quarta-feira, 16 de julho de 2014

O cenário político da América Central

Hugo Allan Matos

O cenário político da América Central vem passando por importantes mudanças nos últimos tempos. Especialmente Costa Rica, El Salvador e Honduras demonstram essa tendência. Apesar disso, ainda é preciso cautela, pois não há garantias que as mudanças significarão um novo jeito de fazer política, voltado para o povo e não para as elites oligárquicas ultraconservadoras. A análise é de Albrecht Koschützke e Hajo Lanz, no documento "Três tênues luzes de esperança - As forças de esquerda ganham impulso em três países centro-americanos”.

Há quase um século, a Costa Rica não vivenciava eleições tão intensas. Após a confirmação de que haveria segundo turno nas eleições presidenciais, o candidato Johnny Araya, do Partido Liberação Nacional (PLN) – o mesmo de Laura Chinchilla e Óscar Arias – abandonou a disputa e abriu espaço para a vitória de Luis Guillermo Solís, do Partido Ação Cidadã (PAC). Até bem pouco tempo, Solís era uma figura pouco conhecida pela população, mesmo assim foi eleito com 80% dos votos.

"Não se pode falar de um deslocamento para a esquerda como consequência dessas eleições. O que se verifica é, na verdade, um distanciamento dos partidos tradicionais, o PLN e o PUSC. Isso sim constitui uma tendência persistente. Apesar de que os habitantes da Costa Rica não se situaram necessariamente mais a esquerda do que em eleições anteriores, os eleitores são agora mais jovens, críticos, informados e urbanos. São fortes defensores de seu sistema democrático, de suas conquistas sociais e de sua ambição por êxito econômico e ascensão social”, analisa o documento.

No Panamá, desde 2009, o Partido Revolucionário Democrático (PRD), maior partido do país, vem sofrendo enfraquecimento, disputas internas e perda de espaço. O mesmo vem acontecendo com o Câmbio Democrático (CD), partido do ex-presidente Ricardo Martinelli. O enfraquecimento das legendas tradicionais deu espaço para o surgimento de novos grupos de interesses políticos e permitiu a vitória de Juan Carlos Varela (Partido Panamenhista), que assumiu a cadeira presidencial na última terça-feira, 1º de julho. Entretanto, não há grandes expectativas em torno de seu governo; acredita-se que ela vá continuar a política de Martinelli.

Sobre o cenário político da Nicarágua, comandado pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), os autores destacam algumas polêmicas, como a manipulação da decisão da Corte Suprema de Justiça, que declarou a invalidade no artigo 147 da Constituição (proibição da reeleição imediata do presidente). O documento considera que a Frente Sandinista perdeu toda sua credibilidade, entre outros motivos, porque o governo foi corrompido por interesses particulares.

Pela primeira vez na história, Honduras tem uma oposição parlamentar. Com a chegada do Partido Libre, nascido a partir do movimento antigolpista ‘Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP)’ foi quebrado o bipartidarismo. Apesar de ter perdido as eleições presidenciais de 2013, o Libre é hoje o partido opositor mais poderoso do país e considerado como a segunda força do Parlamento. "Esse partido pode modificar a democracia hondurenha, o trabalho parlamentar e o discurso político do país”, destacam Albrecht Koschützke e Hajo Lanz.

Em El Salvador, mais uma vez, a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional - FMLN conquistou a cadeira presidencial. Com o fim do governo de Mauricio Funes, cuja atuação despertou críticas até mesmo dentro do partido, teve início a era Sanchez Cerén, considerado um presidente realmente de esquerda e com raízes na FMLN. O documento destaca que a apertada vitória de Cerén obriga o governo a não defraudar as esperanças do povo de que as reformas iniciadas continuem.

Na Guatemala, não há registro de mudanças políticas. Os partidos se encontram fragmentados, muitos têm uma curtíssima vida útil. Nos últimos 20 anos, surgiram 60 partidos e, atualmente, há mais de 20, sendo que poucos têm plenas condições de apresentar um projeto e um programa político dignos dos problemas enfrentados pelo país.

Os autores analisam os avanços encontrados no cenário político centro-americano com cuidado para não gerar expectativas em excesso e destacam: "Se as forças progressistas poderão tornar realidade as esperanças é algo ainda incerto. Não tem acontecido grandes debates programáticos e não se destaca necessariamente uma nova cultura política. Por isso, resta esperar se o PAC, a Frente Ampla, o Libre e o FMLN se afirmarão como partidos programáticos, ao invés de serem associações eleitorais tradicionais, se a democracia interna nos partidos se tornará realidade e deixará de ser uma mera promessa, e se os partidos poderão, finalmente, transformar seu discurso em uma política prática”.


Leia a análise completa em: http://www.nuso.org/upload/articulos/PERSPECTIVA%20Koschuetzke%20Lanz.pdf.

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