertura jornalística que dedicará, ou, então, se irá varrer os acontecimentos para debaixo do tapete, sumindo com esses fatos do noticiário. Nesse sentido, e parafraseando o próprio colunista Leonardo Souza, 'é uma pena que o ímpeto apurativo da imprensa brasileira não se dê pela vontade genuína de ver um Brasil limpo da corrupção'"


(Paulo Pimenta sobre à crítica do jornal Folha de S. Paulo, que o acusa de "inflar" a operação Zelotes, para atender interesses do PT, com o intuito de abafar a Lava Jato)
Uma compra dessas mercadorias ,mas do que um cala boca a compra da justiça com o dinheiro sujo da imoralidade.

Wilson Roberto Nogueira

Governo do Estado liberando verbas ao judiciário quando precisa do apoio de juízes para barrar eventuais contratempos com o mp.
Mais ministérios equivalem a mais cargos e verbas para os partidos da base que uma vez agraciados com fatias do 1, 2 e 3 escalão sentirão pagos pelos "votos de lealdade"ao governo, caso contrário votam com a oposição e denunciam  o tal excesso de ministérios ( na maior cara dura ).

Mesmo porque os ministérios,(quantos mais melhor,resultam em  mais secretarias de 1, 2 e 3 escalão mais cargos e "prestigio ' para o partido que acarinhado com cargos e verbas poderá sem receio votar as questões que o executivo enviar para os parlamentos

Clientelismo ou fisiologismo com patrimonialismo essa continua sendo modus operandi dos nossos homens e mulheres públicas (salvo uns e outras ).Rentistas sem serem nobres muito menos lejos de serem ou agirem como fidalgos.

Wilson Roberto Nogueira

quarta-feira, 20 de maio de 2015



"A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre." Oscar Wilde

Marcha pela data-base

Ato que exigia o cumprimento da lei da data-base pelo governo, reuniu cerca 30 mil educadores(as) e servidores(as) de outras categorias em Curitiba.19/05/2015
A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

Eduardo Galeano
Every person is a half-opened door
   leading to a room for everyone.
                                   — Tomas Tranströmer

terça-feira, 19 de maio de 2015

Cancioneiro

A Minha Vida é um Barco Abandonado
A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.
Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.
Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.



Fernando Pessoa
"Ha gente de fogo sereno que não se inteira do vento e gente de fogo louco que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam nem queimam, mas outros ardem a vida com tantas ganas, que não se pode olha-los sem piscar. e quem se aproxima se acende." (Eduardo Galeano)
Wilson Gomes

Segundo o meu cercadinho de feios, sujos e malvados no Twitter, hoje é dia de odiar Fachin, de novo, e Jô Soares. Fachin deve ser odiado, com entrega, por ser esquerdopata, bolivariano, petralha e contra a família. Jô, porque é contra a família, petralha, bolivariano e esquerdopata. Há que ser muito sofisticado para entender a sutileza da coisa, não é para qualquer um.

O caso contra Fachin está já pronto e julgado: aprovada a indicação, o MST tomará imediatamente todas as terras de Ronaldo Caiado, ato contínuo, será hasteada a nova bandeira brasileira, vermelha, em todas as repartições públicas. Até quarta-feira, no máximo, todos os amantes mudam-se para o prédio vizinho e a poligamia (poliandria também, imagino) se torna oficial no Brasil. Já estou exausto só de pensar.

O problema de Jô foi ele ter passado em Brasília para buscar, diretamente com Dilma Rousseff, o seu diploma de petralha, feminazi, gayzista e "de Humanas". Podia ter mandado um portador, aquele "gordo, moribundo e viado", como alguém disse no Twitter, mas, não, ele quis afrontar todo mundo indo pessoalmente acender incenso no altar do comunismo. Pediu para ser odiado, ódio haverá.


Esses são os trending topics do dia, amiguinhos. E lembrem-se, odiar é preciso, viver não é preciso.

Invasão do Iraque não foi avaliação errada foi crime premeditado

Paul Krugman : Invasão do Iraque não foi avaliação errada foi crime premeditado .
Folha de São Paulo

Bruno P. W. Reis________É incrível como é raro ver essa obviedade dita com todas as letras na imprensa, seja a americana, seja a de qualquer parte. E é digno de nota que o próprio Paul Krugman hesite ao especular sobre as razões do crime, em vez de ir logo para aquilo que seria intuitivamente óbvio em qualquer lugar: corrupção.

Fabrício Mendes Fialho_____ Veicular isso em época pré-eleitoral manda certamente esse sinal; mas não é nada que já não se saiba há uns bons anos...

Bruno P. W. Reis--------Conversa fiada, Luciano. As alegações em favor da invasão eram ostensivamente fraudulentas, e isso era visível desde os debates na ONU, em busca de autorização. Depois (bem depois) muito mais veio à baila na própria imprensa mainstream americana, como as pressões sobre o pessoal de inteligência para entregar os relatórios que o Pentágono queria. Só que, apesar disso tudo, eles não costumam extrair as conclusões óbvias - e continuam a falar rotineiramente sobre o "erro" que foi a invasão. A tal da "Guerra ao Terror" é uma mina imbatível para produzir bilionários rent-seekers.

José Roberto Bonifácio __________Guerra de independencia tambem teve episodio "false flag". Longa tradição belicista iniciada com a Boston Tea Party...

Bruno P. W. Reis________________Mas, mesmo concedendo o  benefício da dúvida de que as outras fraudes sejam igualmente existentes, todas essas coisas faziam sentido do ponto de vista dos interesses geopolíticos dos Estados Unidos, ou pelo menos daquilo que a "sabedoria convencional" da época acreditava ser esses interesses (essa ressalva é só pra incluir o imenso desastre do Vietnã). A invasão do Iraque, não. É um ato de predação política, que compromete a segurança e os interesses americanos e tira partido do trauma do 11/9 para enriquecer algumas pessoas. É triste, mas é simples assim.
Estou me dando a pachorra de explicar o óbvio só porque o assunto é importante. Os Estados Unidos saíram da depressão com a Segunda Guerra, e ainda assim hesitaram dois anos antes de entrar. A Guerra do Iraque comprometeu a economia, a segurança e a posição geopolítica americana (pra não falar das vidas, que estou cinicamente aceitando tratar como detalhe irrelevante aqui), e ainda assim foi vendida com alegações ostensivamente implausíveis desde o início, sob o silêncio acovardado da "livre" imprensa americana, quando o país já estava engajado no Afeganistão. Um episódio deplorável. Sim, o ponto mais baixo da longa história da atuação militar americana no exterior.

Andre Tavares___________A melhor coisa que aconteceu para os iraquianos foi a invasão do Iraque e a remoção do partido Baath e de Sadam. O problema foi a leniência da administração Obama com os movimentos insurgentes radicais xiitas e sunitas - grupos financiados pelo Irã de um lado, e pela Al-Qaeda, de outro. O ISIS pode ser uma boa coisa no fim das contas: os cristãos iraquianos (o Patriarcado da Babilônia é a igreja mais antiga da história) e os curdos estão formando batalhões e lutando por sua liberdade sem ajuda das potências e sem ter que esperar pelo jogo de interesses no tabuleiro internacional. É engraçado ver a posição da Turquia: está pressionada pelo ISIS, mas não pode ajudar por medo dos curdos em seu território verem nisso uma oportunidade de se juntarem aos curdos do outro lado da fronteira e corrigirem com as próprias mãos um erro histórico e construírem o Curdistão. O que seria, aliás, ótimo - são os verdadeiros muçulmanos moderados. Krugman, um esquerdista safado, está botando na conta da administração Bush, os erros de Obama e de Madame Satã, digo, Hillary Clinton - a mocreia sabia de Benghazi com 10 dias de antecedência.

Bruno P. W. Reis Fácil demais, Andre, ajuizar a milhares de quilômetros de distância o que terá sido ou não melhor para o iraquianos. O que se sabe é que, além dos 200 mil mortos diretamente em combate, estimam 500 mil as mortes indiretas. Que o ISIS possa ser "uma boa coisa no fim das contas" faz caso omisso do simples horror dos assassinatos em larga escala conduzidos contra populações civis de cidades inteiras há poucos meses.

Andre Tavares_________Bruno, é fácil pra mim, mas difícil e muito consciente pro Krugman, né? O ISIS ser uma boa coisa foi uma ironia. Pode não ter ficado claro, mas foi. O que quero dizer é que o que deveria ter sido feito até o final, não foi. Os EUA sempre se sabotam no final - na Segunda Guerra, no Vietnam, na Guerra do Golfo, e agora. A segunda administração Bush foi um desastre, e a pior consequência foi a eleição do Obama. Deixemos pra lá a questão se Obama é ou não agente islâmico, o fato é que ele é fraco, leniente e inconsequente com o Oriente Médio. Precisou tomar um puxão de orelha em casa dada pelo Netanyahu. Voltando ao ISIS, como os EUA nem ninguém sequer entendem o que é o ISIS (é, na verdade, a consequência da Primavera Árabe, patrocinada pelo Obama e a esquerda intelectual europeia, que adora o nacionalismo de esquerda árabe, desde a década de 40), e não entraram em combate contra a ameaça que constitui, salvo a Jordânia, foram os nativos que tiveram que pegar em armas. O melhor que pode acontecer disso, são nações ou territórios autônomos surgirem - de curdos e cristãos, principalmente.
Quem é omisso com o que faz o ISIS não sou eu - é todo mundo. Armaram o circo, um bando de covardes sem culhões, e outro bando de covardes com culhões (pra fazer atrocidades) estão fazendo o que estão fazendo...

Bruno P. W. Reis_________À exceção da dupla Nixon-Kissinger, é provável que os EUA nunca tenham tido, antes ou depois, uma aproximação estratégica sofisticadamente articulada para a política externa, para além de certa retórica embromatória para consumo interno. Obama não é exceção, mas o inevitável "restraint" que ele teve de exercer no pós-Bush acaba tornando ele alvo fácil da retórica mais maniqueísta dos falcões. Duvido que eu te acompanhe na singeleza do diagnóstico da auto-sabotagem no final. Mas essa propensão a não se engajar até as últimas consequências será sempre favorecida se houver pressa em entrar numa guerra evitável no início. A fragilidade política da posição inicial certamente comprometerá a disposição em se pagar um preço alto adiante. E é sensível que a Casa Branca de Bush foi longe demais na sua determinação em contratar guerras. Os presidentes que vierem depois acabam tendo sua posição enfraquecida também por isso.
Quanto à primavera árabe, com todos os desastres que se seguirem, deve ser tida permanentemente no horizonte das possibilidades. A política de simplesmente manter um ditador de estimação em posições convenienetes traz no horizonte a sua contestação, cedo ou tarde. É bom ter uma tática construtiva pra se lidar com isso. Os americanos se deixaram surpreender e não souberam o que fazer - seja com os amigos, seja com os inimigos.

Andre Tavares ___________________Aliás, por que ninguém diz o óbvio ululante sobre o Obama?

Bruno P. W. Reis__________________"Não alimente o seu troll." Hoje cometi o clássico erro de ignorar esse sábio conselho da vida em internet ao interagir com meu nobre Luciano Dias. Eis o resultado. Retórica por retórica, transcrevo abaixo algo que já tinha circulado antes, como resumo de meu ponto de vista. Feito isso, I rest my case.
A invasão do Iraque foi (e ainda é) uma catástrofe quase sob qualquer ponto de vista - incluindo os interesses estratégicos dos Estados Unidos na região e no mundo. A lista das razões é interminável, nem sei por onde começar.
1. A invasão desestabilizou, talvez irreversivelmente, um país-chave no mapa geopolítico do já explosivo Oriente Médio, posicionado exatamente entre as duas potências locais rivais, Irã e Arábia Saudita. Ao remover um governante sunita e inimigo do Irã de um país de maioria xiita, reforçou drasticamente a influência do Irã na região (não chego a achar isso ruim, mas o aliado americano é a Arábia Saudita...).
2. O Iraque não tinha nada a ver com o 9/11, nem abrigava qualquer célula operacional da Al-Qaeda. Estava claríssimo, desde antes da invasão, que ele não tinha as tais "armas de destruição em massa" alegadas. Isso era fácil de adivinhar porque em 1991, depois de dez anos adotado como queridinho do Ocidente por guerrear com o Irã, Saddam Hussein foi varrido do Kuwait em semanas; como é que em 2003, depois de dez anos sob bloqueio aéreo e comercial, ele ia se tornar uma ameaça crível?
3. Neste momento, porém, metade do território iraquiano é controlado (com apoio do exército sunita treinado e armado pelos americanos) pelos lunáticos genocidas do ISIS, que se beneficiaram também do apoio ocidental à rebelião na Síria. Perto do poder de fogo e das ambições políticas do ISIS, a al-Qaeda parece uma célula de adolescentes anarquistas - por maior que seja o gosto deles por ações espetaculares.
4. A guerra ao terror, em si mesma, na sua natureza de guerra sem quartel ou território contra um inimigo potencial e, portanto, indefinidamente temível, já é um monumento ao desperdício de recursos - e custou até hoje a cifra quase inimaginável de cerca de US$ 5 trilhões. Quase a metade disso, porém, foi consumido pela invasão do Iraque sozinha, que já custou aos americanos mais de US$ 2 trilhões. Além de prejudicar a ação no Afeganistão (que se arrasta até hoje, e onde o Talibã permanece ativo e poderoso), a aventura da guerra ao terror, principalmente no Iraque, produziu danos palpáveis à economia dos Estados Unidos, com desdobramentos sensíveis sobre o mundo todo.
5. A invasão do Iraque, anunciada unilateralmente à revelia dos aliados europeus e depois perseguida com ostensivo desrespeito a decisão contrária da ONU, desfez em um ano a rede quase universal de solidariedade aos americanos que se formou após o 9/11. Foram perseguir sozinhos propósitos unilaterais, comprometendo as redes de colaboração diplomática e de inteligência, tão desejáveis para um combate eficaz a ações terroristas internacionais.
6. Saldo humanitário: segundo o que se conseguiu apurar na mídia, cerca de 200 mil iraquianos sofreram morte violenta como consequência direta da guerra. A Universidade de Washington (em Seattle), porém, estima em quase meio milhão o número de mortes, se incluirmos as mortes "naturais" registradas em epidemias e na degradação das condições de vida entre refugiados. Além disso, morreram cerca de 5 mil combatentes entre americanos e seus aliados - número que sozinho, já supera a conta das vítimas do 9/11.
Depois de tanto "esforço", porém, pelo menos controlou-se o terrorismo? Quem dera: segundo a Universidade de Maryland, a atividade terrorista é hoje aproximadamente 6 vezes maior que em 2001, no que toca ao número de mortos: http://www.start.umd.edu/gtd/features/GTD-Data-Rivers.aspx
Eu costumo dizer para os meus alunos que, em análise política, se alguém cometeu uma grande burrice, então é você que não está entendendo. Na premissa caridosa de que eles sabiam o que estavam fazendo, então sobra apenas a possibilidade de que pessoas suficientemente próximas dos nichos decisórios nos Estados Unidos viram boas possibilidade de ir ganhar dinheiro no Iraque, e então foram. E de fato ganharam-se fortunas na operação - como já está abundantemente documentado na imprensa americana. Pra isso, não se importaram de instrumentalizar o trauma dos cidadãos americanos e comprometer a segurança dos próprios contribuintes que pagaram os impostos de onde saiu sua fortuna.

Na minha cabeça, a invasão do Iraque em 2003 é o ponto mais baixo da história dos Estados Unidos. Mais que a guerra com o México, mais que a limpeza étnica feita com os cherokees na Geórgia, mais que o Vietnã, mais que Hiroshima e Nagasaki. Os Estados Unidos têm metade do gasto em defesa do mundo. Deveriam ter responsabilidades com todos nós, mas pelo menos têm responsabilidade com seus eleitores. Em todos esses episódios horríveis, algum argumento plausível (ainda que falso) poderia ser alegado estabelecendo o vínculo com o interesse (pelo menos) dos eleitores americanos. Desta vez, nem isso. Eu espero mais deles.

A Inigualável

Ai, como eu te queria toda de violetas
E flébil de cetim...
Teus dedos longos, de marfim,
Que os sombreassem jóias pretas...
E tão febril e delicada
Que não pudesse dar um passo -
Sonhando estrelas, transtornada,
Com estampas de cor no regaço...
Queria-te nua e friorenta,
Aconchegando-te em zibelinas -
Sonolenta,
Ruiva de éteres e morfinas...
Ah! que as tuas nostalgias fossem guisos de prata -
Teus frenesis, lantejoulas;
E os ócios em que estiolas,
Luar que se desbarata...
Teus beijos, queria-os de tule,
Transparecendo carmim -
Os teus espasmos, de seda...
- Água fria e clara numa noite azul,
Água, devia ser o teu amor por mim...
Lisboa 1915 - Fevereiro 16.
Mário de Sá-Carneiro
Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto
E hoje, quando me sinto.
É com saudades de mim.
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...
... ...
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além
Para atingir, faltou-me um golpe de asa ...
Se ao menos eu permanecesse aquém ...
.....
Mário de Sá-Carneiro (Lisboa, 19 de Maio de 1890 — Paris, 26 de Abril de 1916), poeta, contista e ficcionista, um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d’Orpheu. Amigo muito pessoal de Fernando Pessoa, a quem escreveu de Paris comunicando-lhe o seu suicídio.

Após esse desesperado acontecimento Fernando Pessoa escreveu:

Génio na arte, não teve Sá-Carneiro nem alegria nem felicidade nesta vida. Só a arte, que fez ou que sentiu, por instantes o turbou de consolação. São assim os que os Deuses fadaram seus. Nem o amor os quer, nem a esperança os busca, nem a glória os acolhe. Ou morrem jovens, ou a si mesmos sobrevivem, íncolas da incompreensão ou da indiferença. Este morreu jovem, porque os Deuses lhe tiveram muito amor.
Mas para Sá-Carneiro, génio não só da arte mas da inovação nela, juntou-se, à indiferença que circunda os génios, o escárnio que persegue os inovadores, profetas, como Cassandra, de verdades que todos têm por mentira. In qua scribebat, barbara terrafuit. Mas, se a terra fora outra, não variara o destino. Hoje, mais que em outro tempo, qualquer privilégio é um castigo. Hoje, mais que nunca, se sofre a própria grandeza. As plebes de todas as classes cobrem, como uma maré morta, as ruínas do que foi grande e os alicerces desertos do que poderia sê-lo. O circo, mais que em Roma que morria, é hoje a vida de todos; porém alargou os seus muros até os confins da terra. A glória é dos gladiadores e dos mimos. Decide supremo qualquer soldado bárbaro, que a guarda impôs imperador. Nada nasce de grande que não nasça maldito, nem cresce de nobre que se não definhe, crescendo. Se assim é, assim seja! Os Deuses o quiseram assim.

Fernando Pessoa, Athena, nº 2. Lisboa.

RONDÓ DO MUITO TRISTE

 Guilherme de Almeida


Da triste vida que eu vivo
o menos triste é a tristeza.
Muito mais triste é a incerteza,
essa falta de motivo
para viver como eu vivo
só de surpresa em surpresa,
cada vez mais sendo presa
das coisas de que me privo
e sujeito, embora esquivo,
às ordens da natureza:
causadora, com certeza,
desse gosto negativo

da triste vida que eu vivo.

sábado, 16 de maio de 2015

Celefais

H.P. Lovecraft

En un sueño, Kuranes vio la ciudad del valle, y la costa que se extendía más allá, y el nevado pico que dominaba el mar, y las galeras de alegres colores que salían del puerto rumbo a lejanas regiones donde el mar se junta con el cielo. Fue en un sueño también, donde recibió el nombre de Kuranes, ya que despierto se llamaba de otra manera. Quizá le resultó natural soñar un nuevo nombre, pues era el último miembro de su familia, y estaba solo entre los indiferentes millones de londinenses, de modo que no eran muchos los que hablaban con él y recordaban quién había sido. Había perdido sus tierras y riquezas; y le tenía sin cuidado la vida de las gentes de su alrededor; porque él prefería soñar y escribir sobre sus sueños. Sus escritos hacían reír a quienes los enseñaba, por lo que algún tiempo después se los guardó para sí, y finalmente dejó de escribir. Cuanto más se retraía del mundo que le rodeaba, más maravillosos se volvían sus sueños; y habría sido completamente inútil intentar transcribirlos al papel. Kuranes no era moderno, y no pensaba como los demás escritores. Mientras ellos se esforzaban en despojar la vida de sus bordados ropajes del mito y mostrar con desnuda fealdad lo repugnante que es la realidad, Kuranes buscaba tan sólo la belleza. Y cuando no conseguía revelar la verdad y la experiencia, la buscaba en la fantasía y la ilusión, en cuyo mismo umbral la descubría entre los brumosos recuerdos de los cuentos y los sueños de niñez.

No son muchas las personas que saben las maravillas que guardan para ellas los relatos y visiones de su propia juventud; pues cuando somos niños escuchamos y soñamos y pensamos pensamientos a medias sugeridos; y cuando llegamos a la madurez y tratamos de recordar, la ponzoña de la vida nos ha vuelto torpes y prosaicos. Pero algunos de nosotros despiertan por la noche con extraños fantasmas de montes y jardines encantados, de fuentes que cantan al sol, de dorados acantilados que se asoman a unos mares rumorosos, de llanuras que se extienden en torno a soñolientas ciudades de bronce y de piedra, y de oscuras compañías de héroes que cabalgan sobre enjaezados caballos blancos por los linderos de bosques espesos; entonces sabemos que hemos vuelto la mirada, a través de la puerta de marfil, hacia ese mundo de maravilla que fue nuestro, antes de alcanzar la sabiduría y la infelicidad.

Kuranes regresó súbitamente a su viejo mundo de la niñez. Había estado soñando con la casa donde había nacido: el gran edificio de piedra cubierto de hiedra, donde habían vivido tres generaciones de antepasados suyos, y donde él había esperado morir. Brillaba la luna, y Kuranes había salido sigilosamente a la fragante noche de verano; atravesó los jardines, descendió por las terrazas, dejó atrás los grandes robles del parque, y recorrió el largo camino que conducía al pueblo. El pueblo parecía muy viejo; tenía su borde mordido como la luna que ha empezado a menguar, y Kuranes se preguntó si los tejados puntiagudos de las casitas ocultaban el sueño o la muerte. En las calles había tallos de larga yerba, y los cristales de las ventanas de uno y otro lado estaban rotos o miraban ciegamente. Kuranes no se detuvo, sino que siguió caminando trabajosamente, como llamado hacia algún objetivo. No se atrevió a desobedecer ese impulso por temor a que resultase una ilusión como las solicitudes y aspiraciones de la vida vigil, que no conducen a objetivo ninguno. Luego se sintió atraído hacia un callejón que salía de la calle del pueblo en dirección a los acantilados del canal, y llegó al final de todo... al precipicio y abismo donde el pueblo y el mundo caían súbitamente en un vacío infinito, y donde incluso el cielo, allá delante, estaba vacío y no lo iluminaban siquiera la luna roída o las curiosas estrellas. La fe le había instado a seguir avanzando hacia el precipicio, arrojándose al abismo, por el que descendió flotando, flotando, flotando; pasó oscuros, informes sueños no soñados, esferas de apagado resplandor que podían ser sueños apenas soñados, y seres alados y rientes que parecían burlarse de los soñadores de todos los mundos. Luego pareció abrirse una grieta de claridad en las tinieblas que tenía ante sí, y vio la ciudad del valle brillando espléndidamente allá, allá abajo, sobre un fondo de mar y de cielo, y una montaña coronada de nieve cerca de la costa.

Kuranes despertó en el instante en que vio la ciudad; sin embargo, supo con esa mirada fugaz que no era otra que Celefais, la ciudad del Valle de Ooth-Nargai, situada más allá de los Montes Tanarios, donde su espíritu había morado durante la eternidad de una hora, en una tarde de verano, hacía mucho tiempo, cuando había huido de su niñera y había dejado que la cálida brisa del mar lo aquietara y lo durmiera mientras observaba las nubes desde el acantilado próximo al pueblo. Había protestado cuando lo encontraron, lo despertaron y lo llevaron a casa; porque precisamente en el momento en que lo hicieron volver en sí, estaba a punto de embarcar en una galera dorada rumbo a esas seductoras regiones donde el cielo se junta con el mar. Ahora se sintió igualmente irritado al despertar, ya que al cabo de cuarenta monótonos años había encontrado su ciudad fabulosa.

Pero tres noches después, Kuranes volvió a Celefais. Como antes, soñó primero con el pueblo que parecía dormido o muerto, y con el abismo al que debía descender flotando en silencio; luego apareció la grieta de claridad una vez más, contempló los relucientes alminares de la ciudad, las graciosas galeras fondeadas en el puerto azul, y los árboles gingco del Monte Arán mecidos por la brisa marina. Pero esta vez no lo sacaron del sueño; y descendió suavemente hacia la herbosa ladera como un ser alado, hasta que al fin sus pies descansaron blandamente en el césped. En efecto, había regresado al valle de Ooth-Nargai, y a la espléndida ciudad de Celefais.

Kuranes paseó en medio de yerbas fragantes y flores espléndidas, cruzó el burbujeante Naraxa por el minúsculo puente de madera donde había tallado su nombre hacía muchísimos años, atravesó la rumorosa arboleda, y se dirigió hacia el gran puente de piedra que hay a la entrada de la ciudad. Todo era antiguo; aunque los mármoles de sus muros no habían perdido su frescor, ni se habían empañado las pulidas estatuas de bronce que sostenían. Y Kuranes vio que no tenía por qué temer que hubiesen desaparecido las cosas que él conocía; porque hasta los centinelas de las murallas eran los mismos, y tan jóvenes como él los recordaba. Cuando entró en la ciudad, y cruzó las puertas de bronce, y pisó el pavimento de ónice, los mercaderes y camelleros lo saludaron como si jamás se hubiese ausentado; y lo mismo ocurrió en el templo de turquesa de Nath-Horthath, donde los sacerdotes, adornados con guirnaldas de orquídeas le dijeron que no existe el tiempo en Ooth-Nargai, sino sólo la perpetua juventud. A continuación, Kuranes bajó por la Calle de los Pilares hasta la muralla del mar, y se mezcló con los mercaderes y marineros y los hombres extraños de esas regiones en las que el cielo se junta con el mar. Allí permaneció mucho tiempo, mirando por encima del puerto resplandeciente donde las ondulaciones del agua centelleaban bajo un sol desconocido, y donde se mecían fondeadas las galeras de lejanos lugares. Y contempló también el Monte Arán, que se alzaba majestuoso desde la orilla, con sus verdes laderas cubiertas de árboles cimbreantes y con su blanca cima rozando el cielo.

Más que nunca deseó Kuranes zarpar en una galera hacia lejanos lugares, de los que tantas historias extrañas había oído; así que buscó nuevamente al capitán que en otro tiempo había accedido a llevarlo. Encontró al hombre, Athib, sentado en el mismo cofre de especias en que lo viera en el pasado; y Athib no pareció tener conciencia del tiempo transcurrido. Luego fueron los dos en bote a una galera del puerto, dio órdenes a los remeros, y salieron al Mar Cerenerio que llega hasta el cielo. Durante varios días se deslizaron por las aguas ondulantes, hasta que al fin llegaron al horizonte, donde el mar se junta con el cielo. No se detuvo aquí la galera, sino que siguió navegando ágilmente por el cielo azul entre vellones de nube teñidos de rosa. Y muy por debajo de la quilla, Kuranes divisó extrañas tierras y ríos y ciudades de insuperable belleza, tendidas indolentemente a un sol que no parecía disminuir ni desaparecer jamás. Por último, Athib le dijo que su viaje no terminaba nunca, y que pronto entraría en el puerto de Sarannian, la ciudad de mármol rosa de las nubes, construida sobre la etérea costa donde el viento de poniente sopla hacia el cielo; pero cuando las más elevadas de las torres esculpidas de la ciudad surgieron a la vista, se produjo un ruido en alguna parte del espacio, y Kuranes despertó en su buhardilla de Londres.

Después, Kuranes buscó en vano durante meses la maravillosa ciudad de Celefais y sus galeras que hacían la ruta del cielo; y aunque sus sueños lo llevaron a numerosos y espléndidos lugares, nadie pudo decirle cómo encontrar el Valle de Ooth-Nargai, situado más allá de los Montes Tanarios. Una noche voló por encima de oscuras montañas donde brillaban débiles y solitarias fogatas de campamento, muy diseminadas, y había extrañas y velludas manadas de reses cuyos cabestros portaban tintineantes cencerros; y en la parte más inculta de esta región montañosa, tan remota que pocos hombres podían haberla visto, descubrió una especie de muralla o calzada empedrada, espantosamente antigua, que zigzagueaba a lo largo de cordilleras y valles, y demasiado gigantesca para haber sido construida por manos humanas. Más allá de esa muralla, en la claridad gris del alba, llegó a un país de exóticos jardines y cerezos; y cuando el sol se elevó, contempló tanta belleza de flores blancas, verdes follajes y campos de césped, pálidos senderos, cristalinos manantiales, pequeños lagos azules, puentes esculpidos y pagodas de roja techumbre, que, embargado de felicidad, olvidó Celefais por un instante. Pero nuevamente la recordó al descender por un blanco camino hacia una pagoda de roja techumbre; y si hubiese querido preguntar por ella a la gente de esta tierra, habría descubierto que no había allí gente alguna, sino pájaros y abejas y mariposas. Otra noche, Kuranes subió por una interminable y húmeda escalera de caracol, hecha de piedra, y llegó a la ventana de una torre que dominaba una inmensa llanura y un río iluminado por la luna llena; y en la silenciosa ciudad que se extendía a partir de la orilla del río, creyó ver algún rasgo o disposición que había conocido anteriormente. Habría bajado a preguntar el camino de Ooth-Nargai, si no hubiese surgido la temible aurora de algún remoto lugar del otro lado del horizonte, mostrando las ruinas y antigüedades de la ciudad, y el estancamiento del río cubierto de cañas, y la tierra sembrada de muertos, tal como había permanecido desde que el rey Kynaratholis regresara de sus conquistas para encontrarse con la venganza de los dioses.

Y así, Kuranes buscó inútilmente la maravillosa ciudad de Celefais y las galeras que navegaban por el cielo rumbo a Seranninan, contemplando entretanto numerosas maravillas y escapando en una ocasión milagrosamente del indescriptible gran sacerdote que se oculta tras una máscara de seda amarilla y vive solitario en un monasterio prehistórico de piedra, en la fría y desierta meseta de Leng. Al cabo del tiempo, le resultaron tan insoportables los desolados intervalos del día, que empezó a procurarse drogas a fin de aumentar sus periodos de sueño. El hachís lo ayudó enormemente, y en una ocasión lo trasladó a una región del espacio donde no existen las formas, pero los gases incandescentes estudian los secretos de la existencia. Y un gas violeta le dijo que esta parte del espacio estaba al exterior de lo que él llamaba el infinito. El gas no había oído hablar de planetas ni de organismos, sino que identificaba a Kuranes como una infinitud de materia, energía y gravitación. Kuranes se sintió ahora muy deseoso de regresar a la Celefais salpicada de alminares, y aumentó su dosis de droga. Después, un día de verano, lo echaron de su buhardilla, y vagó sin rumbo por las calles, cruzó un puente, y se dirigió a una zona donde las casas eran cada vez más escuálidas. Y allí fue donde culminó su realización, y encontró el cortejo de caballeros que venían de Celefais para llevarlo allí para siempre.

Hermosos eran los caballeros, montados sobre caballos ruanos y ataviados con relucientes armaduras, y cuyos tabardos tenían bordados extraños blasones con hilo de oro. Eran tantos, que Kuranes casi los tomó por un ejército, aunque habían sido enviados en su honor; porque era él quien había creado Ooth-Nargai en sus sueños, motivo por el cual iba a ser nombrado ahora su dios supremo. A continuación, dieron a Kuranes un caballo y lo colocaron a la cabeza de la comitiva, y emprendieron la marcha majestuosa por las campiñas de Surrey, hacia la región donde Kuranes y sus antepasados habían nacido. Era muy extraño, pero mientras cabalgaban parecía que retrocedían en el tiempo; pues cada vez que cruzaban un pueblo en el crepúsculo, veían a sus vecinos y sus casas como Chaucer y sus predecesores les vieron; y hasta se cruzaban a veces con algún caballero con un pequeño grupo de seguidores. Al avecinarse la noche marcharon más deprisa, y no tardaron en galopar tan prodigiosamente como si volaran en el aire. Cuando empezaba a alborear, llegaron a un pueblo que Kuranes había visto bullente de animación en su niñez, y dormido o muerto durante sus sueños. Ahora estaba vivo, y los madrugadores aldeanos hicieron una reverencia al paso de los jinetes calle abajo, entre el resonar de los cascos, que luego desaparecieron por el callejón que termina en el abismo de los sueños. Kuranes se había precipitado en ese abismo de noche solamente, y se preguntaba cómo sería de día; así que miró con ansiedad cuando la columna empezó a acercarse al borde. Y mientras galopaba cuesta arriba hacia el precipicio, una luz radiante y dorada surgió de occidente y vistió el paisaje con refulgentes ropajes. El abismo era un caos hirviente de rosáceo y cerúleo esplendor; unas voces invisibles cantaban gozosas mientras el séquito de caballeros saltaba al vacío y descendía flotando graciosamente a través de las nubes luminosas y los plateados centelleos. Seguían flotando interminablemente los jinetes, y sus corceles pateaban el éter como si galopasen sobre doradas arenas; luego, los encendidos vapores se abrieron para revelar un resplandor aún más grande: el resplandor de la ciudad de Celefais, y la costa, más allá; y el pico que dominaba el mar, y las galeras de vivos colores que zarpan del puerto rumbo a lejanas regiones donde el cielo se junta con el mar.

Y Kuranes reinó en Ooth-Nargai y todas las regiones vecinas de los sueños, y tuvo su corte alternativamente en Celefais y en la Serannian formada de nubes. Y aún reina allí, y reinará feliz para siempre; aunque al pie de los acantilados de Innsmouth, las corrientes del canal jugaban con el cuerpo de un vagabundo que había cruzado el pueblo semidesierto al amanecer; jugaban burlonamente, y lo arrojaban contra las rocas, junto a las Torres de Trevor cubiertas de hiedra, donde un millonario obeso y cervecero disfruta de un ambiente comprado de nobleza extinguida.

FIN


Biblioteca Digital Ciudad Seva


Sauce

César Vallejo

Lirismo de invierno, rumor de crespones,
cuando ya se acerca la pronta partida;
agoreras voces de tristes canciones
que en la tarde rezan una despedida.

Visión del entierro de mis ilusiones
en la propia tumba de mortal herida.
Caridad verónica de ignotas regiones,
donde a precio de éter se pierde la vida.

Cerca de la aurora partiré llorando;
y mientras mis años se vayan curvando,
curvará guadañas mi ruta veloz.

Y ante fríos óleos de luna muriente,
con timbres de aceros en tierra indolente,
cavarán los perros, aullando, ¡un adiós!
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La pensión


James Joyce

La señora Mooney, hija de un carnicero, era lo que se dice una mujer resuelta; para arreglar sus cosas se bastaba y se sobraba sin dar un cuarto al pregonero. Casó con el dependiente principal de su padre y abrió una carnicería cerca de Spring Gardens. Pero no bien hubo muerto su suegro, el señor Mooney empezó a andar en malos pasos. Bebía, metía mano a la caja registradora del dinero y se entrampó hasta los ojos. De nada servía hacerle prometer enmienda: a los pocos días, infaliblemente, quebrantaba el solemne juramento. A fuerza de reñir con su mujer en presencia de los parroquianos y de comprar carne mala, terminó por arruinar el negocio. Una noche persiguió a su mujer con la cuchilla, y ella tuvo que dormir en casa de un vecino.

Desde entonces vivieron separados. La mujer acudió al cura y obtuvo una separación en regla con cargo de los hijos. No daba dinero al marido, ni alimento, ni morada; y así el hombre se vio obligado a entrar como oficial de justicia. Era un borrachín astroso, encorvado, de cara blanca y bigote blanco, y blancas cejas dibujadas sobre sus ojillos surcados de venas rojizas, ribeteados y tiernos; y se pasaba todo el santo día sentado en el cuarto del alguacil, en espera de que le encomendaran algún servicio. La señora Mooney, que se había llevado el dinero remanente tras la liquidación de la carnicería, instalando con ello una pensión en Hardwicke Street, era una mujer grande e imponente. Su casa albergaba una población flotante compuesta de turistas de Liverpool y de la isla de Man, y, de vez en cuando, artistas de vodevil. Su clientela con residencia fija se componía de empleados de oficinas y del comercio. La señora Mooney gobernaba la pensión con diplomacia y mano firme; sabía cuándo procedía dar crédito, actuar con severidad o hacer la vista gorda. Los residentes mozos, cuando hablaban de ella, la llamaban todos la Patrona.

Los jóvenes pupilos de la señora Mooney pagaban quince chelines semanales por la pensión completa (cerveza en las comidas aparte). Eran todos de los mismos gustos y ocupaciones, y por esta razón reinaba entre ellos franca camaradería. Discutían entre sí las probabilidades de sus caballos favoritos. Jack Mooney, el hijo de la Patrona, empleado con un agente comercial en Fleet Street, tenía reputación de ser un tipo difícil. Era aficionado a soltar obscenidades de cuartel, y por lo general llegaba a casa de madrugada. Cuando veía a sus amigos, siempre tenía alguna diablura que contarles, y siempre estaba seguro de hallarse sobre la pista de algo bueno: un caballo o una artista con posibilidades. También el boxeo se le daba de maravilla. Y las canciones cómicas. Las noches de los domingos solía haber reunión en la sala principal de la señora Mooney. Los artistas de vodevil participaban con gusto, y Sheridan tocaba valses y polkas e improvisaba acompañamientos. También solía cantar Polly Mooney, la hija de la señora. Cantaba:

Soy una... niña traviesa.
No tienen por qué fingir:
Ya saben que soy así.

Polly era una muchachita delgada, de diecinueve años; tenía el pelo rubio, delicado y suave, y una boca pequeña y rotunda. Sus ojos, grises con un tornasol verde, tenían el hábito de echar miraditas hacia arriba cuando hablaba con alguien, lo cual le daba el aspecto de una pequeña madonna perversa. La señora Mooney colocó en principio a su hija en la oficina de un tratante en granos, de mecanógrafa; mas como cierto oficial de justicia de pésima reputación diera en presentarse en el despacho un día sí y otro no rogando le permitieran hablar una palabra con su hija, la madre volvió a llevársela a casa y la puso a trabajar en las faenas domésticas. Como Polly era muy alegre y pizpireta, la intención era darle el gobierno de los pupilos jóvenes. Además, a los mozos les gusta sentir que ande una hembra moza no muy lejos. Polly, como es natural, flirteaba con los mancebos, pero la señora Mooney, juez perspicaz, sabía que los tales mancebos se lo tomaban sólo como pasatiempo: ninguno de ellos iba en serio. Así continuaron las cosas mucho tiempo, y la señora Mooney empezaba a pensar en mandar a Polly otra vez de mecanógrafa, cuando observó que entre su hija y uno de los jóvenes había algo. Vigiló a la pareja y no dijo esta boca es mía.

Polly sabía que la vigilaban; sin embargo, el persistente silencio de su madre no podía interpretarse erróneamente. No había existido complicidad manifiesta entre la madre y la hija, connivencia de ninguna clase; pero aunque los huéspedes empezaban a hablar del asunto, la señora Mooney continuaba sin intervenir. Polly empezó a volverse un poco rara en su comportamiento, y el joven, evidentemente, andaba desazonado. Por fin, cuando estimó que era el momento oportuno, la señora Mooney intervino. Contendió con los problemas morales como cuchilla con la carne; y en aquel caso concreto había tomado ya su decisión.

Era una luminosa mañana de principios de verano, prometedora de calor, mas con un soplo de brisa fresca. Todas las ventanas de la pensión estaban abiertas y las cortinas de encaje se inflaban suavemente hacia la calle bajo las vidrieras levantadas. Era domingo. El campanario de San Jorge repicaba sin cesar, y los fieles, solos o en grupos, cruzaban la pequeña glorieta que se extiende ante la iglesia, dejando ver de intento su propósito en el pío recogimiento con que iban no menos que en los libritos que llevaban en sus manos enguantadas. En la pensión habían terminado de desayunar, y aún estaban los platos en la mesa con amarillas rebañaduras de huevo, piltrafas y cortezas de tocino. La señora Mooney, sentada en el sillón de mimbre, vigilaba a la criada Mary que estaba retirando las cosas del desayuno. Le mandó recoger las cortezas y mendrugos de pan que servirían para hacer el budín del martes. Una vez despejada la mesa, recogidos los mendrugos, guardados bajo llave y candado el azúcar y la mantequilla, la dueña de la pensión se puso a reconstruir la entrevista que había tenido con Polly la noche de la víspera. Todo era, en efecto, como ella sospechaba: se había mostrado franca en sus preguntas, y Polly no lo había sido menos en sus respuestas. Las dos pasaron su apuro, desde luego. Ella por deseo de no recibir la noticia de una manera demasiado franca y desconsiderada, ni parecer que había hecho la vista gorda, y Polly no sólo porque las alusiones de ese género siempre se lo causaban, sino también porque no quería dar pie a la sospecha de que ella, en su sabia inocencia, había adivinado la intención oculta tras la tolerancia de su madre.

Cuando advirtió, en su ensimismamiento, que las campanas de San Jorge habían dejado de tocar, la señora Mooney echó una mirada instintiva al relojito dorado que había sobre la repisa de la chimenea. Pasaban diecisiete minutos de las once: tenía tiempo más que de sobra de solventar el asunto con el señor Doran y plantarse antes de las doce en la calle Marlborough. Estaba segura de su triunfo. Para empezar, tenía de su parte todo el peso de la opinión social: era una madre agraviada. Había permitido al seductor vivir bajo su techo, dando por supuesto que era hombre de honor, y él había abusado de su hospitalidad. Tenía treinta y cuatro o treinta y cinco años, de modo que no podía alegarse como excusa la irreflexión de la juventud; tampoco podía ser disculpa la ignorancia, ya que era hombre con sobrado conocimiento del mundo. Sencillamente se había aprovechado de la juventud y la inexperiencia de Polly; eso era evidente. ¿Qué reparación estaría dispuesto a hacer? He aquí el problema.

En tales casos se debe siempre una reparación. Para el varón todo marcha sobre ruedas: puede largarse tan fresco, después de haberse holgado, como si no hubiera ocurrido nada, pero la chica tiene que pagar el precio. Algunas madres se avenían a componendas mediante sumas de dinero; había conocido casos. Pero ella no haría tal cosa. Para ella, por la pérdida de la honra de su hija sólo cabía una reparación: el matrimonio.

Repasó de nuevo todas sus cartas antes de enviar a Mary arriba, al cuarto del señor Doran, a decir que deseaba hablar con él. Estaba segura de su triunfo. Él era un joven serio, no un libertino ni un escandaloso como los otros. Si se hubiera tratado del señor Sheridan o del señor Meade o de Bantam Lyons, su tarea habría sido mucho más ardua. No creía ella que Doran arrostrase la divulgación del caso. Todos los huéspedes de la pensión sabían algo del asunto; algunos hasta habían inventado pormenores. Además, llevaba trece años empleado en la oficina de un comerciante en vinos, católico cien por cien, y la divulgación tal vez significara para él la pérdida del empleo. Mientras que si se avenía a razones, todo podría ser para bien. Sabía ella que el galán cobraba un buen sueldo, y por otra parte sospechaba que debía de tener un buen pico ahorrado.

¡Casi la media hora! Se levantó y se miró en el espejo de luna. La expresión resuelta de su rostro grande y rubicundo la satisfizo, y pensó en algunas madres conocidas suyas incapaces de quitarse a sus hijas de encima.

El señor Doran estaba en realidad muy nervioso aquel domingo por la mañana. Había intentado por dos veces afeitarse, pero tenía el pulso tan inseguro que se vio obligado a desistir. Una barba rojiza de tres días orlaba sus mandíbulas, y cada dos o tres minutos se le empañaban los lentes, de suerte que tenía que quitárselos y limpiarlos con el pañuelo. El recuerdo de su confesión de la pasada noche le causaba profunda congoja; el cura le había sonsacado hasta el último detalle ridículo del asunto, y al final había exagerado tanto su pecado que casi daba gracias que se le concediera un respiradero, una posibilidad de reparación. El daño estaba hecho. ¿Qué podría hacer él ahora sino casarse con la chica o huir de la ciudad? No iba a tener la desfachatez de negar su culpa. Era seguro que se hablaría del caso, y sin duda alguna llegaría a oídos de su patrón. Dublín es una ciudad tan pequeña..., todo el mundo está informado de los asuntos de los demás. En su excitada imaginación oyó al viejo señor Leonard que con su bronca voz ordenaba: «Que venga el señor Doran, por favor», y sólo de pensarlo le dio un vuelco tan grande el corazón que casi se le sale por la boca.

¡Todos sus largos años de servicio para nada! ¡Sus trabajos y afanes malogrados! De joven la había corrido en grande, por supuesto; había blasonado de librepensador y negado la existencia de Dios en las tabernas ante sus compañeros. Mas todo eso pertenecía al pasado; había concluido totalmente... o casi totalmente. Todavía compraba el Reynolds's Newspaper cada semana, pero cumplía con sus deberes religiosos y durante nueve décimas partes del año llevaba una vida metódica y ordenada. Tenía dinero suficiente para tomar estado; no se trataba de eso. Pero la familia miraría a la chica con menosprecio. Estaba primero la pésima reputación de su padre, y por si fuera poco, la pensión de su madre empezaba a adquirir cierta fama. Tenía sus barruntos de que le habían cazado. Imaginaba a sus amigos hablando del asunto y riéndose. Ella era un poquillo vulgar; a veces decía «haiga» y «hubieron». ¿Mas qué importaba la gramática si él la quería? No podía decidir si apreciarla o despreciarla por lo que había hecho. Naturalmente él lo había hecho también. Su instinto le impelía a permanecer libre, a no casarse. Una vez que uno se casa es el fin, le decía.

Estaba sentado al borde de la cama, en camisa y pantalones, inerme ante la fatalidad que lo abrumaba, cuando ella dio unos golpecitos en su puerta y entró en la habitación. La muchacha se lo dijo todo, que había confesado los hechos a su madre desde la A hasta la Z, y que su madre hablaría con él esa misma mañana. Rompió a llorar y le echó los brazos al cuello, diciendo:

-¡Oh, Bob! ¡Bob! ¿Qué voy a hacer? ¿Qué voy a hacer?

Terminaría de una vez con su existencia, dijo.

Él la consoló débilmente, diciéndole que no llorara, que todo se arreglaría, que no había que temer. Sintió la agitación del pecho femenino contra su camisa.

No fue del todo culpa suya que el hecho sucediera. Recordaba, con la singular y paciente memoria del soltero, los primeros roces fortuitos de su vestido, su aliento, sus dedos, que habían sido como caricias para él. Luego, una noche, ya avanzada la hora, cuando se desvestía para acostarse, la joven dio unos tímidos golpecitos a su puerta. Quería encender su vela en la de él, pues una corriente de aire se la había apagado. Se había bañado esa noche, y llevaba un peinador suelto y abierto de franela estampada. Su blanco empeine relucía en la abertura de sus zapatillas de piel, y bajo su epidermis perfumada bullía cálida la sangre. También de sus manos y de sus muñecas, mientras encendía la vela, se desprendía un delicado aroma.

Cuando volvía tarde por las noches, era ella quien le calentaba la cena. Apenas si se daba cuenta de lo que comía, sintiéndola tan cerca, a solas y de noche, mientras todos dormían. ¡Y lo solícita que se mostraba! Si la noche era fría, o húmeda, o borrascosa, sin dudas habría allí un vasito de ponche preparado para él. Tal vez pudieran ser felices juntos...

Solían subir la escalera de puntillas, cada cual con una vela, y en el tercer rellano se daban muy a disgusto las buenas noches. Tomaron la costumbre de besarse. Recordaba bien sus ojos, el contacto de su mano, el delirio en que aquello terminó por precipitarlo...

Pero el delirio pasa. Se hizo eco ahora de la frase de ella: «¿Qué voy a hacer?» Su instinto de célibe le advertía que no se comprometiese. Pero el pecado allí estaba; su propio sentido del honor le decía que por tal pecado debía efectuarse una reparación.

Sentado así con ella en el borde de la cama, apareció Mary en la puerta y dijo que la patrona quería verlo en la sala. Se levantó para ponerse el chaleco y la chaqueta, más desamparado que nunca. Una vez vestido, se acercó a ella para consolarla. Todo se arreglaría, no había que temer. La dejó llorando en la cama y gimiendo débilmente: «¡Oh, Dios mío!»

Cuando bajaba por la escalera se le empañaron de tal forma los lentes que tuvo que quitárselos y limpiarlos. Hubiera querido salir por el tejado y volar lejos, a otro país donde jamás volviera a saber nada de aquel lío, y sin embargo una fuerza lo empujaba escalera abajo, peldaño por peldaño.

Las caras implacables de su patrón y de la señora parecían mirarlo inquisitivas, en su frustración y desconcierto. En el último tramo de escaleras se cruzó con Jack Mooney que subía de la despensa con dos botellas de cerveza amorosamente abrazadas. Se saludaron con frialdad, y los ojos del galán se detuvieron un par de segundos en una recia fisonomía de perro de presa y dos brazos cortos y vigorosos. Al llegar al pie de la escalera, echó una furtiva ojeada hacia arriba y vio a Jack mirándolo desde la puerta del recibimiento.

Entonces recordó la noche en que uno de los artistas de vodevil, cierto rubio londinense, hizo una alusión a Polly bastante desenfadada. La reunión casi terminó de mala manera debido a la violenta reacción de Jack. Todos se extremaron por aplacarle. El artista de vodevil, un poco más pálido que de costumbre, no hacía más que sonreír y repetir que no lo había dicho con mala intención. Pero Jack no hacía más que gritarle que si cualquier individuo intentaba llevar adelante tales devaneos con su hermana, por su alma que le iba a hacer tragarse las muelas, como lo estaban oyendo.

***

Polly continuó un rato sentada en el borde de la cama, llorando. Luego se enjugó los ojos y se acercó al espejo. Mojó la punta de la toalla en el jarro del lavabo y se refrescó los ojos con el agua fría. Se miró en el espejo de perfil y se ajustó una horquilla en el pelo por encima de la oreja. Luego volvió a la cama y se sentó a los pies. Miró un largo rato las almohadas, y esta contemplación suscitó en su ánimo secretos y dulces recuerdos. Apoyó la nuca en el frío barandal metálico de la cama y se abandonó a sus ensueños. Toda perturbación visible había desaparecido de su rostro.

Siguió esperando paciente, casi alegremente, sin sobresalto, dejando que sus recuerdos dieran paso poco a poco a esperanzas y visiones del futuro. Tan intrincadas eran estas esperanzas y visiones que ya no veía las almohadas blancas donde tenía fija la mirada ni recordaba que estaba esperando algo.

Por fin oyó a su madre que la llamaba. Se puso de pie automáticamente y corrió al pasamano de la escalera.

-¡Polly! ¡Polly!

-Aquí estoy, mamá.

-Baja, hija mía. El señor Doran quiere hablar contigo.

Entonces recordó lo que estaba esperando.




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