“O fascismo não é provocado por uma psicose ou ‘histeria’,
mas por uma crise econômica e social profunda que devora o corpo da Europa sem
piedade”. Pronunciadas em 1933, as palavras de Leon Trótski (1879-1940) soam
mais atuais do que nunca diante do recrudescimento dos partidos neonazistas na
Europa novamente em crise. O revolucionário russo estava em seu desterro de
quatro anos na Turquia quando foi entrevistado pelo então jovem escritor belga
Georges Simenon (1903-1989).
Simenon tinha acabado de criar seu mais célebre personagem,
o inspetor Maigret, que marcaria presença em mais de 70 romances e 30 contos do
escritor. Atuava como correspondente para o jornal Paris-Soir e corria o mundo
escrevendo reportagens, uma hora na África, outra na União Soviética, ou nas
ilhas Príncipe (Prinkipo), onde vai encontrar Trótski vivendo uma tranquila
vida de aposentado que não duraria muito: em seguida partiria para a França e
de lá para a Noruega, de onde seguiria para o México encontrar a morte,
encomendada pelo rival Stalin.
As análises de Trótski, judeu, sobre raça, e a previsão,
seis anos antes, de que a Alemanha de Hitler iria levar a Europa à guerra
demonstram sua profunda visão estratégica e o desprezo dos comunistas pelos
conceitos e “ideias” nazistas. O texto de Simenon, é claro, flui
deliciosamente, como as águas azuis e tranquilas que cercam a ilha e que ele,
amante do mar, faz questão de destacar. Quanto o jornalismo de hoje tem a
aprender com o passado…
Leonardo Padura
Tradução : socialista morena
http://socialistamorena.cartacapital.com.br/leonardo-padur…/
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